14_ Descobertas.
Thomas
Alcateia Lerak,
América do Norte.
Assoprei o ar frustrado e entediado com as duas pilhas de papel na mesa a minha frente. Peguei mais um contrato passando os olhos pelas linhas rapidamente e assinei. A porta a minha frente se abriu e Dominic, um dos meus colegas de trabalho, entrou com outra pilha de folhas nos braços. Larguei a caneta na mesa.
- Ah! Puta que pariu, isso é sério!- ele soltou uma risadinha e eu cruzei os braços o olhando indignado.
- Desculpe, Thomas, mas o pedido de Connor é uma ordem pra mim.- soltei uma risadinha.
- É mesmo!- zombei tombando minha cabeça.
Isso porque ele estar o livrando de trabalho!
- Não fique chateado, é só por uma semana.- ele se apoiou na mesa.- E cai entre nós, você está levando um castigo até leve por fazer o que fez, onde já se viu dormir na cama de outra mulher tendo uma em casa.- ele soltou uma risadinha negando.
Revirei os olhos cansado de ouvi sermões e piadinhas. A notícia de que fui pego na cama de uma ômega se espalhou na cidade antes mesmo do amanhecer. Parece até que esse povo não tem outro coisa pra fazer. Mordi os lábios e ouvi um assobio irritantemente alto do lobo irritante.
Para meu azar, os curandeiros estavam fazendo revistas nos fios de todos na cidade, por ordem de Connor. Nosso alfa resolveu fazer uma surpresa com isso porque ninguém foi avisado dessa ação. Todos foram pegos desprevenidos com a visita dos lobos, principalmente eu!
- Dominic, porque você não vai procurar o que fazer, hum!- ele parou de mexer nas minhas coisas em cima da mesa me encarando.
- Mas não tem nada para fazer aqui no escritório, o serviço que tinha essa semana era fora da cidade.- encolheu os ombros com desfeita.
Bufei irritado com essa situação. Além de nos revistar, proibiu nossa saída pelos próximos sete dias e paralisou a cidade com um toque de recolher. Eu não tenho a menor ideia do que ele planejava com isso.
Ultimamente vinha evitando sua casa. Sempre que aparecia por lá, ele me dava uma "missão importante". Agora com a notícia do híbrido, tinha que me manter o mais invisível que pudesse das suas vistas.
Olhei em volta procurando algo ou alguma coisa que fizesse o lobo na minha frente esquecer da minha existência naquele momento. Meus olhos pararam na janela envidraçada com vista para o centro da cidade. Daqui se via a mansão de arquitetura antiga onde Connor provavelmente estava.
- Hoje o tempo está perfeito para uma corrida com a família, não acha?- o encarei em expectativa.
Ele olhou para a vista ao nosso lado e me encarou abrindo um largo sorriso.
- Tem razão, Sophia e as crianças iam amar dar uma volta.- quase festejei com suas palavras.- Mas como sou um ótimo amigo, vou te fazer companhia.- meu sorriso morreu.
- Não se preocupe comigo, sua família é mais importante.- ele ficou me encarando.- Além disso...
Fui interrompido pelo toque do telefone na mesa. O peguei levando ao ouvido encarando o loiro que me fitava com interesse.
📞- Lobo!
Arqueei uma sobrancelha com a voz conhecida sussurrando em um tom de urgência.
Projeto de bruxa!
- Ainda lembra que existo, pensei que tinha esquecido quando me abandonou naquele fim de mundo.- ouvi um suspiro do outro lado.- Sabe o quão difícil foi encontrar o caminho de volta pra casa?
📞- Thomas, fui pega em flagrante naquele dia, não tinha como voltar, além do mais, se eles descobrissem que eu não estava sozinha, você estaria tão ou mais ferrado que eu nesse momento.
Me remexi na cadeira e apoiei o antebraço na mesa a minha frente. A indignação foi substituída pela confusão e curiosidade . Como ela tinha sido pega com a habilidade que tinha?
