Capítulo XXV
Isabella acordou sentindo-se tonta. Ela grunhiu baixinho e pôs a mão sobre os seus cabelos bagunçados, tentando se recordar o que tinha acontecido na noite passada.
Na noite anterior, ela teve seu baile de introdução. Comeu, bebeu e falou com muita gente. Alguns legais, outros nem tanto. Mas o ápice de sua festa fora o Duque Meliakos. Depois de conversar com ele, a jovem se sentiu tão desgostosa que se dirigiu ao seu trono ao lado de Alexandre e lá ficou emburrada pelo restante do baile.
- O que há de errado? - perguntara o Imperador em um sussurro.
Isabella se perguntou se deveria falar-lhe sobre o que Duque Meliakos lhe dissera. Suas palavras ainda ecoando em sua cabeça, com quem ou quantos andou. Ela bufou. Alexandre piscou assustado ainda aguardando uma resposta.
"Se for a dele, creio que não me incomodaria em ver uma cabeça sobre a bandeja" pensou maliciosamente.
Embora o ódio que sentisse pelo nobre fosse real, acabou decidindo que não chegava ao ponto de querê-lo morto.
- Nada - disse por fim afundando em seu assento -, só estou um pouco cansada.
O homem de olhos vermelhos sorriu. - Eu te disse que bailes são um porre.
- Nem me fale.
Isabella rolou para fora de sua cama, quase caindo em seu carpete branco, e dirigiu-se à penteadeira. A maquiagem que ontem a deixara a par com as deusas, hoje a transformaram em uma palhaça. Seu cabelos estavam espalhados em todas as direções como um magnifico ninho. Ela afundou o rosto nas mãos e gemeu baixinho.
Em um suspiro, a jovem se ergueu rapidamente em direção ao lavabo e preparou seu banho - não sabia quando as empregadas viriam e não aguentaria esperar. Não naquele estado. - Isabella mergulhou na banheira quente sentindo seus músculos relaxarem. A água parecia possuir propriedades curativas e o vapor envolvia calidamente sua derme. Demorou-se ali. Ficou até que suas mãos estivessem completamente enrugadas. Não tinha nada para fazer naquele dia de qualquer jeito.
Quando saiu do banho, já se sentia como uma nova pessoa. Caminhou lentamente até o seu guarda-roupa envolta em um roupão no intento de escolher um vestido e vislumbrou, de maneira leve, a sua porta de vidro no processo. Foi aí que viu algo incomum. Branco. Mais branco do que jamais vira em toda a sua vida. Isabella correu para porta da varanda, deixando a ideia de escolher uma roupa para depois, e grudou a si mesma no vidro enquanto contemplava a neve espalhar-se por todo canto e descer linda e lentamente do firmamento azul congelado.
Isabella não pensou duas vezes, vestiu-se rapidamente sem prestar muita atenção em que e correu porta a fora quase passando por cima de Abel. Sequer reparou que estava usando botas de pares distintos.
- Você já está pronta, Vossa Alteza? - inquiriu surpreso ao interim que a jovem descia as escadas às pressas. - Onde você está indo? - Sua voz foi desvanecendo ao longe enquanto Isabella corria em direção ao jardim.
Ela parou quando viu um mundo completamente alvo, quase celestial, cativando-a a sua frente. Todo o solo estava coberto pela neve, não havia sinal do que antes fora uma terra negra e seca. Aquele espetáculo cândido e macio refletia a luz da manhã, fazendo com que o gelo se assemelhasse a pó de cristal. A neve também se acumulou nos galhos secos e retorcidos das árvores, enroupando suas copas nuas com um véu de noiva. Além disso, a geada se acumulara em seus troncos formando uma belíssima renda de gelo que cobria seus corpos esguios. O céu, que antes vinha sendo tão cinza e tão carregado agora era de um imenso azul glacial e cósmico.
Isabella suspirou, perfeito, apenas perfeito. Uma fumaça de aspecto esbranquiçado saiu de seus lábios enquanto dizia isso.
Logo Abel a alcançou, olhando-a com apreensão ao passo que perguntava - está tudo bem com vosmecê?
