Amor, ódio e nojo. Dentre eles, qual o sentimento mais puro?

Há muito tempo atrás, existia uma aldeia próspera na Floresta das Lendas.

Seu nome, era: Lírio da Esmeralda.

Dentro dela, havia muitas pessoas ricas e poderosas.
Lá, era um lugar perfeito.

Um guardião reinava no coração da aldeia. Conhecido por muitos, como dragão de bronze.

O dragão era um ser com a pele alaranjada e chifres gigantescos. Possuía olhos negros e profundos como um abismo sem fim.

O dragão matava animais poderosos, como: lobos, leões e etc.. Mas apesar de tudo, era uma boa pessoa.

Ele tinha que tomar conta de suas proles para que seguissem o mesmo destino, e fizessem seu trabalho corretamente.

O primogênito já era um adulto e havia habilidade, já possuía a própria vida e filhos. Era o filho perfeito.

O segundo, possuía talento e era bom com planos. Seu intelecto era incrível. Ele em si, era incrível.

Mas o terceiro e último filho era fraco, não era muito inteligente e também  não possuía habilidade.

Um dia o filhote estava chateado pois como sempre havia feito tudo errado em seu treinamento. Para esfriar a cabeça ele foi passear na floresta sozinho.

Quando chegou lá se deparou com uma criança chorando. Pegou-a pela mão, e a acalmou.

Os doces olhos verdes brilhantes, pareciam os de uma floresta vivida. A pele morena, era bem clarinha naquele tempo, assim como os cabelos castanhos que antigamente pareciam mechas louras.

A criança confiou no estranho jovenzinho e assim com o tempo passaram a se ver mais, construindo assim um vínculo.

Os anos passaram devagar, fazendo com que a amizade deles crescesse mais forte. Mas um dia quando a criança já havia uma certa idade, ela amou uma armadilha para seu amigo, fazendo com que o rapaz se revoltasse contra ele.

O garoto se sentiu devastado por ter perdido seu melhor amigo, e o dragão de bronze sentiu um certo pesar do filho, que após aquilo jamais foi o mesmo.

O jovem rapaz, tentou explicar diversas vezes que ele nunca tentou roubar-lhe nada e jamais pensaria em fazê-lo. Entretanto, tudo foi em vão.

O garotinho de olhos esverdeados foi embora para um lugar onde poderia se sentir melhor, enquanto o outro seguiu seu caminho...

O tempo passou, ambos viraram adultos.

O garotinho de olhos esverdeados pensou em visitar seu amigo, talvez para explicar as coisas para ele. No momento  em que o menino pisou no antigo território onde vivia, parecia ter acordado no mesmo instante um monstro.

O antigo menino que antes o tinha como um irmão, agora já não mais o reconhecia. A pele morena de uma tonalidade quase caramelizada, brilhava no sol. Seus cabelos castanho-claros pareciam fios dourados com a luz da manhã. E seus olhos azul acinzentados pareciam ver através dele de uma maneira quase mágica, porém fria e cortante.

Ele atacou o rapaz quase o matando. O garoto derrotou o dragão sem matá-lo.

Ele voltou para casa amargurado e fez para si mesmo uma promessa. Uma promessa de nunca mais o procurar, assim fazendo com que ambos tivessem uma boa vida.

Mas agora, o passado de repete... E como sempre as pessoas quebram as regras.

Mesmo separados, ambos ainda são arrastados um para o outro. O destino parece querer pregar peças em frágeis crianças.

Por isso lhe pergunto: o que aconteceria se ambos se encontrassem?

●●●

- Ah! Atrasada de novo, senhorita Shuzuhara. - Fala o guarda no portão, que estava quase para fechar.

- Perdão... não vai se repetir. - Respondo-lhe constrangida.

- É a terceira vez nessa semana. -  Respondeu-me irritado. Ele deu um grande suspiro e então, perguntou: - Tem certeza que está bem?

Não... não estou.

- Sim, estou bem. Obrigada. - Sorri amarelo para ele, que mesmo assim não parecia acreditar em mim. Passei pelo portão andando rápido, me direcionando para o corredor onde ficaria esperando até o segundo tempo para poder entrar.

Respiro fundo e olho para minha perna que estava coberta por minha meia-calça escura. A meia-calça estava um pouco rasgada, e de minha perna escorria sangue.

