Capítulo 18
Noëlle acordou de seu transe noturno ainda com o céu escuro. Seu corpo ainda estava levemente dolorido, mas nada comparável com o dia anterior. Em circunstâncias normais, talvez optasse por aguardar mais alguns dias, porém havia pressa para seguir a jornada.
Ela se levantou e trocou de roupa, colocando a armadura de couro. Viu que Sabrina ainda dormia e decidiu esperar mais um pouco. Não seria interessante ter a humana cansada na viagem.
Enquanto aguardava, lembrou-se da caverna no Pico da Neblina. Depois de colocar tanta energia em sua última flecha, ela ficara fraca demais para ver o resultado do ataque. Queria investigar melhor o interior daquela caverna, estudar com calma aquele círculo mágico para fazer um relato decente para a Aura. Entretanto, aquele desejo não poderia ser realizado. O tempo hábil para retornar lá acabaria com a vantagem que tinha ganhado em relação ao exército.
A Fênix Corvina suspirou e se deslocou até a cama da Sabrina. A companheira de viagem podia até querer dormir mais, mas era necessário retomar o caminho. Gentilmente, Noëlle balançou a humana, que se mexeu na cama, antes de abrir lentamente as pálpebras e bocejar.
— Me deixa dormir mais um pouco — reclamou Sabrina, bocejando de novo na última palavra.
— O exército istkoriano não pode alcançar a gente. Precisamos partir logo — explicou a elfa.
A humana bufou, colocando-se em pé e trocando as vestes de sono por uma túnica e uma calça. Os movimentos eram lentos e intercalados por diversos bocejos, mas nenhuma reclamação foi proferida.
Preparadas para seguir viagem, as duas mulheres saíram do quarto, entrando no corredor completamente deserto. A iluminação era feita somente por lamparinas na parede, mas o fogo queimava fraco.
Se os passos da Noëlle eram silenciosos, Sabrina não tinha a mesma leveza e parecia escolher sempre o pior lugar possível para pisar. Cada tábua rangendo parecia ecoar pelo estabelecimento inteiro, fazendo com que a Fênix Corvina temesse incomodar as pessoas dormindo ali. Se quando saíra para o Pico da Neblina havia muito barulho, naquela madrugada, a Fênix Corvina podia ouvir até o próprio coração batendo.
Desceu a escada de madeira torcendo para que Sabrina não acertasse os degraus mais velhos, fazendo ainda mais barulho, mas a amiga parecia determinada a acordar a todos. Um dos rangidos foi tão alto que Noëlle achou que a madeira fosse quebrar.
— Pra alguém saindo de madrugada, vocês são bem chamativas — Noëlle reconheceu a voz do Zylkoris vindo de uma das mesas da taverna.
Bastou uma breve olhada para perceber que o rapaz era literalmente a única pessoa ali. Nem mesmo Brorver estava presente, fato inédito desde que Noëlle se hospedara na Caneca Real.
— Onde está o taverneiro? — questionou a elfa.
— Brorver também precisa dormir de vez em quando — brincou ele. — Nas noites do dia da lua, a taverna fecha mais cedo. Eu estou aqui de vigia pra ninguém roubar nada. Em troca, ganho umas moedinhas.
— Nós estamos indo embora — afirmou Noëlle. — Posso entregar a você a chave do nosso quarto, então?
— Antes de irem, podem se sentar comigo só um instante? Tem algo que eu preciso contar.
A Fênix Corvina ergueu uma sobrancelha e se aproximou, curiosa com o que iria ouvir. Ocupou uma cadeira à mesa do rapaz e esperou que Sabrina se sentasse ao seu lado. Zylkoris mantinha uma expressão relaxada, mas havia algo por trás. A mão dele se mexia demais, alisando as próprias coxas constantemente. O pescoço dele estava brilhando um pouco com as gotículas de suor que brotavam ali.
Zylkoris olhava para as duas mulheres sentadas à mesa, mas seus lábios não se moviam. Noëlle não fazia ideia do que ele queria falar, mas era explícito que havia relutância. Então, ele encarou Sabrina com olhos tristes e respirou fundo.
— Sua irmã era uma grande pessoa — declarou. — Florina tinha um belo futuro à frente e seria uma mulher incrível, não fosse a covardia do rei. Zanok ceifou a vida dela em uma execução pública. Desculpe falar isso dessa forma, mas você tem direito de saber o que aconteceu.
O silêncio que se instaurou era ensurdecedor. Sabrina havia perdido os pais havia pouco tempo e, não fosse aquilo o bastante, a menina executada em Blaskogar antes da partida do exército era a irmã dela. Noëlle queria consolá-la de alguma forma, mas a amiga parecia estar momentaneamente fechada em um casulo.
