Não desejo seu mal
A parte lateral direita do carro estava completamente destruída.
Mariane tampou a boca com as mãos quando viu a situação drástica do veículo.
Com as pernas trêmulas, afastou os curiosos com certa grosseria abrindo espaço até o local do ocorrido.
Desesperou -se quando viu de perto Rafael desmaiado no volante .
Mesmo tendo identificado o veículo já uma certa distância do acidente, ela ainda torcia para que não fosse Rafael, então quando o viu foi como um choque de realidade e comoção.
Mesmo no meio de toda aquela multidão agitada, Mariane sentia- se sozinha e perdida. Não tinha a menor idéia do que fazer. Estava confusa e sua cabeça parecia girar a trezentos e sessenta graus.
Zonza, sentou no meio da estrada em frente do carro arruinado e enfiou a cabeça entre os joelhos chorando imensamente. Ficou assim até ouvir a sirene do que seria uma ambulância tornar-se próxima.
Com esse som, sentiu mais alívio, ergueu o rosto e viu quando os paramédicos tão prontamente tomaram as devidas providências.
Ainda desmaiado, Rafael foi colocado na ambulância e Mariane logo se apresentou como amiga e seguiu junto dele rumo ao hospital.
Ficou na sala de espera enquanto ele foi levado as pressas pelos os enfermeiros do pronto socorro.
Depois de responder algumas perguntas de praxe aos atendentes, pediram que ela se acalmasse e que logo dariam notícias sobre o estado de Rafael.
Sem mais, sentou em uma cadeira e orou baixinho.
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Eu já estava me preocupando com a Mariane. Fazia horas que ela tinha ido só deixar Samara em casa e ainda não tinha voltado.
Peguei o celular e liguei pra ela, depois de alguns segundos ouvi a voz embargada de minha prima me dizendo que estava em um hospital e que precisava de ajuda.
Com o coração em disparada, pergunto em qual hospital ela se encontrava e depois da informação desliguei, descendo as escadas correndo.
Estava com tanta pressa de encontrar Mariane, que nem fui capaz de parar e tentar explicar a minha mãe o que estava acontecendo.
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Assim que coloquei os pés no chão do hospital, o primeiro rosto que vi foi o de Mariane. Era um rosto de desespero e preocupação e de alívio também por me ver.
Fomos de encontro um do outro e nos abraçamos.
_ Você está bem? _ perguntei analisando cada parte do seu corpo, tentando achar algum hematoma ou algo do tipo.
_ Eu estou bem... Não estava no carro... _ disse chorando _ Mas o Rafael, eu não sei... Ninguém fala nada...
Tentei acalmá-la e a deixei sentada, enquanto fui até a recepção atrás de notícias dele.
Conversei com o médico que o atendeu e ele me deixou bastante tranquilo.
"Seu amigo teve muita sorte" disse o médico " Um acidente assim tão sério como esse e ele só deslocou um ombro"
Suspirei dando graças a Deus!
Voltei para a sala de espera e repeti as mesmas palavras do médico. Ela sorriu entre as lágrimas e me abraçou.
falei calmo _O médico disse que se tiver tudo bem com os outros exames logo ele estará voltando pra casa. Vão realizar agora uma pequena cirugia no ombro dele mas é coisa simples e rápida...
Ela juntou as mãos revirando os olhos para cima como se tivesse agradecendo por suas Orações serem atendidas
_ Que bom que você está aqui_ Suspirou depois. A Abracei novamente.
_ Você avisou aos pais dele?
Perguntei só por perguntar, pois do jeito que ela estava nervosa, com certeza não avisou.
_O alvoroço foi tanto que nem tive cabeça pra isso...._ Tirando o celular.
Mariane tinha o número da mãe de Rafael e ligou contando o ocorrido.
Foram quase vinte minutos, tentando convencer a mãe dele de que não estava tentando apenas lhe prepara-la para o pior, e de que ele não estava realmente morto.
