Para que servem os Amigos?

Tinha que pensar em uma maneira de voltar às boas com ela, porque eu não ia aguentar por muito tempo aquela situação.

Me sentia em uma daquelas torturas medievais, com todo aquele meu sofrimento, de sentir o seu cheiro pela a casa, escutar sua voz e vê-la a todo instante, sem nem poder chegar perto.

Aquilo ia me matar, com certeza!

Fiquei nessa batalha constante de auto domínio durante todos os primeiros dias daquela semana.

Se ia para o banheiro, acabava me deparando com ela...

Se ia pra sala assistir um filme ou mesmo descansar em alguma das poltronas... Lá estava Mariane, ocupando todo o sofá.

Eram nítidas as expressões de "Nem te conheço" que pairavam sobre ela em todos os momentos em que percebia minha aproximação. E cada vez que eu via seu semblante de raiva e indiferença, meu coração perdia pouco a pouco a sua vitalidade.

Essa distância de corpos me deixou um pouco fora das novidades, e todas as informações que adquiri sobre os últimos acontecimentos sobre sua vida, eu só consegui descobrir porque sempre estava atento, escutando as conversas por detrás das portas.

Foi assim que fiquei sabendo que minha prima só iria embora depois das provas finais. E Quem tinha lhe dado esse brilhante conselho foi a nossa própria Diretora, naquele mesmo sábado, em que Mariane foi até lá em busca da sua polêmica transferência.

A senhorita Ana acabou lhe convencendo de que seria melhor esperar e terminar os testes finais.

Essas eram as últimas avaliações do ano, então não fazia sentido nenhum trocar de escola agora, já que faltava tão pouco para o fim do ano letivo.

Sendo assim, eu só tinha esse curto período de tempo se ainda quisesse algum tipo de reconciliação com Mariane. Tinha que encontrar um meio rápido de impedir logo essa história sem lógica de partir.

Tinha que ser tremendamente ágil!

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Nas primeiras manhãs, quando cheguei sozinho, percebi que alguns me olharam com estranheza. Isso, só porque estava sem ela ao meu lado.

Acredito na hipótese de que todos já deviam estar acostumados com o casal perfeito, sempre entrando de mãos dadas pelos os grandes portões da Escola Duque de Caxias.

Justamente em um desses dias, Samara estava bem na entrada com alguns colegas de classe quando me viu. Nem sei o porquê, mas ela foi uma das últimas a perceber que Mariane e eu já não estávamos tão próximos como antes. Até que não era de se admirar, que Samara em seu mundo paralelo, ainda não tivesse se tocado da situação. E olha que a nossa separação já era a principal fofoca da escola desde a segunda feira.

"Eles não estão mais juntos?"

"Você viu? Eles não ficam mais namorando e nem conversando pelos os corredores. O que será que aconteceu?"

"Mas eles não eram o casal Perfeito?"

"Aposto que tem a a ver com traição!"

Todo esse murmúrio não era por minha causa, acreditem! Mas por causa dela.

Quem era eu, afinal? Não lembro de ser o cara na qual as pessoas comentem sobre qualquer coisa. Não era nenhuma novidade minha impopularidade. Minha vida nunca foi motivo de interesse.

Se fosse uma notícia de uma dessas revistas que gastam a maior parte do tempo se preocupando com a vida particular das celebridades, tenho certeza absoluta que só o rosto de Mariane viria estampado na capa.

E eu seria apenas o anônimo, coadjuvante, intitulado como:

"O Namorado da Mariane Antunes é visto chegando sozinho na renomada Escola Duque de Caxias"

Frequento essa escola desde a quinta série e nunca fui reconhecido por ser simplesmente O Alexandre.

Eu sempre fui só o "Amigo"

O AMIGO DE ALGUÉM

"Hum! Eu acho que sei quem é... É aquele cara lá, né? Aquele que sempre vem pra escola com aquela bike caindo os pedaços... Como é mesmo o nome dele?"

"É, esse daí mesmo... Ele é o amigo do Marquinhos"

Ou...

