O Passado. Part Final*


Pedro saiu do galpão em disparada, deixando a mulher pra trás e quase tropeçou no Alfredo a sua frente. Assustado, freiou o corpo com rapidez tentando encontrar equilibro, e não demorou muito para perceber a expressão pálida e esquisita na qual Alfredo se deparava.

O homem magrelo tinha a respiração acelerada e seu peito parecia que iria explodir há qualquer minuto. E Pedro concluiu que para o amigo ter ficado tão esbaforido daquele jeito só havia uma explicação _ Tinha corrido bastante da sua casa até ali.

Alfredo não disse uma só palavra. Mesmo quando Pedro o censurou por tê-lo sobressaltado daquela forma. Ele apenas se movimentou para limpar o suor da testa sem se importar com pedidos de desculpas. Pedro ainda um pouco confuso com a aparição repentina do amigo, não deixou de observar nas mãos ensanguentadas dele e mostrou-se mais curioso do que mesmo preocupado. Perguntado como tinha conseguido aquele ferimento, ele não quis esclarecer e escondeu as mãos doloridas na barra da blusa.

" Desculpa, Alfredo,mas agora eu não posso conversar. Parece que Rosa não está muito bem e o Humberto a levou às pressas para o pronto socorro nesse exato momento... Estava tão transtornado que nem deu informação alguma do que tinha acontecido.._ Bateu no ombro dele_Estou indo pro hospital agora e eu prometo que mais tarde eu te ligo dando notícias"

Pedro se afastou abrindo caminho quando ouviu um certo tipo de resmungo saindo de dentro do amigo:

_ É melhor você ficar. Não vai querer se encontrar com o seu cunhado agora. Acredite!

A voz paralisou Pedro, que já tinha andado alguns centímetros distantes.

_O que você disse?

_ Eu disse que você não vai querer se encontrar com Humberto.

Pedro se aproximou devagar enquanto perguntava com estranheza:
_Mas Por quê?... Que história esquisita é essa?

Alfredo ficou em silêncio e continuava de costas para Pedro.

__ Alfredo?

Mais silêncio.

_ Você tá me ouvindo?_ Nada_ Responde!

O sacudiu e ele se virou trêmulo.

_ Eu vi... _ Tentou Alfredo enquanto suas lágrimas desciam.

_ Viu? O quê?

_ Os dois...  Juntos!

_ Os dois quem?

_ ... Mas eu juro!... Não queria prejudicar ninguém...

Pedro se via sem paciência diante da hesitação dele e do choro desenfreado.

_ Prejudicar?Mas Do que você tá falando?

_ Eu não queria... Acredite em mim, por favor...

_ Cara, olha pra mim! _ Ordenou Pedro já meio zangado e o segurando pela gola da camisa _ Você tem alguma coisa a ver com o que aconteceu? Responde!

Pedro estava tão nervoso que não pensou o quanto sua força poderia está degolando Alfredo, que lutava para respirar.

_ Larga ele, Pedro.

O som quase angelical veio da direção do grande portão de madeira e eles seguiram seus olhares para Michele que estava parada como se há muito tempo estivesse assistindo à tudo, só esperando o momento certo de interferir.

Pedro foi soltando Alfredo aos poucos mas ainda de um modo agressivo, o deixando de lado na parede.

_ Ele não teve nada a ver com o que houve_ Ela continuou enquanto ele chegava cada vez mais perto_ Só há um responsável com o que aconteceu à sua irmã... E esse alguém sou eu.

_ Responsável?_ Parou à dois metro dela _ Pelo o quê, Propriamente? O que você fez a ela?

Michele suspirou profundamente, perdendo a coragem de um minuto atrás, quando mandou que soltasse Alfredo.

_ Rosa nós viu... No lago... Seu marido e eu.

Pedro Franziu o cenho tentando acompanhar.

_ Mas... Viu o que?

Ela encheu o peito e não precisou responder.

Ele demorou quase um minuto para compreender e depois para encontrar forças nas pernas.

Alfredo se recompôs e ficou observando a cena ainda grudado com as costas na parede. E foram minutos que pareciam uma eternidade até Pedro aterrissar.

_Deixa ver se eu entendi... Voce tá me dizendo, que minha irmã foi para o hospital daquele jeito, porque viu você com o marido dela de uma forma mais íntima?

Ela apenas afirmou com a cabeça enquanto rolavam as lágrimas.