Sabrina não chorou. Ela encarava a mesa de uma forma como se a irmã fosse brotar da madeira e abraçá-la. Naquele momento, levou uma mão à testa. O movimento era trêmulo e a respiração dela acelerou.
— É tudo culpa minha — sussurrou a moça, ainda com os olhos fixos na mesa.
— Como pode ser culpa sua, Sabrina? Ele não disse que sua irmã foi executada pelo rei? — ponderou Noëlle.
— Quem trouxe a Florina para a Lança Branca fui eu. Ela se entusiasmou quando foi chamada para servir à causa dentro do castelo. Meus pais imploraram para que ela não fosse, mas eu disse que uma como aquela não podia ser recusada. Eu matei a minha irmã! Se eu tivesse ouvido meus pais, por Lira, a Florina estaria viva!
Sabrina respirava aceleradamente, seus olhos arregalados e sua boca entreaberta. O sofrimento nela era nítido, como não poderia ser diferente. Noëlle queria consolar a amiga de alguma forma, mas como fazê-lo? Então, ela se aproximou, olhou-a nos olhos e envolveu-a em um abraço.
Aquilo parecia ser exatamente o que Sabrina precisava, porque ela desmoronou. Chorou copiosamente com o rosto nos ombros da elfa, que sentiu as lágrimas quentes caindo em sua pele e escorrendo. Ficaram ali os três em absoluto silêncio. Noëlle até gostaria de falar algo, mas não havia uma única palavra que ela conseguisse pensar que pudesse ajudar de verdade.
— Eu sinto muito — disse Zylkoris, encarando Sabrina com os olhos marejados.
— Obrigada por me contar — sussurrou Sabrina com a voz embargada. — Noëlle, vamos embora. Acho que a estrada para Andakilsa vai me ajudar a esquecer isso, ao menos um pouco.
— Vocês também estão indo para lá? — perguntou o humano, fazendo o gesto de um triângulo com a mão.
— Eu não faço ideia de que sinal seja esse que você fez, mas sim. Estamos indo em busca da sede da Lança Branca.
Zylkoris fez silêncio por um instante e pareceu analisar Noëlle de cima a baixo. Ele levou a mão ao queixo e seguiu encarando a elfa.
— É o gesto da Lança Branca. O triângulo imita a ponta de uma lança, basicamente. Eu posso levar vocês até lá, mas só vou sair de Grof amanhã. Tenho assuntos a resolver por aqui antes de partir.
A proposta era absolutamente irrecusável. Ter alguém que sabia precisamente a localização da sede da Lança Branca pouparia possivelmente dias de esforço mais à frente. O tempo a mais em Grof seria bom para que Sabrina descansasse, além de que poderia ser usado para que Noëlle tentasse comprar um cavalo para a amiga.
— Combinado — afirmou a elfa. — Podemos partir amanhã nesse mesmo horário?
— Com certeza — garantiu Zylkoris.
Sabrina não se manifestou e a Fênix Corvina se questionou se aquela era realmente a alternativa que mais a agradava, mas ficou satisfeita por ter conseguido algo que a colocava de fato mais perto de seu objetivo. Faria bom uso do tempo extra e estaria preparada para viajar no dia seguinte.
☼
A marcha até Alviora demorou menos do que o previsto. Revgar via que os soldados estavam cansados e deviam estar aliviados por ganharem um período de descanso.
Jandikar era uma pequena vila de caçadores e agricultores, algo semelhante a Alviora. Entretanto, esta era bem maior, embora também fosse pequena. A cidadela era cercada por um grande muro malconservado de madeira e se localizava em um vale, o que tornaria o lugar muito defensável, caso fosse militarizado. Do alto de uma rocha e sob a sombra de uma árvore, o Arcano de Rhyfel olhou para a pequena cidade, que já estava completamente cercada.
De longe, não era possível enxergar a expressão nos rostos daquelas pessoas, que se moviam de um lado para o outro como formigas desesperadas após um passo próximo ao formigueiro. Revgar imaginava que aqueles cidadãos estivessem confusos. A chegada do exército sem aviso prévio, cercando a cidade e claramente se preparando para atacar também devia instigar pânico.
— Pensando em planos de ataque, Revgar? — perguntou uma voz feminina que o tenente conhecia muito bem.
— É sempre importante conhecer muito bem o terreno em que estamos pisando, não? Ainda mais para um mago como eu — respondeu sem tirar os olhos de Alviora.
— Sua ideia de fazer um cerco foi muito boa — elogiou Louise. — Confesso que não esperava te ver desafiando a vontade do Paven. É bom saber que você não é só um cordeirinho indefeso. Há algo mais que eu gostaria de dizer, Revgar.
— O que seria isso, minha cara?