Depois disso fomos até a recepção avisar que os pais de Rafael já estavam à caminho. Dizendo isso, a atendente me sugeriu, que seria melhor então que a gente fosse pra casa pois não tinha necessidades de ficar no hospital, sendo que Rafael estava sedado e só acordaria horas depois.
_ Qualquer ele acordar avisaremos.
Esperamos a notícia de que a cirugia já tinha sido realizada e fomos pra casa. Mariana precisava descansar. Tinha ficado muito nervosa e um bom banho e uma xícara de chá iriam ajudá-la a se recuperar do susto
Mariane levantou, lembrando.
_ A pick up ficou na praia.
_ Tudo bem. Vamos pegar um táxi até lá e a trazemos de volta.
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Chegando em casa, vi minha mãe com a expressão preocupada nos esperando na varanda. Horas antes já tinha deixado ela à par de tudo que tinha acontecido, sendo assim, minha mãe não fez nenhuma pergunta, apenas abraçou Mariane, levando- a para dentro da casa.
Mariane em silêncio entrou e subiu as escadas indo para o seu quarto.
_ Será que ela não quer comer alguma coisa ?
_ Não sei, mãe.
_ Coitadinha! Deve ter sido horrível ter visto o amigo daquele jeito._ falou mamãe _ Vou preparar um suco com biscoitos e você leva pra ela.
Concordei com a cabeça e mamãe saiu em direção a cozinha. Sentei no sofá e esperei minha mãe com o lanche.
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Minha prima fechou a porta do quarto e caiu na cama agarrando seu travesseiro e ficou pensando em tudo o que aconteceu naquelas últimas horas, sua festa, sua primeira vez comigo e por fim o acidente. Era muita coisa em tão pouco tempo.
Estava quase adormecendo, quando de relance, avistou no canto direito entre a parede e a cômoda de madeira um embrulho prateado entre os outros presentes que recebeu jogado bem no chão.
Aquele era o presente de Rafael. Tinha colocado ali, junto com os outros pela manhã quando saiu do galpão.
Tinha reunido todos os seus presentes e levado até o seu quarto. Mesmo se deparando com Marcos dormindo em sua cama, entrou devagar e jogou todos no chão, trocou de roupa e foi pra cozinha preparar o café, sem dá tempo de abrir os seus mimos.
Resolveu abrir.
Levantou da cama e pegou o embrulho, lembrando do que Rafael lhe disse antes do acidente.
Mariane rasgou o papel e viu uma caixa de papelão preta. Nela encontrou um mapa onde a Austrália estava circulada em vermelho. Junto uma carta com a letra de Rafael, pedindo que ela fosse com ele nessa viagem.
Então, essa era a proposta de Rafael.
Abri a porta do quarto com o lanche nas mãos e vi Mariane imóvel, olhando para a caixinha em seu colo.
_ Mamãe acha que você deveria comer alguma coisa...
Falei parado no meio da entrada.
_ Pode Deixar aí... Eu como daqui há pouco. Obrigada.
Acenou com o olhar para a cômoda.
Pus a bandeja de lado e sentei perto dela na cama.
Notei o mapa com o embrulho do presente do Rafael.
_ Será que algum dia você vai me contar a sua história com ele?
Na verdade queria muito saber o que eles estavam fazendo juntos na praia, mas tinha que começar com calma.
_ Acredite, é uma história com acontecimentos do qual não orgulho muito...
Permaneci quieto e a deixei a vontade.
_ Estávamos muito apaixonados naquela época_ Completou_ E tudo parecia mesmo um sonho... Sempre juntos, viajando, conhecendo lugares, acompanhando ele nos campeonatos pelo o país... Meu pai apoiando em tudo completamente... Enfim! Tudo muito bem demais... Até que...
Silenciou e Suspirou fundo criando forças
_ Até descobrir que estava grávida.
