Capítulo XXXI
Alexandre pingou uma substância transparente em seus dois olhos, piscando assim que ela atingiu suas retinas. Suas pupilas contraíram, dilataram, em seguida voltaram ao tamanho normal. Toda a cor foi sugada de suas íris, começando em sua pupila e se estendendo até a sua esclera. A cor de seus olhos se transformou em um carvão preto e fosco. Isabella se engasgou com o ar. Continuava sendo o mesmo Imperador, com o mesmo nariz triangular, os mesmo lábios harmoniosos e o mesmo rosto levemente em forma de coração, no entanto seus olhos já não eram mais tão iguais. O mais estranho talvez fosse o fato de que o preto lhe caia tão bem quanto vermelho.
- Como eu estou? – perguntou pétreo.
- Está bom, mas ainda parece um nobre. Vai precisar de roupas diferentes – aconselhou Caim categoricamente. – Eu vou ver se alguém no campo de treinamento tem algo que posso lhe emprestar. Vai precisar de algo também, Vossa Alteza? – inquiriu cortês.
- Não. – Ainda guardava suas roupas antigas no fundo do guarda-roupa.
- Como quiser.
- Que legal – balbuciou Abel, fascinado com a ideia do disfarce.
- Acho que isso não vai s-ser uma boa ideia – ciciou Arlinda.
Isabella olhou Alexandre de cima a baixo – ele realmente ainda parecia um nobre. – Não é que as roupas do Imperador fossem demasiado opulentas, na verdade, eram até bem simples. Se alguém olhasse rapidamente ou sem muito interesse, poderiam confundi-lo com um cidadão comum, mas isso só se olhassem rapidamente. Não importa o quão maçantes fossem as vestimentas de Alexandre, o tecido de seus trajes ainda era de qualidade excepcional e o caimento contornava-o com tamanha precisão que parecia ter sido feito sob medida para ele, e de fato foi feito sob medida. O Imperador não estava enganando ninguém.
- Venha comigo, Arlinda – chamou Isabella adentrando em seu próprio aposento.
Ela obedeceu.
Isabella pescou suas roupas antigas e usadas no fundo do guarda-roupa. Ficaram guardadas por muito tempo e agora tinham um cheiro leve de poeira.
- Vossa Alteza, isso não vai d-dar certo – opinou a Herbalista ajudando-a a se trocar.
- Vai sim – retrucou enfiando uma meia calça de lã e um saiote vermelho em si mesma.
A jovem desfez seu penteado bem trabalhado, tirando todas aquelas presilhas prateadas incrustadas de joias verdes, e arrumou seu cabelo em um coque malfeito. Em seguida foi se olhar no espelho no intento de admirar seu trabalho final. Estranhamente, não se sentiu como alguém que usava um disfarce e sim como quem acabara de tirar a maquiagem. Voltara as suas origens.
Isabella bufou para seu reflexo, então sorriu. Não tinha importância. Sua blusa de mangas bufantes e seu saiote vermelho ainda lhe caiam como uma luva, mesmo que agora estivessem um pouco apertados.
- Eu ainda acho que isso é uma péssima ideia – E garota achava que aquela era a terceira vez que Arlinda dizia isso. Ou era a quarta?
- Vai dar tudo certo – tranquilizou girando os calcanhares e piscando docemente.
A herbalista grunhiu e fez uma careta.
- Vamos ver como está Sua Majestade – sugeriu a jovem no intento de aliviar aquele humor.
As duas voltaram ao quarto ao lado se deparando com um Alexandre completamente diferente. Usava um casaco de pele marrom escuro e botas gastas, suas calças também estavam bem puídas. Parecia um rapaz bonitinho do interior que se preparava para mais um inverno difícil.
- No fim, parece que você poderia ser um só um cara comum, não é? – foi dizendo enquanto dava um risinho anasalado.
- É verdade – Ele parecia estranhamente feliz.
- Você também parece bem confortável, Vossa Alteza! – exclamou Abel.
Se aquilo era um elogio ou não, nunca se dava para ter certeza vindo do gêmeo.
- Acho que já estamos prontos para ir – disse Isabella entrelaçando seu braço com o do Imperador.
- Quase! – corrigiu Caim entregando-lhes uma carteira. – Não podem sair sem dinheiro.
Sua Alteza as aceitou sem remorso, então se despediu dos gêmeos e de Arlinda enquanto puxava Alexandre para fora.
Se o Imperador e Isabella não queriam chamar atenção, teriam de ir pelo caminho mais longo, o que significava ter de seguir a trilha do jardim e passar pela saída dos empregados. Isso envolvia transpassar as acomodações das serventes, a antiga moradia de Sua Alteza. Ela se sentia nostálgica em relação a construção, mas sinceramente, não sentia falta de dividir um quarto minúsculo com outras três pessoas.
