Foi Real?
Eu juntava todos os copos descartáveis e todas as latinhas de cervejas espalhadas pelo o chão e colocava no saco de lixo. O galpão estava uma verdadeira bagunça.
Já passava das três da manhã e todo mundo já tinha ido embora, bêbados demais para algum deles ficar para ajudar na limpeza. Eu poderia arrumar tudo mais tarde mas achei melhor ir adiantando algumas coisas.
Varri devagar todos os restos de bexigas estouradas para um canto do salão e por um segundo enquanto fazia isso me distraí com Mariane, que estava encostada na mesa do bar reunindo algumas garrafas.
Fiquei parado, hipnótico. Não cansava de admirar aquela menina.
Soltei a vassoura e fui em sua direção e a abracei cheirando seus cabelos, que tinham a mesma essência das margaridas que a coroavam.
Ficamos assim, por um longo período de tempo, abraçados, e quando a virei para mim, ela estava sorrindo.
_ Sabia que você ainda não me parabenizou.
Ela disse.
_ Verdade! Que tipo de pessoa eu sou?... Feliz aniversário!
Tirei do meu bolso uma carta que tinha escrito para ela alguns dias antes e estava só esperando o momento certo para entregar.
( É isso mesmo! Ainda sou do tempo das cartas escritas a mão )
_ Fique a vontade para ler... Mas quando estiver sozinha.
Falei sorrindo, pedindo sutilmente que ela não lesse aquilo agora. Eu ia morrer de vergonha se ela fizesse isso.
_ Não se preocupe... Jamais faria isso com você_
Brincou, segurando a carta e a beijando.
_ Eu lembrei também que além de me parabenizar logo cedo...
_ Será que você nunca vai me perdoar?_ Sorri
_ Lembrei também que não dançamos uma vez só juntos nesta noite!
_ Não, não dançamos...
confirmei, franzindo a testa, como se aquilo tivesse sido o grande absurdo da noite.
Saí de seus braços e fui até o som.
Coloquei para tocar uma música mais suave.
As primeiras notas invadiram a garagem com intensidade e vibração.
_ Dança comigo?
Estiquei os braços e logo ela veio até a mim, delicada.
Encostou em meu peito e dançamos lentamente, serenos, no silêncio da música. Parecia que dentro daquele mundo inteiro só nós dois existíamos.
Afaguei seu cabelos ( minha obsessão) e ela levantou seus olhos, me encarando, e só depois de um segundo me beijou docemente.
Respondi com intensidade. E toda ardência e desejo, se mostraram naqueles lábios meus.
Agarrei sua cintura com força e pude sentir que nada seria capaz de desfazer aquele momento.
Senti meu coração acelerando junto com o dela, e cada vez mais nos sentíamos mais presos um no outro.
Mariane percorreu as mãos através de minha blusa e acariciou meu abdômen com dedos leves e quentes e foi então que perdi de vez completamente a cabeça e os sentidos.
Meu corpo ardia como febre. Mas não uma febre que te deixa mal mas que te deixa feliz.
Ela ajudou a me despir sem sequer desgrudar de minha boca um só segundo e depois ela própria se desfez do seu próprio vestido.
E ficamos deitados no chão do grande salão. Sabendo o que víria depois.
Mariane me olhou com firmeza quando já não éramos tão inocentes e ela percebeu que eu era novo nisso.
Sim, Era minha primeira vez.
Ainda meio atordoado, virei para o lado e fiquei Sorrindo feito um bobo.
Mariane também ficou presa no teto e falou
_ Você não tem idéia... Mas eu sonhava com isso todo santo dia...
"Eu também" pensei.
_ Sonhou também que seria tão desajeitado?
_ Você não foi desajeitado._ Franziu a testa sorrindo.
_ Eu te Amo.
Pronto! Falei. Assim, de supetão.
Não me importei se isso poderia de alguma forma assustá - lá. Estava preso dentro de mim já fazia um tempo e eu precisava falar.
