|Capítulo 5 - A Lista|
— O que está havendo? — Laerte inquiriu assim que abriu a porta.
— É-é Germano, ele está passando muito mal! — respondeu a dona da voz suplicante.
Àquela altura, todas as pessoas com quartos naquele corredor já estavam do lado de fora.
— Acalme-se — pediu Aveta.
Neste momento, dois auxiliares de Homero apareceram no final do corredor. Quando notaram a aglomeração de príncipes e princesas, tais homens correram até o meio da confusão.
— O que há? — um deles questionou.
— Ela disse que o seu parceiro está passando mal — Laerte respondeu enquanto a sua companheira observava o sofrimento da princesa chorosa ao seu lado.
A jovem não tocara na desesperada que batia à porta, não era de seu feitio dar abraços ou afagos. Pediu que a moça se acalmasse por uma vez, vendo que não surtiu efeito algum, Aveta cruzou os braços e apenas olhou.
John e Kaya, que estavam no corredor ao lado daquele, apareceram juntos e a moça de imediato tomou a outra nos braços.
— Qual é o quarto de vocês dois? — O segundo auxiliar perguntou.
— O terceiro no corredor três — respondeu a mocinha de cabelos encaracolados e olhos amendoados. Sua voz estava embargada.
Os homens fizeram um gesto com a cabeça e esquivaram-se da multidão. O destino era o quarto do príncipe adoentado.
— Vem, Laerte. — Aveta pôs um dos pés para dentro do cômodo e o príncipe a encarou com estranheza, mas o fez.
Assim que ele cruzou o batente, a princesa fechou a porta, ignorando a situação que se passara do lado de fora.
— Vai me dizer que tem suspeita de alguma coisa também?
— Não. Dessa vez eu não tenho nenhuma suspeita — respondeu ela. — Mas acho que o mais prudente é ficarmos aqui dentro.
— Me permite desvendar seus pensamentos desta vez, princesa? — Laerte se aproximou com os braços cruzados.
— Se pensa que é capaz — Ela estendeu as mãos dando liberdade para que o fizesse —, fique à vontade.
— Eu acho que compreendo a sua linha de raciocínio. Ela disse que o rapaz está passando mal, bem, ela estava com ele. Se ele estiver com algo contagioso, provavelmente todos ali fora já foram contaminados por consolar a moça. Um rei deve resguardar sua vida, não pode se colocar em risco. As medidas já haviam sido tomadas, você pediu que ela se acalmasse e depois não interferiu mais. Mostrou sapiência, e mostrou que não colocará a sua própria vida em risco por alguém, sem saber do que se trata primeiro.
Aveta ergueu as sobrancelhas e esticou os lábios.
— É. Me surpreendeu.
— Ah! Mas o que é isso? Eu esperava palmas, princesa Aveta, uma salva de palmas para todo meu poder de dedução. — Laerte recostou-se à beira da cômoda onde a princesa guardaria os seus pertences e olhou para o teto com um sorriso satisfeito nos lábios.
— Louros a quem merece, não a quem os pede.
Aveta pegou uma presilha de dentro de uma necessaire azul e prendeu os fios longos no topo da cabeça. Laerte encarava seus movimentos sem sair do lugar. Ela retirou algumas roupas de dentro da mala e não questionou o porquê de o homem permanecer parado como um dois de paus, em frente à sua cômoda. A jovem tirou um par de chinelos de dentro de uma sacola preta e os jogou no chão, encaixando os dedos no vão das correias e soltando um gemido de alívio.
Enquanto fazia de tudo para se sentir mais confortável, a princesa notou um papel ser jogado por debaixo da porta. Apontou para a aparente “carta”, e o príncipe Laerte foi até ela para pegá-la. Assim que o fez, abriu o envelope, leu as palavras com calma e soltou pequenos risos sacudindo a cabeça para os lados.
— O que é? — perguntou a jovem curiosa.
— Algumas regras — respondeu com a mão sobre o queixo, encarando os escritos. Depois começou a andar pelo quarto.
— Anda, Laerte! — Aveta se levantou e pôs as mãos na cintura.
— Regra número um — começou —, está proibido a visita aos quartos dos demais casais. Os encontros deverão acontecer apenas nas áreas comuns do castelo. — Laerte olhou para Aveta subindo os olhos por sobre o papel. — Regra número dois, está proibido que príncipes e princesas saiam do castelo até o fim da disputa. — Mais uma olhada por cima da folha. — Olha, esta aqui vai matar teus sonhos, princesa Aveta. — Laerte forjou uma expressão de decepção. — Regra número três, fica proibido o contato físico sexual entre os concorrentes. Aqueles que descumprirem esta regra estão automaticamente fora do jogo.