- E porque ainda não escapou? Você pode abrir portais até pro espaço se quiser.- mexi em minha caneta com tranquilidade ouvindo sua respiração pesada.
📞- Pro meu azar, fui pega por um albino, a primeira coisa que ele fez quando descobriu que eu era uma intrusa, foi me apagar e quando acordei já tinham selado minha magia.
Franzi a testa com aquela informação. Cocei a cabeça tentando entender como exatamente eles selaram a magia espiritual. Levantei as sobrancelhas lembrando do selo físico que vi porem nela quando fomos levar informações para biblioteca central.
Aquele negócio era feito de quê mesmo?
Falando nisso... Ela encontrou um albino!
Realmente é muito azar!
Já tinha ouvido falar de bruxos albinos, eles eram naturais de Akan e tinham habilidades que os tornavam superiores aos demais de sua espécie. Eram como os lobos da alcateia suprema. Os fodões da porra toda!
Por nascerem nas terras mágicas de Akan, eram extremamente sensíveis à magia terrena. Mesmo não podendo manipular o poder da Terra, desenvolveram técnicas para usá-la de forma indireta. Seus corpos eram uma espécie de ímã para a magia, ela se infiltra nele, como o faz no próprio solo. Preenche seus corpos até o último fio de cabelo, deve ser por isso que são albinos.
Os desgraçados são extremamente inteligentes, isso é um fato, já que são eles os criadores da tecnologia avançada que tornaram o reino de Akan o lugar mais seguro e impenetrável do mundo. São de casta nobre, já que o próprio supremo deles é albino. Agora eu me pergunto...
O que um nobre de Akan fazia naquela humilde base?... Aí tem coisa!
📞- Lobo, ainda está aí?
- Sim, pode me dizer como exatamente ele te apagou, não precisa dizer como foi descoberta, era bastante óbvio que tu seria pega pelo sistema de segurança deles.
📞- Eu invadi o sistema de segurança, cara, tinha conseguido entrar sem problema com os robóticos...- franzi o cenho.- Mas um albino sentiu minha presença e invadiu minha cabeça me fazendo dormir por sabe se lá quanto tempo.
- O que diabos é robótico! E como assim, ele invadiu tua cabeça?
Talvez isso esteja relacionado às tais técnicas que desenvolveram com a magia interior. Não seja lerdo, Thomas, óbvio que é isso!
Concordei com meu próprio raciocínio.
📞- Que droga, depois eu explico, seu velho antiquado!- gritou sussurrando irritada.
Velho!
Ela me chamou de velho... E antiquado!?
📞- O que tu precisa saber, é que estou detida nesse momento e impossibilitada de usar meus poderes porque estou com um maldito celo físico! - falou com os dentes cerrados pelo tom de voz duro.
- Se está presa, como está ligando pra mim agora?- olhei para o identificador do telefone na mesa. Um número de telefone fixo? - Esse número é de uma resistência humana, onde você está?
Dominic deu toques na mesa me fazendo olha-lo. Ele apontou para a porta avisando que estava de saída e fiz um gesto com a mão o dispensando.
📞- É óbvio que eu não sei, lobo, eles me trouxeram pra fazer trabalho voluntário, mas vim apagada para não ver o caminho!
- Certo, como exatamente vou te ajudar?- olhei para minhas unhas tirando sujo delas.
Ainda tinha terra da corrida que fiz e olha que tomei banho duas vezes já...
📞- Quero que encontre meu pai... - franzi a testa com suas palavras.
Tirei minha atenção das unhas e olhei para frente, tombando levemente a cabeça.
Essa criatura tem pai?
Deve ser um desnaturado para deixar a filha solta desse jeito no mundo. Se bem que deve ser difícil controlar uma adolescente que abre portais mágicos para qualquer lugar do planeta. Aposto que o coitado não deve ter ideia de onde a peste está agora.
📞... Já me falaram que só ele pode me tirar daqui com meios legais, ele está morando em uma alcateia chamada Môre, na Europa, é o único curandeiro bruxo de lá, não vai ser difícil encontrá-lo.
