Rosa e Alfredo

Minha mãe se preparava para a feira daquele dia e
arrumava todas as frutas que tínhamos colhido num dia anterior dentro da caçamba da nossa pick up.

Naquela altura, Mariane e eu já tínhamos saído para a escola, entretanto minha mãe estava sozinha e super atrasada para o seu trabalho na feira.

Com muita pressa, subiu no carro girando as chaves dando a partida. Num súbito, usou os freios rapidamente, dando um pulo no assento quando viu Alfredo surgindo como um fantasma diante do veículo.

Se ela não fosse tão rápida o teria atropelado.

_ Meu Deus, criatura! Quer me matar de susto?
Gritou, pondo as mãos no coração acelerado.

_ Desculpe, Rosa.
Disse, erguendo os braços tentando acalmar.

Ela desceu do carro fechando a porta com violência.

_ Mas o quê você está fazendo aqui, homem de Deus? Prometemos que você jamais andaria por aqui, lembra?

Ele se aproximou devagar.

_Não se preocupe. Eu esperei que estivesse sozinha para vim.

Alfredo estava todo o tempo escondido nas árvores só esperando o momento certo para aparecer.

_ O que você quer? O que poderia ser tão importante que não poderia esperar o dia que eu fosse a sua casa?

_Eu realmente gostaria que pudéssemos esperar... Mas não podemos.

_ Agora me deixou preocupada de verdade.

_ Acho melhor conversamos lá dentro.

Rosa olhou como se não tivesse opção.

Ela Foi na frente acenando com a mão em direção a casa e ele a seguiu.

Quando o velho entrou, parou no meio da sala e ficou admirando cada canto do lugar.

_ Nossa! Faz tempo que não entro aqui... Tenho boas recordações dessa sala... Lembra quando a gente passava a noite jogando cartas e escutando música? As vezes sonho com aqueles dias... Parecem tão reais.

_ Claro que eu lembro, Alfredo
Disse minha mãe, sentando e fazendo um gesto para que ele a imitasse _ Mas acredito que não tenha vindo até aqui, meu amigo, quando pedi que nunca viesse, só pra recordar do passado.

Ele sentou devagar.

_ Eu sei que prometi isso _ iniciou _ Mas eu precisava lhe dizer o que está acontecendo antes que seja tarde demais... Se já não for...

_ Mas do que está falando?

_Do Destino, Rosa... Acho que ele está pregando mais uma de suas peças outra vez...

_ Não estou entendendo. Como assim o destino?

_ Estou falando do filho de Humberto... E da menina, filha de Michele.

_O que têm eles?
Mostrou- se interessada.

_ Estiveram na minha casa esses dias, fazendo várias perguntas sobre o passado.

Rosa ficou em silêncio e engoliu em seco.
_E o que você disse?... Espero sinceramente que não tenha falado nada demais, Alfredo!

_ Não precisa ficar nervosa. Apenas falei a verdade. Do quanto todos nós éramos amigos na juventude. Só isso!

Rosa massageou os joelhos e respirou.

_ Agora eu entendi tudo... A curiosidade de Alexandre em querer saber sobre você outro dia... Era isso!_ pausa para análise_ Não devia ter recebido eles em sua casa!..._ Silêncio outra vez olhando pro vazio e se ergueu _ Mas porquê esse interesses no passado logo agora?

Encarou o velho, amedrontada.

_ Na verdade... Foi culpa minha. Vi os dois no lago um dia e comecei a falar um monte de besteira sobre Michele... A garota é muito parecida com ela, você sabe, então, num certo momento eu saí de mim e pirei..._ Balançou a cabeça desapontado _Comecei a dizer coisas sem sentido e talvez com isso, ativei a curiosidades deles. Pra piorar, no dia seguinte, estava falando com a menina no telefone acreditando copiosamente que era você.

Rosa lembrou do episódio. Realmente havia achado estranho Mariane dizer que tinha sido um
engano.

_ Você devia ter expulsado os dois na hora_ Ela reafirmou_ Foi um grande erro ter dado atenção a eles, Alfredo. Agora vão fundo nisso, pode ter certeza!

Ela esfregava as palmas das mãos num gesto rápido

_ Pra ser honesto, Rosa, eu estou mais preocupado com outra coisa.

