Capítulo 6 - O Jogo

— E aí, o que você vai fazer? — Wanessa indagou aos sussurros para mim enquanto nos arrumávamos no vestiário feminino. Hoje é a estreia do nosso colégio no campeonato estadual de futebol americano, e nós iríamos animar a torcida.

Depois, haveria uma confraternização na casa de Kaitlin, uma festa de boas vindas aos calouros e uma celebração para a estreia do nosso time no campeonato estadual. A festa seria aberta para o colégio todo, mas eu tenho certeza de que só a grande maioria de pessoas descoladas e populares estará nessa festa.

— Eu não sei... — Sussurrei de volta, porque eu realmente não sabia. Eu tinha pesquisado sobre Bill e Isabel tudo o que a minha mente se permitiu conseguir ontem à noite, e Wanessa ficou realmente horrorizada quando soube que a tal mensagem anônima estava certa.

Minha melhor amiga não acreditava que Isabel tinha matado o Bill, mas eu fiquei com um calafrio na espinha mesmo assim. A história era bizarra demais.

Pelo que eu pesquisei, Bill e Isabel eram o casal perfeito até ele começar a trai-la. Os dois brigavam e reatavam o romance por incontáveis vezes, e relatos de amigas de Isabel diziam que ele já tinha machucado a loira. Ele era obcecado por ela e a perseguia.

Bill se matou, mas a polícia achou DNA de Isabel na cena do crime e foi por isso que ela fora acusada como a principal suspeita do crime. Foram meses de investigação até que a polícia encerrasse o caso como suicídio. Houve muitos interrogatórios, e acabou que a explicação para o DNA de Isabel estar lá era porque ela esteve com Bill momentos antes do suicídio. Ela teria ido ao alojamento dele terminar de vez o relacionamento.

— Eu não acho que ela seja uma assassina... — disse Wanessa, curvando-se para amarrar o cadarço de seu tênis.

— Eu sei, mas não é por isso que devemos confiar nela. O Dan está cada dia que passa mais encantado por essa garota, e eu estou ficando cada vez mais presa na friendzone! — exclamei, ajeitando o uniforme das líderes de torcida. Ele se moldava perfeitamente bem em meu corpo. Prendi meus cachos em um rabo de cavalo alto, sentindo-me satisfeita.

— Ainda não podemos agir, Lola. O próprio Dan disse que ela é uma garota legal que tem gostos em comum com ele e mais nada. Precisamos de mais provas.

A olhei como se eu estivesse a ponto de ter uma síncope.

— Mais? Vamos esperar que ele peça a mão dela em casamento?

Wanessa gargalhou, enquanto se levantava do banco em que estava sentada amarrando seu cadarço.

— Você é muito exagerada, Lol. Vamos ver o que acontece no jogo e na festa hoje primeiro. — Ela disse, saindo do vestiário e indo em direção as outras garotas. Fiz o mesmo que minha amiga, sentindo-me insatisfeita por ter que esperar mais para poder agir.

As cheerleaders estavam reunidas no corredor. Umas se alongavam, outras conversavam de forma animada e outras tiravam selfies de si mesmas ou com outras integrantes do time. Kaitlin me encarou e eu a encarei de volta, meus olhos brilhavam.

Peguei meu celular e digitei uma mensagem para Dan, desejando-lhe boa sorte no jogo de hoje. Ele respondeu rapidamente, agradecendo a mensagem e me mandando uma foto de si mesmo no vestiário.

Ele estava tão lindo que eu até perdi o fôlego.

Dan era umas estrelas do time de futebol americano do nosso colégio, assim como Jonathan. Os dois eram uma força imbatível, e além de serem melhores amigos, são uma dupla dinâmica em campo.

Guardei meu celular, me lembrando de que a Isabel também já deve estar na arquibancada, esperando junto com os outros. Ela fora convidada pessoalmente por Kaitlin para a sua festinha pós-jogo. Na próxima semana faríamos um teste para recrutar novas garotas e garotos para entrar no nosso time de líderes de torcida, e claro que Isabel estava empolgada em participar do teste.

Se ela passar, vai ser um saco.

— O jogo está prestes a começar! — comentou Lia Moore, parando ao meu lado. Ela era uma das meninas mais tímidas do time, e só foi aceita por Kaitlin porque ela realmente é muito boa. Do contrário, ela nem estaria aqui.

— Fique calma, tudo vai dar certo. — Eu sorri para Lia ao notar seu nervosismo. Ela me olhou de um jeito doce, e eu me senti bem em poder acalma-la.

— Assim espero. — disse ela, respirando fundo logo em seguida.

Eu e as meninas nos organizamos no corredor quando sentimos que a cerimônia de início do campeonato estadual estava prestes a começar. Ao comando de Kaitlin, nós corremos de forma animada para o campus do colégio, enquanto uma música de fundo animada tocava.

A arquibancada do nosso colégio e a do time rival vibraram enquanto eu e as outras garotas nos posicionávamos em frente a arquibancada que pertencia ao nosso time.

Acenei para Dan, que estava se preparando junto com os outros, e ele mandou um beijo para mim que deixou todo o mundo morrendo de inveja.

Fizemos a coreografia que preparamos para o início do jogo. Agora eu era uma flyer, e me senti muito bem enquanto era jogada para cima e fazia os stunts acontecerem. Wanessa era uma das bases, e apesar de ser pequena, ela tinha muita força em seus bracinhos.