"Ele é amigo daquele nerd, o André"

Ou pior...

"Ele é um dos amigos da filha do Zé do Caixão"

"Filha de quem? Ah, sim! A Samara"

Gargalhadas infinitas rolavam depois dessa última.

Vejo então que com o decorrer desse ano, especialmente, acabei até alcançando algum status. Quando deixei de ser apenas O amigo de alguém da escola e passei a ser O Namorado da Mariane.

E cada vez mais fui ganhando admiradores e acho que foi por isso que até consegui um papel principal numa peça recentemente.

Apesar de tudo, ainda assim, as pessoas não eram capazes de decorar meu nome e agora passei a ser conhecido mais ou menos assim...

"De quem vocês estão falando?"

"Do Romeu da professora Luzia, lembra? O que namora a Mariane e é amigo do Marquinhos e  do André... Aquele lá que anda com a trevosa "

:-\

Mas agora com essa indiferença toda por parte dela, acredito que minha pequena e humilde popularidade desabou quando me tornei somente um ex.

Isso na verdade não é algo com que eu me preocupe. Só acho meio engraçado o quanto as pessoas te rotulam com o que quer que seja.

Agora sou o Ex de alguém. Tudo bem. Eu vou sobreviver a esse último ano de escola. Falta só mais uma semana. Eu consigo!

Seria tão mais simples ser apenas o Alexandre.

Samara se aproximou de mim e começou a fazer perguntas irritantes e inconvenientes sobre está chegando sempre na escola sozinho. Eu pensei que seria melhor se chamasse o jornal da escola e fizesse uma coletiva. Seria bem mais prático. Mas como ainda me restava um pouco de paciência, respondi Samara com extrema educação e gentileza. Afinal ela era minha amiga e não era todo mundo.

Depois de passar por um interrogatório digno de um seriado Policial, Respirei fundo, falando calmamente:

_ Estamos dando um tempo.

Mas também foi só o que me pus a responder.

Mais nada!

André era o único alí que me conhecia o suficiente para ter notado logo de imediato que o buraco era bem mais embaixo.

_ Você vem? A aula já vai começar._
Perguntou, me socorrendo.

_ Sim, claro... Até mais tarde Samara. Te vejo na saída.

Fui com ele, agradecendo imensamente com o olhar.

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Passei quase a manhã inteira olhando para a prova estendida na minha carteira, sem a mínima idéia por onde começar.

Meu Santo Protetor das Provas Perdidas! Qual a alternativa correta no meio de todas aquelas opções na questão de sociologia?

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3°Questão:
Um Pensador importante para a Sociologia dizia que as relações de mercados são relações fetichistas. Fetichista vem de feticho que em latim quer dizer Feitiço, encantamento.
O nome desse Pensador é:

a)Max Weber
b)August Comte
c)Emily Durkhein
d)Karl Mark
e)Florestan Fernandes

Ham?

Socorro!

Eu não sei!

Não estudei e nem lembro do professor falar o nome de qualquer um desses durante as aulas.

(Típico de professor! Colocar na prova uma questão que você jura de pé junto que não viu isso em sala de aula)

E típico de aluno, achar que o professor nunca falou.

Mais um X marcado sem ter certeza absoluta de nada.

A única coisa que eu sei é que um desses pensadores deveria mesmo entender muito bem desse tipo de mercado fetichistas... Bom, eu não sou Pensador e nem entendo porcaria nenhuma de mercado, mas acho que compreendo esse negócio de encantamento.

Fiquei mirando àquelas provas por horas a fio, sem ter muita noção do que deveria responder.
Não estava concentrado o bastante porque minha mente estava totalmente ocupada com pensamentos um tanto fetichistas por uma certa menina.

Desisti de tentar, quando me dei conta de que estava rabiscando todo o rodapé da última avaliação de Física, com traços sem sentido. Entreguei o meu desastre ao professor que me olhou torto quando notou que minha única resposta correta era o meu nome no cabeçalho.