Meu cabelo também não estava  em sua melhor aparência. Estava bagunçado e com algumas folhas em cima dele.

Meu braço estava dolorido e também estava um pouco ralado.

Respirei fundo e peguei uma escova e uma liga em minha bolsa, fazendo um rabo de cavalo.

De repente o sinal toca. A professora então, abre a porta surpresa. E desapontada...

Antes que ela pudesse me brigar por essa já ser a terceira vez na semana, ela olha para mim e faz um "O" com a boca, assim como todos os meus colegas.

É... tá, eu estou acabada gente... Sei disso. Precisa mesmo disso tudo?

Pigarreio para a professora que parece em transe ao me olhar. Ela de repente volta a si e volta com sua postura (mais ou menos) profissional.

- Posso entrar professora? - Pergunto e ela acente cedendo-me a passagem.

Nenhuma palavra. Nenhuma pergunta. Apenas eu e o silêncio de milhares de olhos me observando intrigados.

Tiro as coisas da minha bolsa,  me preparando para ter uma aula normal. E assim segue-se o resto do dia.

●●●

Arrumo minhas coisas para a aula de educação física. Fico na fila das meninas e tento parecer o mais calada e desinteressada possível.

●●●

Sento-me na arquibancada, pois hoje é dia dos "mais fortes" treinarem, enquanto nós demais animais indefesos, ficamos sentados observando e ganhando metada da nota por isso...

Temos educação física duas vezes na semana e em um desses dois dias um grupo é escolhido para participar de uma atividade feita especificamente no dia determinado. Na terça nós praticamos com os animais de ataque, ou seja, os que foram feitos para contra-atacar.

Enquanto gente como nós, simplesmente participa no dia em que é apenas uma corrida. Enquanto eles lutam entre si, nós animais indefesos ficamos na arquibancada assistindo e ganhando metade da nota por isso.

Também tem vezes em que eles participam da corrida conosco.

Para essas coisas serem possíveis um "predador" deve ser escolhido. Isso é decidido por um telão gigantesco na quadra, que armazena todos os dados dos demais alunos de toda a escola. Em um combate corpo à corpo é escolhido um predador para determinada presa, em combate  em grupo é escolhido um grupo e etc..

Eu sou uma exceção a regra, já que deveria participar do combate, mas como não sei me controlar bem, fico apenas na corrida.

Se bem que, isso nunca me incomodou muito já que falta pouco para eu me formar. Tipo uns três anos... Pouca coisa.

Me acalmei em meu canto na arquibancada, peguei minha bolsa que estava comigo e de dentro dela tirei meu caderno de desenhos para terminar o meu trabalho de artes.

O que para mim é uma perde de tempo, já que eu não sei desenhar. Bem, é só falar para o professor que estou praticando minha pintura abstrata.

Que se dane.

- Ei, Nay! - Fala um garoto de cabelo bagunçado e estilo emo, subindo os degraus da arquibancada e sentando do meu lado.

- Oi, Drean... - Respondi desanimada. Ele é um dos meus melhores amigos, não tenho que mentir para ele.

- O que foi, hein? Você tá tão pra baixo. O que aconteceu? - Perguntou-me gentilmente. Seus olhos âmbar brilhavam como ouro, de uma maneira preocupada e singela.

- Problemas em casa... - Sorri amarelo para ele.

Ele deu um pequeno suspiro e pareceu perceber do que eu estava falando.

- O que ele aprontou dessa vez? - Perguntou Drean, tirando um fio solto de meu cabelo da minha cara e colocando atrás de minha orelha.

- Eu... interrompi o café dele. E bem... ele não gostou.

- Nossa. Apenas isso para ele te deixar assim? Digo, parece mais que ele te fez rolar montanha abaixo e que algumas folhas ficaram presas no seu cabelo.

- Tipo isso... - Suspirei enquanto pintava a minha pintura "abstrata". - Mas o que até agora não entra na minha cabeça é a maneira que ele está me tratando agora. E além disso, tanta força... Ele nunca fez isso antes, Drean. Nunca.

Um silêncio se instalou enquanto ficávamos olhando os outros. Rex e as meninas estavam lá embaixo vendo tudo nos banquinhos.