Môre significa Amanhã!
Uma alcateia chamada amanhã?
Nunca ouvi falar!
Na Europa!
Europa é muito longe daqui!
Ela quer que eu atravesse o oceano para encontrar esse cara, ela acha o quê? Que eu sou ela que pode abrir portais com um único pensamento? Suspirei abaixando a cabeça e massageando levemente a têmpora.
Um toque na porta me fez tirar o telefone do ouvido e olhar para a cabeça de meu pai que surgiu. Ele sorriu pequeno e olhou para as pilhas de papéis sobre minha mesa.
- Parece que é verdade.- arqueei uma sobrancelha com suas palavras.- Você é o único trabalhando na cidade, Connor deve está realmente com raiva de você, não tiro a razão dele...- suspirei relaxando na cadeira. - ...se visse o companheiro de minha filha na cama de outra com certeza ficaria chateado.
- O senhor veio me dar uma lição de moral!- ele abriu a boca pra falar, mas levantei a mão o parando. - Não precisa, já ouvi esse discurso de vários hoje. - sorri ironicamente. - Já aprendi minha lição.
- Eu duvido muito, te conheço, meu filho, mas sei que ama muito sua mulher, nunca faria isso com ela. - soltou uma risadinha e eu semicerrei os olhos com aquelas palavras. - Além do mais, você bêbado é que nem um bebê, não tem noção do que faz.- o observei quieto.
Não gosto de enganar meu pai, ele era o único que sabia de tudo. Pelo menos, quase tudo. Talvez se eu contasse para ele toda a história, não estaria tão perdido agora, mas não vou envolvê-lo nisso. Se a corte descobrir minha aventura, vai castigar os cúmplices, é melhor resolver isso sozinho.
- Não vai entrar? - perguntei suspirando com desânimo, ele negou.
- Estava de passagem, estou indo na casa de Connor buscar Stella, Laura me ligou de lá.
Entortei os lábios não gostando da notícia. Com certeza estão fazendo minha caveira por lá. Encarei meu pai dando um sorriso amarelo.
- Certo, não diga a Connor que passou por aqui, se possível, nem apareça na frente dele, para ele não lembrar que eu existo, ok?
Ele soltou uma risada se divertindo com minha situação. Negou saindo e fechou a porta voltando a me deixar sozinho.
- Que pai maravilhoso eu tenho.- sussurrei voltando o telefone ao ouvido.
Olhei o identificador constatando que a ligação caiu e apertei o botão retornando a chamada.
- Projeto, infelizmente não posso encontrar seu pai porque estou em uma situação pior que a sua no momento. - fui sincero.
Franzi a testa com o silêncio do outro lado e olhei o identificador para ter certeza que alguém tinha atendido.
- Alexia?
📞- Ela acabou de sair.
Ops!
Não é o projeto de bruxa!
Levei a mão à testa com a voz jovem, porém masculina, que soou rouca e baixa do outro lado da linha. Como eu posso ser tão idiota a esse ponto? Obviamente que eu não deveria ter retornado a ligação, na situação em que ela se encontra agora, mas foi um gesto involuntário. Revirei os olhos com minha própria lerdeza.
- Hum, é... - travei.
Seria muito abuso da minha parte perguntar se ela ainda estava por perto?
E se for um bruxo do outro lado?
Não seja idiota, seu idiota!
Acho melhor não arriscar!
Levei o telefone ao gancho encerrando a ligação. Peguei um papel e caneta anotando o número da chamada e voltei a pegar o telefone ligando para a nossa central de comunicação da cidade. Torci para que tenha algum viciado em trabalho que tenha ignorado as ordens de Connor por lá.
📞- Quem fala é John, em que posso ajudar?- suspirei aliviado.
- Quero que encontre o endereço de um telefone fixo.
...
Olhei para a janela avistando o céu escuro de Lerak. Já passava da meia noite e eu não terminava a revisão desses contratos. Olhei para a pilha que já tinha revisado suspirando. Cocei a nuca com a ponta da caneta. Meus olhos caíram na caderneta com o endereço e outras anotações sobre minha ex namorada.
