Capítulo 9 - O Teste

A princípio, o beijo me deixou paralisada. Eu fui totalmente pega de surpresa, então era compreensível que a ficha de que o Dan estava mesmo me beijando não tivesse caído ainda. Porém, o momento de surpresa não durou menos do que alguns segundos, pois segurei sua nuca e o puxei para mim, correspondendo ao beijo com vontade.

Dan me beijava de um jeito tão urgente que me fez pensar que ele já tivera vontade de fazer aquilo outras vezes, e só tinha se dado conta disso agora. Meu melhor amigo agarrou a minha cintura com vontade enquanto me prensava ainda mais contra a parede. Meu corpo pegava fogo, e eu tenho certeza que o dele também, ao julgar a forma como ele me apertava contra si.

Infelizmente, meu melhor amigo se separou de mim, encarando-me de um jeito ofegante e surpreso. Seus lábios inchados ficaram ainda mais convidativos, e eu precisei de muito controle para não puxa-lo para mim novamente. Percebi que Isabel não se encontrava por perto.

— Encontrei a colorida aqui. — disse Jonathan, trazendo uma Wanessa emburrada junto consigo.

— Não me chame assim! — Ela gritou, puxando seu braço bruscamente. Minha amiga realmente estava irritada com seu amor.

Pelo olhar com que Jonathan nos encarava, eu tenho certeza de que ele tinha me visto aos beijos com Dan. Havia um fulgor de malícia em seus olhos que o denunciava. Dan também percebeu, pois ficou ruborizado.

— Hora de irmos embora. — Dan me rebocou até o lado de fora da festa, onde seu carro estava estacionado. Presenciei duas garotas e um cara vomitando no gramado, e um outro jogador de futebol americano cochilando em cima de uma garrafa de cerveja vazia.

— A Isabel não vem com a gente? — Alfinetei, ainda me sentindo eletrizada pelo beijo. O efeito do álcool até tinha se dissipado um pouco, apesar de eu ainda sentir que tudo girava.

— Acho que ela já foi. — Dan respondeu, dando de ombros.

Jonathan foi com Wanessa no banco de trás. Ela estava num estado ainda pior do que o meu, e roncava com a cabeça encostada na janela do carro. Eu fui na frente com Dan, que encarava a estrada com atenção.

— Os pais de Wanessa estão em casa? — Jonathan indagou, temeroso. Foi Dan que o respondeu.

— Não, eles estão fora da cidade e só voltam amanhã.

— O Jonathan vai cuidar dela? — Virei o pescoço com rapidez quando entendi porque Jonathan perguntava aquilo e senti a visão embaçar novamente.

— Ei! — Jonathan protestou, ofendido.

— Você não está em condições nem de cuidar de si mesma, Lola. — Dan respondeu, dando um sorriso de lado.

— Eu prometo que vou cuidar da Wanessa. Não sou nenhum tarado aproveitador de garotas bêbadas.

Encarei Jonathan que estava no banco de trás do carro. Ele olhava para Wanessa com preocupação, e acho que foi a primeira vez que o vi agir assim com uma garota. O jogador parecia falar sério, mas mesmo assim, eu decidi ameaça-lo:

— Se qualquer fio de cabelo dela estiver fora do lugar amanhã, considere-se morto!

— Entendido. — Ele meneou a cabeça para frente e abriu um sorriso tranquilizador para mim. Ele ajeitou Wanessa no banco, cujo pescoço estava torto por conta do sono pesado. Achei aquela cena bem fofa, confesso.

Dan deixou Jonathan em frente à casa de Wanessa. Ela acordou, sonolenta, e Jonathan a conduziu para dentro da casa com cuidado.

Um silêncio que não foi quebrado se instalou no veículo. Eu sabia que Dan ainda se sentia constrangido pelo que tinha acontecido, e eu morria de medo de que meu amigo não quisesse mais a minha amizade, ou me magoasse quando dissesse que o beijo não tinha significado nada. Porém, ele não disse nenhuma palavra até me conduzir ao meu quarto na ponta dos pés, já que meus pais dormiam.

Ele me ajudou e me colocou no banheiro. Tomei um banho, e quando saí, com um pijama fresquinho, eu já me sentia mais sóbria.

Dan se encontrava deitado em minha cama, encarando o teto. Eu me deitei ao seu lado, receosa.

— Lola, eu não quero que a nossa amizade fique estranha por causa do que aconteceu. — disse ele depois de alguns minutos de silêncio.

— Eu também não quero.

— Nós só nos beijamos porque foi o calor do momento, certo?