A jovem segurou a mão do Imperador, guiando-o. Tinham que ser cuidadosos se não quisessem ser pegos. Passavam pelos caminhos onde havia maior densidade de árvores e tornavam-se quietos ao menor sinal de aproximação. Para Isabella toda aquela conjuntura era carregada de seriedade, conquanto Alexandre não parecia concordar consigo já que sempre dava risada quando ela parava e fazia um sinal de silêncio. Logo, eles chegaram as acomodações das empregadas. A maioria delas devia estar trabalhando dentro do palácio àquela hora, entretanto precisariam ser mais cuidadosos do que nunca naquela parte do trajeto se não quisessem ser pegos. Isabella se esgueirou por detrás do edifício, caminhando lentamente pela terra úmida, até mesmo suas respirações estavam controladas. Entretanto seu plano de não serem vistos falhou. Clementina estava sentada nos degraus das escadas na porta dos fundos, justamente onde Isabella costumava ir quando se sentia melancólica. Sua cabeça estava baixa e ela parecia distraída ao interim que meneava seus calcanhares. Porventura, se eles se movessem bem devagarzinho, poderiam passar despercebidos. Como se pudesse ler os pensamentos da jovem, Alexandre começou a rir de novo bem baixinho em suas costas.
- Do que você está rindo? – exigiu impaciente, virando a cabeça.
- Nada – replicou rapidamente.
Quando voltou seu olhar para frente, deparou-se com Clementina encarando-a e piscando curiosamente.
- Isa... Vossa Alteza? – Ela engoliu em seco. A empregada ergueu-se e correu em sua direção. – O que está fazendo aqui? – Então finalmente pousou seus olhos no homem atrás de si. Rápido demais, não conseguiu reconhecê-lo. – Quem é ele?
Isabella pousou o dedo indicador na boca. – Sssssh. Estou fugindo com meu amante. Não conte a ninguém, especialmente ao Imperador.
Alexandre riu, entretanto Clementina não pareceu entender a brincadeira, pois arregalou os olhos em descrença.
- Sério mesmo?
A jovem suspirou. Não era divertido brincar com sua amiga. – Olhe pare ele mais uma vez. – Pareceu custar muito a empregada desprender seus olhos de Sua Alteza, mesmo assim ela o fez, analisando minuciosamente Alexandre.
De supetão, Clementina empalideceu. Sua ficha havia caído. – V-vossa Majestade! Mas como isso é...?
O Imperador colocou o dedo indicador no lábio, imitando o gesto de Isabella. – Isso é um encontro secreto. Não conte a ninguém.
O mesmo gesto da garota de cabelos dourados interpretado por Alexandre, causava um efeito gélido e feroz, quase uma ameaça. A empregada apoiou sua mão na parede, seus joelhos tornaram-se fracos e quebradiços.
- E-eu não vou contar! – garantiu.
Isabella se sentiu um pouco mal por Clementina, todavia a excitação de se ter um encontro normal com o Imperador turvou sua visão e não a deixou se tardar ali por mais nenhum minuto sequer. Levou-o por entre as trilhas, passando pelo portão onde os guardas mal lhe pouparam um olhar e atravessando a ponte que os levaria a capital.
- E agora o que fazemos? – indagou o Imperador sussurrando em seu ouvido.
Ele não precisava sussurrar o tempo todo, ninguém o ouviria na cacofonia da capital. Se ouvissem, provavelmente não reconheceriam sua voz.
- Ora, passeamos – E foi o que fizeram.
Passaram por entre as vielas embutidos de paralelepípedos desbotados, vendo as mais diversas apresentações de rua, desde uma performance com um monstro mágico de nível baixo, até cuspidores de fogo e dançarinas em pernas de pau. Visitaram lojas, admirando seus produtos e escrutinando as barracas rafadas dos vendedores ambulantes. Ninguém lhes dava muita atenção e aqueles que os fitavam uma vez, raramente olhariam de novo. Em dado momento, Alexandre e Isabella se depararam com uma tenda azul onde uma mulher de pele brilhante e vestido vermelho exibia algumas bugigangas interessantes.
- Vamos dar uma olhada – disse a jovem, puxando a manga da blusa do Imperador.
Ele se aproximou.
Não havia nada de inovador ou interessante, era apenas mais do mesmo. Pedras da sorte, binóculos para teatro, leques do reino de Fuanji – que não eram realmente do reino de Fuanji –, incenso, algumas acessórios embutidos com pedras falsificadas, entre outros.