Ela permaneceu calada e me encarou com olhos de profunda paixão, ficando assim por segundos até por fim decidir me beijar carinhosamente, aninhando-se sobre meu peito.
Adormeceu.
Eu demorei para pegar no sono. Fiquei horas admirando a dança das luzes coloridas deslizando pelo o teto.
Lembrei do choro de felicidade do meu pai com sua casa pronta, imaginava quando seria o dia e qual seria a razão de isso um dia também acontecer comigo. Bom, acho que esse dia chegou.
Senti enquanto sorria, o gosto salgado do líquido que descia de meus olhos.
Limpei minha face e quase a acordei e ela se mexeu ajeitando seu corpo de outra forma mais confortável.
Velei seu sono e reparei na correntinha dourada em seu pescoço. Era o relicário de seu pai que ela tinha feito questão de usar naquela noite.
Toquei com cuidado no pingente de coração e o abri. Estava lá, a foto de seu pai, e ao lado a foto de sua mãe que eu achei naquele dia no Quartinho da bagunça.
Ela recortou em um formato coração o rosto de Michele e pôs no espaço que antes era vazio.
Fiquei muito emocionado com aquilo e meu peito doeu de sentimento.
Adormeci também.
##
Sonhei com um anjo e ele estava voando. Durante o vôo alguém arrancava suas asas então ele caía sangrando até mergulhar em águas profundas e turvas.
Logo depois, vi que era eu quem tinha caído no lago e de repente as águas turvas instantaneamente se misturaram com o meu sangue, tornando todo o lago em um imenso rio de águas turbulentas e sangrentas. Tudo o que parecia belo antes, se encontrava em trevas.
Num desespero aterrorizante eu gritei, me afogando, e nesse mesmo momento, enquanto me esforçava para me manter vivo, vi o grande e velho carvalho de rente as margens se distorcendo por inteiro com seus galhos sombrios e secos. Vi também claramente as iniciais há tanto tempo ali gravadas desaparecerem. Nem de longe, parecia com aquela árvore de tamanha suntuosidade que uma vez mostrei à Mariane.
Quase sem nenhum fôlego repetia pra mim mesmo...
" Isso não é real"
Senti o sangue invadir meus pulmões e degustei o amargo sabor da morte em meus lábios... Em segundos, vi toda minha vida se desfazer.
"Isso não e real"
"Isso não é..."
"Isso não... "
"Isso..."
*********
Acordei transtornado. Estava banhado em suor e me sentia trêmulo e ofegante.
Me acalmei e só depois notei que já havia amanhecido.
Estava sozinho no galpão, ela já devia ter se levantado há tempos.
Me levantei e vesti minhas roupas, olhei para o relógio no pulso e já passava das nove.
Para descontrair, decidi brincar com ela mandando - lhe uma mensagem...
" Achei que iria acordar nos braços de alguém" (carinhas de tristeza)
Mariane visualizou e respondeu.
" Isso não foi mesmo nada romântico da minha parte. Prometo que na próxima vez acordaremos juntinhos"
(Vários coraçãozinhos)
Sorri satisfeito enquanto lia.
" Hum, então quer dizer que haverá outras vezes ... Muito feliz com essa informação"
Escrevi.
" rsrsrsr, Bobo!"
Respondeu e continuou:
" Vem logo pra cá, sua mãe acha que você continua dormindo no quarto... Aproveita que ela está no banheiro... Vem logo depressa!"
Disse finalizando.
Coloquei o celular no bolso e Segui para o casarão e no caminho não parava de pensar naquele pesadelo medonho.
Nunca tinha tido um sonho tão real e tão perturbador assim ao mesmo tempo.
Aquele sonho não deveria nunca ter feito parte daquela noite.... Tinha sido uma noite tão mágica e importante para mim que até agora eu não entendi o porquê de um pesadelo tão sinistro como aquele.
Pelo o meu estado de espírito deveria pelo menos ter sonhado com campos, rosas e borboletas... Essas coisas...
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