|Capítulo 9 - Primeiros Movimentos|

     — Olha, não precisa me dizer nada, está bem? 

     — Eu quero, princesa Aveta. Nós somos parceiros, e eu preciso que você confie em mim — rebateu.

     Ela não disse mais nada.

     — Você estava certa, a Catarin sabe sobre algumas coisas, não me parece estar a par de absolutamente tudo, mas Romana me disse que, daqui a algumas provas, alguns de nós terão a chance de trocar de par.

     Aveta logo entendeu em que ponto ele queria chegar, mas preferiu se fazer de ingênua:

     — E então?

     — Ela me disse que nos escolheria hoje porque sabia que ninguém o faria, e também prometeu que dará as informações que conseguir, porque ela tem contato com Alessa, que tem contato com Catarin, e ela você já sabe.

     Aveta observava com atenção.

     — Então nós fizemos um trato. Mas eu te juro que eu o aceitei apenas para que passássemos sem danos por essa prova.

     — Anda, Laerte.

     — Bom, eu prometi a ela que se eu fosse um dos escolhidos para trocar de par, eu a escolheria.

     Mais uma vez o coração de Aveta palpitou, mas dessa vez foi impossível controlar. Ela sabia que algo estava errado e sentiu-se arrependida por tê-lo escolhido, pelo menos naquele instante.

     — Laerte!

     — Eu precisava nos salvar no jogo. Mas é óbvio que eu não farei isso. Eu sei que se fosse o contrário você também faria o mesmo, não faria?

     Ela respirou fundo e olhou para dentro de si, procurando uma resposta.

     — É, Laerte. Tem razão — afirmou. — Faria.

     Aveta era boa em analisar as coisas, sentiu-se tola por não ter pensado na hipótese de precisar criar laços amorosos falsos com outros participantes para tirar proveito. Laerte agiu como ela agiria no lugar dele. Ela sabia que era uma certeza.

     — Espero que tenha entendido mesmo. E aconteceu o que ela disse, é um motivo para confiarmos que vai dar certo. 

     — Sim. Tem razão. Por falar em razão, acho que tenho um encontro depois do almoço.

     — Algum dos príncipes?

     — Não, Kaya. Temos que ter contatos nos polos opostos do jogo. Catarin é uma extremidade dessa corda, Kaya é outra.

     — Estamos no meio?

     — Não, a menina morta está no meio. Nós estamos observando o cabo de guerra, sentados na arquibancada. — Aveta fez um coque desajeitado e o prendeu no topo da cabeça com uma presilha que estava sobre a cama.

     — Ela era parente de Kaya?

     — Claro que era. Não viu a reação dela quando aconteceu, e o recado que as duas outras deram a ela antes de irem embora com o corpo? Não sei o grau de parentesco ainda, mas se pareciam. Eu vou descobrir. — Aveta estava bem outra vez, era incrível o poder que tinha de recuperar a sanidade e o vigor em pouco tempo. — E John? Kaya me disse que vocês ficaram conversando.

     — Escorregadio feito sabão em pasta. Não me disse nada de proveitoso.

     — Mas Kaya dirá. Eu tenho certeza. — Aveta se levantou e escorou-se em sua cômoda, olhando para Laerte de frente.

     Ela ainda não o havia feito, ficar parada encarando o fundo das pupilas dele o deixava desconfortável de certa forma. As íris de Aveta mudaram milímetros de direção, focando no corte de cabelo bem feito nos fios dele, que tinham uma cor peculiar, uma mescla de preto e mel que deixava as madeixas curtas mais harmônicas.

     — Algum problema, princesa? — questionou.

     — Nenhum, Laerte. — Ela sorriu de maneira divertida.

     O príncipe ficou confuso com aqueles gestos.

     — Eu vou anotar os nomes dos casais que ficaram em último — ele falou e foi depressa para o seu “lado” do quarto.

     Aveta respirou aliviada e se jogou na cama. Fazia cálculos mentais de quantas chances eles teriam de manter o primeiro lugar no ranking e por quanto tempo. Depois focou nos assuntos mais importantes que trataria com a concorrente, durante a possível conversa das duas. Cada palavra teria de ser pensada.

Mais tarde...


