Capítulo 3 Não quero saber de mais nada
Olhando para a grade prateada, lá estava eu, olhando aquele céu estrelado e brilhante, a lua prateada, bela, parecia mágica de tão encantadora, olhava para tudo aquilo sempre me perguntando: "Será que um dia poderei ver mais desse mundo e desse céu estrelado?"
Como sou ingênua, não acho agora que me arrependo desse sonho, porém, mesmo assim seria melhor se eu acordasse de uma vez, não sou parte de um conto de fadas da Disney para ter meu final feliz, não, o mundo real não é assim, jamais foi e nunca vai ser assim. Os fracos se escondem, os fortes lutam, e ambos morrem nesta guerra infinita, tentando mostrar quem será o melhor.
Meus pensamentos caóticos nesses dias, realmente não são agradáveis, desde pequena sonhava com o mundo lá fora, nunca fui como os outros cordeirinhos, meus amigos eram cães pastores, minha irmã que era uma ovelha negra e meu amigo lobo! LOBO!
Me sentia estranha sempre que pensava nisso, era tímida, e muito apegada a meus pais, minha irmã e eu sofríamos bullying , por sermos tratados diferentes das outras famílias, os cães eram amigos de meus pais, sendo assim, seus filhos também deveriam ser nossos amigos, isso fazia com que nos odiassem, e tivessem inveja de nós, eu soube lidar com isso em minha vida, minha irmã, por outro lado, não soube, tornou-se violenta, devido a suas inseguranças, enquanto eu me escondia através de algumas "saidinhas".
Saindo escondida a noite, estava eu com meu suéter azul de gatinho em cima de um coração e meu martelo duplo, andando para perto da luz da lua, me distanciando rapidamente daquele meu lar, que eu na verdade apenas conseguia ver como uma prisão. "Que bela é essa paisagem" —pensando que somente eu poderia entender esse sentimento.
O vento nos cabelos, a alegria surgindo em meu ser, minha liberdade, o que eu tanto quis, e nunca pude ter... nesses instantes....eu me sentia...verdadeiramente feliz.
Entrando na floresta, me deparei com um lago, aquele lago....
Deus, quantas lembranças...ridículas e estúpidas lembranças, se me permite dizer. Sinto dor e ao mesmo tempo tristeza quando lembro daquelas coisas, lágrimas querem sair de meus olhos, porém por mais que queira não consigo derramá-las, sentei-me e bebi um pouco da água, a lua brilhava no lago, eu podia ver também o reflexo das estrelas.
Quanto tempo faz? 10...11 talvez?
Quero te dizer que eu não sinto sua falta, quando você foi embora, tudo melhorou, você estragou tudo...porém você sempre se faz de sonso ...
O que há de errado contigo? Me RESPONDA! Eu...TE ODEIO! TE ODEIO!!! Se pudesse acabar com você...eu juro...eu...não hesitaria.
Segurando o martelo, me levantei, saindo andando para longe daquele lugar horrível, me afastei, e andando em direções que jamais tinha ido, me deparei com uma floresta, a lua estava bela, podia olhar o reflexo da lua no martelo, sua cor prateada...que bela.
Fiquei ali por um certo tempo, quando de repente, senti um cheiro...cheiro...de...de...lobo, achei que era minha imaginação, não havia lobos nessa floresta, jamais houve, até porque não tem matilhas por aqui, e eles não ficam aqui a essa hora, se tem lobos não tem a esse horário...decidi ignorar, porém ouvi o barulho de uma pedra sendo chutada, quando me virei, vi um rapaz, cabelos pretos, blusa escura, com calças beges, e olhos brilhantes, de uma cor duvidosa que ficava entre verde e amarelo, (verde limão talvez...não dava pra comentar sobre cores na situação onde eu me encontrava...) sua boca com seus dentes amostra.