Eu poderia discordar daquilo, mas o que eu falaria? O Dan não gosta de mim da mesma forma que ele se interessa pela Isabel, então preferi simplesmente concordar.

— Certo...

— Eu quero chamar a Isabel para sair, o que acha?

Eu engoli em seco e o encarei, pensando nos planos de Wanessa. Ela disse que só agiríamos caso a Isabel fosse uma ameaça, e naquela noite ela provou que era. Wanessa não ficou sóbria o suficiente para testemunhar tudo, mas que se dane. Era a minha vida sentimental em jogo ali e não a dela.

Eu não iria aguentar ver o Dan e a Isabel juntinhos durante o intervalo. Só de pensar nisso meu estômago já embrulha.

— Não acho que seja uma boa ideia ainda. Vocês se conhecem muito pouco, e acredito que ela pense que nós dois temos algo.

Dan me olhou de forma pensativa com o que eu disse.

— Então esse é mais um motivo para que eu a chame para sair.

— Vai ser muito mais legal se você fazê-la acreditar que somos um casal. Não me leve a mal, mas a Isabel não parece estar muito afim de você. Ela comentou comigo ontem que queria muito se aproximar do Shane Wolf, mas que tem muita vergonha. — Ela não tinha dito nada sobre ele, mas eu não me importo. Se eu tiver que colocar o Shane ao lado dela, eu vou colocar. Ele arrasta uma asa por qualquer rabo de saia, e a Isabel deve ter despertado o seu interesse. Se der certo, talvez Isabel esqueça o Dan e todos ficamos felizes e contentes.

Dan ficou encarando o teto, pensando. Fiquei com medo de que ele não acreditasse em mim.

— Eu os vi hoje conversando na festa. Eu pensei que...

— Você precisa fazê-la pensar que nós temos uma amizade colorida, ou sei lá. — eu disse, interrompendo-o antes que ele concluísse seu raciocínio — Eu sei que ela está meio balançada entre vocês dois, e fazer com que ela sinta ciúmes é a tática perfeita de aproximação.

— Tem certeza disso? — Ele franziu o cenho, pouco convencido.

— Vai por mim, quanto mais você esnoba uma garota, mais ela vai ficar caidinha por você. — Pelo rosto do Dan, ele discordava daquilo — Olha, não precisa ficar maltratando a menina ou agir como um Jonathan da vida. A única coisa que você precisa, meu caro amigo, é fazer ciúmes na Isabel por algumas semanas. Ela vai cair na sua!

— Como que vai funcionar essa tática?

— É só fingirmos que estamos juntos, Dan. Não é tão difícil assim. — Revirei os olhos e o encarei de forma incisiva — E então? Você topa?

— Tudo bem, eu topo.

Eu lhe dei um abraço empolgado e sorri. O plano de Wanessa foi iniciado com sucesso, e agora nada vai me deter.

[...]

O teste para novas líderes de torcida iria começar depois da aula, e Isabel se encontrava animada e ansiosa para mostrar todo o seu potencial. Se ela era a capitã em seu antigo colégio, acredito que não exista nada que vá impedi-la de passar nessa porcaria de teste.

— Minha cabeça está doendo muito. — Wanessa disse, encostando a cabeça no armário ao lado do meu. — Não acredito que me deixei beber daquele jeito. — Ela fechou os olhos e franziu a testa.

Minha amiga já estava a par dos últimos acontecimentos porque eu fiz questão de contar tudo a ela pelo whatsapp. Não sei se ela prestou atenção por causa da ressaca, mas pelo menos ela não seria pega de surpresa agora.

— A festa ontem foi muito louca. — comentei, tentando tirar alguma informação dela que pudesse esclarecer se ela estava ciente das coisas que fez na noite anterior.

— Foi tão louca que você e o Dan se beijaram. — A olhei de modo estupefato — Mesmo de ressaca, eu presto atenção nas mensagens que eu recebo. — Ela disse, abrindo os olhos e os fechando novamente com uma careta.

— Pelo menos isso.

— Acredita que encontrei o Jonathan roncando no sofá da sala? Imagina se meus pais chegam antes da hora em casa? Eu estaria encrencada!

— Ele cuidou de você ontem.

Wanessa colocou uma mecha de seu cabelo rosa atrás da orelha e fez uma careta de raiva.

— Eu quero distância daquele idiota. As imagens da festa da Kaitlin ficam indo e voltando na minha cabeça. A única coisa que lembro é de que bebi muito e que beijei uma garota.

— Foi basicamente tudo o que você fez ontem mesmo.

