Devaneios?
Toc! Toc!
Longa espera.
_ Acho que não tem ninguém em casa.
_ Tenta de novo!
Toc! Toc!
Mais outra longa espera.
_ Deve ter saído._Me afastei da porta dando a impressão de que já poderíamos ir embora mas Mariane me segurou firme pelo o braço fazendo um sinal de silêncio.
_ Escuta... _ ficou como estátua, prestando atenção no pequeno ruído que vinha de dentro da casa _ Você ouviu isso? Tem alguém lá dentro.
Eu não tinha ouvido nada mas fiquei quieto por um segundo. Logo em seguida, ouvi passos arrastados vindo até a porta.
_ Quem está ai?
Perguntou a voz do outro lado.
Olhamos um para o outro antes de um de nós responder.
Criei coragem.
_Seu Alfredo?
falei.
_ Quem quer saber?_ Respondeu com antipatia.
_ Sou Alexandre, seu vizinho aqui do outro lado do lago..._ Um segundo_ Minha prima Mariane e eu viemos até aqui porque precisamos conversar sobre um assunto muito importante com o senhor.
_ Não tenho nada pra conversar com ninguém, principalmente com desconhecidos... Vão embora! Os dois! E me deixem em paz antes que eu chame a polícia por invasão de propriedade particular._
Disse irritado.
_ _ Por favor! Fale com a gente_ Mariane_ Não estaríamos aqui se não fosse um assunto realmente sério.
De repente um silêncio quase eterno e a porta se abriu devagar, mostrando Alfredo maís sereno.
_ Michele?
_Sou a filha dela_ Mariane prontamente.
O homem parecia hipnotizado.
_ Você é igualzinha.
_ podemos entrar?_
Mariane.
Alfredo se afastou da porta imediatamente, dando passagem para nossa entrada.
Entramos juntos na casa escura e com cheiro de mofo. Ficamos na entrada da sala e reparamos
que tudo parecia ter uns cem anos. Os móveis, a cor marrom nas paredes, e alguns retratos da infância em preto e branco sobre uma mesinha de madeira velha dava um ar meio sinistro. Mas nada superou a coruja empalhada na estante.
Cenário perfeito para um filme de terror.
Ele sentou no sofá devagar, sentindo as costas. Tinha um sério problema de coluna que o deixava meio corcunda.
Fez um gesto nos convidando pra sentar e fizemos isso. No entanto, aínda sentiamos meio receosos e ficamos em silêncio sem saber bem por onde começar, então ele puxou o assunto.
_ O que dois jovens como vocês poderiam querer de um homem velho e doente como eu?
Mariane começou calmamente.
_ Hoje mais cedo o senhor falou comigo pelo o telefone achando que estava falando com a tia Rosa... E durante a conversa, mencionou alguma coisa sobre a minha mãe _ Ele ouvia atenciosamente _ Coisas confusas que me deixaram bastante curiosa por sinal... Pois eu não sei muito dela...
O velho sentado em seu estofado sujo e rasgado ficou à analisar minha prima com exatidão.
_ Você espera que eu fale qualquer coisa sobre sua mãe?_ Ele a interrompeu_ Não sei se tenho tanto assim pra falar.
Mariane ficou em silêncio, decepcionada.
Alfredo se ajeitou no sofá e colocou os olhares sobre o pescoço dela e continuou
_ Eu lembro desse colar...
Seu Alfredo as vezes falava quase sem fôlego.
_ Encontrei nas coisas do meu pai quando eu ainda era criança_
Mariane tocou com carinho no pingente em forma de Coração.
_ Michele dizia que tinha sido o presente mais caro que já tinha ganho em toda a sua vida..._ Ele quase sorriu.
Tirou do bolso uma daquelas bombinhas que auxilia nas crises asmáticas e borrifou na boca naturalmente.
_Como conheceu minha mãe?
_ Desde sempre _ depois de um segundo_ Inclusive, o colar, foi meu presente de casamento pra ela..._ Mariane mostrou-se surpresa. Sempre achou que tinha sido um presente de seu pai. Continuou_ Lembro que trabalhei duro por quase um ano inteiro, só pra juntar dinheiro o suficiente para isso.. Queria que fosse algo que realmente tivesse um valor significativo... Eu jamais vou esquecer a cara que ela fez quando o recebeu... _ perdido em lembranças _Ela disse que eu só podia ser muito louco pra gastar todo meu dinheiro com um presente tão caro desse jeito.
