Eu olho para seus pés, tentando desvendar o próximo golpe, mas ele é muito rápido.

Assim que abaixo um pouco a guarda, ele me acerta em cheio no queixo com seu poderoso gancho de esquerda. Caio no chão, nocauteado, ouvindo o toque do meu despertador dizendo que são meio-dia.

Giro no tatame, abraçando os travesseiros, que fedem a suor e a café.

Meu adversário se mantém de pé à minha frente com seu corpo definido, sem nenhum arranhão, e com os olhos queimando de empolgação e motivação. Eu, por outro lado, estou aos frangalhos, sem força para escovar os dentes ou levantar da cama que mantém minha silhueta.

Eu ouço ao fundo, da multidão que aplaude meu adversário, alguém chamar meu nome ou é um miado, eu não sei mais.

Mesmo jogando a toalha todos os dias, meu adversário não para de me bater até eu cair no chão, com os olhos vermelhos e vazios contemplando a minha escuridão.

Não é perder que me faz sentir assim; estou acostumado com a derrota, mas a dor que meu diabo causa. Eu só quero poder fazer a dor parar, e se ela parar, eu ganho.

Eu sei que ganho dele.

Eu já procurei forças divinas, científicas e sobrenaturais, mas nada me ajudou a derrotar meu nêmesis. Ele é poderoso demais, invencível demais e gigantesco demais.

Demais para mim.

Às vezes, ele sobe sobre meu peito e solta todo seu peso colossal, faltando ar aos meus pulmões, e quando sabe que já ganhou, aproxima sua boca do meu nariz, liberando um hálito podre de inseguranças, dúvidas e certezas infundáveis.

Se eu não posso derrotá-lo, eu devia desistir?

Mesmo com todos esses vieses de confirmação da minha derrota, algo dentro de mim se recusa a desistir.

Pode ser uma benção ou uma maldição... A Esperança.

Eu espero que um dia eu possa desviar desse gancho de esquerda matinal e nocautear o inimigo.

Até lá, mesmo em farrapos, em trapos e molambento, lutarei e lutarei. Aos poucos e aos poucos, vou ficando mais forte que era antes.

Pois, como diria o Rocky:

 - Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em frente.