- Gostaram de alguma coisa? – sondou a vendedora educadamente.
- Eu gostei disso aqui – replicou apontando para um par de abotoaduras pretas brilhantes bem grosseiras. Pareciam que quebrariam só de ser colocadas em uma camisa. – Quanto custa?
- Apenas 12 lenn. Uma pechincha!
Isabella sorriu, pechincha era uma de suas palavras favoritas. – Então eu vou levar.
Ela tirou a carteira de seu bolso e entregou-lhe algumas moedas, em retorno recebeu um par de abotoaduras.
- Voltem sempre!
Os dois se afastaram lentamente da tenda.
- O que vai fazer com abotoaduras? – inquiriu Alexandre,
- É um presente.
- Para quem?
Ela riu. – Para você, ora! Para quem mais seria?
Ele deu de ombros. – Por que abotoadoras?
- É o único acessório que eu já vi você usando. – E entregou para Alexandre. – Não aceito devoluções.
- Não te devolveria mesmo que você me pedisse.
Foi mais ao menos à uma hora da tarde, quando procuravam por um restaurante para almoçar, que uma procissão de soldados começou a marchar pela avenida principal em direção ao palácio. Todos abriram espaço para que eles pudessem passar, mirando-os com curiosidade e preocupação. Isabella estava prestes a fazer o mesmo, entretanto, antes que pudesse, o Imperador puxou-a e a enfiou dentro de um beco escuro consigo.
- O que está fazendo? – indagou aturdida.
- Olha – pediu indicando com a cabeça.
Ela obedeceu e fitou atentamente a multidão de soldados que galgavam sem cessar. Alguns rostos Isabella reconheceu como pessoas que ela via vez ou outra nos campos de treinamento ou fazendo alguma patrulha pelo palácio. Então a jovem compreendeu, se por algum acaso eles olhassem eu sua direção, poderiam identificá-los, por isso Alexandre a arrastou para uma viela estreita. Mesmo depois de entender, a jovem não deixou de observá-los. Havia algo errado. Todos eles estavam extremamente cansados, suas roupas estavam sujas, seus cabelos desalinhados e havia bolsas sob seus olhos. Ninguém parecia gravemente ferido, nem carregavam mortos, o que era bom. Em contrapartida estavam realmente preocupados. Murmuravam uns com os outros, franziam os sobrolhos, crispavam os lábios e então balançavam a cabeça. Ela adoraria saber o que estavam falando.
- Eles voltaram mais cedo do que era suposto – balbuciou o Imperador.
- Devemos voltar para o palácio? – perguntou aflita.
Alexandre contemplou Isabella, então a marcha que já desaparecia entre a multidão. Os olhos dele começaram a assumir um tom de castanho alaranjado. O efeito da poção já estava se desvanecendo.
Ele balanço a cabeça negativamente. – Comemos primeiro, depois resolvemos isso.
O Imperador estava prestes a partir, mas a jovem o segurou sorridente.
- Diga-me, me arrastou para esse beco escuro só para me esconder ou tinha alguma outra intenção?
Ele piscou, então sorriu despretensiosamente. – Claro que eu só estava tentando nos esconder. Temo que se o Imperador me encontrasse fugindo com sua noiva, ele me mataria. Acho que ele já deve ter percebido que eu sou seu amante.
A princípio, ela não pôde entender sobre o que Alexandre estava falando, contudo se lembrou do que havia dito a Clementina mais cedo, estou fugindo com meu amante...
Isabella riu, entrando na brincadeira. – Eu não acho que ele iria tão longe...
- Ele com certeza iria – murmurou.
Em seguida, ele a prensou contra parede, inclinando-se e pousando os lábios na curva do pescoço da garota. Aonde quer que sua boca passasse deixaria um rastro de calor.
- Como pode ter certeza?
- É o que eu faria no lugar dele.
Então cessaram o diálogo, ouvindo apenas suas respirações entrecortadas.
- Acha que o Alexandre está me procurando? Estou preocupada com ele – questionou Isabella quebrando o silêncio.
- Por que a pergunta? – exigiu franzindo as sobrancelhas. – Não me diga que você ainda tem sentimentos pelo Imperador.
Ela suspirou e estreitou os olhos. – Eu ainda o amo. Talvez não devesse tê-lo deixado.
- Você tem que se decidir. Ou eu, ou ele.
- Não consigo. Vocês são tão parecidos, às vezes sinto que são a mesma pessoa.
- Então eu te farei esquecer aquele cara. – E a beijou delicadamente, como uma borboleta pousando em seus lábios. – Se esqueceu?
