~O Lago~

Mariane e Samara ficaram ocupadas na cozinha durante toda aquela manhã.

O resto de nós ficaram jogando game. O que não achei justo, mas elas nos expulsaram quando tentamos ajudar.
Talvez porque Marquinhos quebrou duas xícaras, um prato nos primeiros cinco minutos.

  De vez em quando dava pra sentir o cheiro bom de comida que vinha de lá.

Não se ouvia nenhum som de conversas, apenas barulho de panelas e frituras.

Mas se conheço muito bem Samara, ela não ficaria muito tempo calada.

_ Não é estranho? Somos amigos do Alexandre há bastante tempo..._ Depois de ter puxado milhões de assuntos_E nenhum de nós nunca ouviu falar de você.

  Mariane apenas sorriu enquanto cortava as cebolas.

_ Você tem algum namorado lá na sua cidade?_

Mariane demorou a responder mas disse que não. Então Samara continuou.

_ Então...  Quer dizer que está disponível.

_ Também não, Samara_ Mariane a olhou_  Nesse momento estou focada somente em terminar esse último ano do ensino médio.

_ Ainda bem,viu? Porque os meninos daqui são pessoas meio sem noção... Nem vale a pena. 

_ Não se preocupe, Samara_ Depois de um silêncio_ Meninos como o Marcos não me interessam muito... Essa coisa atlética e esportiva nunca foi o meu forte_ Brincou.

Samara parou de cortar as verduras e olhou sorridente para Mariane.

_Deu pra notar tanta insegurança assim é?... Desculpa... Essa sou eu!_ Deu de ombros _A garota louca por um cara que não tem um minuto de consideração por ela e que acha que todas as meninas do mundo querem isso também.

_ Acho que só eu mesma_ Suspirando profundamente _Com a minha paciência e minha falta de amor próprio, pra aturar uma criatura como essa._ Apontando a cabeça em direção a sala.

Depois desse desabafo, Mariane percebeu o quanto aquela garota parecia ser realmente triste.

  Mas o que Mariane ainda não sabia, era que a história de Marquinhos e de Samara se baseia em complicações e complicações.

Era o relacionamento mais bizarro e esquisito que eu já tinha visto na vida.

Samara o amava muito e tudo fazia por ele, enquanto meu amigo apenas brincava com os seus sentimentos.

Ele somente a procurava, quando queria e quando estava sozinho, sem ninguém. E Samara, coitada, sempre de braços abertos.

Assim eles viviam, entre brigas, humilhações, beijos, e outras coisas que nem valem a pena citar. Isso tudo há quase um ano.

Uma verdadeira bagunça, eu diria.

Bagunça que cansei de tentar arrumar.

Não aconselhava e nem dava mais palpites. Não maís. No fim eles sempre davam um jeito de resolver as coisas.

Na cama, é claro.

Quando enfim terminamos de almoçar, Samara nos lembrou o real motivo deles terem vindo me visitar naquele domingo.

Estávamos todos na varanda, jogando conversa fora, quando ela falou:

_ E então? Vamos hoje para o lago ou não? Todo domingo vamos... É nosso ritual.

O lago era o lugar preferido da gente.

  Quando não tínhamos muita opção para o fim de semana, fugiamos para aquela direção.

  Era divertido nadar naquele lugar e muito perigoso também.

Perigoso porque o lago não nos pertencia. Ficava na enorme  propriedade do seu Alfredo. Um velho rabugento, que sempre estava vigiando o lugar.

Então, a gente sempre nadava escondidos, tomando certos cuidados para que ele não nos visse.

Acho que foram só duas ou três vezes que o velho nos pegou nadando, e furioso nos expulsou, aos gritos, com uma pá nas mãos.

Era até engraçado e a gente nunca se intimidou. Sempre voltamos de novo.

_ Que lago é esse? Fica longe daqui?_
Perguntou Mariane bastante  curiosa.

_ É uma lagoa que fica bem próxima daqui. A gente sempre vai pra lá nadar de vez em quando._André explicou entusiasmado.

_ Não é um lagoa, André! É um lago! Existe uma grande diferença entre os dois_Samara querendo mostrar que não dormia nas aulas de biologia.

_ Lago ou Lagoa não importa... _ André revirou os olhos como forma de protesto, por ter sido interrompido_ Só sei que lá é muito legal e você com certeza iria gostar, Mariane.

_ Você gostaria de ir até lá comigo?... Quero dizer... Com a gente!
Totalmente desconcertado.

Ela sorriu, afirmando com a cabeça.

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Caminhamos até chegar a cerca de arame ouvindo as conversas de Marcos e André sobre qualquer coisa. Eles iam na frente enquanto Mariane e eu víamos atrás calados. Samara vinha atrás de nós coletando folhas e galhos pelo o caminho.

