Feliz aniversário, meu amor !
As férias do meio do ano haviam finalmente chegado e junto o aniversário de Mariane.
Dezoito anos era a certeza de que você não era mais nenhuma criança, apesar de muitas vezes ainda ser. Acho que para os pais seus filhos nunca crescem. Via isso na maneira como minha mãe e o pai de Mariane nos tratavam.
Muitas vezes escutava Mariane no telefone com seu pai e ela parecia uma menininha de cinco anos. Era engraçado o modo como a voz dela se tornava infantilizada as vezes.
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Naquela manhã de quarta- feira, tio Pedro ligou pra filha lhe desejando felicitações. Só vi quando ela desligou emocionada. Então a deixei sozinha com suas emoções e fingi não lembrar de seu aniversário.
Tinha um enorme motivo pra agir dessa maneira.
Dias antes, Samara nos deu a idéia de fazermos uma festinha surpresa para Mariane. Claro que concordei na hora.
Como precisávamos de um bom espaço para a festa, decidimos que o galpão seria o lugar ideal, pois tinha muito espaço e era só limpar e caprichar na decoração que iria ficar perfeito para receber todos os convidados , que no caso, não eram muitos.
"Convida só os mais próximos da Mariane, Marcos"
Ordenou Samara.
Mamãe ficou encarregada de preparar alguns doces e do bolo enquanto André e eu tentariamos algum tipo de decoração bem divertida e colorida.
Todo mundo se prontificou a ajudar. Nos reunimos e juntamos algum dinheiro.
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Então, o dia tão esperado chegou! E nós tínhamos que tirar Mariane de casa para podermos preparar melhor a surpresa.
Ficou combinado então que Samara convidaria Mariane para ir no Shopping. E assim Samara fez.
Depois de muita resistência, ela aceitou. Samara usou a desculpa que queria muito presentear Mariane naquele dia mas que fazia questão que ela mesma escolhesse o seu próprio presente.
Assim que as duas saíram, rapidamente demos iniciativa aos preparativos.
_ Não precisa ficar sem jeito. Pode escolher o seu presente à vontade.
Falou Samara, vendo o quanto Mariane estava tímida diante dos preços impressos nas etiquetas.
_ Acho que não foi uma boa idéia, Samara.
Mariane separava os cabides um por um.
_ Olha só pega o que você gostou e a gente leva... Pronto! Simples assim.
_ A gente pode ir em outra loja? As coisas aqui são meio caras! _ sussurrou, com receio de que alguma vendedora ouvisse _ Olha só isso! - Mostrou o valor de uma das peças que estava em suas mãos _ É o preço de uma só camiseta, credo!
_ Teve vaquinha pro seu presente. A gente se juntou para dá um único presente mas que fosse realmente bom. Então não se preocupe com isso.
_ Tá bom..._ Mariane meia sem graça_ Sendo assim então, vamos procurar algo legal por aqui...
Entraram em algumas lojas em busca de algo que agradasse. Até que enfim ela optou por um lugar mais popular e com preços mais acessíveis convencendo de vez Samara.
_Você jamais usaria uma roupa deste lugar_ Protestou Samara na entrada da loja_ Só entrou aqui porque não quer que eu gaste muito dinheiro...
Samara riu balançando a cabeça.
_ Eu adoro essa loja! Tem muita coisa legal! Você vai ver.
_ Vamo lá então... Mas tá mais pro meu estilo isso aqui... Estilo beco de rua.
_ Gosto como se veste.
_ Você só pode tá de brincadeira! _ riu _Eu pareço uma vampira pobre do século dezoito.
Riram mais uma vez.
_ Sinceramente, falando sério agora, Já que a gente tocou neste assunto... Eu mesma não entendo como aguento passar um dia inteiro vestida de preto! Ainda mais num calor desses.
Mariane a olhou como quem só agora tivesse parado pra pensar nisso.
_Se eu tivesse curvas como as suas, não sei se faria tanta questão de esconder_ Mariane.
Samara franziu a testa.
_ Já se olhou no espelho alguma vez na sua vida? _ Completou Mariane com um sorrisinho.
_ Não de verdade.
_ Você é linda Samara!