- Não sei. Precisaria de outra dose, só para garantir. – E Alexandre a beijou de novo, pressionando-a contra si e se demorando em seus lábios.
Isabella envolveu seus braços a redor do pescoço dele, puxando-o para mais perto com voracidade. Quando ficavam assim, sentiam-se como o encaixe perfeito um do outro.
Então se separaram ofegantes.
- E agora, se esqueceu?
- Acho que teve o efeito oposto. Vamos tentar de novo. – replicou arrastando-o para outro beijo.
Estavam tão bêbados um do outro que quase se esqueceram que se encontravam em beco escuro, tão ébrios que nem repararam que alguns transeuntes ainda podiam vê-los se contemplassem atentamente a penumbra, tão embriagados que praticamente se esqueceram de seus deveres. Mas não completamente. Quando o sol se ergueu até tocar o alto do céu, eles se afastaram e foram a procura de algum restaurante ainda chapados do que quer que tenham encontrado um no outro.
***
Isabella voltou a ala sul no final da tarde. Dava para ver que algo sério havia acontecido pois Hector estava arrancando seus cabelos castanho arruivados no escritório de Alexandre.
- Onde vocês estavam? – Exigiu assim que atravessaram a porta.
- Na capital – replicou Alexandre rapidamente. O primeiro-ministro fez uma expressão de inquisição, mas o Imperador não deixou que ele fizesse a pergunta. – Diga-me o que aconteceu.
- Os monstros simplesmente recuaram em Ossah.
A jovem piscou atordoada, aquilo não era bom?, ela fitou Alexandre duvidosa constatando que ele fazia exatamente a mesma expressão.
- E?
Hector parecia nervoso. – Há três semanas atrás, nós enviamos a terceira divisão à Ossah para lutar com o exército de monstros que se aproximava da fronteira da cidade. As coisas seguiram com normalidade, eles se posicionaram e as bestas os atacaram. Foi uma luta muito rápida e pouco intensa, quase não sofremos baixas e eles também não. No entanto, em certo ponto da batalha todos os monstros pararam como se recebessem um sinal e começaram a recuar. Ninguém entendeu ao certo o que estava acontecendo, por isso permaneceram em posição, no entanto os monstros não voltaram mais. Depois de três semanas o general de divisão Nisório voltou para capital com os soldados.
- Os monstros não recuaram apenas temporariamente?
- Não, eles realmente foram embora. Voltaram para suas respectivas tribos segundo nossos espiões.
Alexandre sentou-se no sofá e cruzou os braços pensativo.
- Isso não está acontecendo só em Ossah. Ocorreu o mesmo na província de Lincey e na Baía de Catersheld – acrescentou o primeiro-ministro.
Isabella franziu os sobrolhos. O que estava acontecendo? Primeiro os ataques de monstros começaram aumentar, em seguida passaram a se focar somente em Licrya e agora pararam completamente exatamente três semanas antes do Imperador viajar para fora do Império? Aquilo era estranho demais. Parecia a calmaria antes da tempestade.
Alexandre apoiou os cotovelos nas coxas, então pressionou suas têmporas enquanto inclinava o torso para frente. Seu rosto se matinha impassível, mas uma veia pulsava em seu pescoço ao interim que seu peito subia e descia irregularmente. Ele também não estava feliz com a situação.
- Por enquanto, vamos colocar vigias em todas as torres em um raio de dez quilômetros de Licrya – E olhou diretamente para Isabella ao proclamar sua próxima sentença – Na minha ausência, ao menor sinal de perigo, mande a primeira e terceira divisão direto para a fronteira. – Isabella assentiu. – Essas serão as medidas provisórias. Quando eu voltar, criarei uma equipe para averiguar a situação.
- Entendido, Vossa Majestade! – Aquiesceu Hector e se retirou do local.
A jovem se abancou ao lado de Alexandre languidamente. Não produziu um ruído sequer. Então vislumbrou-o de relance sentindo um medo anômalo e incontrolável tomar posse de seu corpo. Parecia haver um buraco em seu estomago sugando toda a tranquilidade do espaço, deixando-o insosso e esmarrido.
- Acha que... – hesitou – Acha que vai ficar tudo bem?
Ele estava tão irresoluto quanto ela. – Não sei. Isso nunca aconteceu antes.
***
Isabella estava na entrada da ala central enrolada em um cachecol cândido e roupas verde claro. Um monte de vapor branco saia de seus lábios meio roxos e lhe cercava feito uma bruma incorpórea. O sol ainda não havia se manifestado e não parecia que iria fazê-lo em breve. O fim do inverno já começava a autorizar que tons róseos, purpúreos e alaranjados preenchessem o firmamento e colorissem esse mundo que renascia a cada estação.
