O que foi que te fiz?
Sentir um abraço sincero faz um bem pra alma. André era um grande amigo. Quando me abraçou, fui capaz de perceber sua grande consideração pela a minha pessoa. Foi mesmo uma boa ideia tê-lo aqui junto de mim nesse hospital.
Depois que cumprimentou mamãe com toda educação e carinho, fiz questão de levá-lo para um canto mais afastado, e fomos nos sentar em outras cadeiras. Queria conversar com meu amigo em particular. Precisava contar para alguém o que estava acontecendo, e André era o melhor ouvinte que poderia existir nessa vida, e é claro meu melhor amigo.
_ Cara, que loucura!
Foi o que disse, totalmente pasmo depois da minha longa narrativa.
_ Pois é, com tanta confusão acontecendo, não tinha tempo para pensar em escola.
_ Mas o que importa é que ela está bem. Não foi o médico mesmo quem disse?
Confirmei com a cabeça e ele contínuou tentando me animar. _Pois então! Quando Mariane melhorar, vocês dois ainda podem seguir com os planos.
_ Espero que sim.
De tudo que contei a André, apenas um coisa não comentei :
A frase mórbida de Mariane no meu ouvido.
Achei desnecessário contar, dado por visto que comecei à duvidar se tinha mesmo escutado a tal frase.
Ainda, meditando sobre isso, fui surpreendido com a entrada de Samara e Marcos no saguão.
Eu não estava muito afim de explicar tudo novamente, Como aconteceu ou porquê aconteceu tudo aquilo, se ela estava bem ou não. Essas coisas. Minha cabeça ainda estava processando tudo, então só queria ficar quieto, na expectativa de quando ela iria acordar e poder falar.
Logo me levantei, recebendo um dos abraços calorosos.
_ Como ela está? André nos contou. Tô chocada!
_ Tá tudo bem agora. Não há com que se preocupar.
_ Como isso aconteceu? Ela tinha bebido alguma coisa? Vocês brigaram?...
_ Samara! _ Marcos interrompeu há tempo_ Por favor! Eu acho que o Alexandre não tá com cabeça pra responder um interrogatório agora.
_ Você tem razão _ Olhou rapidamente para Marcos que a encarava com seriedade e depois focou em mim _ Foi mal, Alexandre.
_ E aí meu amigo,Você tá bem?
Marcos segurou meu ombro.
_ Acho que estou... Não sei ... parece um pesadelo em que ainda não fui capaz de acordar.
Tá certo que não estava muito afim de contar das minudências do acidente, mas sobre o que estava sentindo naquele momento eu gostaria muito de expôr. Só que fui retido com a chegada de uma enfermeira que se aproximava de nós, perguntando quem seria o responsável por Mariane.
Todos se manifestaram até mesmo meus amigos mas a enfermeira na verdade só queria nos avisar de que Mariane tinha acabado de acordar. Os calmantes a deram uma chance de descansar por algumas horas, e agora ela estava com as energias mais renovadas, menos confusa e agitada do que quando acordou da última vez.
Pedro logo se identificou como pai, e exigiu que queria ver sua filha. Mas a enfermeira foi bem enfática ao lhe responder:
_ Eu sinto muito, mas sua filha pediu que ninguém lhe incomodasse por enquanto.
_O quê? Como assim? Ela não quer me ver? Mas eu sou o pai dela.
_Desculpe, mas ela disse que não queria receber visitas.
_ Ela deve está envergonhada, Pedro, por causa do estrago no carro. Talvez ela pense que vamos brigar com ela.
Mamãe falou segurando firme pelos os ombros do irmão e eles deram aquele olhar de "código" um para o outro. Foi algo como:
"Deixa as coisas esfriaram, depois vocês conversam em casa"
_ É bem assim mesmo _ A enfermeira concordou _ Adolescentes sempre ficam envergonhados quando batem o carro dos pais. Ficam com medo das broncas e dos prováveis castigos que irão tomar. Super normal esse tipo de reação de não querer ver ninguém agora.
_ Obrigada por vim nos avisar que ela já acordou _ mamãe sorriu gentil.