_ Vagabunda.
Partiu pra cima dela violentamente. Se Alfredo não o tivesse segurado há tempo...

Michel se afastou.

_ Como você teve coragem de fazer isso? Você sabia o quanto minha irmã não podia se aborrecer... Você não se importou com nada e nem com ninguém!... Você é uma pessoa horrível, Michele!

_ Eu não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto_ Tentou argumentar_ Nunca desejei o mal da sua irmã ou de qualquer outra pessoa nesta casa... Mas eu amo o Humberto e isso eu não tinha como controlar...

_ Como é? Você ama ? E ainda diz isso assim, com toda essa naturalidade? Por um acaso  Você enlouqueceu de vez? Pelo menos tem idéia do que fez aqui? Você trouxe total discórdia e desgraça pra essa família, Michele... E um dos seus argumentos é dizer simplismente que não conseguiu se controlar?

_ Ninguém escolhe quem ama, Pedro. Ninguém. Aconteceu!_ Alfredo a ouvia atentamente e entendia o que ela queria dizer, afinal também amava desse jeito _ E eu nunca quis destruir a vida da Rosa e nem a nossa... Mas Humberto e eu nos apaixonamos... Não foi nada planejado... Eu sinto muito mas talvez tenha sido melhor assim. Agora que finalmente tudo está as claras, podemos resolver nossas vidas.

_ Você pelo menos está se ouvindo?_ Pedro estava com as maçãs do rosto vermelhas e marcadas. Era muita raiva dentro dele _ A minha irmã estava passando por uma gravidez de risco. Só Deus sabe o que pode está acontecendo numa hora dessas com o bebê dela... E você aí satisfeita porque a situação facilitou pra você...  Meu Deus do céu... Que tipo de pessoa é você?

Ela entrou bem fundo nos olhos castanhos do marido e o defrontou:

_ E você, Pedro? Que tipo de homem é você? Pelo menos eu tenho objetivos... Coisa que você nunca teve!... Eu não sou uma pessoa acomodada. Nunca fui. E o meu erro foi ter casado com uma. Eu quero e penso em ser feliz o tempo inteiro... Eu não era com você. E se tenho a chance de ser com outra pessoa, independente de quem quer que seja, não abrirei mão.

Pedro não pensou duas vezes antes de estalar um tapa no rosto pequeno e gracioso dela. Um rosto que as vezes parecia de anjo mas ao mesmo tempo demoníaco.

_ Pedro, não!
Alfredo o segurou tarde demais. As bochechas de Michele já ardiam.

_ Sai da minha frente... Antes que eu faça uma besteira de que me arrependa.

Ela foi se afastando de ré, adentrando de volta pra casa com as mãos no rosto enquanto ouvia os gritos de Pedro explodirem.

_ Vai pra dentro, Michele.
Reforçou Alfredo até vê-la sumir e ainda impedindo o amigo de cometer outra loucura._  Precisa ter Calma... Partir pra agressão não é a solução mais viável._ Aconselhou diretamente para Pedro.

_ Me solta! Alfredo..._ Saindo dele_ Sai daqui você também... Vai embora.

Depois caiu sentando no batente da porta tentando não chorar.

Alfredo sentiu compaixão pelo o homem que lutava contra os próprios sentimentos e sabia que quando virasse as costas ele se entregaria.

_Eu vou embora. Mas prometa que não vai fazer nenhuma besteira.

_ Sai daqui! Eu já pedi!
Berrou tão alto que Alfredo teve certeza que a cidade inteira escutou.

Quando Alfredo enfim o deixou sozinho, Pedro apenas baixou a cabeça e ficou observando os pingos que desciam de seu olhos se afundarem na areia.

Michele ainda ouvia a algazarra lá fora quando atravessou as cortinas do seu lado da garagem-casa. E com o rosto queimando foi até o banheiro e se lavou com água fria. Depois se mirou no espelho e desmoronou.

Pedro não ficou em casa e nem sequer entrou. Do batente mesmo saiu sem rumo. Deveria estar se martirizando por aí em algum copo de cerveja. Michele ficou sozinha, apenas na companhia da Mariane. Quando a noite chegou, sem nenhuma notícia, adormeceu abraçada com sua criança.