Os empregados enfiaram a última bagagem de Alexandre na carruagem envernizada em negro, com uma begônia rubra carimbada em suas frágeis portas. O cocheiro bateu as rédeas dos cavalos, eles relincharam e puseram-se a trotar tranquilamente enquanto davam lugar a uma outra carruagem com o mesmo talhe, porém vazia.
- Irei agora – avisou o Imperador.
Suas feições não expunham, mas seu tom de voz evidenciavam que ele não queria ir.
- Eu sei – respondeu melancolicamente.
Alexandre inclinou-se e pousou seus lábios rapidamente nos de Isabella.
- Até breve, Vossa Majestade – despediram-se Abel e Caim fazendo uma curvatura de quase noventa graus.
O Imperador abriu a porta da carruagem e a adentrou, lançando um olhar cheio de significância a jovem que esperou o homem de olhos carmim desaparecer pela estrada para adentrar novamente o palácio.
Seria a primeira vez que ela ficaria sem Alexandre. Foi como se uma montanha tivesse sido posta em seus ombros. Eles estavam rangendo feito loucos. Na Ausência dele, ela tomaria as decisões. Será que conseguiria realizar o trabalho com maestria? Isso só o tempo poderia dizer.
Os dias que se seguiram foram terríveis e tranquilos. Como algo podia ser terrível e tranquilo ao mesmo tempo? Isabella achava difícil de explicar, entretanto os habitantes do palácio pareciam compreendê-la. Nenhum monstro atacou a fronteira no primeiro dia, nem no segundo, tampouco no terceiro ou no quarto. Tudo se seguia de maneira pacífica e isso era assustador. A guerra ainda não havia acabado, uma trégua não foi estabelecida e os obskurs ainda tinham forças para lutar, mas os vigias não avistaram quaisquer bestas nos primeiros quatro dias. Não entenda mal, Isabella adoraria que a conjuntura continuasse se desenrolado suavemente, adoraria que Alexandre voltasse para casa e percebesse que seu reino e soldados permaneciam intactos, que seu maior problema fosse a pilha de trabalho acumulado lhe esperando em sua mesa. Conquanto, as entranhas da jovem se remoíam como se quisessem consumir a si mesmas. Algo iria acontecer e esse algo seria terrível. Ela pressentia.
Foi somente na manhã do quinto dia que os monstros começaram a marchar rumo à fronteira da cidade de Buelta. Hector lhe deu a notícia exasperado, é um batalhão normal, não parecem ter nada de estranho neles, mas alguma coisa não está me cheirando bem. Isabella pensava o mesmo, contudo encarou o ataque com um certo alívio. A calmaria era mais assustadora que a tempestade.
Ela despachou rapidamente a primeira e terceira divisão que já estavam a postos e aguardou as notícias. A ala sul ficou praticamente vazia depois que os soldados saíram.
Isabella ficou o dia inteiro inquieta, andando para cima e para baixo, sentando-se em sua mesa para fazer seu serviço e descobrindo que não conseguia se concentrar, tateando as páginas de seu livro sem ser capaz encontrar sentido nas sequências de palavras. Descobriu que era exatamente como Abedel lhe descrevera, paciente, contudo ansiosa. Quase não pôde dormir apoquentada, se revirou na cama repetindo para si mesmas vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, sem conseguir acreditar verdadeiramente em suas próprias palavras. A sensação de vazio em seu estomago não se esvaiu, ao invés disso, se alastrou e agora estava em posse de suas caixa toráxica e do ar em seus pulmões. Começou a hiperventilar.
Nunca entendeu como, mas em dado ponto da noite um pequeno peso se empoleirou em suas pestanas, deixando suas pálpebras tão pesadas que não conseguiu mais mantê-las abertas e caiu no sono.
Deveria ter se mantido acordada.
Quando ponteiro menor apontou para uma hora da manhã e parou de se mexer, um barulho alto chacoalhou-a de seu sonhos. Isabella sentou-se em sua cama assustada virando sua face para a origem do som. Tudo ficou em câmera lenta; pontinhos brilhantes viajavam pelo aposento iluminado pela luz do luar, pequenos estilhaços de vidro voavam em alta velocidade em todas as direções ao interim que o pulquérrimo tilintar dos fragmentos quebrados se perdurava no ambiente. O vento gélido da noite lhe açoitou. Seus olhos se cerraram, tentando enxergar através do breu, pousando onde a porta de vidro da varanda deveria estar. Deveria estar. Ao invés disso quatro figuras gigantescas se projetaram imponentes, invadindo seu quarto no meio na noite.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top