Parte III
O delegado estava apurado com a movimentação de repórteres lá fora, querendo uma entrevista coletânea, a fim de passar aos seus telespectadores mais informações sobre a prisão do assassino dos estudantes do colégio. O detetive Lopes estava numa sala com a psicóloga-criminalista da delegacia, e dava risada irônica com a análise da doutora.
- Você está enganada, doutora, ele é tão normal quanto eu e você juntos. Ele é apenas um assassino que calculou bem suas vítimas. Se forem assim todos que matam deveriam ser tratados como loucos, não acha?
Karen tinha 40 anos e nunca vira alguém como o professor Antônio nesses dezesseis anos de profissão. Ele era sem dúvida algum um esquizofrênico em estado avançado e precisava urgentemente de um tratamento clínico! Ela também não conseguia acreditar nas palavras do professor quando ele confessou na maior naturalidade que assassinara os seus estudantes. Antônio estava numa cela separada de outros presos, e estava com a cabeça enfaixada. A doutora tentava convencer o detetive que Antônio apenas atribuía às mortes porque ele achava que só pelo simples fato de ter desejado a morte deles era de fato um assassino e o mesmo de ter matados os jovens estudantes.
O detetive não aceitava aquilo e por isso saiu da sala para se preparar para a entrevista com os repórteres.
Alicia estava inconsciente na UTI do hospital e seu estado era grave. Passara por uma cirurgia na perna direita e quebrara duas costelas, e teve traumatismo craniano, respirava com ajuda de aparelho. Os médicos já tinham feito o que podiam, agora só restava esperar para ver como ela ia reagir.
Seus pais estavam inconformados. Sua mãe precisou tomar um sedativo e estava dormindo num dos quartos vazios do hospital. O pai de Alicia era quem mais se culpava.
A notícia de que Alicia sofrera um acidente e o professor Antônio tivesse sido preso espalhou rapidamente na imprensa e em boca-a-boca das pessoas, e Marcos foi uns dos primeiros que chegara ao hospital, mas não pôde vê-la.
A diretora Gilda teve um colapso quando os repórteres a procuraram no seu colégio a fim de saber sua opinião sobre a acusação que seu professor estava sendo acusado, e ela recusou a dar entrevista e logo nos canais de televisão seu colégio foi alvo de atração turística e os pais dos alunos ligaram sem parar em seu telefone preocupados com seus filhos, e alguns dizendo que tirariam seus filhos do colégio por achar inseguro mantê-los ali. Tudo que ela não queria era envolver a reputação honrosa de seu colégio num escândalo desses que estava sendo repercutido nacionalmente e internacionalmente.
O professor Mariano aconselhou a diretora ir para a casa e manter o colégio fechado por alguns dias, até resolver se o professor Antônio era culpado ou não. Ela aceitou e conversou com os outros conselheiros e professores.
Era fim da tarde quando Gilda em seu apartamento recebeu o telefonema de alguém que não quis se identificar.
- Quem está falando? – insistiu ela.
- Venha nesse endereço: rua 34, próximo a praça central às 22:00 horas. É sobre algo que vai te interessar muito.
- Isso é algum trote! – disse ela aborrecidamente.
- Tenho um segredo sobre seu pai. Não está interessada em saber?
Gilda por um instante perdeu a fala.
- Como assim? Meu pai? Mas quem está falando?!
- Venha se não eu revelarei esse segredo a todos. Vamos entrar num acordo.
- É algum tipo de chantagem? – desafiou ela.
- Se você quiser interpretar por essa maneira... – disse a voz grossa e disfarçada do outro lado da linha. – Mas aviso que se tentar dar uma de espertinha vai se arrepender.
A ligação foi rompida e Gilda ficou sem saber o que fazer. Não podia correr o risco de ir e cair numa armadilha. Ou talvez fosse até um dos alunos da escola tramando uma brincadeira sem respeito. Mas algo dizia dentro dela que precisava ir, mas não ia sozinha. Ligou para o professor Mariano e contou tudo que lhe ocorreu.
- Você precisa chamar a polícia! Isso pode ser coisa de gente má intencionada! – disse o professor Mariano quando ouviu o desespero da diretora.
- Não, a polícia não! Não quero mais nenhum escândalo que venha se tornar público!
- Quem será essa pessoa? O pobre professor Antônio não é, já que está detido...
- Isso é estranho Mariano... Mas vou ir ao encontro dele, e queria que você fosse muito comigo.