O que será que um albino fazia em uma resistência humana do Sul?
Seja lá o que for, com certeza não é para o seu bico, Thomas!
Mordi os lábios concordando e bati o tampo da caneta no papel cobrindo o nome de Melissa escrito ali. Meu coração deu uma breve palpitação com o ato.
Não seja iludido coração, você não vai vê-la!
Tinha que saber notícias dela, mas antes disso, precisava ajudar o projeto. Foi eu que tive a brilhante ideia de meter o dedo onde não era chamado. Não posso saí da alcateia, mas tenho conhecidos fora dela.
Abri o e-mail no computador procurando ansioso por alguma resposta. Tinha enviado uma mensagem para um colega meu da época da faculdade que mantive contato durante esses anos. Para minha sorte, ele virou delegado justamente na cidade de Péres, local onde o projeto estava e provavelmente Melissa também, não seria difícil levantar informações da resistência onde Alexia está ou estava, e o paradeiro da minha ex.
Tirei os olhos da tela voltando minha atenção aos papeis. As horas se passaram e o dia clareou o ambiente silencioso. Assinei a última folha e soltei a caneta esfregando o rosto cansado. Ouvi uma notificação e olhei para a tela vendo a mensagem. Abri ela e um sorriso surgiu em meus lábios quando avistei o relatório fixado abaixo do enorme texto dele reclamando sobre meu sumiço.
- Paulo, Paulo, você nunca me decepciona, meu amigo!
...
Entrei no meu quarto e joguei a pasta em cima da minha cama caminhando apressado até o guarda roupas o abrindo. Peguei uma mochila enfiando algumas roupas. Não passaria muitos dias no Sul, também porque Connor vai mandar me buscar. Só precisava ver com meus próprios olhos a verdade, e claro, tentar tirar Alex da prisão.
Peguei a caixa com meus documentos humanos e os peguei enfiando no bolso e fechando a mochila com pressa. Peguei a pasta e levei a bolsa as costas saindo do cômodo. Andei pelo corredor vazio entrando na sala silenciosa.
Que bom que a loira não está aqui, seria difícil sair com ela no meu caminho!
Peguei a chave da moto e corri até a porta que levava pra garagem. Em poucos minutos saí acelerando pela rua de terra rodeada de árvores. Não demorou para as árvores serem substituídas por casas de mesmo modelo, aumentei a velocidade pelas ruas desertas de Lerak. Vi de relance dois sentinelas correr em direção contrária ao me avistar indo em direção a fronteira. Passei a marca aumentando a velocidade. Tinha que passar pelas barreiras antes de Connor ser avisado se não seria barrado.
A moto não era tão rápida quanto um lobo sentinela, mas era incansável. Eu cheguei na barreira e dois homens sairam da guarita se posicionando a minha frente. Não reduzi a velocidade, pelo contrário, acelerei ainda mais saindo da rua e entrando na floresta ao lado. Passei a barreira ouvido os gritos furiosos. Não ousei olhar pra trás. Voltei à entrada e peguei o caminho para Toronto, a cidade humana mais próxima de Lerak.
e eu não sou um sentinela, não tinha o habito de passar a maior parte do tempo na minha forma lupina, então optei por ela para chegar a cidade humana vizinha. Connor mandaria os sentinelas atrás de mim assim que a notícia chegasse até ele, mas a vantagem é que eu estava minutos à frente e minha moto não se cansava.
Cerca de meia hora estava no avião que se preparava para voar para Pocota. Olhei pela pequena janela a imagem do aeroporto começando a ficar para trás rapidamente. Avistei de longe um dos betas de Connor parado nas imensas janelas de vidro me olhando sério. Eu estava muito ferrado quando voltasse, mas eu precisava averiguar as notícias que Paulo me deu.
Minha visão embaçou com as lágrimas que estavam presas desde que li os arquivo sobre Melissa. Levei a mão ao peito o massageando na vã tentativa de aliviar a dor que se instalou nele. Se o arrependimento matasse, eu morreria nesse instante.