Os olhos de Mariane brilharam e Samara pode ver toda a sinceridade nas palavras.
_ O problema é que eu não me vejo assim, como uma garota bonita_ Disse com certa tristeza, após o silêncio_ E tão pouco interessante.
_ Você é muito bonita. De verdade. E uma garota muito legal e inteligente também. Devia se mostrar mais. Para que todos vissem a pessoa maravilhosa que você é. Como é possível saberem disso se você se fecha como uma concha? E não tô falando dessas roupas que você veste com números três vezes maiores que o seu... Tô falando de tudo. Precisa se abrir para as coisas.
Principalmente do relacionamento com Marquinhos. Viver num mundo só para ele, fechada ao resto, não era algo muito saudável.
Samara ficou pensativa por uns instantes e pegou um short preto com taxinhas metalizadas que estava em um dos cabides e mostrou a Mariane.
_ Você acha que eu ficaria legal com algo assim, por exemplo?
_Acho não, tenho certeza!_ Mariane analisou_ Você definitivamente iria arrasar com algo assim... Já estava mesmo na hora de mostrar essas pernocas.
Deram uma gargalhada.
_ Mas ..._ Mariane pegou o mesmo modelo de short do cabide na cor azul mostrando a ela _ Que tal deixar o preto de lado só dessa vez?
Passaram a tarde experimentando roupas e acessórios e Mariane acabou esquecendo totalmente que seria pra ela o presente e centralizou todas as suas atenções para Samara.
Cada vez que Samara saia do provador com uma peça nova e diferente, ela se surpreendia com a beleza daquela menina, que se mostrava tão avessa ao seu próprio corpo, e por um momento tentou entender o que realmente se passava na cabeça de Samara. Qual seria o motivo de tanto complexo?
A verdade é que Samara era o tipo de pessoa que achava que mostrar muito o seu corpo poderia torna- lá uma menina fácil, fútil e sem inteligência nenhuma. Ela não queria ser vista assim, tinha medo de se parecer com as garotas com quem Marquinhos Saía "Muita nudez e tão pouca inteligência" assim pensava. Pensamento errado eu acho, roupa curta não define caráter e inteligência de ninguém, mas Samara só queria se mostrar diferente das outras meninas, e principalmente mostrar para Marcos que ela sim merecia sua total atenção por ser tão mais culta e muito mais diferente do que as outras. Não era. Era só mais uma. Pra ele, claro.
No fundo ela sabia disso, e era por isso que sofria.
Então com esse pensamento, Samara decidiu que só usaria suas roupas largas e compridas e de preferência abusando sempre do tom preto, mas mesmo assim, evitando ser confundida com alguma menina menos inteligente, Samara não escapou de ser tachada de alguma coisa.
Pois na escola todo mundo chamava ela de
"A filha do Zé do caixão"
Diziam que ela fazia parte de uma seita satânica e que pertencia a uma família de bruxas. E as pessoas chegavam mesmo a ser cruéis com ela, com suas piadinhas infames sobre o estilo de roupas que ela usava.
Muitas ocasiões vi Samara chorando pelos os cantos por causa das brincadeiras sem graça do pessoal da escola.
Diziam até que ela era a própria Samara do filme O CHAMADO.
Podia até ser engraçado para alguns, Mas isso realmente a machucava por dentro. E o pior, Marcos as vezes estava junto dela e não a defendia. Ele parecia não se preocupar.
O amor próprio dela era inexistente. E Marcos muitas vezes se aproveitava disso, submetendo Samara as mais humilhantes brincadeiras e joguinhos sexuais que somente ela topava por amor. Era mesmo uma relação bem doente.
Marquinhos evitava bastante ser visto junto de Samara, mas todo mundo da escola sabia do relacionamento dos dois. Toda vez que alguém perguntava se eles eram namorados, ele desconversava ou mudava de assunto, ou mesmo negava na cara de pau, jurando que os dois eram apenas colegas. Afirmava que nem amigos eram, tão somente simples colegas de escola.
