|Capítulo 39 - Quando A Frustração Toma Conta|
— O meu pai chegou desesperado, chorando, implorando para que minha mãe fosse embora do nosso distrito. Disse que iria sozinho para Lidium, que os planos haviam mudado.
— Então, o seu pai fugiu?
— Sim. — Aveta olhou para baixo. — Sempre falava comigo por cartas ou por algum telefone. Eu mudei de casa..
Pela distância de meu pai, minha mãe acabou se interessando por outro cara, eles sofreram um acidente. Então, quando estava prestes a morrer no hospital, ela pediu para uma amiga cuidar de mim. Me deixou sob os cuidados dessa madrinha. — Fez sinal de aspas. — Depois de um tempo, meu pai soube das ideias que Homero deu à corte pra se redimir, para abafar as histórias que apareceriam pela morte dos três irmãos.
— Foi dele a ideia do jogo?
Aveta anuiu.
— Mas, se o rei não queria um bastardo no trono, por que aceitou?
— Ele se arrependeu, de certa forma, de ter mandado matar os filhos. Além disso, eu não sou a única descendente dele, aqui. — A princesa sacudiu a cabeça.
— Não?
— Jullian... Lembra sobre o que eu falei no primeiro dia? — ela indagou.
Laerte fez que sim, balançando a cabeça.
— Ele é filho de Homero. E Homero... Homero é filho de Gerárd. Filho dele com uma das criadas, a pessoa que ele amava verdadeiramente. Meu pai sabia disso, pegou os dois.
— E por que ele mesmo não se colocou no trono? Não seria mais fácil? — Laerte estava muito confuso.
— Não. Não seria. Pense na revolta que causaria se passasse na cabeça de algum dos antigos membros da corte, que ele planejou tudo isso para assumir o trono.
— É, faz sentido. — O príncipe cruzou as mãos sobre as joelhos.
— Ele cuidou como pôde dos meus avós até que eles morressem. Depois deu continuidade no plano do jogo, onde ele pôs o próprio filho.
— Então foi ele que fez aquilo com Alessa?
— Provavelmente. Jullian não é nada perspicaz, contou sobre a primeira prova para a companheira, e ela contou para Alessa...
— Que contou para Romana — ele completou.
— Muitas pessoas sabiam dos próximos passos. Então ele fez com que Alessa saísse do jogo, para que Catarin não tivesse como espalhar as informações que ajudariam nas provas. Isso aqui é bem mais perigoso do que eu pensei. Eu sabia o que encontraria aqui, meu pai me alertou antes de começarmos com... — Aveta pigarreou.
— Com o quê?
— Com o nosso plano, a retomada da coroa. — Ela continuou: — Eu imaginei que eles iriam dar um jeito de eliminar os participantes para que Jullian vencesse. Mas não sabia seriam capazes de matá-los, assim como fizeram com os animais. São tiranos, egoístas, ambiciosos de um modo muito ruim. Eu entrei aqui, Laerte, para devolver a coroa ao meu pai. Ele passou todo esse tempo refugiado em um reino distante daqui, do outro lado do continente. Nós arquitetamos uma forma de acabar com a soberania de Homero, mas para isso eu preciso chegar até a final do jogo.
Laerte não parecia feliz com tais informações.
— Você me usou, Aveta.
— Não, Laerte, claro que não.
— E ia me usar até o último minuto! — Ele se levantou.
— Laerte, eu precisei de você, sim. Mas o que nós temos não tem nada a ver com isso.
— Isso sempre foi sobre você e o seu pai — disse Laerte, com a voz falha e os olhos marejados.
— Não, não, Laerte, me escuta. — Aveta se aproximou e segurou no braço do rapaz, mas ele o puxou com força, afastando-se dela. — Por favor, eu não usei você, eu juro.
— Não? — Ele deu um sorriso irônico. — Aveta, você teve todo o tempo para me contar sobre os seus planos. Para dizer que era descendente real dos reis de Salazar. Eu te ajudaria. Eu confiei em você.
— Eu não esperava encontrar alguém como você, aqui. Eu não tinha intenção de me apaixonar, Laerte. E eu não tenho a intenção de deixar você sair daqui. Nós ainda somos nós, eu ainda amo você — disse ela com os lábios trêmulos e as mãos igualmente agitadas, que iam devagar em direção ao rapaz.
— Você quer ser a princesa verdadeira. Ver seu pai tomar de volta a coroa que pertence a ele. Eu fui só um peão no seu tabuleiro, Aveta — rebateu indignado.
— Não, Laerte. Eu preciso de você aqui comigo.
Aveta mantinha o corpo inclinado para frente e as mãos juntas, em súplica.
— Só por conveniência! — retorquiu o príncipe. — Precisa de mim para dobrar Homero, se eu for embora ele vai desconfiar, e seu plano de retomada do trono pela sua família vai todo por água abaixo.
— Não é isso, Laerte. Eu preciso de você porque eu me importo contigo. Porque você me dá força... Porque você conseguiu despertar em mim o outro lado, o que ninguém mais conseguiu.
Laerte parecia não acreditar no que ela dizia. Os olhos dele estavam perdidos no vazio, tudo parecia ter sido em vão, ele não se perdoava por ter se apaixonado por ela.
— Agora que o meu pai morreu, eu não preciso mais disso. — O rapaz contraiu a face em asco, olhando para os quatro cantos do cômodo.
— Laerte... Você não é uma pessoa má. Se não ficar por mim, fique pela causa! — Aveta implorou. — Você viu tudo de ruim que ele pode fazer, você viu como eles são. Sabe os planos de Homero para depois da coroação dos reis. Precisamos acabar com isso enquanto há tempo — suplicou. — Eu não posso fazer isso sozinha. — Sua voz estava fanha e algumas lágrimas escapavam vagarosas. — Eu só quero devolver ao meu pai o que é dele. Depois eu abandono tudo isso... se for para você perceber que eu amo você de verdade.
Laerte não queria acreditar nela, mas seu coração amoleceu quando a viu chorar. E a promessa de abandonar o reino por ele, aquilo o deixava demasiado confuso. Ela era uma boa jogadora, ele não sabia quando ela estava sendo verdadeira e quando o manipulava. Naquele instante imaginou até mesmo que tudo que ela disse na noite em que se beijaram pela primeira vez eram falsas. Todavia ele não podia deixar de amá-la, era impossível.
— Se eu ficar... Eu disse se. Promete que vai ajudar ao John e a Kaya caso consigamos que seu pai recupere o trono? — disse ele. — Eu conheci o John antes disso, apesar de parecer um nobre nato, ele não vivia uma vida muito boa fora daqui. Isso é real pra eles, eles não sabem de tudo que nós sabemos.
Aveta assentiu.
— Eu juro que eu vou pedir ao meu pai que faça por eles o que for possível. — Ela se aproximou de Laerte, mas ele deu um passo para trás. — Então, nós...
— Não, Aveta. — Laerte secou os olhos. — Eu voltei a ser apenas a sua dupla de jogo. Não precisa mais fingir que gosta de mim.
Laerte virou-se de costas e caminhou até a porta.
— Onde você vai? — ela perguntou.
— Eu vou conversar com John, respirar um pouco. — respondeu, ainda respirando com dificuldade.
— Não vai contar a ele, vai?
— Eu não sou desleal a esse ponto, princesa — pronunciou a última palavra com sarcasmo. — Brincar com os segredos e a vida das pessoas não é o meu jogo, é o seu.
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