Atravessamos com cuidado pelo o enorme corte que tínhamos feito dias antes no arame farpado e andamos mais alguns metros até finalmente chegarmos no nosso paraíso.

Vi nos olhos de Mariane um brilho quase ofuscante, quando se deparou com toda aquela paisagem que só o "nosso" lago tinha.

Mas era mesmo mágico!

As árvores ao redor eram esplendorosas, e era tudo tão verde e fresco que alegrava qualquer alma.

Era para nós e especialmente pra mim o melhor lugar do mundo.

_ Meu Deus! Mas é muito lindo isso aqui!
Disse ela, como uma criança olhando para o brinquedo dos seus sonhos.

_ E ai, Mariane, o que você acha? É um lago ou uma lagoa?_ Rindo, olhando diretamente para André.

_  Sinceramente eu não faço a mínima ideia  _ riu também_ Só sei que nunca tinha visto um lugar tão perfeito assim... No interior tem lugares bem parecidos mas jamais desse jeito... Temos muito açudes mas nem chega perto disso visualmente.

Eu também não sabia a diferença entre lagos e lagoas. Creio que seja bem simples a diferença, afinal eu estava terminando o ensino médio e essa matéria tenho certeza que já foi aplicada um dia.

  A questão é que isso não importava para nós, por que só o que realmente importava era o que aquele lugar significava para mim e meus amigos.

_ Não sei vocês_ Marcos tirando a blusa e correndo pra água_ Mas eu vou nadar

De repente, já dentro da água ele se desfaz do shorts e da cueca.

_ Ele sempre faz isso... _ André.

  Fiquei totalmente constrangido pela a minha prima. Ela também ficou e riu tampando os olhos.

_ Exibido... Fazer o quê?_ Samara dando de ombros e entrando na água também.

Logo todos acompanharam e estavam todos na água, claro, menos Mariane e eu.

Ficamos nas margens, apenas observando a brincadeira deles. De vez em quando a gente via a bunda do Marcos sobressaindo como uma Lua nova entre as águas escuras do lago e rimos da palhaçada. Mas depois Um silêncio entre nós parecia pior do que essas imagens de terror.

Ela por fim sentou, e eu imitei quase instantaneamente.

_Esses são os meus amigos. Estou perdido _ Brinquei.

Ela soltou um risinho.

Aquele sorriso!

_ Eles parecem legais_
Respondeu.

_ É o que tenho. Não posso reclamar_Falei, dando de ombros.

Um Meio sorriso dela e após Um segundo de pausa para ouvir os gritos de entusiasmo no lago continuei.

_ E você? Deixou muitos amigos lá?

_ Alguns... Mas não chamaria de amigos... Apenas, alguns colegas... 

 _ Hoje em dia é cada vez mais difícil, não é?

_Parece que sim... Mas não podemos culpar só os outros... Se a gente também não faz nossa parte, não devemos cobrar.

Concordei.

Fiquei em silêncio.

_ Ei, vocês dois!_ Marcos _ Vão passar o dia inteiro aí? Não vão entrar? A água tá ótima! Bem geladinha!

Mariane e eu nos olhamos e sorrimos.

_Eu não vou tirar minhas calças. Eu prometo!
Falei sorrindo.

_ Obrigada_ Sussurrou brincando.

_ Vamos pessoal! Tá ficando tarde e vocês não vão aproveitar nada _Gritou André dessa vez.

Nos levantamos e seguimos para  o lago.

Ele também se levantou.

_ Não vou ficar no mesmo metro quadrado que você
_Brinquei, indo pra longe de Marquinhos_ Fique bem longe de mim, seu pervertido.

Marcos nadou até a mim tentando encostar em mim enquanto eu fugia dele.

Samara e outros ficaram rindo do meu desespero.

Rimos bastante por toda aquela tarde e ficamos alí até o sol se esconder por entre as árvores.

Admirando O Sol, em seu aspecto quase laranja, lembrei da minha estranha mania de sempre ter uma música diferente na minha cabeça, todas as  vezes que eu achava um momento perfeito.

Geralmente, isso acontecia comigo, quando passava por algum momento que eu considerasse  especial.

Não necessariamente, a letra da música precisaria combinar com o momento, com a ato.

Eu poderia estar amando, em paz, super relax e de repente na minha mente ter a música mais pesada e deprimente de todas.

Ou poderia estar deprimente e  revoltado, com ódio e ter a música mais alegre e fofa na minha cabeça. Tocando repetidamente como um disco velho.

Eu apenas a  queria como minha trilha sonora para aquela ocasião. E naquela tarde, junto de meus amigos, banhando- se no lago mais lindo do mundo e ainda junto da menina mais perfeita que eu já tinha visto, havia milhares de músicas que poderiam ser tocadas e não conseguia escolher só uma.

Então pensei nos discos do meu pai e deixei que tocassem na minha memória enquanto sentia a água fria e volumosa do lago.
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