— Tenho notado há alguns dias as visitas noturnas que você tem feito à Capitã Alexia. Eu tenho mantido meus olhos nela há tempos e consigo imaginar o teor desses encontros.
Aquelas palavras ditas casualmente fizeram com que Revgar sentisse o coração disparar, o suor escorrendo pela face que tentava disfarçar a preocupação. Louise não havia recebido à toa a alcunha de Sombra do Rei.
— Eu e a Alexia somos amigos de longa data, Louise. Desde antes de eu entrar para o exército, inclusive — declarou o tenente.
— Amantes — disse ela. — Vai ser mais convincente assumir publicamente que são amantes. Ninguém questionará um homem visitando sua companheira à noite. Talvez, possam até passar a noite juntos se não for constrangedor demais. Nem todos são perspicazes como eu, mas sair da sua tenda para a dela vai acabar chamando a atenção de quem você não quer.
— O que você quer?
— Você vai me inserir em alguma dessas conversas e vai me inteirar sobre o que está acontecendo — declarou a general. — Mas não entenda isso como uma ameaça. Com o que sei, já conseguiria botar o Paven para te executar por traição, mesmo assim fiquei ao seu lado na última reunião. Estou agindo de boa-fé. Quero te ajudar, mas quero saber o que estou ajudando.
Revgar pensou um pouco no que responder. A Sombra do Rei havia dito muita coisa e estava claro que algo teria que ser feito, entretanto o tenente não sabia exatamente o quê. Hesitando, ele se virou para encarar a general antes de falar, mas seus olhos não encontraram Louise ali. Sutil como uma sombra, a mulher havia se retirado.
O tenente teria que considerar com calma o pedido feito pela Louise e sabia que precisaria conversar com Alexia a respeito. A amiga parecia ter muito mais tato que ele para julgar o caráter alheio, mas aquela situação seria desafiadora para ambos. Todos que a conheciam sabiam que a Sombra do Rei usava uma máscara constantemente, sendo impossível saber quando ela estava falando a verdade. Uma coisa é certa. Estamos na mão dela e teremos que fazer algo a respeito.
Soltando um longo suspiro, Revgar se virou, novamente encarando Alviora. Deixaria para pensar em Louise depois. Naquele momento, queria usar seu tempo para estudar melhor o lugar em que estava. Buscou qualquer falha no terreno que pudesse indicar uma saída segura, mas não via nada. Gostaria de saber como o aliado da Alexia iria conduzir pessoas para fora da cidadela. Talvez haja passagens subterrâneas.
Sob tantos olhares, seria bastante desafiador poupar a vida dos moradores. Entretanto, ele não podia se furtar de ao menos tentar. Cada cidadão istkoriano que não morresse em vão já era uma pequena vitória na insanidade que vinha se mostrando a sede de sangue demonstrada por Paven.
— Tenente Revgar, o General Paven está requisitando a presença de todos os conselheiros na tenda dele. Mandou avisar que é urgente.
O Arcano de Rhyfel não hesitou. Deu uma última olhada para Alviora, fazendo uma prece silenciosa para que Dastarar fizesse com que a justiça prevalecesse. Então, deslocou-se pelo acampamento.
Era inevitável imaginar qual seria o motivo do chamado do general. Dado o passado recente, a primeira coisa que vinha à mente do tenente era que teria surgido alguma justificativa para uma invasão imediata da pequena Alviora. A ideia fez com que Revgar sentisse um calafrio percorrendo a espinha. Que o aliado da Alexia já tenha conseguido tirar alguém de lá.
Outra possibilidade seria que os batedores do exército tivessem alguma informação. Os homens que andavam à frente da marcha por vezes traziam notícias triviais, mas importantes. A alternativa era muito mais agradável, embora Revgar estivesse pessimista.
Dois soldados estavam na entrada da tenda do Paven. Com lanças cruzadas, eles bloqueavam a passagem, mas abriram assim que o tenente se aproximou.
Ao entrar na tenda, Revgar encontrou Paven, Bert, Louise e Keagan conversando entre si. Junto a eles, dois homens com a pele enrugada e cabelos brancos estavam em silêncio, observando os demais. O tenente fez um esforço, mas não se recordava de ter visto aqueles idosos antes.
— Obrigado por terem vindo prontamente, senhores — disse Paven. — Esses senhores se identificaram como sendo representantes de Alviora.
— Generais, nós entendemos a nobre busca pelos rebeldes da Lança Branca e acreditamos que deve ter algum engano — afirmou um deles, a voz rouca e a calvície já tomando boa parte do couro cabeludo. — Nós investigamos bastante e não encontramos sinais de que haja rebeldes em nossa cidadela.
— Senhores, como podem ver, eles vieram se defender, mas meus informantes disseram exatamente o oposto — declarou Paven, seu olhar cortando o idoso com tanta força que o homem passou a encarar o chão. O companheiro dele arregalou os olhos e abriu um pouco a boca, mas nada falou.