Wanessa me deu um soco de leve no ombro e eu a abracei. Juntas, fomos até a sala de aula para assistir a primeira aula. Como sempre, senti que algumas pessoas nos observavam, mas eu não liguei. Era sempre assim no Elite, as pessoas sempre gostavam de olhar para nós. Como ontem teve uma festinha regada a vazamento de fotos, as pessoas olhavam ainda mais do que o normal, principalmente quando é o seu rosto que aparece nas fotos comprometedoras.

Não encontrei Nancy por onde passei, mas eu também não fiz muita força para procura-la. Se eu fosse ela me mudaria para o outro lado do planeta.

Natasha Brenson, a amiga valentona de Jason Fitzpatrick, esbarrou em mim no momento em que entrei na sala de aula.

— Vê se olha por onde anda, patricinha. — Ela me encarou com raiva em seus olhos pequenos e eu não me intimidei. A garota pode ser famosa por ter um gancho potente de direita, mas eu não tinha medo da sua pose de machão.

— Vai pentear esse cabelo e me esquece garota nojenta! — esbravejei a plenos pulmões, fazendo quem estava dentro da sala rir. Natasha me deu o dedo do meio e foi se sentar no fundo da classe, junto com Franklyn, a minha cola humana em Álgebra II.

— Essa aí não tem classe nenhuma mesmo. — comentei com Wanessa antes de me sentar.

Dan chegou no momento seguinte acompanhado de Isabel. Os dois estavam aos risos e só aquela imagem perturbou a minha cabeça e fez meu corpo todo se acender em fúria.

— Oi, meu amor. — Assim que Dan se aproximou de nossa mesa eu lhe dei um beijo no canto da boca e um abraço que fez Isabel ficar nitidamente chateada. Aquela cena me fez sentir triunfante. Meu melhor amigo coçou a nuca, desnorteado.

— Oi, Lol. — Ele se virou para minha amiga sentada na mesa de trás — Wanessa. Fico feliz que você já esteja sóbria.

— Calado, Dan.

— Guardei seu lugar do meu lado, querido. — Tirei a minha bolsa da carteira ao lado e observei o pescoço de Dan se voltar para Isabel, que parecia um peixe fora d'água parada ali. Dan claramente pretendia sentar do lado daquela garota, mas eu não podia permitir isso.

— Tudo bem, eu sento com a Wanessa. — Ela disse, sorrindo de lado e colocando sua mochila na mesa do lado de Wanessa. Dan se sentou ao meu lado, e a professora chegou.

— Acho que essa coisa de fingirmos que somos namorados não vai dar certo. — Dan murmurou, me olhando de soslaio.

— Você que pensa. Se ainda não notou, o plano está funcionando como uma maravilha. Não percebeu que a Isabel se sentiu incomodada quando te cumprimentei? — indaguei, observando o semblante de Dan ficar pensativo.

— Não reparei.

— Para um cara inteligente, você é bem lerdo. É só entrar no clima que as coisas vão dar certo. Confie em mim, Dan. Eu sei o que estou dizendo. — Coloquei a minha mão por cima da sua na mesa e sorri.

Meu melhor amigo também sorriu e entrelaçou seus dedos aos meus. O calor de sua pele na minha fez com que tudo ao meu redor ficasse mais bonito.

— Eu confio em você, Lol. — Suas palavras fizeram meu coração ficar apertado, uma vez que eu tinha inventado aquele plano para meu próprio benefício. Eu só queria afasta-lo da Isabel, e Dan achava que eu estava lhe ajudando a ficar com ela. A perspectiva de engana-lo quase fez com que eu me sentisse culpada, mas aquilo não aconteceu naquele dia.

Não, isso só aconteceu quando já era tarde demais.

[...]

Depois da aula, todas as cheerleaders estavam reunidas na quadra da escola organizando os últimos detalhes do teste para novas líderes de torcida. Homens também podiam participar, e haviam alguns deles aguardando ansiosamente do lado de fora junto com as demais participantes. Kaitlin já havia aberto seu sorriso sádico para analisar os pré requisitos das fichas dos inscritos. Ela adorava humilhar os participantes que não iam bem nas etapas, e os que iam bem ela também gostava de hostilizar. Aparentemente, a loira já tinha se recomposto do incidente de sua foto vazada. Queria saber se ela terminou de acabar com a sua stalker particular.

Eu, Kaitlin, Olivia e Cassandra ficaríamos sentadas atrás de uma mesa como se fôssemos jurados do The Voice. A primeira etapa do teste era individual, e os escolhidos passariam para a segunda etapa. Esta seria em grupo, e o restante dos cheerleaders iriam nos auxiliar. Agora, os demais estavam sentados na arquibancada observando tudo o que estava prestes a acontecer.

