Capítulo XI

- Respire pelo nariz e expire pela boca – murmurou Isabella para si mesma sentindo o corredor alongar-se a sua frente.

A jovem loira sentia-se nervosa e apreensiva. Olhos brotaram das estruturas desertas da ala sul, observando cada movimento seu e julgando-a sem misericórdia.

Caim estava a sua frente. Ele guiava o caminho, silencioso como o usual - era um tanto incomodo se comparado a Abel.

Depois de uma espera generosa, Isabella finalmente teria seu tão aguardado café da manhã com Sua Majestade. O nervosismo e expectativa tomavam conta de seu âmago enquanto a garota de olhos azuis passava as mãos repetidamente em seu melhor vestido, perguntando a si mesma se sua aparência era adequada para uma alteza. Não precisou pensar muito para obter uma resposta.

A entrada se aproximou rapidamente ao ínterim que o guarda se postava a sua frente, batendo na porta três vezes e aguardando uma reposta.

- Entre. – A voz do Imperador fez com que arrepios agradáveis se espalhassem pelo corpo de Isabella.

Caim empurrou a porta esbranquiçada com arabescos dourados e abriu o caminho para Sua Alteza a um belo aposento iluminado com tons de creme.

Não havia quase nada naquela câmara, apenas duas empregadas posicionadas em pé na parede, uma pequena mesa alva e redonda, com um bocado de diferentes comidas sobre ela, e duas cadeiras, uma em frente a outra. Em uma delas habitava o homem de olhos vermelhos preenchido por uma expressão de profundo tédio.

Isabella engoliu em seco e caminhou até lá. Sua Majestade virou o rosto e a encarou, quase fazendo-a tropeçar em seus próprios pés pela vergonha.

- Que a graça esteja com a Vossa Majestade – saudou curvando-se desajeitada.

- Já basta disso, não? – inquiriu em um suspiro. – Você planeja se curvar para mim e me chamar de "Sua Majestade" pelo restante da sua vida?

Isabella piscou confusa. – O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que estamos noivos e logo estaremos casados, passaremos muito tempo juntos. Se você se curvar para mim e me chamar de Sua Majestade em todas as ocasiões que nos encontrarmos, não seria desconcertante?

A jovem de olhos azuis tamborilou os dedos e riu envergonhada: - Quando você coloca desse jeito, parece um pouco desconfortável mesmo....

Com passos vagarosos, Sua Alteza andou até a mesa e abancou-se desgraciosamente na cadeira cândida.

O Imperador levou a xícara no formato de flor desabrochada aos lábios e bebericou com esguiez. – Mas então, do que eu deveria chamá-lo? – E ruminou um pouco. – que tal querido? – sugeriu se lembrando do pássaro negro.

Com tais palavras, Sua Majestade engasgou e quase cuspiu aquilo que acabara de levar a boca.

- Só me chame de Alexandre – pediu sentindo-se consternado.

- Querido é tão ruim assim? – Ele assentiu. – Ok então, Alexandre – concordou Isabella, rindo.

O homem de cabelos negros fitou-a e prendeu-a com seu olhar encarnado. Seus traços libidinosos e luxuriosos pareciam acompanhar cada ínfimo movimento da garota de cabelos dourados, desde sua respiração até o piscar de suas pálpebras róseas. Isabella ficou paralisada, deleitando-se com aquele homem que era iluminado pela luz da manhã e ainda assim aparentava pertencer veementemente a penumbra, exalando uma sensualidade sem limites e suculenta.

Neste momento, os lábios perfeitos de Sua Majestade abriram-se. Sua Alteza inclinou-se para frente, queria apreciar qualquer coisa que pudesse sair daquela voz veludosa, etérea e penosamente efêmera:

- Você não vai comer? – sondou bebericando de sua xícara mais uma vez.

O rosto de Isabella tornou-se um enorme tomate, ela se distraiu demais cultuando tal imagem que se esqueceu do mais importante daquele encontro; a comida.

- Vou sim, sinto muito.

E embora o estômago da jovem estivesse vazio, alguma das comidas a sua frente eram coisas que ela nunca tinha visto, parecia um tanto quanto arriscado simplesmente se servir.

Logo Isabella criou alguma coragem e bebericou um gole de um líquido rosa e translúcido que vagava em seu copo; tinha um gosto agradável que se espalhava lentamente por sua língua, parecia com alguma espécie de chá apesar do gosto ser bem diferente dos que ela conhecia.