- É neve!
A jovem de cabelos dourados soltou um gritinho e se jogou na neve, sentindo-a atingir suas costas. Não era tão macia quanto pensou que seria, contudo amorteceu sua queda. Ela mexeu os braços e pernas para cima e para baixo, para um lado e para outro, fazendo um anjo de neve. Isabella nunca entendeu por que chamavam aquela cavidade assim, não tinha a menor cara de anjo. Mas aquilo não importava agora, o importante é que estava nevando em Licrya.
- O que você tem de errado, Vossa Alteza? - questionou Abel visivelmente preocupado.
Isabella deu uma risada eufórica vinda do fundo da garganta.
- Está nevando, Abel, nevando! - exclamou animada.
- Isso eu sei!
Nesse instante duas pessoas apareceram, um homem alto com os cabelos desgrenhados e um guarda asseado com uma cara séria.
- Que barulheira é essa? - indagou Alexandre passando a mão pelos cabelos desgrenhados.
- A Sua Alteza enlouqueceu - disse Abel encolhendo os ombros e apontado para Isabella.
O Imperador seguiu o dedo do guarda, vendo Isabella abrindo e fechando os braços em cima da neve sem nunca parar de rir. Já havia uns quatros anjos no chão, mas a jovem não mostrava sinais de parar seus buracos artísticos. O homem de olhos carmim seguiu em direção a sua noiva inclinando-se levemente para poder ver seu rosto melhor.
- Você está bem animada logo cedo, não é?
- É neve, Alexandre! É neve!
- Ela só fala isso! - grunhiu Abel a certa distância.
- O que tem a neve, Isabella?
- É muita!
O Imperador piscou. - É verdade. Ontem à noite caiu uma nevasca, você não ouviu?
- É neve! - repetiu quase em um sussurro, se sentando no chão e então agarrando aquele monte branco e macio em suas mãos, e mostrando para o homem de olhos carmim.
- Você está certa - concordou ainda sem entender muito bem.
Então Isabella jogou um bocado de neve em Alexandre que se esquivou com maestria. Ela riu e correu para detrás de um arbusto congelado.
- O que você está...? - Uma outra bola de neve voou em sua direção antes que ele pudesse concluir sua linha de pensamentos. Ele também desviou dessa.
- É uma guerra de bola de neve agora - gritou por detrás do arbusto.
- Eu não sei se estou com muita vontade de... - E mais um montinho branco, seguido por gargalhadas. - Ok, você pediu.
Isabella pegou mais um pouco de gelo chão, modelando-o, então espiou sobre a moita para atirá-lo, no entanto Alexandre não estava mais lá. Antes que ela pudesse escrutinar ao redor uma coisa dura e fria lhe atingiu as costas, e mais outra, talvez umas três. A garota virou-se sem conseguir encontrar nada se não uma árvore. Então mais uma bola de neve lhe atingiu a face. Em cima. Isabella ergueu a cabeça se deparando com o Imperador pendurado em um galho com um sorriso de triunfo.
- Como você foi parar aí? Você é um macaco por acaso? - Ele riu.
Aquilo não importava mais, pois a jovem aproveitou aquele momento de distração e arremessou mais uma bola de neve nele. O gelo voou, fazendo um arco perfeito e atravessando o exato local onde Alexandre deveria estar. Seria um acerto fenomenal se ele ainda estivesse ali. Onde o Imperador estava? Um golpe veio da sua direita. Não dava mais para ficar ali. Isabella correu sentindo os acertos lhe perseguirem sem sequer ter a ínfima noção de onde o homem estava.
Os dois continuaram assim por um bocado de tempo. A garota corria enquanto Alexandre lhe acertava. Ela se escondia e ele lhe encontrava. Parecia mais um massacre de bola de neve do que uma guerra de bola de neve. Quando encontrou um tempo para fazer as contas percebeu que não conseguira acertar o Imperador nenhuma vez sequer, sem falar que a jovem podia contar nos dedos as vezes que o viu. As vezes que Alexandre deixou que o vissem. Isabella precisava de um plano, não dava para vencê-lo na base da força bruta.
