A Invasão
_ Mas que porcaria é essa? Quem é? _ O velho corcunda preparava um café forte e amargo no fogão quando escutou as frenéticas pancadas na porta da frente.
A cara brava e o aspecto rude e seco não foram capazes de espantar e nem intimidar a garota ruiva e atormentada aos pés da soleira da sua entrada.
_ Mas quem é você?_ o velho com sua indignação_ Não sabe que não gosto de ser incomodado?
_ Por favor, me ajude!
A garota não parava de chorar junto com seu corpo trêmulo, e ele não deixou de notar as vestimentas úmidas dela.
_ Mas de que Diabos você têm?
Ele não se mostrou muito atribulado com a questão de ter uma garota quase histérica na sua entrada pedindo por socorro, porque bem na verdade estava mesmo era se sentido afrontado. Como ela ousava atrapalhar dessa maneira seu sossego?Sinceramente, já se via cansado desses tipos de intromissões e com razão, aliás era só o que tinha acontecido nesses últimos meses. Frequentes episódios como esse de adolescentes alienados e desocupados batendo na sua porta.
"Essas drogas de hoje estão piores do que as drogas do meu tempo"
Pensava, enquanto estudava os gestos de extrema aflição dela.
E mesmo com tanta sofreguidão vindo daquela menina o velho não parava de fazer suas absurdas suposições...
"Também! Não é pra menos! É tanta coisa nova e ruim aparecendo por aí...Tanta porcaria misturada com química e outras bostas sintéticas que até dá pra entender o comportamento desses moleques de hoje"
_ Por favor senhor! Preciso que me ajude!
Insistiu ela mais uma vez.
_ Já olhou pra mim, menina? Está pedindo pra pessoa errada.
"Ah! Quanta saudade quando se contentavam apenas com cogumelos... Era tão mais simples! Tão mais natural! Era só arrancar da terra e depois apreciar"_ Pensou.
O velho se perdia em lembranças de uma época um tanto rebelde da sua juventude onde encontrava sempre meios mais fáceis e baratos de se ficar doidão. Naquela época tinha uma verdadeira veneração por algumas espécies de Alucinógenos que ele e alguns amigos colhiam alí mesmo em seu próprio quintal.
Cogumelos era uma moda daquela década e seus efeitos psicodélicos, para muitos, abriam a porta da percepção. E para ele, particularmente, era como caminhar por outras dimensões sem se preocupar se voltaria ou não.
Ainda preso no passado lembrou sorrindo o quanto ele e seus amigos eram adeptos dos chás feitos com esses mesmos fungos, que singelamente, nasciam formidavelmente nos canteiros das cercas. Por muitas e muitas vezes se perguntava surpreso como algo que nasce sobre esterco de vaca poderia ser tão fascinante assim?
Mas junto com as recordações desse período meio indomável veio também memórias não muito agradáveis. Logo depois de passado todo o encantamento com os famosos cogumelos, seguiu um certo momento em que toda mágica foi se extinguindo gradualmente quando, obviamente, começaram os inevitáveis incômodos dos efeitos colaterais. Era desanimador quando sentia que todo o estado de graça e elevação que sempre sentia depois de uma boa xícara de chá vinha muitas vezes acompanhada de agonizantes coceiras e espasmos involuntários causados pelo o uso abusivo dessas maravilhas da natureza.
E foi assim que tão logo decidiu que não valia tanto a pena se arriscar assim por míseros minutos de satisfação, então achou que seria melhor esquecer esse tipo de coisa e finalmente ele e os outros deixaram todos os cogumelos crescerem em paz.
Bem mais tarde acabou descobrindo outras formas interessantes de também ficar insano sem tantas reações adversas. Optou pelas as meninas.
Mas a grana era sempre curta demais pra investir nos namoros e isso o deixava muito frustrado e quase deprimido. Conclusão: Sem seus cogumelos e sem garotas só lhe deixou mais sisudo ainda e insatisfeito com tudo ao redor.
De repente os irritantes apelos da garota ruiva o trouxe de volta à atmosfera atual. Ela, que agora se apresentava mais exaltada do que antes, estava com a face notavelmente avermelhada e molhada, e pior, quase não se compreendia o que realmente queria de fato. Só se ouvia indecifráveis balbucios:
_ O meu namorado... Ele não está bem..._ Tentou de verdade se explicar mas acabou se engasgando com o próprio choro.
_ E eu com isso? _ perdendo a paciência_
_ Acontece que ele está lá... Naquele lago...
_ Espera um pouco... Vocês estavam no meu Lago?
O Velho demonstrava estar mais furioso do que preocupado.
"Será que é pedir demais? Que não se nade naquele lugar? Pelo o Amor de Deus! Aquele é um território sagrado! Meuuuu território Sagrado!"