- Olha, você sempre foi meio cruel com ele... - Me virei rapidamente para Drean, o que o fez tomar um susto e entrar na defensiva. - Digo... Não me leve a mal, mas... você não foi a melhor das amigas para ele, na verdade... Nunca o ajudou quando precisava. Acho que talvez isso tenho deixado ele magoado. E sabe, também foi bem idiota da sua parte abandoná-lo quando ele estava triste por conta da morte da Sera e... - De repente Drean para ao olhar para mim. Lágrimas querem sair de meus olhos, e eu, sou muito fraca para proibi-las.

- Ei... não chore. Eu não queria... - Ele suspira confuso. Senta mais próximo e enxuga minhas lágrimas. Eu o abraço forte e ele  afaga minha cabeça, me dizendo que tudo vai ficar bem.

Nem mesmo nas nossas piores brigas, ele foi tão cruel. Nem mesmo nas outras vezes, ele me tratou tão mal. Nunca me disse palavras tão grosseiras e ao mesmo tempo verdadeiras.

- Ele me disse que... Em todos os seus momentos ruins... Eu o abandonei. Quando Nick estava infernizando a vida dele, eu vi o quanto ele estava inseguro... E não fiz nada. Quando tive uma suspeita de que ele era um transmuto, quis bancar uma de detetive e deixei ele sozinho. Não conversei com ele, não perguntei... nada. Quando já era muito tarde para qualquer coisa, eu o avisei e o persegui...

- Nay...

- Ele me disse que nunca fui amiga dele e que... dessa vez eu tinha mostrado isso de vez... - Falei com a voz um pouco falta.

- Como? - Perguntou Drean, como uma súplica para que eu me abrisse.

- Eu dei uma de inimiga dele e tornei da vida dele um inferno. Depois, "fingi" ser amiga dele e... em todo o tempo não me diz presente... Ele também me disse que eu nunca gostei dele, pois sempre quis que ele fosse uma pessoa diferente do que era...

- Ele realmente tá acabando com você, não é? - Fiz que sim com a cabeça. Drean deu um longo suspiro, e disse: - Você realmente não foi uma amiga muito boa...  Mas... ele também não pode dizer que tudo foi sua culpa.

- Mas Drean... A culpa é minha. Ele tem razão, você sabe disso.

Um silêncio se instalou entre nós. Peguei meu caderno e continuei desenhando. Enquanto isso, Drean me olhava pensando em como eu poderia dizer o que realmente havia acontecido.

Eu estava escondendo algo... Ele sabia. Prometi que nunca mais mentiria, mas a verdade, é que...

Sou uma covarde...

- Tudo bem. - Falou ele, decidido. O fitei surpresa e confusa, me perguntando o que ele queria dizer com aquilo.

- Tudo bem..?

- Você está brava com tudo o que aconteceu, eu entendo. Não quer me contar o que houve, também entendo isso... Mas... você pelo menos poderia ver se consegue dizer o que realmente te aflige? - Perguntou-me, colocando a mão sobre meu ombro. - Guardar as coisas nunca faz bem para ninguém.

Fiquei quieta por alguns minutos.

- Vai, fala. Pode falar.

Respiro fundo e conto para Drean o que houve:

Death estava estranho comigo desde a morte de Sera. E não só comigo mas com todos... Sua natureza gentil parecia ter evaporado como água no deserto. Ele era indiferente conosco, grosso e inexpressivo.

Não falava comigo. Não olhava para mim... Nada. O que era estranho, já que eu e ele não tínhamos brigado. Eu não fiz nada... então, não tinha motivo para ele estar bravo. Ao menos era isso que eu pensava.

Depois da morte e do enterro de Sera, ele passou a agir como se eu não importasse. Passou a caçar tanto na Zona Sul, quanto no Norte. Passou a me tratar como os outros carnívoros tratavam...

Quando eu pensei em perguntar o porquê, desisti pois sabia que ele não iria me dizer, pelo menos não agora que me odiava.

Eu também não tinha como impedi-lo, visto que ele agora estava se defendendo...

O que me fez sentir pior, já que... ele estava sendo bonzinho durante todo o tempo.

Death agora estava ditando as regras...

Eu, por outro lado... estava dando o meu melhor para salvar quem eu pudesse de outros predadores.

No meio de uma de minha patrulhas, dei de cara com uma criança. Um filhote de raposa. De 7-9 anos. Ele estava atrás de um coelho fêmea, imprensando-a na parede. A garota parecia ser de sua idade.

Peguei o menino pelo colarinho e saquei de meu cinto uma arma....

