Capítulo XVI

Isabella bateu três vezes na porta.

- Entre – entoou a voz do Imperador.

Uma cabeça amarela se projetou das portas marrons tal qual um milho brotando da terra.

- Você ainda não terminou – constatou ao ver Alexandre debruçado sobre uma pequena pilha de papéis em sua escrivaninha.

- Eu já vou acabar, você pode se sentar e me esperar.

- Eu meio que já sabia – murmurou enquanto apontava para o livro de capa rosa que havia trazido consigo.

Isabella andou até o assento acolchoado e sentou-se elegantemente deixando que a porta rangente atrás de si se fechasse sozinha. Não havia mais ninguém no escritório além dos dois, nem mesmo os gêmeos.

- Eu sinto muito, apesar de eu ter combinado que iria andar de barco com você, eu ainda não consegui terminar com essa papelada.

- Não se preocupe com isso, eu sei que você é uma pessoa ocupada – confortou enquanto procurava a página onde havia parado em 'sussurros do coração', a continuação de 'Batidas Incoerentes do Coração'.

Há algum tempo atrás, em uma das caminhadas de Isabella pelo jardim, ela avistou um lago brilhando em laranja sob o arrebol. Nos arredores do lago, diversas árvores se estendiam do chão com suas copas vermelhas e laranjas. As folhas que caíam dessas árvores vestiam o lago de um longo e exímio tapete rubro que se movia conforme o tremeluzir das águas. O conjunto de todas essas coisas formava uma das paisagens mais pulquérrimas que a jovem já vira.

- Eu não sabia que tinha um lago aqui – comentou com Caim enquanto seus olhos brilhavam como lápis lazúlis.

- É que você nunca passa por aqui, Vossa Alteza.

- É mesmo?

- É mesmo.

- Bem, não acha que um passeio de barco aqui seria incrível?

- Seria normal, acho.

Embora aquele tivesse sido um comentário que Isabella fez por capricho, não se demorou para que Alexandre realmente a convidasse para um passeio de barco naquele mesmo lago.

A jovem de olhos índigo espiou o imperador por cima das páginas de seu livro. Os olhos encarnados de Alexandre se moviam de um lado para o outro acompanhando o ritmo de suas mãos. 

Isabella adorava o rosto dele, ainda que outros o considerassem aterrador. Gostava do formato de suas sobrancelhas levemente franzidas. Gostava de seus cabelos negros partidos ao meio, criando uma espécie de coração com sua face longa e mandíbula angular. Também gostava de seus lábios rubros harmoniosos e tentadores. E gostava ainda mais de seus olhos afiados e vermelhos. Olhos que guardavam uma gentileza que quase ninguém notava.

- O que foi? – indagou o Imperador sem desviar sua atenção dos papéis em sua mesa.

- O que foi, o quê?

- Você está me olhando tanto, imagino que queira falar alguma coisa.

– Como sabe que eu estou te observando? – indagou meio indignada. – Você nem tirou os olhos do papel.

- Seria estranho eu não notar com você perfurando a minha testa. – replicou estreitando os cantos da boca. - Então, por que estava me observando?

- Nada em particular – mentiu.

- É mesmo? – Isabella assentiu. 

Não parecia que ele estava particularmente interessado no assunto pois não insistiu em uma réplica.

Isabella voltou a enterrar o rosto nas páginas do livro de Sallya, tentando distrair-se enquanto o Imperador terminava o que quer que estivesse fazendo. Não tinham muitos papéis e ele era bem rápido, então não parecia que o serviço iria se delongar muito.

De fato, não demorou.

Alexandre se levantou de sua escrivaninha e materializou-se em frente a Isabella como quem convidava-a para partir, contudo ela estava distraída demais com o exemplar em suas mãos para sequer se dar ao trabalho de erguer os olhos.

- Só me deixa terminar esse capítulo... – pediu completamente fixada na história.

- Esse é meu castigo por te fazer esperar? – A jovem riu.

O homem de olhos vermelhos jogou-se no sofá ao lado de Isabella e inclinou um pouco a cabeça a fim de ver o que ela lia.

- Esse livro é tão bom assim?

- Hum... sim, mas não acho que você vai gostar.