Nas primeira horas do dia, Michele foi acordada por sons de passos que vinham da parte da frente do galpão e devagar se levantou. Não queria atrapalhar o sono da filha. E entre a pequena abertura das cortinas viu Humberto trazendo Rosa pelo os braços, sentando-a na cama. Ela vinha com as mãos pressionadas contra o ventre. Depois de todo o zelo em colocá- la na posição mais confortável, Humberto se ajoelhou diante dela, juntou as mãos da esposa e beijou. E ficaram juntos com as têmporas seladas por longos segundos como se estivessem em oração. Em seguida se abraçaram.

Pelos os ombros de Rosa, Humberto notou a presença de Michele atrás das divisórias, e a encarou, até Michele se assustar com Pedro entrando pela a porta "As coisas agora iriam esquentar"
pensou ela.

Mas Pedro passou por eles como se o casal fosse invisível e seguiu a linha reta na direção dela. Michele foi ficando gradualmente nervosa à cada passo, e se afastou das cortinas. De repente o som seco do plástico crepitou, e Pedro surgiu com seu aspecto cansado e cheirando ainda a álcool.

_ Amanhã vou atrás de emprego. Assim que conseguir qualquer coisa, iremos embora daqui_
Disse com autoridade.

Michele enrugou a testa.

_ Do que você está falando? Não vou pra lugar algum com você.

_ Humberto me contou tudo, Michele.

_  Se íam ter uma conversa sobre mim, deveriam ter me esperado, você não acha?

_ Você não gostaria de ter ouvido, acredite.

Ela se ergueu e ele a  segurou pelo o braço.

_ O que pensa que vai fazer?_  tentando impedir que ela fosse até o casal do outro lado. Mas ela se soltou rapidamente.

_ Não podem agir como se eu não tivesse vontade própria.

Disse rispidamente já saindo.

_ Michele, não faça isso! Rosa acabou de perder o filho...  Não seja tão cruel dessa maneira_
Implorou em vão, ficando de frente pra ela. Mas ela passou por ele sem remorso.

Michele foi até os dois e Humberto quando a viu saiu de perto da mulher e se posicionou diante dela como um escudo.

_ Eu não deveria ter participado da sua conversa com Pedro?_ Disse ela com firmeza.

_ Michele, por favor!_
Pediu Pedro, outra vez

_ Você estava dormindo_
Respondeu Humberto calmante.

_ E não poderiam ter me acordado?... Eu passei a noite inteira em claro...  E apesar de não acreditarem, eu estava sim muito preocupada com a situação da Rosa_ suspirou baixando o tom de voz_ Inclusive... Eu realmente sinto muito... Não queria que nada disso tivesse acontecido... Só uma mãe pra entender outra numa situação como essa.

Um segundo sem ruído.

_ Michele _ Rosa se levantou e seu marido logo tentou ajudá-la mas ela mostrou que podia se erguer sozinha _ Eu pensei muito enquanto estava no hospital com meu filho morto nos braços. E me venho que nunca foi os planos de Deus que eu me tornasse mãe. Eu reconheço o quanto fui insolente e teimosa. E tenho consciência agora de que não deveria ter insistido nisso. Acho até, que tudo isso tenha sido uma forma de castigo, por ter ido contra a minha natureza.  Eu deveria ter me contentado com a minha condição...

Rosa foi abraçada pelo o marido enquanto ele sussurrava um "Tentaremos novamente, querida"

Rosa continuou numa voz gentil _ Na verdade, só quero que você saiba que não precisa se sentir culpada por qualquer coisa que seja... E já sabemos que tudo não passou de uma fraqueza...  Está tudo bem Agora. Vamos esquecer isso e seguir com nossas vidas normalmente.

Michele esbugalhou os olhos sem acreditar no que estava ouvindo.

_ Fraqueza?

_Sabemos que foi você quem começou..._
Completou Pedro.

_ Eu comecei?_ Olhava para os rostos que lhe encaravam com piedade_ Você contou isso assim a eles? É sério isso?

_ Querida,  eu sou uma mulher como você e sei do efeito poderoso que temos  quando desejamos algo... Não precisa se envergonhar...

Michele balançou a cabeça negando-se a acreditar naquele raciocínio machista e sem sentido que colocavam ali.

_ Então era sobre esse tipo de coisa que falavam sobre mim? Sobre o quanto fui promíscua enquanto Humberto foi só uma vítima?

_ Não seja tão mal agradecida_ Pedro se adiantou _ Deveria está agradecendo de joelhos por estarem te perdoando. Minha irmã tinha todo os motivos para nos escorraçar daqui pelo o que você causou. E mesmo assim tentou ser a mais inabalável e bondosa possível só para não piorar as coisas. E você não faz o menor esforço pra demonstrar um pingo de respeito e humildade.