Ah, Mel!
Por que eu não fui te ver uma última vez?
Por que!?
Sorri fraco com aqueles pensamentos. No fundo eu já sabia o porquê de não ir vê-la. Olhei para meu pulso onde um dia o fio fértil esteve.
Porque sempre fui um covarde!
Tinha medo que descobrissem tudo. Tinha medo de ser julgado por todos. Tinha medo de ser rejeitado pela minha família por não ter seguido os costumes do nosso povo, e por fim, tinha medo que a matassem.
Do que o meu medo adiantou!
...
Tirei os musgos da lápide e pousei as tulipas laranjadas sobre o túmulo, eram suas preferidas. Olhei a pequena foto dela impassível acima das palavras escupidas em letras cursivas. O rosto idêntico ao de Maya estava mais maduro que da última vez que o vi. As duas menecmas morreram com a mesma idade.
Vinte e um anos!
- Então você está aí há oito anos, deveria ter desconfiado quando meu fio fértil desapareceu, foi você que o levou, não foi?- o silêncio me fez lagrimejar. Soltei uma risadinha sem humor. - Você provavelmente morreu me odiando, eu sou um grande filho da puta, eu sei.
Me ajoelhei na grama em frente a lápide sentindo as lágrimas descerem e minha garganta fechar. Neguei choroso.
- Mas me perdoa, eu sei que é um pouco tarde pra isso, não, na verdade, é muito tarde, mas eu não sabia, eu juro pela minha vida que eu não sabia que existia outra, eu pensei que fosse você a escolhida de Selene, eu...- me engasguei levando a mão ao peito negando.- Eu não menti quando disse que te amava, não menti quando disse que ia voltar para nos casar, mas... não deu, eu não podia voltar a te ver, você ia morrer mais cedo se eu tivesse cumprido com minha promessa, mas eu fui fiel a você, eu sempre serei fiel... eu só queria que soubesse disso, Mel!
Senti um grande alívio com aquela palavras que estavam tantos anos entaladas. Mas nunca obteria uma resposta, eu merecia o seu silêncio. A abandonar nas condições que estava, era imperdoável mesmo.
Me sentei ali mesmo na grama e peguei a pasta a abrindo e folheando até a ficha família dela. Passei o dedo na pequena foto do garoto. Tinha os cabelos e os olhos da mãe, mas o rosto me lembrava o Tiago quando tínhamos aquela idade. As informações que Paulo me mandou eram de oito anos atrás, ele deve ser um rapaz agora.
Eu tinha um filho!
- Você também deve me odiar, não é? - suspirei abaixando a folha e olhando o túmulo à minha frente. - Você não teve tempo de ver o filho crescer, imagino que foi difícil deixá-lo sozinho.
A existência de um híbrido foi descoberta pela corte, resta saber se era o meu filho esse híbrido ou não. O problema era que eu não tinha poder algum, não era mais filho de um alfa, e apesar de estar ligado a Laura, não tinha a confiança de seu pai que provavelmente estava por dentro daquele assunto. Connor me exclui de tudo relacionado a corte. Eu também não era um dos melhores na sua alcatéia pra ser merecedor da sua confiança.
Soltei uma risadinha negando. Do que vai adiantar encontrar o garoto se sequer poderia protegê-lo. Não passava de um simples mediador.
Um ninguém!
Balancei a cabeça expulsando aquele pensamento pessimista e me levantei limpando a sujeira da calça.
- Vou encontrar o garoto e levá-lo comigo pra Lerak, não importa o que aconteça, não vou deixá-lo mais sozinho, eu te prometo.- olhei para as outras lápides com os nomes de seus pais. - Prometo a todos vocês.
...
Olhei para a fachada do condomínio residencial luxuoso. Voltei meus olhos para o papel para confirmar o endereço. Um som me fez erguer os olhos para o largo portão de entrada que se abria me dando um vislumbre das mansões em volta das árvores que as cercavam. Um carro preto passou por mim devagar entrando no local.
