Mais Segredos

Pedalava como se a minha vida dependesse disso. Só desejava em chegar logo e me encontrar com ela.

Parei a bike na praça que ficava bem em frente à nossa escola e fiquei observando indeciso, se entrava ou se ficava ali mesmo esperando sua saída.

Mas quer saber? Esperar pra quê? Do jeito que estou ansioso, não vou conseguir ficar aqui parado. Vou entrar e procurar por ela.

Me aproximei e falei com o guarda que protegia os portões. Ele logo me reconheceu pronunciando meu nome e me adiantou também sobre minha prima. Ela estava na sala da diretora, foi o que o ele disse. Agradecendo a informação entrei, deixando a bicicleta sob os cuidados dele.

Segui pelos os corredores totalmente vazios, ainda assim cruzei com uns dos zeladores que faziam sua parte na limpeza. Estava esfregando o chão com tanto empenho e dedicação que acho que nem se deu conta da minha presença. Sábado na escola era assim, apenas um dia para os funcionários colocarem tudo em ordem para a segunda feira.

Continuei no corredor indo direto para a sala da Senhorita Ana (nossa Diretora) era onde Mariane estava para tratar de sua transferência.

De longe, pelas as venezianas abertas, pude ver as duas conversando. De repente Mariane levanta, se despedindo da Diretora. Rapidamente me escondi do lado de um dos armários de metal que ficava no corredor. Esperei surpreendê-la quando viesse em minha direção.

Ouvi seus passos chegando cada vez mais perto e no minuto exato surgiria como mágica bem diante dela.

Ela não se assustou e para minha decepção tão pouco se alegrou com minha aparição repentina, pelo contrário, parece ter ficado bastante chateada com a surpresinha.

Revirando os olhos e balançando a cabeça negativamente, continou seguindo em frente.

Afetado com tamanha negatividade, a segurei firme pelo o braço, impedindo sua passagem.

_ Ei, o que foi?
Perguntei preocupado e numa tentativa amigável de ajustar as coisas.

Mariane se sacudiu inteira, tentando se livrar de mim.

_ Por favor, dá pra me soltar?

Saiu, me deixando outra vez no vácuo. Estou mesmo começando a ficar com raiva disso.

O zelador que antes parecia tão desatento ao mundo ao seu redor, mostrou se bem interessado no que via. Me encarou com estranheza.

Mesmo depois desse fora, decidi que ainda tinha que tentar pelo menos ter uma conversa decente com ela, então me esforçei em acompanhá-la nos seus passos acelerados.

Passou pelos os portões sem olhar um só segundo pra trás. Nem verificou se eu estava a seguindo ou não. Até parecia que queria mesmo distância de mim.

Montei na bicicleta e logo à alcançei, ficando do seu lado.

_ Anda, sobe aí.

_ Não, Obrigada. Vou pegar um ônibus.
Respondeu, me esnobando completamente.

_ Mariane, Sobe na bicicleta.

Mesmo com a paciência no limite agi naturalmente.

_ Eu já disse! Eu vou de ônibus.

_ Chega Mariane!_
Falei zangado,com o resto do auto controle indo embora. Usei o freio da bike e parei a segurando outra vez _ Você vai me falar o que está acontecendo... Agora!

Ela se mostrou muito mais furiosa do que eu. Soltou se de mim com faíscas nos olhos. De repente correu, dando sinal para um coletivo que passava do outro lado da rua.

O motorista parou e ela subiu quase desesperada, me deixando lá sozinho. Mais uma atitude para ter a certeza de que preciso urgente de um antídoto contra vácuo. Precisava de uns dez frascos só pra começar.

Fiquei igual uma estátua de sal, vendo Mariane ir naquele maldito transporte. Parecia um palhaço montado numa bicicleta velha e suja no final de um espetáculo ruim. Algumas pessoas que estavam no ponto a espera de seus respectivos coletivos, apenas cochichavam e davam risos de deboche diante da apresentação. Afinal todos tinham sacado o babaca sendo rejeitado pela a garota bonita.

Lá vai eu, de volta pra casa.

Era só o que restava fazer.

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De longe vi, quando Mariane desceu no ponto final e avançou pela a estradinha de terra que dava para nossa casa. Mesmo de bike tinha conseguido acompanhar o ônibus, graças a lerdeza do motorista.

Pulei de cima da minha singela bicicleta, atirando a pobre infeliz que tinha me sido tão útil à quilômetros distantes de mim, como se ela não me servisse mais.

Corri, gritando por Mariane.

Como era de praxe não me deu muita atenção e corri mais e mais até chegar nela.

_ Mariane, para!
Falei, tomando a sua frente. De novo?

_ O que você quer?
Perguntou, quase tombando em mim.

_ O que eu quero? _ Achei engraçado sua pergunta e dei um riso meio zombador _ É Sério isso? Eu quero saber o que está acontecendo. Porquê está fugindo de mim desse jeito? O que foi que eu te fiz? Tínhamos um plano e agora do nada você vem me ignorando... Estou confuso.

_ Só me deixa!

Antes que conseguisse escapulir outra vez a puxei pelo o braço e a posicionei bem diante de mim com firmeza.

_ Não! Nada disso. Você simplesmente não pode me desprezar desse jeito. Eu acho que tenho o direito de saber o motivo da minha namorada nem olhar na minha cara, não? Pelo menos para que eu possa me retratar de sei lá o que.

_ Você quer mesmo saber? Porque eu tenho dúvidas de que seja algo que esteja preparado para ouvir...

_ Só fala, Mariane...

_ Seu pai, Alexandre_ Foi direta _ Seu pai desgraçou a vida da minha mãe.

_ Eu sei_ Com real sentimento_ Mas achei que já tivessemos deixado isso pra trás.