- Eu vou, mas claro que não vou deixá-la sozinha com um desconhecido! Você passa em casa e vamos juntos ao encontro desse sujeito. Combinado?
- Sim... – concordou ela aterrorizada.
Gilda não se alimentou naquela noite e só pensava em que segredo era esse que envolvia seu pai falecido. Ela se arrumou e pegou sua bolsa e foi para a casa do professor Mariano.
O professor estava com um casaco preto e entrou para dentro do carro e Gilda foi dirigindo para o endereço combinado. Chegaram e pararam o carro numa distância da praça.
- Não vejo nenhum carro parado ou alguém na praça. Será que ele está atrasado? – comentou Gilda olhando pela janela de seu carro.
- Ele está aqui. – afirmou o professor Mariano.
- Onde? Não vejo ninguém! – disse a mulher esforçando sua vista para ver se via alguém lhe aproximando.
- Ele está bem aqui, sentado ao seu lado, diretora... – sussurrou o professor Mariano.
Gilda olhou para ele perplexa.
- O que disse?
- Eu liguei para você.
- M-Mas por quê? – balbuciou ela, olhando ele com olhos bem arregalados.
- Como eu disse para você, tenho um segredo que envolve seu pai falecido.
Gilda sentia uma tremedeira e ainda não queria acreditar naquilo.
- C-Como assim? Do q-que você está falando?
- Seu pai destruiu a vida de meu pai mandando-o inocentemente para a prisão e para a morte! – contou o professor num tom de fúria, olhando bem aos olhos da pobre mulher. – Eu e você éramos crianças quando isso aconteceu, mas eu lembro de tudo e desde esse dia eu jurei que ia me vingar de sua família! Seu pai acusou meu pai por um crime que ele não cometeu só para não ver sujo a maldita reputação de seu colégio... e agora depois de muitos anos consegui abalar a tão respeitada reputação dessa droga de rede de ensino... – debochou ele rindo como se fosse um psicopata. A diretora ficou de boca aberta com a descoberta de que ele era o filho do ex-jardineiro que segundo seu pai encontrou a joia de uma aluna em seu poder.
- Seu pai roubou à joia e meu pai teve que entregá-lo a polícia! Era o certo que ele fez! – respondeu ela, acreditando na versão que sua mãe lhe contara.
O professor Mariano gritou descontroladamente.
- NÃO! O COVARDE DE SEU PAI ARMOU UMA CILADA PARA O MEU PAI SUA VACA! ASSIM QUE ARMEI PARA VOCÊ, MATANDO JOYCE E ROBSON PARA ATINGIR VOCÊ E A REPUTAÇÃO DESSE MALDITO COLÉGIO!
Gilda gritou de horror com a revelação.
- M-Mas então você é o assassino, e não o professor Antônio?
- Sim, eu matei Joyce quando escutei ela dizendo a você na sua sala sobre o envolvimento de Alicia e de Antônio... é, eu estava lá escondido e escutando tudo sim... – a diretora levava às mãos trêmulas a boca enquanto ouvia. – Fiz tudo para que a polícia desconfiasse a primeira vista que tudo não passara de um acidente e de um trágico romance proibido não correspondido, mas que depois levantasse a ideia de que eles haviam sido assassinados.
- Mas porque você os matou? O que eles fizeram de mal a você?
- Eles apenas me serviram de degraus para chegar ao topo do meu plano! Para destruir a sua vida e fechar as portas dessa escola nojenta!
- O que você quer afinal? Dinheiro?
- Não... o que eu quero é que você pague pelo erro de seu pai.
- Isso não é justo! Eu não tive culpa! – protestou ela.
O professor Mariano riu enigmaticamente.
- Você terá toda culpa ainda pelas mortes de Joyce e Robson!
- C-Como assim? – estranhou ainda mais ela.
- A polícia vai encontrar na sua sala algumas fotos dos corpos de Joyce e Robson enquanto morriam e vai pensar que foi você que os matou.
- VOCÊ É UM MONSTRO! – gritou ela.
- E também deixei na sua sala algumas páginas do diário de Joyce que vão comprometê-la ainda mais. E se caso você não for culpada será rebaixada de sua função como diretora e nunca mais poderá exercer sua profissão novamente, e nem um pai vai matricular seu filho em seu “respeitado” colégio!
- Mas você fracassou! – gritou a diretora. – Antônio se declarou culpado pelas mortes de Joyce e Robson!
- Ele é um louco... eu já suspeitava que ele tivesse um distúrbio mental, mas, tudo isso mudará quando a polícia ver as pistas que deixei em sua sala!