Acho que Mariane nem tinha idéia do valor daquela jóia.
Era incrível como as feições dele se tornavam tão leves quando falava de Michele
_ Nós éramos muito amigos... Apesar de ser bem mais velho do resto da turma, gostávamos bastante da companhia um dos outros... O Pedro e a Rosa... E o Humberto! não eram tão próximos de mim como Michele, mas tínhamos muito apreço, e sempre andávamos juntos quando se tinha a chance _ Parou um segundo e me encarou.
_ Então o senhor também conheceu meu pai?_ perguntei interessado.
_Mas é claro! Humberto foi uma das primeiras pessoas que eu fiz amizade no ensino médio... Ficamos todos amigos a partir dele... Ele conhecia praticamente todo mundo na escola..._ Parou um pouco_ Aliás, vejo que não tem muito dele... Lembra bem mais a sua mãe_ Olhando pra mim intensamente.
_ Os Olhos do Humberto eram grandes... Tinha um Olhar intenso... Quase ambiciosos... Você não me parece ser um rapaz ambicioso.... Parece calmo... Tímido...
Eu não entendi se aquilo tinha sido um elogio ou não, então preferi não comentar e só escutar o que ele tinha pra falar.
Ele levantou, indo até outro cômodo da casa.
_ Querem ver uma coisa?
Disse.
Ficamos sentados esperando ele voltar.
De repente ele aparece com um porta retrato antigo nas mãos nos mostrando com alegria.
_Vejam...
Disse apontado para as pessoas da foto.
Era um retrato de casamento. Casamento de Michele mãe de Mariane com seu pai Pedro.
Ao lado dos noivos estavam minha mãe Rosa e meu pai Humberto, sorridentes. E bem no canto, um jovem magro de terno, com uma expressão meio triste que reconheci na hora ser Alfredo maís jovem.
_ Viu? Eramos mesmo muito amigos. Todos nós! Fui até padrinho de casamento do Pedro... Bons tempos._ Disse com tristeza.
Sentou cansado, entregando o porta retrato nas mãos de Mariane que ficou um pouco emocionada com aquilo.
_ Ela estava tão linda!
Disse Mariane, segurando as lágrimas.
_ Michele era a própria reencarnação de toda beleza já produzida nessa vida, minha cara menina _ Disse o velho _ Não era à toa que quase todos naquela escola eram apaixonados por ela ... Nem eu mesmo escapei.
Mariane e eu nos entre olhamos, abismados com essa revelação.
_ O senhor?_ Mariane sem acreditar.
_ Mas ela nunca soube... Eu nunca tive coragem de dizer... Só quem sabia era a Rosa... Que muito fiel à nossa amizade, também jamais revelou isso para o irmão. Pedro arrancaria meu pescoço se ficasse sabendo de uma coisa dessas.
_ O senhor e a minha mãe ainda são muito amigos?_
Falei isso, lembrando do que Mariane tinha dito, sobre minha mãe mentir.
_ Devo muito a ela. Não só por ter sido compreensiva nesta questão com Michele... Mas também por hoje... Ela sempre está aqui... Me visitando e me ajudando com alguma coisa na casa... De fato, uma boa amiga.
Mariane me olhou como se dissesse "O que foi que eu disse? Viu? Ela mentiu pra nós"
_ Seu Alfredo.. o senhor me desculpe, mas... Porquê parecia tão desesperado ao telefone?... O senhor não dizia coisa com coisa...
_ Ora, já deve ter notado que eu não passo de uma pobre criatura fraca e enferma... As vezes, por causa dos remédios, falo coisas que não fazem o menor sentido... Puro e simples devaneios... Nada de mais.... E eu acho, que o fato de você parecer tanto com a Michele, me deixou um pouco abalado naquele dia no lago... Na verdade, gostava tanto dela que nunca superei sua morte... Você trouxe memórias, que luto Todos os dias contra.
Com toda essa história, percebi mesmo o quanto Seu Alfredo amava Michele e o quanto era muito amigo de Minha mãe.
