|Capítulo 13 - Os Três Espíritos|

     Já fazia cerca de meia hora que os dois casais seguiam lado a lado por dentro da mata, acompanhando o caminho principal. Àquela altura, Aveta já pensava no quão ruim fora a decisão de aceitar a companhia de Kaya e John. Era possível notar seu descontentamento pela expressão que carregava enquanto caminhavam. Laerte até tentou alertá-la de que ela parecia “azeda” demais, jogando essa informação em algumas brincadeiras, mas ela fingiu não entender.

     — Gente — Kaya chamou. — Será que não deveríamos parar um pouco, andamos quase um quarto do caminho todo e ainda não fazemos ideia de onde procurar a tal medalha? — disse ela.

     — As tais — John corrigiu.

     Laerte estava escorado em uma árvore enquanto a companheira observava a conversa com as mãos na cintura.

     — Acho que vocês têm razão — admitiu Aveta.

     Por mais que parecesse que não, estava sendo sincera. Só andar não era a prova, eles precisavam encontrar as medalhas, e elas, com toda certeza, não estariam dispostas como presentes pelo meio da trilha.

     — Eu acho que pode ter alguma dica sobre a localização das medalhas nesse mapa — disse Laerte, enquanto tirava o papel do bolso e o desdobrava.

     Não havia nada de especial lá, era apenas uma imagem ilustrativa das árvores, vistas de cima, o entorno da floresta, o castelo — com o X —, o rio que cortava parte da mata e alguns pontinhos coloridos bem pequenos.

     — Estou começando a achar que não foi uma boa ideia ficarmos para trás — disse John.

     — Não. Aqui nós temos tempo para pensar, se eles virem que as medalhas estão mais atrás, vão ter que voltar. Eles vão perder tempo, nós ganhamos. — Aveta olhava para o papel enquanto falava. — Estão vendo aqui? — Apontou para o mapa, onde o rio passava. — Estão vendo esses pontinhos? São uma sequência — disse ela, observando uma linha sinuosa que se formava pelos pontos interligados.

     — Tem um problema. — Kaya virou o seu próprio mapa para Aveta. — Os nossos estão em lugares diferentes.

     — É ISSO! — Laerte pegou os dois mapas das mãos das moças e se abaixou, colocando-os no chão, sobre algumas folhas.

     — O que você descobriu? — John perguntou curioso.

     — Não diz onde as medalhas estão, mas tem um padrão. — Ele colocou um ao lado do outro. — Olhem, são dois pontos vermelhos, um verde, dois vermelhos, dois verdes — dizia apontando para o mapa dele e de Aveta. — Agora aqui, no deles. A sequência é igual, um azul, um verde, um azul, um verde.

     — Eu não entendi nada — disse John.

     Aveta revirou os olhos, esperava que o príncipe tão almejado fosse ao menos mais perspicaz. A moça se abaixou ao lado de Laerte.

     — São códigos. Cada casal tem um — disse.

     — E como nós deciframos? — Kaya indagou.

     Aveta pressionou os lábios. Precisava pensar rápido, encontrar uma lógica naquilo. Nada no desafio era posto por acaso.

     — Vira de costas — disse ela para o príncipe John.

     — O... o qu...

     — Anda! — Ela já não conseguia mais manter a pose, só queria ter certeza de que estava certa.

     O rapaz virou-se, Aveta foi até ele e olhou nas duas alças da mochila a bandeira de Salazar Dellonio estampada. As linhas que compunham o símbolo do reino mesclavam, dentre as diversas cores, azul, vermelho e verde.

     — Azul, o espírito das águas, verde, o espírito da mata, vermelho, o espírito da nobreza — disse ela, enquanto seus dedos passeavam sobre o tecido. — Laerte, quantos grupos de sequência tem no nosso mapa?

    — São quatro. Quatro repetições.

    — E no deles?

    — Dez repetições.

     Aveta voltou a se abaixar ao lado do companheiro que encarava os mapas.

     — Dois vermelhos, um verde, dois vermelhos, dois verdes. N, N, M, N, N, M, M — repetiu. — Se forem algarismos de acordo com as letras do alfabeto, temos uma sequência numérica.

     Laerte sacou uma caneta do bolso e começou a anotar em sua palma esquerda.

     — Treze, treze, doze, treze, treze, doze, doze. — Ele calculou rapidamente, sussurrando números a si mesmo. — Temos oitenta e oito.