     Eram tantas flores de espécies diferentes que qualquer pessoa menos habilidosa demoraria um dia inteiro para nomear a todas e ainda faltariam plantas. Aveta estava sentada sozinha em um banco gracioso de madeira envernizada e com detalhes esculpidos nos encostos. Laerte permaneceu no quarto dos dois depois do almoço, e ela desceu para o encontro tão planejado. O tempo já estava parcialmente limpo, mas os outros concorrentes preferiram ir para as partes cobertas do castelo, o que a deixava em sua própria companhia ali. Alguns pássaros cantavam uma melodia que era quase música, eram os seres mais puros que ali habitavam.

     — Princesa Aveta. — Ouviu alguém chamar seu nome, mas se surpreendeu.

     — John? — Ela o observou e semicerrou os olhos.

     — Posso me sentar? — perguntou ele.

     — Claro, príncipe — falou com um sorriso no rosto.

     O príncipe era, de fato, uma beleza rara. De perto era ainda mais notável a perfeição dos traços em seu rosto.

     — Kaya sentiu uma indisposição depois da refeição. Pediu que eu viesse lhe avisar que não viria.

     — É uma pena — disse Aveta fingindo decepção. — Mas é bom conversar com o príncipe mais popular do castelo.

     — Exagero seu, princesa Aveta — ele respondeu. — E Laerte?

     — Disse que tinha coisas para fazer. Não quis me acompanhar. — Aveta ponderou antes de entrar no assunto que lhe era de interesse, mas decidiu que era aquela a hora certa. — Me perdoe a intromissão, mas... como Kaya está com a morte de Giulia? As duas pareciam muito próximas.

     — Eu estou tentando fazê-la não pensar muito nisso. Além de ficar mal, a prejudica no jogo. — John olhou para a construção majestosa ao lado deles e alternou para Aveta novamente.

     — Elas eram amigas há muito tempo ou se conheceram ontem?

     — Primas. Elas e as outras duas que foram embora. Aliás, o que você acha que fizeram com os príncipes?

     — Os que sobraram? — Aveta questionou e ele assentiu. — Olha, eu tenho alguns palpites, mas são coisas descabidas.

     Na verdade, tudo o que ela pensava fazia muito sentido, ela só tinha palpites embasados em argumentos concretos, mas queria fazer parecer que, como todas as outras, agia por emoção e impulso.

     — Eu acho que vão voltar — disse John. — Com algum poder sobre o jogo ou algo do tipo. Só não pensei em qual seria.

     — É, faz sentido. — A princesa retirou uma pequena folha que caíra sobre seu colo, levada pelo vento. — Posso lhe fazer uma pergunta indiscreta, príncipe John?

     Aveta percebeu que ele estava se abrindo para ela, ao menos respondia melhor seus questionamentos. Era uma oportunidade de ouro de descobrir informações que serviriam nas provas futuras.

     — Claro, princesa. — Ele se escorou completamente no banco e virou o corpo para ela.

     — Se Kaya não o houvesse escolhido. Você a escolheria? Ou alguma outra princesa encantou seus olhos?

     — Sim, eu a teria escolhido. Mas eu tinha mais algumas princesas em vista. Temos que ser flexíveis no jogo, algum príncipe poderia escolhê-la antes de mim, eu fui o segundo da fila.

     — Deixe-me ver... Lorena?

     — Não. — Ele riu. — Estava mais para Romana ou Alessa. — John pousou o olhar diretamente nas pupilas da princesa ao seu lado. — Seria inconveniente eu dizer que você também era uma das minhas escolhas?

     Aveta sorriu de forma graciosa, tentou parecer envergonhada, mesmo que não estivesse.

     — Ora, é um jogo. Acho que todos eram opção de todos — disse ela.

     — Agora é sua vez. Se você fosse escolher, Laerte seria sua primeira opção?

     — Talvez. Mas eu tinha um segundo.

     — E quem seria? — perguntou o príncipe, parecia curioso, era claro que estava jogando a fim de ter informações, assim como ela.

     Para sua infelicidade, não era tão fácil enganar a princesa misteriosa.

     — Um dos que foi embora. — Aveta fez o que sabia fazer de melhor, sair pela tangente.

     — Oh! — John ficou deveras infeliz pela resposta inútil. — Eu acho melhor eu subir. Kaya pode estar precisando de mim. Foi uma ótima conversa, Aveta. Espero vê-los durante o jantar.

     — Estaremos lá. — Ela acenou enquanto John se distanciava de costas, antes de virar-se completamente para o castelo e sumir na imensidão que o era.

     — Boa jogada, Aveta. Não foi um xeque-mate, mas faturou um cavalo do adversário — disse a si mesma enquanto se levantava devagar e colocava-se a caminho do quarto.

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