Sendo assim, ficar com outras garotas na frente de Samara não era um problema pra ele, nem tão pouco constrangedor, já que ele dizia não ter nada com ela. Nessas, ela sofria calada só esperando a sua vez. Quem sabe quando ele a procuraria de novo? Ficava sempre a esperar. E agora com essa idéia da Mariane de inovar seu guarda roupa poderia até ser que ele a visse com outros olhos e se interessasse mais pelo o relacionamento deles. Talvez agora não teria mais tanta vergonha e assumisse de vez esse namoro. Foi só com esse pensamento que Samara concordou em trocar de estilo um pouco.
Durante as trocas de roupas, Mariane percebeu cicatrizes na sua coxa direita, mas não perguntou o que tinha sido aquilo.
Os cortes eram recentes e Mariane preferiu que seria melhor deixar que um dia Samara falasse sobre aquilo quando sentisse mais confiança nela.
Samara estava mesmo com sérios problemas, mas com medo de assustá- la, Mariane fingiu não ter reparado nos terríveis cortes.
"Uma coisa de cada vez. Vou procurar um meio de falar sobre isso com ela depois" pensou Mariane, sabendo que esse assunto teria que ser tratado com delicadeza, afinal era muito pessoal.
Não era tão simples como trocar de roupa.
~ ¥ ~
O galpão estava toda enfeitado com balões de todas as cores e tamanhos, também colocamos algumas luzes coloridas onde criou um efeito muito bacana no salão.
Marcos cuidou das bebidas, o que foi a parte mais complicada de se resolver pra nós, porque minha mãe não queria permitir bebida alcoólica na festa, mas Marquinhos conseguiu convencer minha mãe de que as cervejas seriam todas sem álcool ( O que era mentira ) e também já estava combinado de algumas pessoas trazerem Tequila e vodca escondidos em mochilas.
Então, até minha mãe está presente na festa, a gente ia ficar embromando com as cervejas sem álcool e depois que ela se mandasse iríamos aproveitar com bebidas de verdade.
Eu sabia que ela não ia ficar muito tempo naquela festa, onde só teria adolescentes e nenhum adulto de verdade com quem ela pudesse passar o tempo e conversar.
Quando a noite chegou, todo mundo já estava a espera de Mariane.
Olhei ao meu redor e vi que Marquinhos convidou mais gente do que tinha sido combinado. Acho que a escola inteira estava ali.
Era assim mesmo, boato de festa na escola surgia pessoas de todos os lugares.
Samara mandou uma mensagem para o meu celular, avisando que já estavam chegando. Então, rapidamente deixamos todas as luzes apagadas e ficamos quietos enquanto Samara inventava algum pretexto para levar Mariane até onde estávamos.
De repente no silêncio, ouvimos os passos das duas se aproximarem, em seguida a grande porta de madeira ecoou com um rangido de filme de suspense.
Mal Mariane pôs seus pés no assoalho, instantaneamente, acendemos as luminárias, gritando em coro:
SURPRESA!
Mariane se assustou e levou as mãos até o rosto sem acreditar no que estava acontecendo. Vi que seus olhos seguiram todo o salão, pousando nos cartazes com dizeres de felicidades.
Depois do fim do "Parabéns pra você" Minha mãe foi a primeira a lhe abraçar e todos os outros fizeram o mesmo, menos eu, que fiquei um pouco distante só sorrindo pra ela.
Quando toda multidão a parabenizou, foi a vez dela cortar o bolo. E foi nessa hora quando perguntaram pra quem seria o primeiro pedaço que Mariane me olhou, como se oferecesse a mim.
Eu achei que seria melhor que ela oferecesse a outra pessoa, para que não percebessem o que havia entre nós dois. NÃO pelo os outros e sim pela minha mãe que estava ali presente e a gente preferia que ela ainda não soubesse nada ainda. Então Mariane resolveu entregar o primeiro pedaço a sua tia Rosa mesmo, que ficou muito feliz com o gesto.
Depois do seus agradecimentos, Mariane ficou por alí conversando com alguns amigos e desde a hora que chegou nós não nos falamos um só segundo, apenas namorava com ela pelo o olhar.
Mamãe ficou na festa até umas oito e meia da noite, e quando enfim cansou de suas intermináveis recomendações disse que estava cansada e que iria dormir.
E...
Foi nessa hora que a festa realmente começou!
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