Às nuvens cobriram a lua por um certo tempo...Ficou tudo escuro, a única luz na escuridão eram aqueles olhos brilhantes, jamais vou me esquecer, aquela coisa...tinha uma aparência ameaçadora...horrível...dentes longos e garras afiadas, ambos os dois pareciam navalhas, meus olhos estavam arregalados, meus lábios rosados se tornaram roxos, eu fiquei imóvel, minhas mãos tremiam, e ele ria, se divertindo.
O ser faminto, se aproximou lentamente, com suas garras, e seus pés estavam descalços, tinha garras mesmo em seus pés (não sei você, mas quando uma unha fica daquele jeito, acho que é mais aceitável, e normal também, chamá-la de garra).
Me virei e tentei correr, porém tropecei em um estupido galho de árvore, a árvore que estava acima de mim, tinha os galhos muito separados, mas muitas folhas, só que mesmo assim a lua poderia clarear completamente o corpo de quem ou do que estivesse debaixo dela, as nuvens sumiram, a lua retornou clareando nossos corpos que estavam debaixo da enorme árvore.
Pude ver sua face claramente, e quando aproximava-se de mim podia ver suas garras e seus dentes afiados aproximando-se de meu pescoço, mas logo recuou e sua cara assustadora logo se tornou em uma mistura de surpresa e medo.
Enquanto tudo isto acontecia meus olhos enchiam-se de lágrimas, achei que fosse morrer, mas logo depois de o lobo recuar, disse meu nome de longe.
–Íris—Ele achou que eu não ouvi. Ele abriu seus braços e tentou me abraçar indo em minha direção, porém fiquei tão assustada, que simplesmente, peguei meu martelo e gritei: "NÃO!!!", joguei em sua direção e....errei miseravelmente ....passou direto cortando um pouco sua bochecha, porém nada mais que isso, não foi grave,(mais que p***!!queria ter matado aquele cachorro miserável!) ele ficou olhando para mim e para o martelo que após acertar um pouco de sua face prendeu na árvore.
Olhou para mim espantado e ao mesmo tempo em que encarava ficou ali parado...abaixou sua cabeça, andou para trás, me deixando assim fugir. Não pensei duas vezes, sai correndo como se fosse o fim do mundo, corri o mais rápido que pude.
Quando me dei conta, onde estava o martelo? voltei para lá, e lá estava a marca dele na árvore, mas cadê o martelo? "Ah..Na certa aquele maldito lobo o pegou...mas porque?"—pensei, bem terei que recuperar ele outra hora.
Olhando para o céu dava para ver pelas estrelas e a posição da lua o horário, já era mais ou menos meia noite. AH NÃO...QUANDO EU CHEGAR EM CASA...é melhor eu correr, corri bastante fazendo o caminho de volta, chegando na cerca prateada do enorme portão, dava para ver que todas as casas estavam com as luzes apagadas, e não havia ninguém por perto, estavam todos em casa.
"Graças a Deus..."—pensei logo depois dei um suspiro.
—Aonde você estava Íris, eu posso saber?—de repente uma voz saiu da escuridão logo olho vejo um rapaz, com uma coleira preta no pescoço, seu nome estava escrito no pingente em forma de osso prateado,(ou medalha, não sei...) olhos alaranjados, e cabelos do coro cabeludo até seu nariz eram pretos como a noite, porém do restante até o queixo era loiro mais ou menos laranja, porém bem vivido e belo, suas roupas eram escuras, e sua calça era larga, e ao invés de tênis usava botas, sua camisa tinha uma caveira, e o que estava escrito em baixo dela era algo na língua humana (portanto já morta).
Sua cara parecia muito aborrecida, não, eu poderia dizer que saiam faíscas de seus olhos. Estava mostrando os dentes rosnando e sua testa estava franzida, seus olhos brilhando, com os braços cruzados, logo depois tinha se acalmado e tinha soltado um suspiro. Isso só poderia significar uma coisa...Que...eu estava mais uma vez de castigo! Droga!