— Faça-me o favor. — Ela bateu as mãos nas coxas e expirou com força. — Tem mais alguma coisa?
— Não. Aqui só diz isso. — Laerte dobrou o papel e o jogou sobre a cama de Aveta.
A princesa parecia pensar em algo. Talvez estivesse ficando paranoica, mas todos os passos dentro do castelo deveriam ser planejados. Nada era por acaso. Tentava encontrar algo plausível que justificasse o modo com que as regras foram entregues, mas nada lhe passava pela mente e aquilo a deixava com os nervos borbulhando. Suas mãos passeavam ávidas pelo seu pescoço desnudo enquanto andava sem rumo, de um lado para o outro dentro do cômodo.
— Pensando no quê? — Laerte quis saber.
— Nada. Só colocando as ideias no lugar — respondeu ela. — Coisa que você também deveria fazer. Tempo ocioso é tempo perdido.
Laerte se calou. Sentou-se em sua cama, pegou uma espécie de caderno dentro da mala e uma caneta prata. Ela o observou atenta.
— Bom, Aveta e Laerte.
— O que está fazendo? — Ela caminhou até os pés da cama dele e o encarou.
— Criando uma lista, eu preciso visualizar primeiro, pensar depois. Isso me ajuda a ter clareza nos meus pensamentos. Agora, diga os nomes dos casais que ficaram.
— John e Kaya — disse ela. — Põe um asterisco do lado dos nomes deles.
— Por quê?
— Perigosos. O simpático e a donzela em perigo. Solícitos, amáveis, têm compaixão demais, isso é perigoso.
— Pra quem, exatamente?
— Para nós, óbvio. Se houver alguma etapa de votação, o mister simpatia e a bela adormecida vão vencer, é lógico.
Ele fez como ela disse.
— Agora, Germano e Manuela. — Ela se referia à moça que batera desesperada à porta, minutos atrás. — Coloca um T e um P do lado.
— Trapaceiros em potencial, acertei?
Ela assentiu.
— Qual o seu argumento, dessa vez?
— Nenhum. De qualquer maneira, todos podem ser víboras aqui nesse lugar.
— Agora, Romana e Kayo.
— Lembrou da princesinha, foi? Saudade dela? — Aveta deu um sorriso de lado.
— Eu sou todo seu, não precisa se enciumar — ele zombou. — O que eu ponho do lado dos nomes?
— Cartas na manga. Vão ser muito úteis.
Laerte soltou um riso como se achasse graça da esperteza de Aveta. Ele enxergava tanto de si mesmo na moça à sua frente que parecia conversar com um espelho. Os dois prosseguiram nas anotações dos casais até que todos os pares tinham suas funções definidas dentro do jogo. Eles repassaram um por um, até que decidiram parar um pouco as conspirações para dar ar fresco às suas cabeças. Laerte pegou um conjunto de pijama e foi para o banheiro da suíte. Aveta aproveitou o momento sozinha no quarto e deitou-se. Ainda estava com o vestido do cerimonial, as cerdas do tecido já começavam a machucar-lhe a pele.
Um ardor repentino tomou a face da moça que, jogada sobre o colchão, não se moveu. O seu corpo parado era tão simétrico que parecia uma forma moldada pela mão dos anjos. O dourado que serpenteava por sua pele nos pequenos pontilhados, que saltavam aos olhos nos fios do tecido, faziam com que a imagem da moça parecesse mais um feitiço, se tal coisa existisse. Ela puxava o ar como se fosse o seu alimento, e sua boca o expelia como se o pulmão o rejeitasse.
Aveta escutava as gotas que caíam do chuveiro e por um instante a figura de Laerte nu embaixo da água invadiu sua mente. Era impossível não pensar nos pequenos rios que desciam e abraçavam a pele dele, não sentiu desejo, ela sabia controlar suas emoções mais que qualquer outra coisa. Só havia uma coisa no mundo que era capaz de desestabilizar Aveta. Nada além desse pequeno pormenor era capaz de fazer a moça soltar uma lágrima sequer. O problema é que no jogo da realeza, por mais que os pontos fracos estivessem escondidos por um tempo, mais hora menos hora, eles eram postos à prova.
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