A enfermeira fez os cumprimentos finais e já ia sair do meio de nós quando a chamei.
_ Enfermeira! por favor.
Todo mundo me olhou como se eu fosse dizer algo muito extraordinário.
A simpática senhora virou se para mim com delicadeza.
_ Pois não.
_ Eu sei que Mariane disse que no momento não queria receber visitas, mas eu sou o namorado dela e eu acho que se a senhora fizesse o favor de avisá-la que estou aqui, eu tenho certeza que ela me receberia.
_ Certo... Posso saber seu nome, rapaz?
Disse com olhos analistas.
_ Alexandre.
_ Eu sinto muito... Mas esse foi um dos primeiros nomes que ela pediu para que não a deixassem vê-la. Agora se me dêem licença, preciso voltar ao meu posto.
Meu queixo caiu. E diante dessa, fiquei boiando em águas turvas do "Não entendi"
_ o que você aprontou?
Foi a pergunta de Samara, finalizando a cena.
Ficaram me encarando como se eu tivesse alguma idéia do que aquilo significava. Esperavam que eu tivesse uma resposta sobre aquela atitude de Mariane. Só que não tinha respostas até porquê era eu quem as queria.
Mesmo sem me sentir culpado de qualquer coisa, olhares estranhos e duvidosos recaíam sobre mim o tempo inteiro em que estivemos alí. Eram olhares tão faiscantes que eu mesmo comecei acreditar, que tinha alguma coisa a ver com aquele acidente. Nesse jogo de tentarem decifrar até onde ia minha responsabilidade nisso tudo, acabei cruzando com a vigilância de Pedro sobre mim. Firme me defrontava. Depois mais tarde, não pude deixar de reparar os cochichos intermináveis com mamãe e sua transparência em não tentar disfarçar que falavam de mim.
Ficamos no hospital até Mariane receber alta. Ninguém tirou os pés dalí em nenhuma hora. Apenas meus amigos, com suas obrigações tiveram que ir, mas com a promessa de que iriam visitá-la depois, quando estivesse em casa.
Jogado e cochilando em uma das poltronas duras da sala de espera, fui despertado com uma sacudida em uma das pernas. Era mamãe, que entusiasmada me avisava que Mariane já tinha sido liberada pelos os médicos. Dei um daqueles saltos olímpicos.
_ Vai com calma! _
Ela tirou o sorriso quando viu minha ansiedade, dando lugar a uma expressão quase militar.
Tinha sido uma ordem bem estranha e perguntei a mim próprio: Qual foi o meu crime, mesmo?
Mesmo sem entender a norma de como deveria me comportar, resolvi obedecer e me mantive controlado, esperando ela sair do leito. Mas eu não era o único nervoso alí. Pedro não conseguia deixar de estalar os dedos.
Mariane logo surgiu na companhia de uma enfermeira que veio gentilmente deixá-la até nós. Parecia tão fria e remota que nem ao menos falou ou nos cumprimentou. Somente desviava seu olhar para as paredes e para o piso. Parecia tímida e envergonhada. Nem o braço do pai foi capaz de lhe tirar alguma emoção. Como uma pedra ficou imóvel e seu pai a guiou até fora do hospital.
Pegamos um táxi e durante toda a viagem de volta pra casa, ficamos em um clima super esquisito. Mesmo com o motorista sendo um senhor simpático e alegre, que não parava de falar um só segundo sobre como era sua vida na estrada, foi capaz de espantar as nuvens sombrias que pairavam sobre cada um de nós.
Estava no banco da frente ao lado do motorista, e de vez em quando, pelo o espelho retrovisor, em cima de nossas cabeças, eu examinava constantemente Mariane, espremida entre seu pai e minha mãe no banco traseiro. Estava com a mesma expressão melancólica, perdida no nada. Em nenhum minuto, se tocou que eu a observava e que tentava desesperadamente ler seus pensamentos.
Chegando em casa, Mariane preferiu que ninguém ajudasse a descer do táxi. Sozinha e sem dizer uma só sílaba, foi para seu quarto e se trancou. Sem muita opção, fiz o mesmo.