Antes que ela pudesse pensar em alguma coisa uma bola de neve lhe atingiu o queixo. A jovem sentiu a pele congelar e então arder ao mesmo tempo que seu corpo caia no chão com um baque. Isabella se encolheu enquanto gemia baixinho.
- Isabella? - chamou Alexandre. - Você está bem?
- Eu estou bem, não se preocupe - sua voz saiu embargada.
Ela sentiu o som dos passos se aproximando rapidamente, então mãos agarrando seus braços e virando-a. Aquele foi o momento perfeito para atirar uma bola de neve no Imperador. A garota riu baixinho enquanto via a neve escorregar pelo rosto mal-humorado de Alexandre.
- Parece que você está bem - balbuciou ao mesmo tempo que o gelo derretia e evaporava de sua face magicamente.
Isabella deu de ombros. - Eu falei.
- Não foi engraçado.
- É, mas eu ganhei.
- Eu tenho certeza de que acertei algumas centenas de bolas a mais que você - protestou.
- Mas considerando a diferença de força entre você e eu - foi dizendo Isabella, ora apontando para si, ora apontando para Alexandre - eu ter acertada pelo menos uma vez já foi uma grande vitória. - Ele bufou descontente. - Vamos deixar como um empate, então.
O Imperador inclinou-se até estar cara a cara com a jovem, e pousou seus lábios rapidamente nos dela antes de falar - eu ganhei - então deitou-se ao seu lado na neve enquanto Isabella ria e corava.
Os dois observaram o firmamento ofegantes, sentindo que a imensidão poderia lhes engolir. Alexandre virou-se para lado, capturando um vislumbre de Isabella com suas faces ruborizadas e o nariz vermelho. A neve em seu cabelo havia derretido e agora seus fios de ouro grudavam em sua pele embebida.
- Diga-me, por que estava tão animada com a neve?
Ela não desviou o olhar do céu. - É a primeira vez que eu vejo neve em toda a minha vida.
- Primeira? - sondou o Imperador, quase em um tom de acusação.
- É, alguma coisa errada?
Ele abriu a boca para falar alguma coisa, então balançou a cabeça com um deixa para lá. Isabella ficou curiosa, entretanto não insistiu em uma resposta.
Alexandre se perguntou como uma coisa tão simples quanto neve poderia deixar a jovem tão emocionada. Ele se lembrava claramente da primeira vez em que viu o mar. Tinha dezesseis anos e já havia lido sobre ele nos livros, contudo nunca o vira.
Naquele dia o Imperador teve de ir a península de Ashka para matar um monstro rei que subitamente emergiu no porto. Ele voou para lá, encontrando uma besta similar a uma enguia partindo um navio no meio com o poder de sua mordida. Ele pulou no barco e matou a criatura com certa facilidade. Só precisou fincar a Sepulcral uma ou duas vezes no coração da besta que sucumbiu, afundando no mar. O Impacto de seu corpo criou várias ondas que se arrastaram até quase atingir o horizonte. E foi ao acompanhar o quebrar dessas ondas que Alexandre finalmente foi capaz de contemplar o oceano. Brilhante e vermelho. Mas o cenário não o impressionou, estava com pressa para voltar ao palácio.
Quando perguntaram para ele o que tinha achado do passeio, a única coisa que pôde responder foi normal.
Conquanto Isabella não era como Alexandre. Ela conseguia encontrar beleza onde ele não via. No som, nas formas, nas cores, na luz. O mundo inteiro vibrava para ela em uma sinfonia pulquérrima. E Alexandre a idolatrava por isso.
As palavras ecoaram na cabeça do Imperador, é a primeira vez que eu vejo neve em toda minha vida. Aquilo ficou preso com ele por muito tempo. Primeira. Uma coisa tão sem sentido e ao mesmo tempo tão reveladora de se dizer.
***
Finalmente era 27 de dezembro, o aniversário de Alexandre.