Villa Miller!
Ao que tudo indica, esse era o lugar onde Alexia esteve.
Olhei para o vigia que saiu da guarita falando por um rádio com alguém. Os portões começaram a fechar novamente me fazendo suspirar.
O lugar não pertence aos bruxos como pensei. Se fosse deles ou de outros, não seria um humano vigiando o lugar. Ainda tinha o fato óbvio do telefone fixo. Bruxos não usam esse meio de comunicação, possuem tecnologia bem mais avançada que a dos humanos.
Mordi o lábio batucando os dedos no capacete em cima do tanque da moto em que estava montado. Precisava espremer o cérebro pra lembrar da sua ligação.
"- Thomas, fui pega em flagrante naquele dia..."...
"- Pro meu azar, fui pega por um albino..."
"- Esse número é de uma resistência humana, onde você está?"
"- É óbvio que eu não sei, lobo, eles me trouxeram pra fazer trabalho voluntário, mas vim apagada para não ver o caminho!"
Olhei para a fachada do condomínio residencial ao me lembrar de suas palavras.
Trabalho voluntário?
Se ela estava com a magia selada, então provavelmente não veio fazer purificação. Se os bruxos albinos estão nessa região, provavelmente estão fazendo uma investigação, de acordo com Alexia, a magia terrena no Sul está sempre contaminada desde o massacre aos vampiros a mais de um ano. Se trouxeram iluminados com eles, esse lugar deve estar contaminado.
Fechei os olhos e os abri na visão lupina olhando em minha volta. Não havia energia espiritual no local, aquilo significa que a magia terrena nesse solo ainda está impura. Se os bruxos purificadores não fizeram uma purificação, alguma coisa deve ter acontecido. Eles não deixariam a magia do lugar assim, não em uma região como essa onde há pessoas habitando.
Suspirei com pesar. Enfiei o capacete na cabeça e o prendi abaixo do queixo. liguei a moto pronto pra sair do local, mas parei sentindo meus ombros pesarem com a forte dominância que passei a senti. Olhei em volta confuso a procura de alguém, mas claramente não tinha. Permiti que minha visão mudasse e procurei por algum fio de vida pelo local, mas não vi nenhum. Pisquei balançando a cabeça.
Não tem ninguém por perto!
De onde vem essa dominância?
Avistei uma van preta parar a pouco mais de cem metros na esquina. A porta lateral se abriu e albinos começaram a descer. Uma mulher e três homens vestidos em roupas casuais, no estilo humano. Mas alguém saiu do automóvel e pisquei surpreso ao reconhecer a garota de cabelos roxos.
Projeto!?
Um dos albinos se aproximou dela estendendo a mão em direção ao seu braço. Alguma coisa caiu no chão com o seu gesto. A garota massageou o pulso e balançou a cabeça confirmando o que o homem lhe dizia naquele momento. O capacete me impedia de os escutar de onde estava e não o tirei para não ser reconhecido.
Ela cruzou os braços e escorou no carro observando o grupo à sua frente. Os quatro albinos deram as mãos formando um círculo e ficaram ali imóveis por longos minutos. A dominância pairando no ar sumiu me deixando um pouco confuso. Alexia se afastou do carro e um portal se abriu ao seu lado no mesmo instante. Ela entrou na pequena cratera deixando os quatro para trás.
Desliguei a moto desmontando dela e resolvi me aproximar para saber o que estava acontecendo. Caminhei cauteloso até o grupo e percebi que eles pareciam estar em uma espécie de transe porque seus olhos estavam totalmente brancos e não parecia me ver naquele momento. Olhei para o portal ainda aberto avistando uma sala de estar totalmente escura e vazia.
Os sofás brancos e modernos, o tapete felpudo cinza, uma tv enorme de última geração em um raque grande repleto de objetos de decoração. Avistei a larga escadaria no fundo onde Alexia subia olhando para os lados claramente nervosa.
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Que lugar era aquele?
O que ela estava fazendo?
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