_ Com o quê?_ Ela o olhou assustada_ O quê poderia ser pior do que meu filho descobrir o que aconteceu?

_ Posso está enganado, mas acho que você deveria prestar mais atenção no que esse dois andam fazendo...

Os olhos dela cuspiram fogo em cima do velho.

_ Mas que Diabos você está falando?

_Você sabe Rosa. Eles são jovens... Sinceramente, não sei se é uma boa idéia deixá-los sempre tão sozinhos nesta casa.

_ Seu velho doente! Como pode insinuar algo tão sujo e imoral dessa maneira?_ A ira de Rosa quase o consumiu_ De quem você pensa que estar falando? Lave sua boca antes de dizer qualquer coisa sobre meu filho! _ Estava perplexa com a ousadia dele_ Alexandre foi um menino muito bem criado e jamais faria algo tão... _ Se interrompeu, balançando a cabeça negativamente_ Não consigo nem imaginar tal coisa.

_ Mas por que todo esse espanto? Afinal, não seria a primeira vez que isso estivesse acontecendo novamente bem debaixo do seu nariz, não é mesmo?

_ Acho que já estar na hora de você ir, Alfredo. Não temos mais nada pra conversar. Essa história acaba aqui. Agora!
Disse um pouco zangada, vendo que ele tinha ido longe demais.

_ Rosa, querida, não fique com raiva de mim... Eu só quero proteger você de mais um sofrimento. Me perdoe se fui indelicado ou algo parecido... Mas é que eu não aguentaria ver você passar por tudo aquilo de novo.

_ Entendo sua preocupação... De verdade. Eu sei que você só quis o meu bem e sou muito grata por isso. Mas pode deixar que do meu filho cuido eu. Conheço meu Alexandre melhor do que ninguém e sei que ele nunca faria algo assim. Eles jamais mexeria com alguém da sua própria família. Pelo o amor de Deus!

_ Espero que você esteja mesmo certa Rosa... Mas não se esqueça de quem ele é filho. Então, se eu fosse você, ficaria de olho.

_Alexandre não é igual o pai. Nunca será. Sempre foi um menino muito respeitador.

_Espero que sim. Pois dessa vez, a situação seriam bem mais desastrosa.

Alfredo se dirigiu para a porta.

Ela o seguiu mas enquanto
ele descia as escadinhas ela o chamou.

_ Alfredo.

Ele parou obedecendo, e a fitou.

Ela continuou.

_ O que você viu... Deve ter sido só coisa da sua cabeça.

O velho baixou a cabeça balançando um talvez e falou com certa ironia:

_ Rosa, Rosa... Você não aprendeu nada mesmo _ A encarou _ Continua ingênua como há décadas atrás.

Minha mãe ficou na porta vendo Alfredo tomar distância.
Fechou a porta e sentiu todo o peso de um passado lhe tomar as costas.

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A partir daquele dia minha mãe praticamente evitava sair de casa. Até deixou o trabalho na feira um pouco de lado.
Quando perguntei o porquê de ter desistido das vendas de frutas, ela mentiu, dizendo que já estava velha e cansada pra esse tipo de serviço. Mas na realidade ela apenas estava seguindo o que o seu amigo tinha lhe aconselhado, de não deixar minha prima e eu sozinhos em casa.

Durante esse tempo, sendo vigiados por ela, não tive mais um pingo de privacidade. Foi um período meio chato, confesso! Pois todas as vezes que percebia que eu estava à sós com Mariane, na sala, cozinha ou qualquer outro canto da casa, ela simplesmente corria e ficava entre nós. Sempre inventando alguma tarefa para fazermos juntos. Ou De preferência, tarefas individuais, que nos separasse.

Teve momentos que já não conseguia disfarçar minha cara de aborrecimento.
Toda hora minha mãe estava lá entre nós.

Sentindo toda essa pressão em cima da gente, Mariane e eu resolvemos nos afastar um pouco mais durante o dia e combinamos de ficar juntos apenas nas madrugadas. Um no quarto do outro. Era o único local e a única hora em que ela não poderia estar nos observando.