Deitei na cama, tirei a roupa grudenta que estava vestido desde a hora do acidente, e fui tentar tirar um pouco o cansaço. Não consegui me desligar. Só pensava na garota que estava do lado no outro quarto. Resolvi que um banho ajudaria, e me dirigi para o chuveiro. Meia hora de água fria no corpo e nem assim o sangue parou de borbulhar. Estava elétrico, impaciente e zangado. Esmurrei o azulejo da parede com raiva e chorei. Um choro que não tinha nada a ver com a dor que tomava conta do meu punho.
Saí do banheiro e sentei na cama. Avistei meu celular que tinha jogado alí minutos antes e o peguei. Minhas mãos tremiam só de pensar em mandar uma mensagem para Mariane, mas precisava falar com ela. Eram muitas dúvidas, perguntas e tantas outras coisas que necessitavam ser esclarecidas e ditas, que não dava para esperar.
"Oi :?"
Assim foi minha tentativa de puxar algum assunto por mensagem.
Demorou Dez minutos, para que ela pelo menos visualizasse. Já ia desistir quando o meu telefone recebeu uma notificação da resposta.
"O que você quer?"
Olhos de espantos quando li aquela frase. Foi quase como um coice grosseiro no estômago.
"Como assim, Mariane? Quero saber como você está... Você me deu um susto!
Aguardava ansioso por qualquer forma de retorno.
O telefone vibra.
"Não precisa mais se preocupar. Estou bem. Agora se puder me deixar sossegada eu agradeço, estou cansada e preciso dormir."
Depois de outra longa espera recebo essa patada final. Depois não houve mais conversa. Ela ficou offline e eu fiquei estupefato. Caí aos poucos no colchão e não tirei os olhos do meu teto.
Mas que droga estava acontecendo?
#########
Não mandei mais nenhuma mensagem, apenas mantive meus esforços em tentar dormir
( O que foi totalmente em vão )
Analisava minuciosamente cada palavra e ato antes do acidente, na tentativa de encontrar algum erro meu. O quê diabos eu fiz pra deixá-la tão zangada comigo? Era uma das infinitas perguntas que rondavam a minha cabeça. Tanto que pensei e continuei no zero, sem descobrir os reais motivos. Se queria saber só tinha um jeito, conversando. Quem foge do diálogo é porque tem algo a temer.
Lá pelas quatro foi que consegui fechar os olhos. Eu disse fechar, porque dormir de verdade não foi possível.
########
Nas primeiras luzes do dia me levantei. Lavei o rosto, me vesti e depois desci as escadas. Cheguei na cozinha e me deparei com a cena nossa de cada dia: Mamãe preparando a mesa para o café.
_ Cadê todo mundo?
Perguntei, vendo sua solidão matinal.
_Oi, filho... Bom dia.
Respondeu, enquanto colocava o bule sobre a mesa.
_ Mariane já acordou?
Ela parecia incomodada com a pergunta.
_ Ela saiu.
Sentou e se serviu, mostrando falta de interesse na conversa.
_Saiu? Ela mal se recuperou de um acidente e já saiu por aí assim?... A senhora sabe pra onde ela foi?
_ Acho que ouvi ela dizendo que ía na escola.
_ Escola? Mas hoje é sábado.
_ Eu não sei... Ela saiu e eu não perguntei... Talvez ela tenha ido resolver a questão da transferência. Não é só o que funciona hoje na escola? A diretoria?
_ Não acredito que o pai dela continua com essa história de levar Mariane embora. Ele não pode obrigá-la a sair da escola assim...
_ Alexandre! _ Me interrompeu com uma leve avidez _ Ninguém obrigou ninguém. Mariane foi resolver sua saída da escola sozinha e por conta própria.
Engoli em seco.
Saí da cozinha com pressa e um tanto de cabeça quente. Não podia acreditar que ela tinha ido à escola com a intenção de pedir sua transferência, porque era o mesmo que me dizer que não ia ficar. Ficar comigo!
Peguei a bicicleta e pedalei com veemência rumo ao encontro de Mariane. Ela ia não fugir de mim dessa vez.
############
.
AngellMoura.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top