— General Paven, o que sugere que seja feito? — questionou Louise. — Que tal mantermos os senhores aqui enquanto eu vou pessoalmente para dentro da cidade averiguar a veracidade destas informações? Eu tenho mais experiência com isso do que todos os senhores juntos, sem ofensas.
— Ofensa nenhuma, General Louise. A alcunha de Sombra do Rei não lhe foi atribuída em vão. Entretanto, meus informantes são competentes e não gostaria de arriscar alguém tão valioso sem necessidade — ponderou ele, ajeitando os cabelos dourados com a mão.
Pela primeira vez, Revgar se sentiu aliviado ao ouvir uma negativa do Paven. Caso Louise entrasse em Alviora para investigar, ela poderia acabar atrapalhando o trabalho do aliado da Alexia, botando a perder todo o esforço sendo empregado para garantir que o máximo possível de pessoas pudesse ser salvo.
— Senhores — continuou Paven —, eu acredito as informações que recebi são o suficiente para que ordenemos uma invasão imediata. Não há razão para aguardarmos aqui passivamente, sabendo que estamos cedendo tempo para que o inimigo tente escapar.
— Não é possível que estou tendo que ouvir isso — rosnou Keagan, secando o suor em sua testa franzida. — Depois de todo o debate que tivemos sobre esse tema? Pela Espada de Rhyfel, o lugar está cercado, Paven. Por onde raios alguém vai escapar? Que obsessão é essa em invadir um vilarejo desse tamanho? Somos um exército. Meia dúzia de homens poderia resolver o problema.
Os representantes de Alviora encararam Keagan e um pouco de cor retornou à face deles. Revgar imaginou que falariam algo para tentar demover Paven daquela ideia absurda, mas o medo devia estar berrando dentro deles, fazendo com que permanecessem em silêncio.
— General Paven — pronunciou-se Louise —, o cerco não dá margem para fuga. Compreendo sua preocupação, mas não estamos aqui para conduzir um massacre, não é? — As últimas palavras foram enunciadas pausadamente, com os olhos da Sombra do Rei encarando fixamente os do Paven, penetrando-o como adagas.
— Vocês fazem pouco caso do tempo do exército — reclamou Bert, manifestando-se pela primeira vez. — Dizimar os inimigos envia uma mensagem aos rebeldes.
— O cerco já é o suficiente para essa finalidade, meu caro — afirmou Revgar. — Com o passar de cada minuto, causamos medo e levamos quem está dentro de Alviora a ficar mais perto da fome.
— A escassez total pode levar meses para chegar — argumentou Paven. — O sentimento é nobre, mas temos urgência.
Assim que o general terminou de falar, Keagan soltou um riso cínico, erguendo-se e encarando Paven. O homem mais velho balançou a cabeça negativamente.
— Eu vou falar o que ninguém aqui tem coragem — proclamou. — Generais Paven e Bert, vocês são pedaços de esterco que não valem o pasto que nossos cavalos comem. Se eu tivesse autoridade para isso, os dois seriam jogados em uma masmorra por tudo que estão fazendo nessa marcha. Eu duvido que o Rei Zanok esteja de acordo com estes desmandos. Nosso monarca tem histórico de cometer alguns excessos, mas nada nesse nível. Prove que estou errado e mantenha o cerco ou confirme o que digo massacrando pessoas inocentes.
Um silêncio se formou e o clima ficou tão pesado que era como se Revgar fosse esmagado. A coragem das palavras do Keagan era digna de nota. Ele mesmo não conseguia se imaginar confrontando Paven daquela maneira. Este ficou impassível por alguns instantes, levando os dedos ao queixo antes de quebrar o silêncio.
— Pois que assim seja, general. Que não seja dito em Istkor que o Rei Zanok não é capaz de oferecer misericórdia. Saiba que também não tenho muito apreço por ti, mas tenho o bom senso de guardar certos sentimentos para mim mesmo. Eu tomaria mais cuidado em seu lugar.
— Está me ameaçando, Paven? — questionou Keagan. — Eu treinei quase todo o exército. Eu pensaria duas vezes antes de agir contra mim. Não sou um cordeirinho como aqueles que você costuma manipular.
— Jamais ameaçaria alguém tão estimado no exército, mas, lembre-se que as cores do sol mudam ao longo do dia.
Novamente, o silêncio se estabeleceu, com Paven dando um meio-sorriso cínico ao encarar Keagan. Revgar sentiu um frio percorrendo a espinha, mas não havia mais o que falar. Dentro daquele cenário constrangedor, o cerco estava mantido. Que a justiça de Dastarar seja misericordiosa conosco.
***
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