Confesso que fiquei abalado, não esperava por isso mas mostrei serenidade.
Ela prosseguiu:
_ E isso foi como um balde de água fria... Principalmente para os planos dele....
_ Se ele gostava tanto de você, não vejo onde isso foi algo ruim.
Fui sincero, se duas pessoas se amam de verdade, um filho não poderia ser visto como uma tragédia ou algo do tipo.
O que estou dizendo? Eles provavelmente não se amavam. Espero que não, caso contrário não teria nenhuma chance mais com ela.
Ela me olhou com carinho.
_ Ele falava em casamento. Várias vezes falou. Ele estava esperando que eu ficasse um pouco mais velha.... Mas acho que filho nunca fez parte. Ele estava pra completar os vinte na época e eu prestes a completar dezessete. Só que não era só por causa da idade. Ficamos mesmo muito confusos..._ continuou _ E com medo, claro... Ele um pouco mais. Talvez ele achasse que ter um filho naquele momento poderia atrapalhar a carreira pela qual ele tinha lutado tanto... E sabe, eu também não estava preparada... Mas mesmo assim, estava disposta a encarar.
Baixou a cabeça triste, ainda falando:
_ Ele tinha uma viagem marcada para a Califórnia. Era a primeira viagem internacional dele como sufista profissional... E ele deixou bem claro que não poderia perder uma oportunidade tão importante por causa da gravidez.... Seria uma temporada longa fora do país... Não tinha como ele ficar por perto... Então, uns dias antes de sua viagem, me sugeriu que... Que tirasse... E por mais que eu fosse contra, ele conseguiu me convencer de que essa seria a melhor atitude que poderíamos tomar em relação a isso.
Mariane soltou uma lágrima.
Eu tive mais raiva do Rafael ainda. Que covarde!
_ E seu pai? Nunca soube dessa história?
Ela disse não com a cabeça.
_ Eu sinto muito, Mariane.
Acho que se o pai dela soubesse disso, mudaria totalmente seu modo de tratar Rafael. Acho até que já não seriam tão amigos assim.
_ Eu sei que também tenho minha parcela de culpa... Eu poderia ter desistido... Poderia mesmo, e ele não poderia me obrigar... Mas o fato é que eu estava com tanto medo!..._ Suspirou_ Dois dias depois do procedimento, ele viajou. Como se nada tivesse acontecido... Só sei que depois disso, eu não quis mais saber notícias dele. E ele parece também ter me esquecido pois em nenhum momento me escreveu ou ligou pra saber como estava as coisas...
Depois de um silêncio.
_ Queria que não tivesse passado por tudo isso.
_ Você acha que eu vou pro inferno por causa disso? Sempre escuto as pessoas falando e eu fico pensando no quanto me condenei... Não sou muito religiosa, Alexandre, mas isso me deixa pensativa as vezes. A culpa me acompanha de uma forma aterrorizante.
Quando Mariane falou em inferno, eu só consegui me lembrar do sonho, ou melhor do Pesadelo terrível que tive naquela madrugada, parecia mesmo o inferno.
_ Não se preocupe com isso... Com o inferno, essas coisas... Eu jamais deixaria que algo desse tipo acontecesse com você... Eu chegaria lá todo metido a herói e te salvaria _ Brinquei.
Ela me olhou Com ternura e me abraçou fortemente sorrindo. Não estava brincando, enfrentaria o pior do inferno por Mariane.
Me soltou e penetrou em meu olhar.
_ Você me faz bem_ Ela disse_ Como há um bom tempo não me sinto. É como se eu pudesse enfrentar qualquer coisa... É por isso que não quero nada atrapalhando... E foi justamente isso que fui fazer na praia... Tinha que dizer que ele não cabia aqui.... Mas aí, aconteceu esse acidente e... E só consigo me sentir mais culpada.
Acariciei os seus cabelos.
