|Capítulo 17 (parte II) - O Outro Lado Da Princesa|
O cheiro do shampoo de cereja já era sentido no quarto mesmo antes de a princesa abrir a porta. O cômodo estava escuro, era por volta de sete e meia da noite quando Aveta decidiu sair. Laerte permanecia deitado, imóvel. Seus olhos estavam quase fechados e as mãos apoiavam a cabeça, por baixo do travesseiro. Ele observou a princesa atravessar o quarto em direção à cama. Seus cabelos estavam molhados, os fios desembaraçados deixavam gotas sobre a blusa larga branca, que quase cobria o short xadrez.
As íris acinzentadas dele seguiram a moça até que ela se deitasse, mas ela não o fez de imediato. Primeiro se sentou, abraçou as próprias pernas e tombou o corpo de lado, escorando a cabeça na cabeceira.
Chegou o momento em que aconteceu o improvável: ele a ouviu soluçar.
Jamais imaginara ver Aveta chorando. Observar a moça naquele estado era estranho, e por mais que ela insistisse que os laços entre eles deveriam ser apenas “profissionais”, por conta do jogo, ele não pode deixar de se entristecer.
A princesa passou as mãos sobre as bochechas e deixou o corpo deslizar até que estivesse completamente na horizontal. Em seguida, juntou as mãos perto do rosto e se encolheu, tal qual um animal amedrontado.
Aquela imagem era como um ímã que o puxava, tinha quase cem por cento de chance de dar errado, de deixá-la pior ou de acabar com o relacionamento cúmplice que eles tinham. Laerte sentiu a dor que emanava dela, seu pranto inundava o quarto. Ele poderia ser o remédio, ele queria ser o que ela precisava. O príncipe se levantou devagar, uma luta interna entre o “homem” e o “jogador” estava em curso. E aquele que estava vencendo a guerra não demorou a impulsioná-lo para frente.
De pés no chão frio, o príncipe deu passos lentos até a beirada da cama. A luz da lua despontou entre as nuvens e a sombra do corpo dele cobriu parte da silhueta da princesa. O respirar de Aveta estava pesado, um pós-choro doloroso.
Laerte sentou-se à beira do colchão primeiro, ainda sem saber se queria mesmo fazer aquilo. A força que o atraía até ela foi mais forte e o fez puxar os próprios pés para cima da cama de solteiro. O braço esquerdo dele envolveu o corpo gelado de Aveta, que não se moveu, não o impediu, apenas continuou a soluçar, de costas para ele. Laerte entendeu o que deveria fazer. Ele encaixou-se no formato que ela havia designado para o sono e colou seu peito nas costas dela, molhando sua blusa fina com os cabelos encharcados. Sua mão deslizou pelo antebraço da moça, antes de entrelaçar os seus dedos nos dela, que não retribuiu o gesto, a mão da princesa parecia fraca.
— Eu sei que você não gosta disso — ele sussurrou. — Mas eu sou o seu parceiro. Se formos rei e rainha, será um no outro que encontraremos apoio. Eu quero ser o seu companheiro de jogo — Ele afastou o cabelo dela da face enquanto falava —, mas eu também quero ser a pessoa que vai te confortar quando você estiver assim. Se não quiser que eu fique, eu vou entender, mas eu estou aqui por você.
Ele se calou por alguns segundos, e então sentiu um movimento brusco, um ato inacreditável: a princesa virou-se para ele e afundou a face em seu peito, encolhendo os braços para que coubesse melhor em seu abraço. Laerte a apertou contra si, sentindo a respiração quente e abafada pelo choro esquentar o seu pescoço.
— Eu vou dormir aqui contigo, está bem? — disse ele, ela movimentou a cabeça, assentindo. — Você não está sozinha. Se acalma. Tenta dormir. Amanhã conversamos sobre isso. — Laerte acariciou as costas dela, tentando fazer com que o calor de seu corpo a aquecesse.
A noite invadiu o espaço, e eles permaneceram juntos, naquela mesma posição, até o nascer do Sol.
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