- Espera! Você apontou uma arma para um menino de 9 anos?!! - Perguntou Drean, atônito.

- É. - Respondi calmamente.

- Você é loca?!! - Questionou-me preocupado.

- Eu não ia machucá-lo. Foi só para dar um susto. Sabe, mostrar que eu que mando.

- Essa... não é a melhor forma... Mas... enfim, continue.

- Mostrei a ele uma arma cortante. Ele se sentiu assustado e soltou a coelha. A menina saiu correndo, enquanto eu e ele ficamos ali.

O garoto ficou paralisado na árvore. Quando eu estava chegando perto para lhe dar uma advertência... Death aparece, apontando a espada para mim e me mandando ir para trás.

Não entendi nada, mas assim como ele pediu... eu o fiz.

Death se aproximou do menino, que se antes já estava assustado agora se encontrava em um estado de puro terror, já que havia um leão gigante praticamente a alguns centímetros de distância.

Ele perguntou se o garoto estava bem. O menino surpreso, respondeu que sim. Death no mesmo instante o mandou embora, justificando que dali em diante ele daria um jeito em mim.

O filhote de raposa foi-se embora.

Ficamos apenas eu e ele.

" Vai ficar apontando essa arma para mim por quanto tempo? O garoto já foi embora." Perguntei assustada.

Ele me olhou dos pés à cabeça com desdém.

" Você é tão engraçada..." Falou ele, rindo.

"Hum?..."

"Dizendo que faz tudo isso para proteger as pessoas. Crianças, velhinhos. Gente de todo lugar. Todas as espécies. Mas... você mesmo com um discurso bonito, consegue destruí-lo com suas próprias ações." Disse friamente.

"Do que você está falando?..." Perguntei confusa, ainda com minha faca em mãos.

"Isso na sua mão, é uma faca? E você a mostrou para uma criança? Haha. Logo você? A pacifista?" Perguntou ele, irônico.

"Eu não ia machucá-lo..."

"Não era o que parecia." Retrucou, enquanto apoiava a espada no próprio ombro. " Humhun." Deu uma pequena e simples risada deboxada. "Você não percebe o qual hipócrita é  sua ideologia ?"

Arregalei levemente os olhos e continuei segurando minha faca. A segurei firme em minha mão, preparada para atacá-lo a qualquer momento.

Ele olhou para minha mão, notando o forte aperto que ei na faca.

Ele continuou sério. Parecia bravo. Queria me dizer algo? Perguntei-me.

"Bem... pelo menos..." Ele voltou seu olhar para mim. "Eu estou tentando fazer alguma coisa, diferente de você!"

Ele fez uma leve cara de surpresa e continuou ouvindo.

"Eu... Sei.... Sei que você nunca quis nascer assim. Sei que você não tem culpa, mas... eu também não tenho. E por mais que eu sinta pena de você, e me sinto muito mal por tudo que te fiz... creio que você já consegue enxergar o óbvio. Eu não posso mais te ajudar."

Ele permaneceu quieto.

"Sim, eu sei... Por isso, lhe darei um intimado." Tirou a espada do ombro e apontou para mim, em seguida completou: "Você faz isso para proteger o seu povo, por isso, não pense que vou ficar parado enquanto você oprime e machuca o meu."

"Hum?" Soltei sem pensar. Não entendia o que ele queria dizer. Quero dizer; eu entendi... mas... ele não percebeu que eu salvei aquela menina? Ele não percebeu o que eu fiz? "Eu salvei aquela menina. Aquele garoto ia..."

"Como pode ter tanta certeza?!!" Gritou ele.

"Ham?"

"Como tem certeza de que o que ele queria era machucá-la?! Como pode saber o que ele iria fazer?!" Death respirou fundo. Suas emoções pareciam estar saindo finalmente. A dor e a angústia pareciam escapar de seu interior como as poucas lágrimas se formando em seus olhos. "Ele é uma criança também. O que te garante que tudo que ele queria, não era apenas um amigo que o fizesse companhia?"

"Não.. Eu..." Tentar argumentar, mas as palavras não saíam de minha boca. Parecia... que meu cérebro não sabia mais como formar palavras.

"O que... te faz pensar que ele queria fazer o mal?"

Fiquei em silêncio.

"Bem... é porque carnívoros são..." Me repreendi por soltar aquelas palavras. Corrigi-me a tempo. Entretanto, isso não foi o bastante para deixa-lo satisfeito.











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