- Tente – pediu enquanto encarava Isabella como quem não aceitaria um não como resposta.

- Bom, é um romance sobre... – antes que a jovem sequer pudesse começar a explicar, Alexandre fez uma careta de repulsa que não pôde ser ignorada -, mas que cara é essa?

- Então é um romance... – Ele parecia infeliz enquanto dizia isso.

Isabella piscou algumas vezes, completamente descrente com a atitude infantil do Imperador – Você não gosta de romances?

Alexandre apenas estreitou seus olhos e deu um suspiro como resposta.

- Por quê?

- Não tem um por quê, só os acho repugnantes.

- Ah para! Eu não aceito isso como resposta.

- Você não precisa aceitar, é a verdade.

- Então me explica o que exatamente é repugnante.

Ele parou para pensar por alguns instantes antes de responder. – Por exemplo, a maneira como as protagonistas vivem caindo, mas sempre tem alguém para pegá-las, não parece surreal demais?

- É um clichê, mas é fofo.

- Não é só isso, mesmo que a personagem não tenha atrativos ou confiança, as pessoas sempre se apaixonam por ela. Isso não faz sentido.

- Isso é feito para as pessoas se identificarem.

- Além do mais, as rivais ou inimigas da protagonista, ou como quer que você as chamem, todas elas são bonitas, burras e com uma péssima personalidade. Isso não é terrivelmente preconceituoso e ofensivo?

- Eu não vou mentir, eu concordo com você nesse ponto.

Por um bom tempo Alexandre continuou discorrendo sobre todas as razões pelo qual ele não gostava de romances, chegou a um ponto em que a jovem de cabelos dourados não conseguiu se aguentar e começou a gargalhar. Sua risada ecoou por todo aposento ao mesmo tempo que jogava seu corpo tremulo para frente e para trás em uma espécie de transe. – Eu meio que suspeitei que você não gostasse de romances quando passei por sua biblioteca e me deparei com inúmeros gêneros de livros exceto esse, só que não pensei que fosse a esse ponto.

O Imperador fez uma careta, estava surpreso que alguém se atrevesse a zombar dele. Ele não se sentiu necessariamente insultado já que o ofensor era Isabella, na verdade a emoção que o arrebatou era mais semelhante ao prazeroso do que ultrajante, no entanto ele reconheceu uma certa necessidade de fazer alguma coisa.

Sem pensar muito Alexandre tomou o livro das mãos da garota, percebendo que a sua ação repentina fê-la parar de gargalhar.

- Deixa eu ver isso aqui – os olhos do Imperador passaram pelas páginas repletas de letrinhas miúdas – Demian era geralmente muito gentil...

Isabella quase teve um surto quando percebeu que ele lia a história voz alta.

– Me devolve.

Alexandre não parecia querer dar ouvidos. -... Mas naquela noite ele estava diferente, havia desejo brilhando em seus olhos quando ele me empurrou na cama...

- Desculpa, eu não vou mais rir de você, só me devolve.

O Imperador sabia que deveria ter parado, mas assim que viu o rosto de Isabella ruborizando, seu instinto foi de continuar provocando-a.

-... Então, como se fossemos as únicas pessoas do mundo, Demian segurou minha mão e disse 'não pense que eu vou te deixar dormir hoje à noite'...

Com muito esforço, e parcialmente porque Alexandre deixou, a garota de cabelos dourados conseguiu tomar a cópia das mãos dele, ainda que com o rosto em chamas.

- Não entendo por que você gosta disso, é tão mal escrito.

- Eu sei que essa história não faz seu estilo, mas sabe – começou com seus olhos índigos fuzilando-o com todo o seu ser -, nem todos os romances são assim, você não pode simplesmente colocar todos eles em uma mesma categoria. Quando as pessoas leem uma história de amor, elas sabem que é tudo lorota, que esse tipo de coisa não acontece na vida real, mas isso não as impede de aproveitar, certo?

Alexandre contemplou o rosto afogueada de Isabella com uma sensação estranha apertando seu peito. Quando se tratava dela, seus sentimentos sempre se tornavam esquisitos. E aparentemente sua imprudência instintiva sempre vinha à tona.