Kaitlin pediu para os candidatos entrarem e se acomodarem do outro lado da arquibancada. Chamei a primeira candidata a frente e ela nos fitou de um jeito ansioso. Kaitlin contorceu o rosto ao olhar para a garota, e eu me surpreendi ao ver o nome da Nancy (a stalker fotográfica) na lista para o teste.

A primeira candidata tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo mal feito e um sério problema com acne. Usava um aparelho fixo que deixava a sua boca ainda maior do que já era. Se o critério utilizado fosse só a beleza, ela já teria sido eliminada.

Quando Kaitlin pediu para que ela se apresentasse, percebemos que a menina não sabia executar nenhum movimento sequer e os que ela executava eram mal feitos e descoordenados. Kaitlin e as outras já riam sem pudor algum da menina, que se retirou da sala aos prantos.

Me surpreendi com alguns candidatos que apareceram, principalmente os garotos e Kaitlin, claro, concordava comigo. Quando se tratava de habilidades no cheerleading, nós tínhamos as opiniões parecidas.

Nancy, a stalker, fez um teste bem razoável. Não era boa, mas também não era terrivelmente ruim, e eu me surpreendi quando Kaitlin fez um s na ficha dela.

— Ficou maluca? — indagou Olivia. Eu também estava estupefata, mas Kaitlin resolveu não responder.

Isabel foi uma das últimas, e seu teste individual foi melhor do que o da maioria. Por ter sido capitã na antiga escola, eu não esperava menos dela. Tentei guardar para mim toda a raiva que eu sentia de ter que atura-la ali também, já que a Kaitlin e todas as outras garotas a observavam animadamente. Isabel era realmente boa, e nem isso eu podia negar.

De 30 pessoas inscritas, sobraram somente 17.

O teste coletivo funciona basicamente assim: Colocamos uma música rápida para tocar, fazemos uma sequência de movimentos e todos precisam pegar a sequência rapidamente para poder executa-la.

Eu e as outras meninas ficamos demonstrando os movimentos, e mais uma vez, os garotos aprovados nos surpreenderam ao pegar rapidamente a sequência que inventamos. Isabel foi uma dessas pessoas, junto com outras 5 garotas, e eu não me surpreendi com aquilo.

Nancy teve alguns problemas para pegar a coreografia, mas depois de algumas repetições, ela também já dançava.

Kaitlin sorria como se tivesse descoberto o ouro ao olhar para Isabel, e eu sabia que ela já estava dentro do time antes mesmo que nos reuníssemos para nos decidir.

Isabel acenou para mim e para Wanessa e foi se sentar com os outros para aguardar o resultado.

Atura-la seria difícil, mas eu faria o sacrifício. A única coisa que ela não pode fazer é se inscrever para ser a capitã do time das líderes de torcida. Se Isabel saiu da escola antiga, eu não tenho nada com isso. Ela perdeu esse posto e não vai recuperá-lo aqui no meu colégio. Não, isso eu não vou permitir.

Me juntei com as outras meninas para anunciar os aprovados. Dos 17, sobraram somente 10 para integrar o nosso time. Era um número melhor do que o teste do ano passado, e a julgar que agora tínhamos meninos no time, nossos números ficariam ainda melhor.

Isabel foi uma das aprovadas. Assim que ouviu seu nome, ela deu um gritinho agudo e correu para abraçar a mim e a Wanessa. Meu corpo quase repeliu o contato, mas eu lembrei que eu tinha que bancar a amiga e a abracei de volta.

— Obrigada por me aceitarem no time! — Isabel voltou seus olhos azuis para Kaitlin, que tinha um olhar diabólico. Aquela garota era tão demoníaca quanto eu.

— No sábado faremos uma festa na casa de Alisha para a iniciação de vocês no cheerleading. Seus números já estão no nosso grupo do whatsapp. Fiquem de olho nele pois lá vocês ficam sabendo os dias e horários dos ensaios, eventos e outras coisas que participamos. Alisha vai postar o endereço da casa dela para vocês e a presença é obrigatória. — Eu disse, altiva para que todos me escutassem. Alguns dos novos integrantes já pegaram seus celulares com um sorriso ao verem o grupo em suas telas do whatsapp. Aquela empolgação que eles sentiam era legal, mas eu não estava com bom humor para aquilo.

Além da Isabel ter sido aprovada, Nancy, a stalker das fotos, também estava no time agora. E se mesmo com suas poucas habilidades Kaitlin a colocara no time, isso quer dizer que ela ainda tinha algo contra a Kaitlin. Algo ainda mais sério do que uma simples foto comprometedora, e eu precisava descobrir o que era.

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