A fúria dela era tão explosiva que suas lágrimas caíram como uma enxurrada dessas desastrosas, que saem devastando tudo pelo o caminho.

_Sim, deixamos... Mas a sujeira ainda se esconde por baixo do tapete. E não dá pra seguir em frente. Não com esse novo fato.

_ Que novo fato?_ Franzi as sobrancelhas

_ A minha mãe... Ainda poderia está viva se não fosse pelo o seu pai.

Fiquei em choque. Do que ela estava falando? O que o meu pai tinha a ver com a morte de Michele?

E ela continuou

_ Ele... Matou a minha mãe.

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<Minutos Antes do Acidente>

" seremos felizes

"Eu sei que sim"

Foram com essas palavras finais que deixei Mariane sozinha em seu quarto, arrumando o resto de suas coisas numa mala.

Mas ela não tinha ficado sozinha por muito tempo. Agora sei.

Segundos depois que saí, ela recebeu uma visita em seu quarto...

_ Você sabe que hoje eu vou conversar com a Diretora da sua escola, não sabe? Sobre a transferência... Espero que você use de bom senso e maturidade para lidar com isso.

Pedro falava de uma só vez enquanto abria a porta, mas ele próprio se interrompe ao ver malas feitas em cima da cama de Mariane.

_ Vejo que já usou... Muito bem, filha. Assim que cuidarmos das coisas na escola, partiremos. Foi bom ter feito logo as malas.

_ Não estou arrumando pra partir com o senhor, pai.

Falava concentrada no que estava fazendo.

_ O que?

Olhou firme para o pai antes de responder:
_ Estou indo embora com o Alexandre.

_ Você enlouqueceu? Não pode fazer isso!

_Não sou mais criança. Não pode me forçar a fazer algo que não quero

Fechou a mala.

_ Mas ainda sou seu pai!... E não acho que seja uma das melhores ideias você sair assim por aí com um garoto que não tem nada na vida... Vão viver de que? De brisa?

_ Então é isso? No final a questão toda é porque ele não tem dinheiro?... Eu devia ter percebido... Porque realmente o senhor nunca se incomodou quando eu saía por aí com o Rafael. Já que ele sempre teve condições melhores.

Mariane lembrando do quanto ele apoiava o seu namoro com o surfista e de todas as vezes que viajaram juntos e seu pai nunca colocou obstáculo nisso. Sempre podia sumir com Rafael pra qualquer lugar do planeta. E Rafael não foi tão cuidadoso como seu pai pensa que foi.

_ Isso não tem nada a ver com dinheiro. Você me conhece, Mariane. Eu não sou esse tipo de pessoa. Está sendo injusta.

_ Então explica... Porque eu não consigo encontrar um motivo pra que eu não possa namorar ele... O que ele fez ou faz de tão errado para que o senhor o odeie tanto?

_Eu não odeio ninguém! Só não acho que isso vá dá certo.

_ Se vai dá certo ou não, é algo que só cabe a nós dois, e não a você, pai.

_ Mariane, não quero mais falar sobre isso. Nós vamos até a escola, resolver os papéis da sua transferência e voltar pra casa. Ponto final.

_Que parte o senhor ainda não entendeu? Eu não vou a lugar nenhum! Não sem o Alexandre. Goste ou não! Aceitando ou não! Eu vou ficar com ele. E vou embora daqui junto com ele seja lá pra onde for.

Ele se virou, irado com tamanha determinação.

_ Eu quis te poupar disso mas não vejo outra alternativa... Você jamais seria feliz com ele, minha filha. Acredite em mim! Você não aguentaria viver nem maís um segundo com esse rapaz, quando soubesse que foi o pai dele que causou a morte de sua mãe.

Mariane paralisou.

_ Do que está falando?... Causou? Como assim? Você mesmo me disse que ela tinha sofrido um mal súbito.

_ Eu menti!_ Disse com a expressão sofrida_ Porque eu não queria te ver triste com isso... Mas a verdade é que não houve infarto algum. Michele fez uma escolha. E nessa escolha, decidiu que não valia mais a pena Continuar.

Mariane desabou e ele frio continuou.

_ Depois que ela foi rejeitada pelo o pelo Humberto, entrou em depressão profunda... E um dia resolveu visitar o lago..._ parou um pouco _ Sua mãe não sabia nadar, Mariane... Ela nunca tinha entrado naquelas águas sozinha antes.... Justamente porque tinha receio do que podia acontecer... Mas naquela dia, ela se aventurou, porque era o que ela queria.

_ Não! Isso não é verdade... Você só está dizendo isso pra que eu mude de ideia... Minha mãe não fez isso... Não com uma criança pra criar... Como pode ser tão cruel comigo, pai? Inventando essas histórias?

_ Como eu gostaria que fosse, Mariane... Como eu gostaria que fosse... Mas infelizmente, é a mais pura verdade, querida.

Vendo a filha aos prantos, Pedro se deu conta de que tinha ido longe demais e que não deveria nunca ter contado. Não desse jeito. Se bem que nunca passou pela sua cabeça falar sobre isso com a filha, no entanto foi mais do que preciso. Sentindo compaixão, tentou abraçá-la.

_ Filha... Me desculpe...

Mariane desviou-se do seu abraço furtando as chaves da pick-up que estavam em uma das mãos dele e correu para as escadas.

Tão nervosa e alucinada nem viu quando passou por mim, enquanto eu estava lá no pé da escadaria, onde tinha acabado de discutir com minha mãe também.

Nem tão pouco escutou seu nome ser chamado por nós.

Nem percebeu quando perdeu totalmente o controle da direção.

Nem sequer sentiu a pancada na testa ao se defrontar com a árvore.

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Continua.....

AngellMoura

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