Isabella queria fazer algo especial nesse dia que ele dava tão pouca importância, mas o que fazer? Conhecendo a personalidade do Imperador ela sabia que uma festa não seria nada mais do que um estorvo, tampouco achava que algum presente caro o faria feliz, nem a presença de seus amigos - que a jovem suspeitava que Alexandre não tinha. - Então o que poderia fazê-lo contente? Isabella não tinha ideia, por isso ela vinha perguntando as pessoas que o conheciam a mais tempo nas últimas duas semanas.
Primeiro foi Rowa:
- Um presente para o Imperador? Deixa-me pensar... hum... - Ela inclinou a cabeça e franziu o cenho. - Desculpa, nada me vem em mente.
Sua Alteza suspirou e foi até seu próximo informante, Abedel:
- Acho que algo útil, talvez um novo tipo de arma mágica capaz de matar um monstro rei - foi a resposta racional de Arquimago.
Isabella conseguia imaginar um semblante repleno de satisfação de Alexandre ao receber algo como isso, contudo uma arma era algo que ela não era capaz de prover. Não lhe restou opção se não falar com Eleanor:
- A cabeça de todas as pessoas que ele odeia em uma bandeja - sugeriu entre risos.
A resposta dos outros foi tão pouco útil quanta as dos anciões. Hector disse menos trabalho, Caim propôs que Isabella comprasse um livro e Abel sugeriu que Sua Alteza se enrolasse em um laço e se entregasse de presente. Esse último a jovem fez questão de ignorar.
Foi somente três dias antes do baile imperial que Isabella foi capaz de conseguir uma ideia. Ela deitou-se em sua cama e observou as videiras vívidas em seu teto, tão eternas que mesmo o inverno cortante não era capaz de embalá-las. Nesse momento, Clementina bateu à porta e adentrou seus aposentes carregando um cesto. Vinha recolher as roupas sujas.
- Boa tarde, Isa... Vossa Alteza - cumprimentou se dirigindo ao banheiro, - está entediada?
- Na verdade, não - replicou sem se mover.
- Então está descansando? - indagou. O lavabo fez com que sua voz ecoasse.
- Estou pensando.
- No quê? - inquiriu despretensiosamente.
Isabella imaginou que não havia mal em explicar para ela. - O que você acha que seria um bom presente para o Imperador?
- Se fosse eu, acho que gostaria de receber uma carta da pessoa que eu gosto, flores ou então comida caseira. Mas talvez algo como isso não agrade muito Sua Majestade. - A jovem loira sentou-se na cama como se tivesse tido uma epifania.
Quem diria que a resposta mais simples e singela poderia ser a melhor.
Isabella rapidamente começou a fazer preparações em uma corrida contra o tempo. Ninguém conseguiu compreender suas ações, muito menos tentaram pará-la apesar de não acreditarem nem por um segundo que Alexandre pudesse gostar daquela tralha. A jovem não se importou com a opinião alheia, podiam conhecer o Imperador por um longo tempo, mas não o conheciam como ela.
Então finalmente chegou o dia do aniversário de Alexandre. Isabella esperou o véu da noite cair ao lado do escritório do Imperador para interceptá-lo assim que saísse de lá. Não demorou muito e ela pôde ver a maçaneta girar e então a porta se abrir com um ranger leve. O homem de olhos carmim se projetou de lá, usando um sobretudo preto, fino e nada adequado para aquela noite de inverno. Ele enfiou as mãos nos bolsos enquanto contemplava Isabella e deixava que uma nevoa brilhante escapasse de seus lábios.
- Precisa de alguma coisa? - perguntou preguiçosamente.
- Me siga - pediu sorridente.
- Onde estão Caim e Abel? Não os vejo a horas - indagou escrutinando ao redor. Isabella não respondeu e começou a andejar. - Para onde estamos indo?
- Sem perguntas. Vai estragar a surpresa.
Alexandre deu de ombros. De algum jeito, ele parecia estar se divertindo. - Como quiser, Vossa Alteza.
Os dois caminharam lado a lado pelos corredores. O cenário mudava languidamente até que as portas do quarto da jovem puderam ser vistas aproximando-se lentamente.