Cantamos a música de torcida que fizemos especialmente para o campeonato estadual enquanto ambos os times entravam em campo.

Enquanto eu e as cheerleaders animavam o jogo, pude perceber o olhar de Dan pousar na arquibancada algumas vezes antes do jogo começar. Eu seguia seu olhar, e em todas as vezes eu via a Isabel acenando para ele de onde ela estava.

Eu senti vontade de morrer de tanto ódio.

Quando o jogo acabou, nós celebramos a vitória de nosso colégio. Dan e Jonathan foram levantados no ar por seus amigos enquanto eu e as meninas pulávamos e sorríamos. Wanessa fingia que estava muito empolgada, mas eu sabia que ela estava doida para que tudo aquilo acabasse logo.

Corri até Dan e o abracei fortemente. Ele, que estava tão suado quanto eu, me abraçou de volta no mesmo instante. Meu melhor amigo estava radiante pela sua performance em campo e por terem vencido aquele jogo que se mostrara tão difícil.

Wanessa também fora parabenizar Dan, e estacou no meio do caminho ao ver Jonathan aos beijos com Samantha Rodney, uma garota muito bonita do Clube de Teatro.

Os olhos de minha amiga se encheram de lágrimas e, sem mais nem menos, ela saiu correndo pelo campus.

— Eu vou atrás dela. — Eu disse para Dan, que preocupado, assentiu com a cabeça.

Esbarrei em Isabel quando me virei para correr.

— Oi, você estava fabulosa! — Isabel disse, sorrindo de forma empolgada. Tive vontade de deixa-la falando sozinha, mas a educação e o bom senso falaram mais alto daquela vez.

Abri um sorriso forçado para ela.

— Muito obrigada, Isa.

A loira olhou para Dan de um jeito tímido. Ela o parabenizou pelo jogo, e Dan coçou a nuca, um claro sinal de que estava nervoso.

Eu até poderia ficar e estragar a conversa dos dois, mas a minha melhor amiga precisava de mim naquele momento, então eu decidi deixá-los ali, não sem antes dar um beijo demorado na bochecha do meu melhor amigo que deixou Isabel encabulada.

Me despedi dos dois e encontrei Jonathan caminhando para o vestiário masculino. Por onde ele passava, recebia os cumprimentos da galera. Passei por ele socando seu ombro com toda a força.

— Que porra é essa, Lola? — Ele indagou, assustado com a minha violência. O fuzilei com o olhar.

— Você é um babaca mesmo.

Não fiquei para ouvir o que ele diria e corri até o vestiário feminino. Algumas meninas se trocavam, e não havia indícios de que minha melhor amiga estaria ali. Suas coisas também não estavam em seu armário, o que me levou a crer que ela já tinha ido embora. Peguei as minhas coisas e saí dali.

Mandei uma mensagem para minha melhor amiga e fui para o lado de fora do colégio.

Lola Roberts:

Onde você está???

A movimentação na rua era muito grande, as duas escolas saíam em peso e quase que ao mesmo tempo. Fui parar no meio fio e me encostei em uma árvore para esperar a resposta de Wanessa.

Wanessa Davis:

Fui para casa. Vou me trocar e nos vemos na festa.

Lola Roberts:

Está tudo bem?

Wanessa Davis:

Não, mas vai ficar.

Essa festa promete.

Estranhei o comportamento da minha melhor amiga. Do jeito que ela é, vai querer se embebedar para esquecer a tristeza de ter seu coração partido pelo mesmo cara pela enésima vez.

— Oi, Lolita. — O ronco do motor da moto de Jason Fitzpatrick me assustou.

— Não me chame assim! — exclamei, dando alguns passos para trás para me afastar daquela máquina mortífera.

— Você vai assistir a nossa peça na próxima sexta? — Jason abriu um sorriso charmoso enquanto tirava alguns fios de cabelo rebelde do rosto. Ele participa do Clube de Teatro junto com outros alunos, e estavam ensaiando uma peça que eu nem lembro mais qual é.

— Claro que vou, não é como se eu tivesse escolha. — Eu disse, revirando os olhos.

Jason esquadrinhou meu rosto com o olhar, e eu fiquei corada de vergonha.

— Vamos, Lola? — Dan apareceu ao meu lado e encarou Jason como se ele fosse uma ameaça.

— Até mais tarde, Lolita. — Jason disse, ignorando Dan e acelerando a sua moto, partindo pela rua como se ele estivesse dentro do filme Velozes e Furiosos.

— Não sabia que você era amiga do Jason. — Dan me encarou com o maxilar trincado e com uma irritação evidente. Ele não gostava do Fitzpatrick e gostava menos ainda de me ver conversando com ele.

— E eu não sou. Ele que fica me importunando o tempo todo.

Olhei para o lado e notei que Isabel estava perto de nós e tinha presenciado tudo. Eu sorri por dentro, pois agora ela achava que Dan estava com ciúmes de mim, o que só fomentava ainda mais a questão de termos "uma relação" especial.

— Bom, eu vou indo. Encontro vocês na festa da Kaitlin. — Ela ajeitou a alça da bolsa em seu ombro, desconcertada.

— Tem certeza de que não quer uma carona? — Dan perguntou, prestativo. Contive a vontade de revirar os olhos.

— Não, obrigada. Até mais. — A loira acenou para nós antes de seguir seu caminho.

Dan a olhava, e o que eu vi no seu olhar foi capaz de esmagar meu coração contra o peito.

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