De supetão, o Imperador colocou sua mão sobre o ombro da jovem, empurrando-a levemente em direção ao sofá, obrigando-a a se deitar. O coração dela acelerou, ela não foi capaz de resistir, não, ela só não queria resistir. O homem de cabelos negros contemplou-a de cima, tentação bruxuleando em sua olhar.

Alexandre sempre fora meio erótico sem precisar se esforçar para isso, mas a lascívia que ele vinha a interpretar nos últimos segundos tornavam-no uma criatura quase injusta.

- Não pense que eu vou te deixar dormir essa noite – murmurou com sua voz ríspida ao mesmo instante que um sorriso ébrio de luxuria brotava em seus lábios.

A jovem pensou em falar mas ainda é dia, entretanto decidiu ficar de bico fechado para não estragar o momento. Ele estava interpretando o personagem do seu livro. Isabella não entendia o porquê, mas sabia que estava gostando e não queria que acabasse ainda.

A garota de cabelos loiros prendeu a respiração perdidamente fascinada. O Imperador apoiou sua mão no sofá e então inclinou-se levemente sobre Isabella até que seus lábios estivessem a poucos centímetros de distância de sua orelha.

- A vida real não é muito mais interessante que um livro? – balbuciou ao pé do seu ouvido, provocando arrepios na jovem.

"Viva a vida real!" pensou em júbilo ainda que seu rosto estivesse vermelho e paralisado devido ao choque.

Isabella tinha certeza de que daquela distância ele era capaz de ouvir as batidas de seu coração. De fato.

O relógio tocou de súbito. Anunciava que já eram onze horas da manhã. Os dois deveriam ter saído de lá as dez.

- Precisamos ir agora ou não vamos voltar antes das três – apontou endireitando-se e ajudando a garota a se sentar.

Isabella não conseguiu evitar se sentir meio injustiçada enquanto os dois se apressavam porta a fora. "Por que sempre tem alguma coisa para atrapalhar" pensou enquanto fazia beicinho.

Alexandre não parecia demasiado incomodado, se estava não dava para notar. Ele estendeu o braço em um sinal para que a jovem o segurasse, o que ela fez sem pensar muito no assunto. E então, ambos caminharam com um pouco de pressa por entre as trilhas do jardim.

Em certo ponto, Isabella parou dizendo um ah enquanto cravava as unhas nos bíceps de Sua Majestade.

- Quase me esqueci! – exclamou.

- O quê?

Ela enfiou as mãos dentro de um compartimento escondido em seu vestido azul escuro e tirou um pedaço de papel meio amassado de lá, estendendo para Alexandre. Ele tirou o papelzinho de suas mãos e leu as letras cursivas em alguns poucos segundos. Não havia mais do que duas linhas:

Soube que visitou o campo de treinamento recentemente, Vossa Alteza.

Aguardo sua visita em breve.

Abedel

- Abedel é o Arquimago, não é?

- É.

Alexandre amassou o papelzinho e o enfiou no bolso, puxando Isabella de volta a caminhada.

- Acha que eu deveria ir? – inquiriu esforçando-se para não enfiar a bota em uma poça de lama. Havia chovido aos montes na noite anterior.

- Só se você quiser.

Logo, ambos chegarem a um cais onde um barquinho de madeira estava preso por uma corda em um nó de marinheiro, pelo menos o que Isabella pensou ser um nó de marinheiro. A jovem foi a primeira a subir enquanto era ajudada a se manter em pé por Alexandre. Depois de desatar o nó, veio o Imperador, que diferente de Isabella não pareceu um completo idiota enquanto se equilibrava no bote.

Ele pegou os remos do barco e posicionou-os para navegar ao interim que a garota de cabelo dourados enterrava seus olhos nele.

- O que foi? Você que tentar? – indagou divertido.

- Na verdade, sim.

Alexandre piscou os olhos em uma expressão que poderia ser atordoada ou pensativa, mas não durou muito. Ele deu de ombros e disse fique à vontade ao mesmo tempo que entregava os remos a Isabella.

Isabella pegou os remos e começou a empurrá-los para frente e para trás. Para sua infelicidade, o barco não estava se movendo como deveria.

- Você não pode só movê-los para frente e para trás, tem que fazer movimentos circulares – instruiu Alexandre, desenhando um círculo no ar com seu dedo indicador.