–Ok onde você estava, com quem, o que estava fazendo e por onde andou?
– Opa! Calma não acha que são muitas perguntas? — Disse a ele sem pensar.
–Eu não vou falar outra vez Íris! Me responda agora! Não me faça falar pra sua mãe! — disse ele muito chateado, sim, era seu dever tomar conta de mim, ele era um cão pastor, era de se esperar que ficasse bravo comigo.
–Íris, o que eu te disse quanto a pular a cerca?
–Eu sei...sei que...
–Grrrr..CALADA! Enquanto eu falo você fica quieta e me escuta!
Fiquei calada e de cabeça abaixada.— ele começou a brigar comigo e eu não disse uma palavra.
–Olha, você sabe que sou responsável por você e sabe também o que meu pai vai fazer comigo se algo te acontecer...—Ele falou cruzando os braços mais uma vez , suas palavras vinham direto pra me apedrejar, eram conselhos mas para mim eram ataques, bem no coração, o pior era que ele continuou...
– Agradeço por se preocupar comigo, muito obrigada..—disse a ele olhando em seus olhos laranjas e brilhantes, a cara séria havia se tornado surpresa e a raiva parecia passar por alguns instantes. O homem já parecia não mais saber o que dizer... Logo olhou meus olhos novamente e então se afastou pois estava muito próximo...Ah aquela frase que disse sem pensar... O deixou em fúria.
–O que faz você pensar que me preocupo com você? Meu Pai está irado comigo! E além disso sou responsável por você. Se algo te acontece fico de castigo. E você prometeu não sair mais... Sabe quantos morrem naquele lugar? Quer morrer também íris? Quer se matar? — gritou para mim furioso, com muita raiva em seu olhar, eu apenas fiquei de cabeça baixa do início até o fim daquilo tudo.
Esse era o jeito dele... Sim, nunca sabia o que ele sentia... Era o tipo de pessoa que você jamais ouviria ele dizer que estava mal, que estava feliz, jamais dava para saber nada, ele jamais iria falar algo, você que deveria descobrir, "como você sabe disso Íris? Porque você conhece seu cuidador bem?" Não, simplesmente ele é meu amigo de infância...
Um silêncio pairou sobre nós dois, ele agarrou meu braço com suas mãos e garras cumpridas, logo abriu sua boca "Vou te levar pra sua casa!", aquelas palavras frias e assustadoras, sai dali me tremendo com medo dele, logo me trouxe a porta.
– – X – –
–Ei, Íris.—disse para mim, com um olhar calmo, naquele momento eu estava de frente para a porta, ele estava alguns centímetros longe de mim e eu estava de costas para ele, ouvindo suas palavras fiquei ali mesmo frente à porta sem mover um músculo.
–Sim?
–Tenha uma boa noite...—disse com um tom envergonhado...mexendo na coleira preta... Sim, ali estava um cachorro nervoso mostrando seu lado gentil... Era sempre assim, brigava comigo, mas porque se importava... Alguns chamavam isso de maus-tratos, eu por outro lado, chamava isso de carinho. A forma dele mostrar que se importava era assim.
–Obrigada, você também—disse a ele abrindo a trança da porta com a chave, sua cara ficará vermelha, predadores só conseguem ver o que está a sua frente, presas conseguem ver e ouvir tudo à sua volta...às vezes você não precisa de olhos para ver ou ouvidos para ouvir...só precisa de um deles para ser um todo.
–Não está chateada com o que eu disse não é? Olha eu...
–............
–Íris...eu...é...
–Não precisa se preocupar está tudo bem....enfim boa noite...se cuide..—respondendo-lhe de forma gentil o animal nervoso logo ficou calmo e respondeu me gentil com um meigo sorriso... Abri e fechei a porta...fiquei alguns minutos perto da porta até ter certeza de que ele saiu, dava para ver sua sombra ali debaixo da porta, somente subi quando ouvi suas botas se distanciando...finalmente...ele se fora.
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