Gilda chorou desesperadamente.
- Por Deus! Não faça isso comigo... sempre confiei em você, Mariano... se meu pai errou, ele... ele já pagou caro, pois, ele morreu insano numa clínica de doentes mentais... Mas não me julgue pelo pecado dele, pelo amor de Deus!...
O professor riu de desprezo.
- Olho por olho, cara amiga... eu alimentei esse sonho durantes décadas e agora não posso voltar atrás. Se eu voltar às mortes dos garotos terão sido em vãos. É isso que quer?
- V-Você é um demente! Um sangue frio calculista! – e ela cuspiu na cara dele. Mariano lhe lascou um tapa nela, e ela urrou de dor, e implorou. - Espere, tenho 10 mil reais na minha bolsa, podemos tentar entrar num acordo, por favor!
- Não quero seu sujo dinheiro, apenas vingança! – respondeu ele observando ela abrir a bolsa para tentar comprar seu silêncio. Ela olhou para ele friamente enquanto puxava uma arma apontada e engatilhada em sua direção.
- Não achou mesmo que eu ia vir a um encontro desconhecido sem uma proteção, não é mesmo?
O professor estava sério, e atento.
- Não vai fazer nenhuma besteira... se me matar ouviram os disparos e...
- Não haverá barulho, é uma arma silenciadora. – ela riu enquanto via o medo transpassar naqueles olhos negros e penetrantes sobre a arma em suas mãos.
- Você não precisa fazer isso... podemos conversar...
- Conversar sobre o quê? Você já deixou bem claro que queria se vingar de meu pai atingindo a mim e o colégio, não é? E quase conseguiu!
- Se me matar vai deixar um homem inocente na prisão como seu pai fez com o meu? – indagou furiosamente.
- Bem, é você quem deveria estar na cadeia, não é? Mas como não está... e como tenho a certeza de que você não vai se entregar depois que ver a minha vida destruída vou ter que te matar.
- A polícia vai descobrir! Você não terá como fugir! Pense nisso! – dizia ele olhando para ela, tentando intimidá-la.
- Como você matou Joyce e Robson, posso muito bem fazer o mesmo e não deixar nenhuma pista aos policiais! E tudo que vou fazer é livrar o mundo de mais um louco assassino como você! A polícia deveria me agradecer por fazer isso, e vou proteger meu colégio com unhas, dentes e balas!
O professor reagiu para tirar a arma da mão dela, mas a bala foi mais rápida lhe atingindo no peito. O homem urrou de dor e o sangue escorreu manchando o seu casaco escuro e o estofado do banco do carro. Mas o professor tinha nos lábios um estranho sorriso enquanto seus olhos lacrimejavam de dor para a diretora que estava surpresa com o que tinha feito.
- D-De um jeito ou de outro... vou conseguir arruinar a porcaria da reputação de seu colégio... Não vou estar vivo para ver... Mas meu pai está v-vingado...
- Você mereceu! Eu... – dizia à diretora que estava branca de pavor e parou quando a cabeça do professor caiu de lado sem vida, de olhos abertos. Gilda respirava ofegante como se não conseguisse respirar normalmente, e deixou a arma deslizar para o carpete. Olhou para o corpo imóvel ao lado e fechou os olhos fortemente. – Tenho que... tenho que me livrar desse corpo e desse carro. - Gilda pensou por um instante por fogo no carro junto com o corpo do professor Mariano, mas com o desaparecimento misterioso do professor ia levantar uma série de investigações e a polícia não ia lhe dar sossego. Então pensou em abandonar o corpo do professor na entrada de um bairro onde o índice de roubo era frequente, e daria à polícia a ideia de ele ter sido roubado e assassinado por algum delinquente dali, e depois sumiria com o carro. Ela ligou o veículo e saiu cantando os pneus indo para uma favela próxima dali. Ela espiou enquanto estacionou o carro silenciosamente na calada da noite. Rapidamente abriu o carro e antes de tocar nas vestes do morto colocou luvas e conseguiu arrastar o corpo de Mariano para fora do seu carro e deixá-lo a um canto. Entrou em seu carro e saiu de faróis apagados e voltou para seu apartamento.
Era 01h15min da manhã e o delegado com o detetive Lopes estava aturdido com a revelação da gravação da última conversa que o professor Mariano e a diretora Gilda tinham tido, dentro do carro, e aquela era uma prova de que o professor Antônio era inocente.
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