_ Será que ninguém percebe que Humberto está apenas com medo de assumir a parte dele na história? E acabou convencendo vocês de que comecei tudo isso sozinha?..._ Todos quietos_ Fala alguma coisa, querido... Diga a eles que você só está com medo... E o quanto você me ama de verdade.

Enquanto Michele fazia suas súplicas, Humberto friamente não mostrava reação alguma. E quando ela terminou foi a vez dele falar.

_ Eu nunca disse que te amava, Michele... E você sabe disso. _ As palavras ecoaram por todo galpão e Michele engoliu em seco. Continuou _ E eu gostaria, realmente, que mostrasse um pouco mais de compaixão pela a minha perda e da minha esposa.  Nos estamos terrivelmente abalados e gostaríamos de ficar um pouco sozinhos com a nossa dor.

_ Humberto...
Michele sussurrou sentindo-se horrível. Ele não era o mesmo Humberto carinhoso e meigo de um dia atrás.

_ Michele, vem..._ Pedro a puxou_ Deixa elas...

"Quem era aquele homem?"

"Foi pra' aquele tipo de pessoa que ela entregou seu corpo e alma?"

"Lamentável"

******

Michele de repente se tornou só uma pessoa que vivia pelos os cantos como uma teia de aranha que insiste em ficar nos vazios. Enquanto isso Pedro se empenhava inteiramente na busca de algum emprego. Antes disso tudo acontecer eles faziam suas refeições todos juntos. Agora cada casal se limitava no seu espaço e ninguém mais se misturava. E Michele as vezes não saia da cama pra nada, só pra cuidar de Mariane. Tinha se transformado numa coisa sem vida e sem expectativa. E Pedro, só falava o necessário.

Numa tarde de sexta, depois do almoço, Humberto voltou para o seu trabalho na construção e deixou Rosa dormindo. Michele pegou Mariane nos braços e foi para o lago. Pedro não se encontrava também então ninguém a veria saindo. Tinha algumas idéias na cabeça e precisava do ar puro daquele paraíso para pensar melhor.

Chegando às margens, viu Alfredo retirando do lago o lixo que alguns moleques não tiveram nem a consideração de levar com eles. Nadavam escondidos, emporcalhavam tudo e simplesmente iam embora.

_ Não, Michele... Fica! Por favor!_ Disse num sobressalto quando a viu dando meia volta_ Eu saio se você quiser, só pra te deixar mais a vontade.

_ Não é justo. Esse lugar lhe pertence.

_ Esse lugar sempre foi seu também_ Longo silêncio_ Sei que estão todos te ignorando... Então eu pensei... Pensei se você não gostaria de passar uns tempos comigo até às coisas se acalmarem... Ou se preferir, se não achar uma boa opção ir pra minha casa, eu posso te emprestar algum dinheiro e...

_ Você me joga no fogo e depois acha que pode me salvar.

_ Eu só quero te ajudar...

_ Não! Você não quer. Só estar com a consciência pesada, Alfredo. Isso é bem diferente de querer realmente ajudar alguém. Aliás, o que te levou a nos entregar? Eu jurava que éramos amigos.

Alfredo balançou a cabeça envergonhado.

_ Eu não sei explicar, Michele. Não sei mesmo.

Ele sabia mas não podia falar. Era covarde demais pra isso.

_ Não faz sentido. Todo mundo que trai, arranja uma  justificativa. Falo por mim. Meu casamento era algo que já não existia e acabei me apaixonando por outra pessoa. Então se alguém, um dia, me perguntar os motivos, era justamente isso que eu falaria. Mas no seu caso, Alfredo, O que te levou a me apunhalar assim? Você era como um irmão, pelo o modo como sempre demonstrou afeição, e eu achei que era verdadeiro. Eu não consigo entender porque não me procurou pra conversar, como um amigo faria.

Aquelas palavras estavam tão afiadas que ele sentia a dor latejante em cada sílaba.

_ Eu só sei que enquanto viver, isso será uma das coisas que carregarei como um peso exorbitante até o fim dos meus dias, Michele. Nunca quis te fazer mal ou mesmo te deixar nessa situação. Apenas agi sem pensar...E  mesmo que eu não mereça, preciso saber se algum dia você vai conseguir me perdoar...  Porque eu juro que é preferível mil vezes morrer, do que não ter mais você do meu lado.

