↑ Os dias seguem ↓
Era segunda-feira, dia de aula. Não era um dia para se comemorar. Acordar cedo para mim sempre foi torturante.
Fazia pelo menos meia hora que minha mãe gritava por mim, afim de que eu me levantasse. Acho que em tempos de escola isso era mais torturante para ela, ter que me acordar todos os dias. Nisso, ainda sou aquele menino de oito anos que dava trabalho para ir à escola.
Desci as escadas, bocejando até a cozinha, e vejo minha prima já pronta, toda arrumada e com trancinhas no cabelo.
Dei um bom dia rouco e sentei para tomar meu café.
_ Alexandre, meu filho... _ começou minha mãe, apontando o dedo em minha direção_ Ajude sua prima hoje no colégio, está bem? Mostre tudo o que ela precisa saber, como tudo funciona... E também não deixe ela muito sozinha nos intervalos.
Eu vi quando Mariane franziu a testa e deu vontade de dizer a minha mãe que talvez a garota não quisesse uma babá.
Mas no fundo, eu entendia as recomendações dela.
_ Pode deixar, dona Rosa...
Sorri de um jeito quase irônico para Mariane, que sorriu de volta.
O primeiro dia de aula foi normal, como todo primeiro dia.
Todo mundo querendo contar como foram as férias e tal.
Umas bem mentirosas, confesso.
Sempre tem gente que fala que viajou só pra não ficar por baixo dos outros que realmente viajaram.
A questão era que ninguém gostava de admitir que suas férias tinham sido um verdadeiro fracasso. Então vamos mentir, é menos vergonhoso.
Quando Mariane pisou na entrada da escola, alguns caras a olharam com curiosidade. Mariane era novata e escola pequena já sabe. Todo mundo conhece todo mundo. Então se chega alguém novo, principalmente uma garota, logo os meninos querem todo tipo de informação.
Mas dessa vez haviam exagerado. A escola inteira parece ter parasilado com a minha chegada ou melhor com a chegada de Mariane. Só olharam para minha pessoa porque estava do lado dela.
Vi baba escorrendo da boca de muitos dos marmanjos e foi ridículo! Eles nem disfarçaram.
( Porque estou falando isso? Eu lembro que também fui o primeiro a ficar nesse estado )
Durante o intervalo cheguei a me irritar com alguns deles, porque tinha gente que eu nunca tinha dado nem um "oi" e vinha falar comigo cheio das intimidades, querendo saber mais sobre Mariane.
Já estava tão insuportável isso, que nem respondia mais. Foi assim que logo ganhei a fama do primo ciumento e possessivo.
As semanas se passaram, e as pessoas foram se acostumando com a presença dela, então tudo ficou menos chato.
# # # # # #
Pelo menos dois dias na semana, Mariane e eu ficávamos completamente a sós.
Minha mãe trabalhava dia de terça e sexta, vendendo frutas em um mercado próximo.
Mamãe saia sempre as cinco da manhã e só voltava quase no fim da tarde.
Na verdade, foi um meio que minha mãe encontrou para aumentar nossa renda, não que a gente precisasse.
Meu pai quando faleceu deixou minha mãe e eu muito bem amparados com a pensão que nós deixou. Também não nos preocupavamos com aluguel pois nossa casa era própria. E eu estudava em escola pública e meu transporte era a bicicleta.
Nossa vida financeira não gerava grandes preocupações. Razoável. Então, ir as feiras e aos mercados, vender frutas e hortaliças cultivadas por ela, era mais como uma terapia.
Em nossa propriedade, apesar de não ser tao grande assim, havia uma certa variedade de árvores frutíferas.
Manga, goiaba, laranjas e outras mais, tudo plantado pelo o antigo dono. E minha mãe colhia tudo e saía pra vender na feira o dia inteiro.
Assim, nesses dias sem mamãe em casa, minha prima e eu ficávamos com a casa só para nós dois. E eram os dias mais terríveis para mim.
A gente chegava da escola lá pela uma da tarde, almoçava e ficávamos conversando ou assistindo algum filme na TV.
Eu sempre ficava muito nervoso de ficar sozinho com ela, porque existia uma vontade absurda de pedir um beijo.
Em um desses dias, quando terminamos de almoçar, fiquei na pia lavando a louça e ela foi pra sala estudar. Vi quando pegou os livros e foi para as escadas e fiquei distraído fazendo minha grande tarefa.
Perdido em pensamentos, deixei um copo de vidro se espatifar no chão. Então lembrei do Marquinhos naquele dia quando quase nós deixou sem louça. Estava desajeitado igualzinho a ele.
Mariane assustada, deu meia volta na escada e foi até a cozinha. Ela estava descalça e foi tudo tão rápido, que não deu tempo de lhe avisar sobre os cacos espalhados.
Só escutei seu gritinho de dor, e quando olhei, vi o absurdo de sangue no piso de madeira.
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