Ela seguiu o conselho percebendo com satisfação que finalmente saíra do lugar.

- Nunca conheci um imperador que soubesse remar um barco – brincou dando uma risadinha nasal.

- Você deve ter conhecido muitos imperadores, não?

Embora tivesse seguido as instruções de Alexandre, Isabella ainda sentia que não tinha metade da eficiência de uma pessoa normal. Esse sentimento se intensificou quando o barco chegou no meio do lago e a jovem constatou que seus braços pareciam duas salsichas de tão molengas. O lago nem era tão grande assim.

- Acho que dá para descansar aqui – ponderou Alexandre enquanto recolhia os remos.

- O que fazemos agora? – questionou inclinando-se um pouquinho para frente.

- Você faz o que quiser, eu vou descansar.

Dito e feito, Alexandre se deitou, apoiando sua cabeça nas mãos e cruzando as pernas. Não parecia muito confortável, nem muito imperial.

- Você não é muito relaxado para ser um Imperador?

- Que cisma com esse negócio de Imperador. – Apesar de suas falas saírem um pouco ríspidas, dava para ver que ele estava se divertindo. – Não é como se eu pudesse agir feito um imperador o tempo todo. Também não é como se eu fosse agir casualmente na frente dos outros.

Outros. Isabella ficou feliz ao perceber que para Alexandre, ela já não fazia mais parte dessa categoria.

- Além do mais, eu nunca quis ser Imperador para começo de conversa, eu seria completamente feliz sendo um pescador em alguma vila remota de Licrya.

A garota de cabelos dourados arregalou os olhos estupefata. – Você não queria ser o Imperador?

Segundo os boatos Alexandre tinha matado os pais e os irmãos aos quinze anos e assumido o trono. Isabella nunca ouviu uma resposta definitiva sobre isso, então preferia não pensar muito no assunto, mas se o que Sua Majestade tivesse dito fosse verdade, então a história talvez fosse um pouco mais complexa.

- Se você não queria ser o Imperador, por que virou um? – Silêncio. – Alexandre?

- Hoje é um dia bonito.

Era realmente um dia bonito. Apesar do céu pálido de outono e do tempo frio, as árvores ainda refletiam a luz, e o lago ainda resplandecia em carmesim. Mas isso não era uma temática para agora.

- Está tentando mudar de assunto. – Não foi uma pergunta.

- Não é um assunto legal para um dia desses.

Isabella não estava nem um pouco satisfeita com a resposta que havia obtido, entretanto não insistiria.

- Ainda teria aceitado se casar comigo se eu não fosse um Imperador? – perguntou meio que de brincadeira.

- Eu não me tornei sua noiva porque você é um Imperador – respondeu categoricamente. – Eu pensei que você já soubesse disso.

Durante o restante do tempo que eles ainda tinham, Isabella contemplou o lago e seus arredores ao mesmo tempo que seu barco balançava gentilmente para lá e para cá – as árvores farfalhavam delicadamente a cada vento que lhes tocava e suas folhas se desprendiam como quem não quer nada e viajavam até a superfície dos lago. A água era escura, suficiente para que Isabella pudesse ver seu próprio reflexo com clareza. Tinha esse tom cinzento pois espelhava o firmamento, entretanto quando Isabella segurava-a em suas mãos, ela se tornava completamente transparente enquanto escorria por seus dedos –, Alexandre ficou completamente imóvel durante todo o tempo com os olhos bem cerrados. Impossível dizer se estava dormindo, acordado ou se desvencilhando do assunto.

Depois de algumas horas, o Imperador abriu os olhos e sentou-se com seus cabelos caóticos. Tinha um ar um pouco grogue, o que entregava que ele estava de fato dormindo.

- É melhor... a gente voltar – aconselhou preguiçosamente.

- Ok, agora você rema.

Alexandre sorriu sedutoramente e então inclinou-se para frente, o suficiente para que seu nariz e o de Isabella quase se tocassem. Ela deu um sobressalto, mas tentou se manter o mais imóvel possível. "Será que finalmente...?" pensou com certa esperança, contudo ele só queria o remo atrás de si.

- Certo, vamos lá – ciciou prestes a posicionar os remos, mas parando assim que pousou seus olhos na jovem. – O que foi?