_ Você fez uma escolha_ Lançou um olhar de superioridade para o ex amigo _ A partir do momento que você saiu por esse mato feito um lunático com a finalidade única de me magoar deveria saber que não haveria mais retorno. Foi você quem escolheu não ter mais nenhum tipo de vínculo comigo... Dói muito quando um amigo vira um estranho, Alfredo. E foi isso o que você se tornou.

Ela saiu e o deixou estarrecido com sua solidão e seus pensamentos.

_ Ciúmes, Michele. Foi só ciúmes.
Sussurrou baixinho.

¥

Pedro passou mais um dia fora e finalmente chegou em casa com a boa notícia: Tinha conseguido emprego. Michele estava como sempre no seu lado da divisão, alimentando Mariane com uma papinha de aveia, quando ouviu Pedro comunicar da novidade para o casal vizinho, avisando que logo deixaria a casa da irmã. Michele descansou a colher na bandeja e ficou prestando atenção no diálogo que se estendia lá fora. E a voz irritante e doce de Rosa a deixava com náuseas todas as vezes que escutava.

"Eu torço pra que tudo dê certo pra vocês, meu irmão"

Michele nunca conheceu uma mulher tão passiva daquele jeito. Era de dar nojo.

"Eu também"
Desejou a outra voz.

Michele não podia mais aturar aquilo. Humberto só podia estar brincando ou testando a sua ira. Deixou Mariane na cadeirinha e foi até o grupo.

_ Eu também?_ Foi em cima do Humberto _ Então você torce pra se livrar de mim?

_ Torço para que as coisas sejam como antes_ Respondeu sem se intimidar_ Você deve ir com o seu marido. E eu tenho que continuar aqui com a minha esposa. É assim que deve ser .

_ Mas e tudo que vivemos juntos?Eu acreditei que estava acontecendo alguma coisa aqui. Algo especial!

_ Não!_ Bateu na mesa gritando _ Não havia! Porque fica se enganando? O que tivemos foi uma busca mútua por distração. Nada mais.

Michele se desbrulhou em lágrimas lembrando de todos os momentos bons que tiveram.

_ Eu não queria magoar você, mas nunca te prometi nada! E me desculpe se por algum momento eu a fiz pensar ao contrário.

_ Eu não aceito isso...
Balançou a cabeça com o rosto molhado.

Pedro se compadeceu da pobre esposa e falou suavemente:

_ Por quantas vezes ainda quer ouvir que foi só diversão? Se você não se envergonha disso, por favor, pelo menos tente.

Fungou o nariz olhando pra Humberto_ É verdade que você nunca disse que me amava, mas também nunca disse que não... De um jeito ou de outro, se eu me enganei, foi porque você deixou.

_  Michele...  Chega. _ Pedro.

_ Tente salvar seu casamento... E viva em paz com sua família, porque é justamente isso o que vou fazer_ Humberto terminou.

Pedro pegou Michele pelo o braco.

_ Vamos para o nosso canto.


¥

Uns dias sem comer direito e Michele já se apresentava com um aspecto debilitado.

_Faz uma semana que você não vai visitar o bebê... Eu tive que mentir e dizer que você tinha pego uma virose... Mas não posso  ficar inventando essas coisas no hospital_ Nenhuma reação dela e Pedro tentou novamente _ Você sabe que eu não posso te obrigar a gostar de mim, mas as crianças não merecem a sua indiferença.

Nada.

Pedro desistiu e adormeceu.

Michele se levantou e procurou papel e caneta. E na claridade de uma simples vela, escreveu durante a madrugada inteira.

Quando terminou, seus dedos doíam, e esperou quieta o nascer do sol.

Era quase de manhã quando fugiu em silêncio.

Quando Pedro acordou pra começar no novo trabalho, viu que Michele não se encontrava em nenhuma parte do galpão. Então pediu a irmã que cuidasse de Mariane até Michele voltar. Ninguém estava de fato preocupado. Talvez ela tenha ido visitar o filho no hospital.

Michele ficou entre galhos, quando viu Alfredo e o pai saírem do casarão. Esperou que os dois sumissem no horizonte e foi até lá. Deixou um envelope debaixo da porta de entrada e partiu para o lago.

Não pensou muito, apenas respirou fundo e se jogou na água. Até por fim desaparecer.