- Nossos aposentos? - Isabella assentiu. - Não precisava me trazer para cá, eu já estava vindo de qualquer jeito.
- Eu não podia ter certeza.
Ambos adentraram a alcova e Alexandre reparou com certa curiosidade um cheiro doce de frutas inundando o ar.
- Sente-se - pediu a garota de cabelos loiros apontando para uma mesa de onde um bolo se projetava. Era de lá que vinha o cheiro doce.
- Você está tão autoritária hoje.
Isabella encolheu os ombros, então tornou-se hesitante por qualquer que fosse o motivo.
O Imperador foi em frente e abancou-se. O balsamo cítrico invadiu suas narinas e espalhou-se pela sua língua. Era um pouco enjoativa, contudo não o incomodava de todo. Ao contemplá-lo um pouco melhor, ele reparou que o bolo não era exatamente o que estava acostumado a ver em sua corte. Parecia singularmente caótico. Isso não prendeu sua atenção por muito tempo. Ele logo pôs-se a observar a jovem pelo canto do olho enquanto fingia não estar olhando-a. Ela se aproximou timidamente do armário e tirou algo de lá de dentro. Um monte de rolos brancos e algo que se assemelhava a uma carta. As pontas de suas orelhas queimavam em rubro. Em seguida Isabella girou os calcanhares em sua direção. Alexandre voltou seu olhar para o bolo, ouvindo passos cada vez mais próximos, então o arrastar de uma cadeira.
- Feliz aniversário - murmurou Sua Alteza com as faces em chamas estendendo o monte branco, que revelou-se ser um buque de flores de papel e uma carta.
O Imperador Vermelho piscou confuso. - São para mim? - Ela fez que sim. - Obrigado - agradeceu meio sem jeito, pegando seus presentes e posicionando-os em seus braços.
- Eu queria te dar algo especial em seu aniversário. Flores, um bolo e uma carta. Mas não tem flores no inverno, então eu as fiz de papel. Pelo menos vai durar para sempre. O bolo não saiu exatamente como eu planejava, ainda assim o seu gosto está bom - eu acho. - A carta foi a única coisa que saiu exatamente como eu queria. De qualquer jeito, eu espero que você goste.
De súbito, Alexandre pousou seus lábios sobre os de Isabella, sentindo sua textura, calor e maciez. Ela sugou o ar e agarrou-se a blusa do homem de olhos vermelhos que logo se afastou e a fascinou com seu semblante.
- Obrigado. - Havia sinceridade brilhando em suas janelas da alma. - De verdade.
O silêncio se instaurou no ar. A tensão era uma parede de aço palpável. A jovem crispou seus lados então mirou o bolo a sua frente.
- Gostaria de um pedaço? - ofereceu tentando mudar de assunto.
Alexandre sorriu. - É claro, mas antes deixe eu ler essa car...
- Não! Leia quando estiver sozinho em seu quarto!
Ele arqueou uma de suas sobrancelhas - por quê?
- Porque é muito vergonhoso.
- Por quê?
- É sério que você, de todas as pessoas, está me perguntando isso?
De supetão, o Imperador envolveu seus braços ao redor dos ombros de Isabella, parecia querer lhe dar um abraço, mas antes que ela pudesse entender o que estava acontecendo, ele segurou seus dois pulso com a mão esquerda, prendendo a jovem contra seu peito e abriu a carta com sua mão direita, colocando-a na altura dos olhos.
- Vamos ver isso aqui - sibilou maliciosamente.
- Não! - Isabella gritou enquanto se debatia e se contorcia sob seu aperto. Ela tentou mordê-lo também, mas era como morder um muro de cimento. - Hipócrita!
Ele não se incomodou com isso e começou a ler com sua voz meio rouca - Alexandre...
- Não leia em voz alta! - implorou. - Tudo menos isso!
O Imperador se calou. Pelo menos a esse última pedido ele acatou.