O rosto de Isabella estava vermelho do queixo a raiz do cabelo, seus lábios estavam espremidos e seus cantos esticados para baixo, além dos sobrolhos loiros perfeitamente franzidos.

- Por que você faz isso? – questionou agarrando seus joelhos.

- Isso o quê?

Isabella lançou um olhar acusatório em sua direção.

- Me ilude desse jeito.

- Eu não sei do que você está falando – respondeu na defensiva.

- Toda vez que eu penso que você vai me beijar, você simplesmente se afasta. Isso não é justo.

Alexandre piscou atordoado, sem realmente acreditar nos próprios ouvidos. Isso só durou por poucos segundos. Ele se aproximou e agarrou a mão de Isabella, notando seu pulso acelerado e obrigando-a a olhá-lo nos olhos.

- Me desculpa – pediu com sinceridade. – Não vai se repetir.

De súbito, o Imperador pressionou seu lábios contra os da garota, sentindo sua boca tremeluzir e mover-se lentamente. Alexandre envolveu seus braços ao redor de Isabella, fazendo com que seus corpos se tornassem mais próximos. No começo, o beijo foi vagaroso, suas línguas se tocavam de forma tímida como se ambos estivessem saboreando algo o mais lentamente possível, algo que eles quisessem guardar para mais tarde. Contudo o beijo se tornou agressivo, demandando mais, sem nunca ser suficiente. Isabella sentia as mãos grandes de Alexandre moverem-se por suas costas. Segurava seu ombro, ou sua cintura, ou a curva de seu dorso, sempre tentando trazê-la para si, sem nunca ter certeza de onde deveria tocar. Ela própria tinhas as mãos entre os cabelos dele, puxando-o para mais perto enquanto reconhecia sua respiração ofegante não muito diferente da dele.

Nos braços um do outro daquela forma eles não tinham certeza de nada, só de que iriam se atrasar.

***

Hector e Abedel caminhavam pelas margens do lago. Abedel era um homem grande, tinha mais de dois metros de alturas e usava uma manta meio roxo acinzentado. Tinha um cavanhaque longo e cabelos ralos. Suas bochechas pareciam se afundar em seu rosto e seus olhos eram esbugalhados e semicerrados.

- Eu não pensei que você enviaria uma carta para Sua Alteza – revelou o primeiro-ministro com um meio sorriso.

O Arquimago não demonstrou reação. Era difícil saber o que ele pensava, ou se estava pensando.

- Alexandre foi meu melhor pupilo, e o mais querido também – replicou simplesmente.

- Se seus outros alunos ouvissem isso, eles ficariam magoados.

Abedel calou-se. Seus olhos vidrados se moveram para o lago, pelo menos era o que parecia. Ele também poderia estar apenas comtemplado o vazio como fazia em diversas ocasiões. Quando vinha de Abedel, nada nunca era uma certeza.

Por um instante, as sobrancelhas grossas, longas e falhas do velho tremeluziram. Ele se virou abruptamente para o primeiro-ministro e inquiriu, nem alto nem baixo, com seus lábios trépidos e secos:

- O Imperador tinha um compromisso hoje?

Hector franziu as sobrolhos, reflexivo. – Ele iria andar de barco hoje com a Sua Alteza, mas essa hora eles já deveriam ter voltado.

- Nesse lago em que estamos agora?

- Sim, esse mesmo.

Tudo ficou em silêncio. Abedel tinha seus olhos pregados em Hector, deixando-o desconfortável.

- Por que a pergunta? – questionou em uma tentativa de quebrar o gelo. – Eles ainda estão aí? Deixe-me ver...

- Vamos voltar – ordenou autoritário.

O Arquimago não esperou ouvir um sim, ele se moveu adentrando onde as árvores eram mais densas, quebrando os galhos e folhas secas sob seus pés no processo, crash, crack, crash.

Hector seguiu logo atrás com suas roupas engomadas.

- Eu não entendo, o que está acontecendo? – perguntou perplexo. Sem resposta. – Arquimago, espera.

- Você é sem noção mesmo, Hector – declarou por fim.

***

Nota da autora:

Ás vezes, escrever dá muita preguiça...

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