_ Não se culpe pelo o que aconteceu hoje e nem pelo o que aconteceu no passado, Mariane... As coisas acontecem quando tem de acontecer... _ Um segundo de silêncio _ Você é uma garota forte. Merece que que alguém a ame na mesma proporção de toda essa força. Rafael não tinha essa capacidade. E Tem gente que é assim mesmo. Tem prioridades bem questionáveis... Ele tinha o surf para a vida inteira...Mas você... Ele só tinha aquela vez.
Ela ficou calada, ouvindo.
_ Não era uma escolha muito difícil._ Terminou.
Ela sorriu pra ele e depois olhou pro mapa.
_ Mas sabe que pode repensar as suas... Por mais que isso possa doer, eu não quero que se sinta presa a nada.
_ Eu pensei que tivesse deixado claro o que fui fazer naquela praia hoje... _Ela tocou no meu rosto e me beijou suavemente_ Eu não quero que isso acabe.
_ Isso não passa pela a minha cabeça nem por um segundo._Ficamos nos olhando com profundo sentimento_ Eu te amo, Mariane.
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No dia seguinte pela manhã, Mariane recebeu um telefonema. Eram os pais de Rafael avisando que ele tinha recebido alta e que já se preparavam para irem embora.
Senti que Mariane precisava se despedir dele. Era necessário que fechasse aquele vínculo de uma vez por todas.
Nos aprontamos e fomos juntos dá adeus ao surfista.
Rafael junto de seus pais estavam na recepção do hospital tratando de algumas formalidades legais. Quando o mesmo nos viu entrando, logo foi até nós, mancando e com o ombro esquerdo todo enfaixado.
_ Obrigado por terem vindo.
Falou.
Mariane o abraçou rapidamente mas com um certo cuidado, falando:
_ Que susto você deu.
_ Me sinto bem. Não se preocupe. Nem parece que um caminhão quase passou por cima de mim.
Riu.
_ Isso é o que importa, ter saído inteiro... Apesar do seu carro ter ficado daquele jeito quase como uma lata de sardinha amassada.
_Falei.
_ Meu pai me falou... _ forçou um sorriso _Mas
não tô muito preocupado com isso agora. A única coisa que eu quero é me recuperar desse ombro o mais depressa possível. Não posso ficar muito tempo parado. Tenho um campeonato daqui alguns meses no exterior.
Mariane engoliu em seco, lembrando da proposta.
_ Vai melhorar logo. Você vai ver.
Mariane.
Silêncio.
_ Queria agradecer vocês dois por ter segurado as pontas pelo o hospital até meus pais chegarem. Valeu mesmo! Nem sei como vou conseguir retribuir isso um dia.
Disse Rafael com enorme esforço nas palavras.
Afinal ele estava agradecendo a uma pessoa que estava com a ex com quem ele queria voltar.
_ Era o mínimo_ Eu disse.
Os pais de Rafael se aproximaram e nos cumprimentaram educadamente, agradecendo também. Depois disseram ao filho que já era hora de ir e seguiram para fora do hospital indo para o estacionamento. Rafael deixou que fossem na frente e que logo os alcançaria. Queria se despedir melhor de Mariane.
_ Vou sentir saudades.
Falou diretamente para ela.
Baixei, coçando a cabeça.
_ Se cuida.
Respondeu Mariane.
_ Até breve.
Ele disse. E eu senti a ironia.
Saiu devagar e Mariane o encarou calada até ele atravessar a grande porta da emergência indo embora de nossas vidas.
Assim eu espero.
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Só que as vezes o destino prega algumas peças na gente, não é?
Então não é muito recomendável zombar dele afinal levamos cada rasteira.
Mais lá na frente, fui eu que tive que agradecer pelo o que Rafael faria por mim.
Ele não parecia mais tão imbecil como antes desde que me estendeu a mão.
Rafael mostraria que realmente estava disposto a se retratar.
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