|Capítulo 3 - Improvável Despedida|

     — Sua descarada! — berrava a princesa Giulia a Catarin, que acabara de escolher o príncipe com quem a primeira dançara e com quem decidira tentar estreitar os laços.

     Kaya, sua prima, observava a cena sem saber se deveria tomar alguma posição.

     — Ora, sua insolente, eu o escolhi, mas ele pode recusar-me — rebateu a loira do alto da sua torre de ego.

     — Isso vai ser interessante — disse Laerte a Aveta.

     — Aposto uma massagem nos pés depois da cerimônia que a loira apanha — respondeu ela.

     — Feito. — Ele estendeu a mão e os dois selaram a aposta enquanto olhavam para o centro do local.

     — Acalmem-se, princesas — Homero pedia.

     No meio de toda a balbúrdia, o príncipe que era o alvo das jovens mantinha-se calado.

     — Responda, Jullian. Diga que aceita ser o meu par e vamos acabar logo com isso! — Catarin falou e cruzou os braços sobre o vestido verde.

     — ORA, SUA...

     Giulia partiu para cima de Catarin, que não foi capaz de esquivar-se do primeiro golpe. Homero parecia inerte, não tentou separá-las e parecia de certa forma até mesmo gostar da cena que presenciava. O príncipe Jullian intervia de longe, e o resto dos jovens não quis intrometer-se na briga, tinham medo da punição que poderiam sofrer. A duas rolavam no chão e, ao que tudo indicava, Aveta estava à frente na aposta.

     O confronto ficou mais intenso, era claro que a intenção naquele momento era que ferissem uma a outra brutalmente. Kaya, ao lado de John, travou uma luta interna entre descer os degraus e ajudar a prima, mas se as outras duas não o fizeram, por que se arriscaria?

     Catarin aproveitou de um descuido de Giulia e transpassou os braços pelos cabelos longos dela, cravando as unhas de maneira dolorosa em seu pescoço. Foi o necessário para que virasse o jogo a seu favor e contorcesse o corpo da outra até que sentisse tanta dor que não pudesse suportar, e foi de fato o que aconteceu. Um sopro de fúria apoderou-se da loira que nem mesmo pensava nos movimentos que fazia, apenas segurava a cabeça de Giulia e a socava no chão repetidas e incontáveis vezes.

     Os olhos de Kaya estavam paralisados, era como se fosse um pesadelo. As outras primas tomaram coragem, por fim, e foram até o meio afim de salvar a que estava debaixo de Catarin, mas foi em vão.

     O vermelho do sangue já era visível, e a circunferência da poça daquele líquido escuro e espesso tornava-se cada vez maior. As mãos machucadas de Catarin estavam sujas, do seu próprio fluido e também do de Giulia.

     Gritos ensandecidos de pavor ecoaram por todo salão. Kaya sentiu suas pernas bambearem e segurou os braços de John que lhe serviram de apoio.

     — Não, não... Não pode ser — murmurava em sons quase ininteligíveis.

     Catarin abandonou o corpo morto de Giulia jogado sobre o próprio sangue e se afastou, arrastando-se até o lado de Homero, onde se levantou e expirou com a respiração entrecortada. O vestido verde manchara-se, e ela fazia ficar ainda pior enquanto tentava limpar as mãos no tecido.

     — Está me devendo uma massagem nos pés — disse Laerte enquanto sorria para Aveta.

     — Que reviravolta — replicou ela.

     As duas primas choravam sobre o cadáver ensanguentado, ninguém ao menos quis consolá-las.

     — Por favor, retirem-na daqui — disse Homero aos seus auxiliares.

     Os membros da corte permaneciam frios, era como se nada daquilo lhes afetasse. Estavam atrás de um cercado, sentados em cadeiras altas, observando todas aquelas cenas terríveis. Os convidados de outros reinos estavam em choque, mas nada puderam fazer, não era o reino deles.

     — NÃO! — gritaram as duas em uníssono e olharam para Kaya.

     Ela tentou sair dos braços de John e correr para junto das primas, mas ele a impediu.

     — Será pior, Kaya. Deixe que resolvam.

     A jovem chorava em silêncio.

     — O que farão com ela? — uma das duas primas perguntou.

     — Levaremos de volta à família e acertaremos as questões do funeral.

     — Só... só isso? — A outra inquiriu, agarrada ao corpo sem vida.

     — Se não estão satisfeitas, as duas podem deixar a competição, os portões estão abertos — respondeu Homero, apontando a saída do salão.

     As primas se entreolharam e depois volveram a face a Kaya.

     — Fique aqui por nós — uma delas murmurou antes de afastar os cabelos da prima no chão, cobertos de sangue. — Nós vamos embora.

     — Se é isso que querem... Acompanhem-nas até o lado de fora. Mandem que a levem no carro junto com o corpo — salientou Homero.

     — E ela? — a segunda perguntou, apontando para Catarin. — Ela a matou? Não farão nada?

     — Bem, as duas estavam brigando, a sua parente a atacou e ela se defendeu. Não é um crime.

     As duas contorceram a face, enojadas, mal tiveram forças para confrontar Catarin, que mantinha a cabeça baixa e a respiração descompassada.

     — Agora, por favor, preciso continuar a cerimônia. Levem-nas! — ordenou Homero aos seus auxiliares e eles seguraram nos braços das jovens, que foram arrastadas para fora, seguidas dos quatro que carregavam o corpo de Giulia. — Bem — Olhou para a poça de sangue ao seu lado —, prosseguindo com as escolhas. Príncipe Jullian, aceita ser o par de Catarin?

     Alguns dos nobres de outros reinos já estavam fartos de tudo aquilo, estes decidiram ir embora antes mesmo da argumentação das escolhas. As princesas mais sensíveis precisaram se sentar para esperar suas respectivas vezes, e os rapazes comentavam entre si as possíveis possibilidades de três deles serem eliminados sem terem a chance de tentar.

     — Eu aceito — respondeu Jullian, surpreendendo a todos, afinal, ele e Giulia tinham uma conexão, não tinham?

     O fato é que as coisas estranhas daquela disputa estavam apenas começando, e a maioria deles não imaginava tudo pelo que ainda teriam de passar.

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