     — Olha! — Aveta apontou para as demarcações nas bordas do mapa. — Oitenta e oito é mais ou menos... — Seu indicador deslizou até o lado onde ficava o rio. — Aqui!

     — E a repetição? — Laerte indagou, Kaya e John permaneceram estagnados com a capacidade de raciocínio do casal em suas frente.

     — Pode ser que seja a localização da segunda medalha — disse ela. — Tenta multiplicar.

     Laerte o fez e mostrou a anotação falha do número para ela, em sua pele suada.

     — Trezentos e cinquenta e dois, não... Não temos esse número aqui. Pode ser que seja uma divisão. — Ela pegou o mapa e encontrou o número vinte e dois, o riscou com um “X” e sorriu. Também era perto do rio. — É aqui.

     — E a terceira? — Laerte inquiriu.

     — Pensamos sobre ela no caminho. Agora temos que fazer a mesma conta com o mapa de John e Kaya.

     Os dois montaram a sequência novamente, de acordo com as cores dos pontos destacados no mapa do outro casal. Depois de tudo pronto, perceberam que as medalhas destinadas a eles estavam dispostas em caminhos que eles poderiam seguir para chegar perto da água, onde estavam as suas.

     — Mas não vai dar tempo de irmos até lá e voltarmos para a trilha — disse John.

     — Bom. Se eu prestei bem atenção, esse é o caminho principal — rebateu Aveta. — O que me leva a crer que além de códigos, esses pontos também são trilhas. Olhem — Ela virou o mapa a eles —, mesmo seguindo rumos diferentes, os pontilhados interligados vão até o lado do castelo. Como se fossem afluentes.

     — E se alguém pegou as medalhas antes de nós? — Kaya questionou.

     Aveta respirou fundo, ainda aquela hipótese não lhe havia passado pela cabeça.

     — Não vamos pensar nisso agora. Caso aconteça, arranjaremos uma solução — disse a princesa misteriosa. — Agora vamos. Não temos muito tempo.

     Todos assentiram. Por mais que toda aquela teoria pudesse estar errada, era a única que tinham e deveriam tentar.

     Eles embrenharam-se na mata densa, naquele momento os insetos do clima úmido da floresta já atacavam a pele de todos eles. O suor já lhes escorria pelas faces e o temor vinha de muitos lados, diversos medos tinham lugar nas mentes dos quatro jovens. Poderiam se perder, poderiam não chegar a tempo ou não encontrar os objetos. Tudo era muito penoso.

     — Ei — Laerte chamou atenção de Aveta. Kaya e John estavam alguns passos atrás. — 'Tá doendo muito? — Ele tocou no pescoço dela de leve, mas ela se afastou.

     Havia uma espécie de sobressalto em sua pele, o local estava vermelho, inchado, repleto de pontinhos ainda mais rubros. Aveta passara as mãos enluvadas diversas vezes sobre o que parecia ser a picada de um daqueles insetos, deixando a pele ainda mais irritada.

     — Não. Dá para suportar. — Ela contraiu a face e abaixou-se para se esgueirar de um galho. — E você? Está bem?

     Laerte sentiu-se diferente com aquela pergunta. Aveta não era do tipo que se importava. Estava pronto para responder, mas foi interrompido.

     — OLHEM ALI! — Kaya gritou, apontando para o topo de uma árvore.

     Algo reluzente brilhava nela, estava pendurado por uma fita de cetim vermelha.

     Os quatro puseram-se a lançar diminutas pedras em direção ao objeto, assim como galhos e tudo que poderia desprende-lo de lá. Depois de alguns minutos de tentativa, Laerte acertou um pedaço de madeira quebrada bem no galho já desgastado, fazendo com que fosse ao chão, junto com a medalha.

     Kaya e John apressaram-se em pegar o objeto do solo e puseram-se a reparar em cada traço do material moldado em forma redonda, com suas iniciais gravadas.

     — Bem. Parece que vocês estavam certos — disse John. Em seguida guardou a medalha dentro da mochila.

     — Precisamos agradecer vocês de alguma forma — Kaya falou.

     — Esqueçam. É só o começo da prova — rebateu Aveta. — Ainda temos mais duas medalhas de vocês para encontrar e três nossas. Melhor andarmos depressa. — Olhou para o alto. — O Sol já está no meio do céu. Não temos mais tempo a perder.

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