|Capítulo 32 - Os Escolhidos|
— Pois não.
— Príncipe Laerte. — Ouviu-se uma voz masculina.
Em seguida o rapaz estendeu os braços e movimentou a cabeça, em agradecimento.
Laerte fechou a porta com o pé direito, carregava algo nas mãos, era um baú maior que uma caixa de sapato. Exibia linhas douradas e traços em vermelho, contendo as iniciais dos dois sobre a tampa.
— O que é? — ela questionou.
— Eu não sei. — Ele ergueu uma sobrancelha e levou o objeto para junto da princesa, sentou-se na cama e posicionou o baú ao meio dos dois.
Aveta apressou-se em erguer a tampa do receptáculo. Os olhos dos dois tiveram contato primeiramente com as duas esferas brilhantes, envoltas e presas em duas correntinhas douradas. Junto delas repousava um envelope preto, com as bordas onduladas suavemente e uma fita dourada transpassada nas duas extremidades da largura.
A princesa fez questão de abri-lo, retirou dele um papel da mesma cor que trazia consigo letras douradas, escritas à mão, tão perfeitas que pareciam desenvolvidas por cálculos milimétricos.
Os dois começaram a ler em silêncio:
Prezados, ou devo dizer, digníssimos. Esta carta foi escrita e envelopada por minhas próprias mãos. Eu, Homero, o conselheiro real de Salazar Dellonio, tenho a honra e o prazer de anunciar que, se receberam o presente documento, significa que estão oficialmente na grande final do Jogo da Realeza. Pedimos que usem os pingentes como prova de aliança e compromisso com o reino, até o momento em que saberão se irão deixar o castelo ou ascender ao trono. Terão os próximos dias para descanso e preparação, ou seja, nenhuma prova será aplicada. Com os meus melhores cumprimentos.
Homero de Salazar.
Aveta não parava de encarar o papel em suas mãos. Laerte, pelo contrário, deu um salto da cama e esfregou o rosto, soltando o ar pela boca em seguida. Era como se um peso saísse de suas costas.
A princesa não parecia comovida com a notícia. Sua cabeça vagava por outro lugar, era perceptível como sua expressão demonstrava aquilo lhe tinha outro significado.
— Não está feliz? — perguntou Laerte, voltando o olhar a ela.
— Não é o momento de ficarmos felizes. É hora de pensar.
— Quer dizer que não podemos comemorar a nossa pequena vitória? — retorquiu o rapaz, incomodado pela frieza esboçada pela moça.
— Fique feliz, Laerte. Pule, cante, dance com uma vassoura. Mas não baixe a guarda. — Aveta dobrou o papel e o voltou para dentro do baú.
O príncipe desfez a expressão de felicidade e caminhou na direção da janela. Ele não queria compartilhar sua euforia com uma pessoa que não estava na mesma sintonia.
A princesa levantou-se e, andando depressa, foi até o espelho. Soltou os cabelos e começou a passar os dedos pela extensão dos fios.
— Vista-se — disse ela.
— O quê? — ele respondeu.
— Vamos sair do quarto. Precisamos saber quem foram os selecionados — ela explicou, voltando para perto de sua cômoda.
O príncipe revirou os olhos. Sabia que ela não mudaria de ideia, mas, de certa forma, tinha razão. Eles precisavam ter ciência de quem partiria e quem ficaria.
Depois de devidamente vestidos e alinhados, Aveta e Laerte deixaram os seus aposentos e seguiram para a parte lateral direita do castelo, onde havia uma horta tão bem cuidada que mais parecia um jardim imenso.
— Por que viemos para cá? — Laerte olhou em volta, não havia ninguém.
— Oras, não quero parecer desesperada e ficar nos corredores. Pelo menos, não agora.
— Por que você é tão difícil?
— Ai, Laerte. Por Deus. Pare de fazer perguntas. Sabe que tudo que eu faço tem um motivo que nos carrega para o trono.
— Fugir daqui no meio da noite não me parece nada disso — ele retrucou com uma certa implicância proposital carregada na fala. Ela o encarou de volta com um ar nada agradável. — Me perdoe. Eu sei que quer me ajudar. É que eu não controlo algumas coisas que saem da minha boca.
— Pois controle-se. — Aveta virou o pescoço na direção de uma das janelas, que ficava ao longe. — Ei — Apontou com a cabeça —, aquela é Romana? — Semicerrou os olhos.
Laerte pôs os olhos na figura branca que destoava das pedras do exterior do castelo, vista pelo vidro. O clima não parecia nada agradável, era possível ver que a princesa movimentava-se com raiva, as mãos estavam na cabeça, e seu companheiro, Kayo, bradava coisas inaudíveis àquela distância, também alterado.
— Acho que não teremos mais a companhia tão agradável da boneca de louça com problemas de autoconfiança e amor não-correspondido. — Aveta deu um sorriso com o canto dos lábios enquanto cruzava os braços e voltava a olhar para as alfaces espalhadas em retas quase que infinitas aos olhos.
— Essa sua implicância com ela desde sempre, é ciúme? — perguntou Laerte, admirando a figura imponente e ao mesmo tempo graciosa da princesa ao seu lado, com o nariz arrebitado e os lábios um tanto esticados para frente.
— Não. Eu só não encontrei nada relevante nela. Só tem potencial para ser uma mimada. Não pensa, não sabe agir com esperteza, não tem visão ampla de jogo. — Aveta olhou para a janela, percebendo as duas pessoas se afastarem lentamente, afundando-se no breu do quarto. — Claramente entregar um reino inteiro nas mãos desse tipo de criança crescida não seria nada prudente.
— E Kaya? — perguntou Laerte. — Ela também é mais nova que você, escolheu John por uma espécie de paixão que sentiu ao primeiro momento. Se parece com Romana em muitos aspectos, por que a vê de forma diferente? — Ele levou as mãos aos bolsos e encarou o horizonte.
— Não existe nada de comum entre Kaya e Romana senão a idade. Eu odeio dizer isso em voz alta, então guarde bem porque é a última vez — disse —, ela é a única pessoa daqui que agiu com os sentimentos de forma coerente desde o princípio. Foi forte para continuar aqui mesmo depois de matarem a prima diante dos seus olhos. Teve discernimento em suas escolhas, ousadia ao escolher o príncipe mais cobiçado por todas as princesas. Ela é inteligente, apesar de não demonstrar muito, porque ela mesma não sabe o potencial que tem. Se eu quisesse fazer alguma amizade com alguém, coisa que eu não costumo, ela seria uma ótima candidata — completou Aveta. — Agora chega de falar, venha. Vamos para um lugar onde possamos confirmar nossas suspeitas.
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