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Quando saí da sala fui direto para o pátio esperar André.

Tínhamos combinado de nos encontrar alí, quando terminasse de fazer as provas.

Deu nem tempo de me sentar direito, quando ele apareceu todo sorridente, mostrando que tinha ido bem no dia de hoje. Nota máxima com certeza!

_ Você já terminou? Foi rápido hoje, hein?
Falava assim porque sempre é ele quem termina todos os testes primeiro.

Mas ao contrário de mim, André é sempre o primeiro a sair da sala por não ter nenhuma dificuldade com as questões. Com ele era assim, bate o olho na questão é já responde sem problemas. Fácil, fácil...

_ Acho que me dei mal._
Falei mais decepcionado do que triste.

Na verdade, eu não estava ligando muito.

_  Até que não estava tão difícil...

_ Pra você nunca está, Cérebro inteligente e percursor.

_ Um dia você chega lá.

Rimos um pouco. Apesar do meu riso ser sem graça.

Um segundo quietos e André percebendo minha profunda melancólica resolveu conversar.

_ Afinal o que está acontecendo? Desde o dia do acidente da Mariane você anda meio esquisito... Você não disse que não foi nada e que ela está bem? Então porque continua como se ainda estivesse preocupado?... E porque não chegam ou vão embora mais juntos? Porque  não estão se falando? Mal se olham no intervalo.

Esperei André recuperar o fôlego e o encarei por um instante. Depois tirei o olhar, direcionando para o nada enquanto lhe respondia.

_ Acho que ela me odeia.

_ Mas porquê? Não foi ela mesma quem disse que a história entre seu pai e a mãe dela seria algo pra deixar no passado? Não foi assim que me contou lá no hospital?

_ Depois daquele dia surgiram muitas outras histórias, André. Só que dessa vez, bem mais pesadas.

_ Entendo... Mas acho que ficar sem conversar não vai resolver muito.

_ Então diz isso pra ela... Porque eu já tentei e não consegui.

_ Não podem viver assim como dois estranhos. Afinal não são só namorados. São da mesma família também. Um dia vão ter que falar sobre isso.

Fiquei pensativo com o que ele tinha acabado de falar. Tinha razão, não podíamos continuar dessa maneira. Mas como eu faria?

_ Eu nem sei mais como chegar perto dela sem que ela corra como o diabo da cruz. Fica difícil desse jeito. Ela nem espera  que eu abra a boca e já vai se afastando de mim.

_ Eu não sei... Mas acredito que deva existir alguma coisa que possa fazer com que ela se aproxime novamente... Algo que desperte algum gatinho. Vocês construíram um relacionamento. Deve ter alguma coisa.

Pensei até as minhas conexões cerebrais explodirem.

O que eu podia fazer? Não posso nem sequer me aproximar da garota que ela já me fuzila com o olhar. Quem vê até acha que possuo alguma doença contagiosa ou algo pior.

Foram longos minutos de espera para surgir qualquer coisa de mim.

André já tinha até desistido e se distraía com alguma dessas redes sociais da vida, mexendo hipnótico no seu celular. Foi quando dei quase um salto assustando-o.

_ André! É isso!
Gritei seu nome com olhos brilhantes.

_ O que?
Perguntou no susto e quase espatifando seu telefone no chão.

_ Você é um gênio! Realmente um cérebro percursor!

O agarrei agitando seus ombros.

_ Certo... Então?

_ Então que você me deu uma grande ideia!

_ Que bom!
Ainda assustado com o meu olhar vibrante.

Beijei nas suas bochechas sardentas e me ergui.

_ Eu já disse que você é o meu melhor amigo?

_ Só não deixa a Samara ouvir isso.

_ A Samara! Claro!_ com olhos e sorriso iluminado_ Iremos precisar dela também... E do Marcos!

_  Será que eu posso saber no que está pensando ou planejando? Seus olhos estão comecando a ficar meio assustadores.

_ Só manda uma mensagem pra eles nos encontrar. E quando estivermos todos juntos, você saberá.

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