Alexandre, hoje você está fazendo vinte um anos. Não faz muito tempo que nos conhecemos, mas eu já o tenho em grande estima. Não sei ao certo o que escrever, tenho tantas coisas que quero falar-lhe e perguntar-lhe, mas assim que pousei minha caneta nesse papel tudo se apagou. De qualquer forma, sinto que sei pouco sobre você. Muito pouco. E quero saber mais. Desejo ser a pessoa que lhe conhece melhor e almejo não precisar descobrir mais sobre ti da boca de outros. Apesar de querer saber mais, não quero que me diga tudo agora. Desejo saber um pouquinho mais sobre ti bem aos pouquinhos. Um pouquinho hoje, um pouquinho amanhã, um pouquinho daqui a um ano e um pouquinho daqui a dez anos. De pouquinho em pouquinho até o dia de nossas mortes.
Amarei-te um pouquinho mais todos os dias.
Isabella.
- É uma carta tão bonita, não sei por que estava com vergonha - foi dizendo enquanto soltava Isabella. Ela não respondeu. - O que é isso? Tratamento de silêncio?
- Eu te odeio - cuspiu virando-se para o lado e cruzando os braços.
- Mas nessa carta você claramente disse que me amava.
- Sentimentos mudam. Agora eu odeio-te.
Alexandre inclinou-se, repousando os lábios no pescoço da jovem. - Sério mesmo?
A jovem vislumbrou-o pelo canto do olho, soltando em um grunhido baixo algo semelhante a um não.
O Imperador virou-a para si rindo. A risada dele fez com que a raiva dentro de Isabella derretesse. Em seguida, ele a beijou. Ela retribuiu o beijo, puxando-o para mais perto, sem nunca parecer perto o suficiente. Seus lábios se tornaram mais rápidos, mais agressivos, mais exigentes. Em um ímpeto, Alexandre agarrou a cintura da jovem e levantou-se com ela em seus braços. Isabella não se incomodou, enrolou suas pernas ao redor dele enquanto ele andava vagarosamente e a colocava na cama. Sua Alteza sentiu sua cabeça atingir os travesseiros. Ela entrelaçou os dedos da mão direita na crina do Imperador e acariciou os músculos torneados de seu braço sem desgrudar sua boca da dele nem por um segundo sequer.
Alexandre se afastou, seu peito subia e descia ofegante.
- O que foi? - indagou Isabella percebendo que estava tão ofegante quanto Sua Majestade.
Ele apenas estreitou os olhos.
- Está esperando que eu te dê permissão? - inquiriu sorridente.
- Talvez.
A jovem riu. - Pois bem, eu te dou permissão.
- Certeza? Não quero que se arrependa depois - avisou.
- Talvez você se arrependa.
Alexandre grunhiu. Ele tirou seu sobretudo e então a camiseta. Isabella prendeu a respiração durante todo o processo e então vislumbrou seu tronco musculoso e desnudo. Era ainda melhor do que tinha imaginado. Seu peitoral, seu abdômen e seus braços pareciam a obra prima de um Deus genial e entediado. Entretanto não foi seu corpo torneado que verdadeiramente chamou a atenção da garota. Foram as cicatrizes. Tantas e com os mais variados tamanhos. Algumas pareciam extremamente antigas e outras mais recentes, algumas eram mais profundas e outras mais superficiais. Isabella contraiu os lábios. Queria perguntar, entretanto não hoje. Hoje é um dia especial. Pensou ao interim que sorria e lhe lançava um olhar convidativo.
O Imperador se curvou sobre Isabella, aproximou a boca de sua orelha e sussurrou enquanto deslizava a mão sob seu vestido.
- Sendo sincero, Isabella, eu venho desejando fazer amor com você desde a primeira vez que eu te vi - balbuciou ao pé do seu ouvido.
Ela riu e então envolveu o pescoço de Alexandre. - Eu também.
***
Nota da autora:
Para aqueles de vocês que talvez esperem uma cena hot na próxima semana, eu já lhes deixo avisado que não terá. Não desejo que vocês, meus caros leitores, criem expectativa e acabem por enfrentar uma decepção profunda.
Não há cenas de sexo explicito nessa obra, afinal ela não é classificada como madura.
Com isso avisado, até semana que vem.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top