Só não entendo o porquê de mamãe se negar a nós dizer a verdade. Talvez ela não quisesse que Mariane soubesse dessa paixão.
_ Acho melhor a gente ir pra casa agora, Mariane.
Disse, vendo que aquela conversa não tinha mais nada a acrescentar.
Pus as mãos sobre às de Mariane e o velho olhou com certa reprovação para nossas mãos entrelaçadas.
_ Certo.
Falou ela triste.
Nos levantamos.
_ Obrigado por sua atenção, Seu Alfredo e... E nós desculpe por aparecer assim._ Ela disse.
Ele se ergueu também nos levando até a porta.
Quando nos distanciamos um pouco, ele falou...
_ Esperem!
Nos viramos
_ Fiquem longe do lago!_ Completou.
Calados fomos embora.
"Não vou me culpar por isso também.
Não mesmo!"
Sussurrou Alfredo.
"Isso não é culpa minha"
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Mariane e eu seguimos para fora da propriedade, quando ela parou e desviou o caminho.
_ Onde você vai?
Ela me olhou firme.
_ Não podemos ir pra casa agora... Sua mãe acha que estamos na escola.
_ E você acha que ele não vai contar pra ela que estivermos aqui?
_ Claro que vai... Mas ainda assim, não quero ir pra casa.
Me puxou, andando.
Chegamos nas margens e jogamos nossas bolsas no chão e sentamos.
_ Você é inimiga dos conselhos? Ele foi bem firme quando ordenou que ficasse longe do lago_ Brinquei.
_ Ainda estou tentando entender o motivo da tia Rosa ter mentido.
_ Talvez... Apenas não quisesse que a gente se aproximasse dele, sabendo o quanto ele é pirado_ Após pensar
_ Não sei... A conversa dele no telefone tinha muita convicção para ser apenas um delírio... E Os verdadeiros loucos nunca admitem que são loucos..._ Me olhou atravessado_ Ele admitiu demais suas fraquezas pro meu gosto.
Fiquei pensando.
_ O que tem esse lugar de tão sagrado que ninguém possa ficar? Ele Parece meio obcecado pelo o lago_ Franziu a testa
_ Não tenho certeza... Mas houve um acidente há algumas décadas atrás... Parece que algumas pessoas já se afogaram aqui... Acho que ele tem medo que aconteça novamente.
_ Sério?
_ Eu ainda era muito criança quando ouvi essa história pela a primeira vez... Não lembro bem... Só escutei alguns adultos comentando... Mas pelo o pouco que ouvi, dizem que uma pessoa desapareceu e quando começaram às buscas pelas as redondezas já encontraram sem vida na água...
_ Nossa! Que tragédia!
_ Com uma história dessas, dá até pra entender o cuidado dele com esse lugar. Só está evitando que mais uma vez sua prioridade vire notícia.
_ Sabe o que eu acho?_ Disse Mariane me fitando _ Que a gente deveria esquecer toda essa história... Esquecer que sua mãe mentiu, esquecer as esquisitices daquele homem, e principalmente, deixar minha mãe descansar em paz... Afinal, a onde tudo isso iria me levar? Ficar fuçando o passado não vai acrescentar em nada na minha vida agora, e pelo o que pude ver naquela fotografia, ela teve uma vida bem feliz, com um marido e amigos que a amavam, e isso é o que importa... E se meu pai evita de falar sobre ela comigo, deve ser pelo o fato de ainda doer difícil... Ele devia ama-la mais do que tudo nessa vida... E ficar relembrando a todo instante pela a filha, de que seu amor não está mais aqui, deve ser uma tortura pra ele.
Suspirou um pouco, tristemente.
_ Eu preciso deixar tudo que é relacionado a isso de lado... De uma vez por todas!... Pra ajudar meu pai... E a mim também._ Finalizou.
_ Estou aqui para ajudar você nisso... Não se esqueça.
Ela me olhou e sorriu com amor.
_ Eu sei. Obrigada.
Afastei seus cabelos de seus lábios.
Me abraçou.
Beijei seus cabelos e ficamos assim. Como se tivéssemos fazendo um pacto de nunca deixar que o outro fique sozinho com seus problemas.
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