_ Eu não consigo acordar ele... Eu tentei... Mas ele não reage..._ fungou o nariz _ Então fiquei desesperada sem saber o que fazer e saí correndo pelo o mato a procura de algum lugar ou de alguém que pudesse me ajudar... E acabou sendo que a sua casa foi a primeira coisa que encontrei pelo o caminho.
_ Eu sinto muito, garota, mas eu não sou médico e você precisa mesmo é de uma ambulância ... Porque ao invés de sair feito um doida no meio do mato você simplesmente não ligou para emergência?...
Silenciosa procurou a resposta.
_ Estou sem o telefone!_ falou quase subitamente_
O velho ficou quase chocado analisando a história dela e disse só mais essa vez:
_ Pode usar o meu.
_ Não! Por favor! Não vai dá tempo!... Precisa me ajudar a leva -lo pro hospital... O senhor tem um carro, não têm?_ Olhando pra caminhonete estacionada.
Ele olhou pro carro também e se mostrou chateado.
_ Por favor!_ Segurou o punho dele com vigor.
Ele reconheceu que o plano dela era melhor mesmo, mas estava sendo sincero sobre as suas condições físicas.
Ficou pensativo por alguns segundos mesmo sabendo que cada minuto perdido poderia ser fatal para o garoto caído lá.
Parecia que tinha passado horas quando finalmente se decidiu.
_Tá bom. Vamos até lá.
Disse trancando as portas. Afinal não podia deixar mais uma pessoa morrer ali novamente.
_ Obrigada.
Ela agradeceu aliviada, esperando pacientemente o velho descer os degraus lentamente.
Quem sabe ainda nesse ano, eles chegariam até o lago.
~~~~€~~~~
_ Deu certo!
André comemorou, espiando por entre os galhos e folhas de um arbusto, toda a movimentação da menina com o homem.
_ Vamos.
Ordenei como um general prestes a invadir o território inimigo.
Como dois ninjas de um filme bem ruim corremos em direção a varanda da casa. Claro, sempre atentos se não haveria a possibilidade de alguém nos ver ou também a possibilidade dos dois voltarem há qualquer segundo. Vai que o rabugento se arrepende pelo caminho e resolve voltar pra casa? Tínhamos então que ser bastante cuidadosos.
André até parecia estar se divertindo com tudo aquilo. Ele incorporava um James Bond desajeitado com os tropeços que dava pela trilha até a casa.
Eu prosseguia sério e cauteloso com receio de ser flagrado por alguém. Mas logo percebi que era um sentimento um tanto demasiado. É lógico que só havia mato e pássaros nos observando e que não havia uma alma humana vivente à quilômetros de distância dalí.
Pisamos em um dos assoalhos soltos onde surgiu um ruído estarrecedor que nos fez tremer na base, nos obrigando a usar nossos instintos. Rapidamente já estávamos com nossos corpos curvados como se há qualquer momento fôssemos receber uma chuvarada de balas. Rimos disso logo depois.
Devagar, toquei os dedos levemente na maçaneta e girei delicadamente. Não foi de se admirar quando percebi que o velho tinha usado a maldita chave antes de sair. Não tínhamos prestado atenção nesse pequeno detalhe enquanto vigiavamos lá nos arbustos.
_ E agora?
André parecia mesmo esperar uma grande e brilhante ideia de mim, mas eu nunca arrombei portas, então...
Calado, segui às pressas até as janelas da frente e logo foi constatado que elas também se apresentavam todas trancadas. Ainda tentei em vão abrir no entanto se usasse da força iria acabar quebrando a vidraça e não fazia parte do plano deixar qualquer vestígio de nossa visita.
_Droga!
Bufei, desapontado.
_ Não vamos desistir_ consolou André_ Olha só o tamanho dessa casa! Com certeza deve haver uma outra entrada em algum lugar.
Ele tinha razão. Apesar de ser quase um museu do terror, a casa era enorme e cobria quase todo o terreno desmatado. Era quase o dobro da minha moradia. Só não era tão bonita e estruturada mas sem dúvidas era bem maior. Era um espaço quase inútil para um senhor solitário.
_Deve ter alguma pelos os fundos. Igual lá em casa._
Sugeri e André me seguiu.
Demos a volta pelo o casarão e durante o decorrer do caminho nos deparamos com mais algumas janelas. E adivinha?Todas seguras também. Andamos mais um pouco e viramos à nossa direita já no fim dos fundos da propriedade e foi como achar o pote de ouro no fim do arco íris. Um degrau feito de tijolos vermelhos levava direto para um porta de madeira apodrecida e comida por cupins.
E o melhor... Estava semi aberta!
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AngellMoura
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