¥

Pedro chegou em casa e Michele ainda não tinha chegado, e dessa vez se preocuparam. Ligaram para alguns amigos e conhecidos e ninguém a viu naquele dia. Nem sequer tinha pisado no hospital.

E depois de quase duas horas ligando pra cidade inteira, Pedro é surpreendido com a entrada de Alfredo pelo o grande portão de madeira.

Chorava como um menino.

_O que foi, Alfredo?
Pedro com receio da sua própria pergunta.

Alfredo não falou mais nada e só entregou o envelope nas mãos de Pedro.

_ Vou precisar do carro _
Foi só o que disse depois que leu o conteúdo da carta.

_ Onde você vai?
Perguntou Rosa aflita.

_ Não faço a mínima ideia_
Respondeu.

_ Eu vou com você_
Alfredo se ofereceu seguindo o amigo.

Procuraram sem sentido até não terem mais nenhuma opção para onde deveriam ir, e desistiram quando os primeiros raios de sol avisava que a melhor coisa que fariam, seria prestar queixa numa delegacia. Pedro socava o volante toda vez que lembrava do que tinha lido naquelas linhas.

Foram a delegacia mais próxima e denunciaram o desaparecimento.

Só restava pra eles esperar.

Todos reunidos no galpão, quando um grupo de cinco garotos, chegaram com a notícia de que tinham achado um corpo feminino nos arredores do Lago, enquanto brincavam por lá. Rapidamente, Pedro e a irmã, junto com Alfredo e Humberto, correram até o local. E não foi nenhuma surpresa quando Alfredo saiu das águas com o corpo de Michele estendido em seus braços.

Pedro caiu de joelhos no chão entorpecido junto com a irmã do seu lado, enquanto Humberto engolia em seco, vendo Alfredo gritar em desespero.

Depois do enterro, os amigos ficaram juntos, desconsolados no galpão. E nesse momento de tristeza enquanto esperavam Rosa preparar um chá, o telefone tocou, e ela foi atender. Mas a pessoa do outro lado procurava pelo o Pedro.

_ Pedro. É da maternidade.

Ele pegou o telefone e escutou por alguns instantes e depois desligou.

_ O bebê está bem?_
Rosa logo se adiantou. Não aguentaria mais nenhuma má notícia.

_ Recebeu alta_
Saiu, sem dizer mais nada.

¥

Quando chegou com o bebê no colo, Rosa foi uma das primeiras a correr para recebê-lo. E se sentiu muito emocionada quando se deparou com os olhinhos miúdos do pequeno ser.

_ Não se preocupe, meu irmão. Não vou deixar você sozinho. Prometo que vou te ajudar com as crianças.

Humberto se aproximou e Pedro o encarou com olhos ameaçadores.

_ Não vai segurá-lo?_
Perguntou enquanto o analisava.

_ Não tenho muito jeito com criança pequena_
Forçou um sorriso.

_ ah!É! Verdade. Já ia me esquecendo. Você só tem jeito com as mães.

_ Pedro!_
Rosa censurando o deboche do irmão.

_ Michele podia não ser nenhuma santa, Rosa... Mas o seu marido foi responsável pela a morte dela.

_ Eu nunca desejei a morte de ninguém.

__E não era isso que ela era pra você? Ninguém?

_ Por favor. Não vamos recomeçar com isso_
Suplicava.

_ Recomeçar? _ Pedro entregou o bebê nas mãos de Rosa _ Mas isso nunca terminou, minha irmã... E acho que jamais terá fim.

Os olhos dela lacrimejam.

Ele tirou a carta do bolso e apontou uns dos trechos pra ela_ Leia isso.

Rosa leu silenciosamente e depois que terminou, olhou para o bebê em seus braços e disse:

_ Meu Deus... Então...  Esse tempo... Vinha escondendo a paternidade dessa criança_ uma lágrima caiu e olhou para Pedro_ Eu sinto muito, meu irmão.

De repente ouviu Humberto estalar a língua e balançar a cabeça como forma de crítica.

_Eu sabia... _ Rosa e Pedro olharam pra ele_ Que aquela amizade dela com Alfredo era muito estranha.

_ Seu desgraçado!_
Berrou Pedro, partindo pra cima de Humberto e o socando até suas mãos cansarem.

Rosa dessa vez não interferiu. Só observou enquanto suas lágrimas desciam.

*******
*Final de O Passado mas a história de Mariane e Alexandre continua...












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