Foi muito cruel, porque antes, durante o dia, a gente passava grudado um no outro. Gostávamos de ficar conversando por horas e horas na varanda. Era algo que fazíamos muito.

Pra piorar a situação, nem no lago também não podíamos mais ficar. Não depois daquele episódio com o seu Alfredo. Mas mesmo com todas essas dificuldades, a gente sempre dava um jeitinho de ficar juntos. No intervalo entre as aulas por exemplo, sempre dava pra dá uma namoradinha pelos os corredores.

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Numa noite antes de dormir, já entre meus lençóis, minha mãe veio até o meu quarto me desejando Boa noite. Foi estranho porque ela não era de fazer isso. Apenas quando eu ainda era criança.

Não que ela não fosse uma mãe carinhosa mas depois da adolescência ela tinha parado de entrar no meu quarto daquele jeito.

Me surpreendeu com um beijo na testa, sentando na cama e arrumando meu travesseiro.

_Você ainda reza as orações que te ensinei quando criança antes de dormir?_ Sorriu, sem deixar tempo para a resposta_ Aposto que não!

_ Quando não estou com muito sono_ fui sincero.

Me sentei, escorando na cabeceira.

_ É sempre bom lembrar, nem que seja de vez em quando, do nosso anjo da guarda _ Sorriu e continuou _ A gente nunca mais conversou, não é? Sinto falta das nossas conversas. Sempre foi tão só você e eu nessa casa depois que seu pai se foi... Deveríamos ser mais próximos.

_ É Verdade.

_ Então me conte. Como vai na escola?

Entendi tudo! Tanto rodeio para perguntar como ando nos estudos, afinal estava chegando o final do ano letivo.

_Ah, mãe, a senhora sabe que eu tenho um pouco de dificuldade nas matérias exatas... Mas eu tô conseguindo ficar na média. Então NÃO se preocupe! Seu filho vai conseguir terminar o ensino médio... Eu prometo!

Cruzei os dedos sorrindo.

_ Fico tranquila sabendo disso... Posso até tentar ajudar você... Sempre tirei boas notas na escola... Se Você quiser, posso te dá algumas dicas...

_ Claro.

_ Você sempre foi um garoto muito esforçado, Alexandre. Nunca me deu trabalho algum na escola. Um menino de ouro! Seu pai ficaria muito orgulhoso de você!

Acariciou minhas mãos.

_Sou mesmo, não sou?
Sorri, fazendo ela sorrir também.

_Não seja tão convencido também._ um segundo e continuou _ As vezes não entendo, como um menino tão maravilhoso assim como você, e nenhuma garota até hoje não ter notado isso.

_ Será que não notou?_ brinquei

_ É?_ Com supresa_ Quem?

_ Mãe... Não vou falar..._ Ri.

_ Porque não? Qual o problema? Porque uma mãe não pode saber com quem o filho anda paquerando?

PAQUERANDO? que palavra era aquela? E olha que eu curto essas coisas antigas como vinil, cartas... Mas PAQUERANDO foi um pouco demais até pra mim.

_ Um dia, quem sabe, eu apresento ela pra senhora mas por enquanto vamos deixar como estar.

Ah! Se ela soubesse.

_ Acho que entrei demais na sua intimidade, não foi?

_ Tudo bem, mãe, eu entendo sua preocupação, mas estou bem.

Mamãe sorriu.

_ Tá bom! _ bagunçou meu cabelo _ vai dormir vai. Tá ficando tarde e amanhã tem aula.

Levantou.

_ Boa noite, mãe.

_Boa noite, filho.

Ao sair, parou na porta.

_Te amo...
Sussurrou.

Fechou a porta e fiquei imaginando qual o verdadeiro sentido por trás daquela conversa.

Estava agindo muito estranha ultimamente.

Primeiro desiste do seu trabalho na feira. Depois essa marcação colada em cima de mim e agora essa conversa.

Ela só queria ouvir de mim sobre Mariane...

Mas não posso falar agora.

Penso que minha mãe aceitaria numa boa meu namoro com minha própria prima.

E porque não?

Conheço primos que até se casaram e formaram família.

Não é uma coisa de outro mundo!

Vou começar a preparar o terreno, pra contar tudo sobre o que sinto por Mariane, mas é claro, se minha prima concordar com isso.

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