- Do que é feito isso? – indagou levantando a xícara com curiosidade.

- Das folhas de uma árvore chamada Jiania, originária da tribo Barbon.

- É realmente gostoso.

Após seu experimento bem-sucedido, Isabella sentiu-se mais confiante em tentar outras coisas; um bolinho repleno por uma geleia escura, uma torta coberta por um creme vermelho, e por último algumas frutinhas negras, ou o que pareciam ser frutas, em formato de azeitona – este último fora um péssimo experimento, por sinal. – Sua Alteza os abocanhou em uma mordida, sentindo o gosto amargo e azedo, tal como jiló e vinagre, preencher sua boca. A jovem franziu o nariz forçando-se a engolir, o que transformou seu rosto num esgar cômico de cartum.

- Eu posso dizer pela sua expressão que você não gosta de lágrimas de dragão – disse Alexandre enquanto cruzava os braços.

- Sinto muito – respondeu tomando um pouco do chá em sua xícara, usando-o como um tira gosto.

- Tudo bem, é uma fruta para poucos. – O Imperador Vermelho esticou o braço, tirou as pequenas frutinhas do prato de Isabella e as colocou em seu prato.

- Você gosta dessa coisa Vossa... digo, Alexandre?

- Não muito.

A garota de cabelos de ouro piscou com curiosidade e indagou – mas então, por que você decidiu comer elas no café da manhã?

- Porque eu não sabia do que você gostava, então eu pedi ao chefe para fazer uma variedade de coisas. Dessa forma, eu posso te entender melhor.

Um sentimento engraçado começou a se espalhar pelo coração e pulmões de Isabella, preenchendo-os com um brilho cálido e anil. Sua Alteza franziu levemente seu nariz e contorceu os lábios, não encontrando as palavras certas para se expressar.

- Muito obrigado, isso é muito gentil e considerativo da sua parte – agradeceu emocionada.

- Isso não é nada demais, só estou tentando cumprir minha parte do acordo, Isabella.

- Não se trata do tamanho da atitude – retrucou com veemência. – Ou do motivo por trás dela.

- Bem, que seja – replicou dando de ombros.

Os olhos de Alexandre brilharam em rubro. Havia algo de realmente fascinante dentro daquelas íris, a jovem de olhos índigo sentia como se fosse posta em um embalo toda a vez que as comtemplava. Que sensação estranha.

Dali em diante, Isabella iniciou uma corrida de experimentação, dizendo quais entre aqueles alimentos lhe eram agradáveis ou não. Geralmente quando ela comia algo e torcia seu nariz em descontentamento, Alexandre tiraria o que quer que estivesse em seu prato e o comeria por si mesmo, sem nunca reclamar mesmo que não fosse de seu agrado (apesar de que era impossível dizer as coisas que ele desgostava apenas por sua expressão de pedra).

Em dado momento, Sua Alteza acabou se deixando levar pela atmosfera familiar e encantadora, e acabou se expressando como nunca teria feito em um dia comum:

- Sabe, já faz um bom tempo que não como direito no café da manhã. Quando cheguei aqui tive um baita de um choque cultural, nunca imaginei que o povo de Licrya comeria sopa no desjejum, coisa que até hoje não consegui me acostumar direito... – De supetão, Isabella parou de falar e levou a mão aos lábios.

Ela vislumbrou Sua Majestade sob suas pestanas rutilas, tendo a pintura perfeita de Alexandre, olhando-a com uma expressão indecifrável – seria tédio? Curiosidade? Consternação? Irritação? Ou alguma outra coisa? Será que ele realmente a estava ouvindo discursar seu monologo entediante?

- Sinto muito, Alexandre, você não deve querer ouvir esse tipo de coisa boba. Ainda assim eu não calo a minha boca nem por um segundo... você deve me achar fastidiosa... – balbuciou ao ínterim que seu rosto corava.

- Não assuma meus pensamentos por mim – redarguiu franzindo os sobrolhos. – Você pode falar o quanto quiser, eu não acho que a sua história seja entediante. Também não acho que seja irritante. Além do mais, seria bom se você pudesse parar de se sentir tão consciente de si mesma ao meu redor.

Isabella riu, sem se importar com o quão alto seu timbre soou e continuou provando os alimentos enquanto conversava com Alexandre. Bem, era mais como se somente a jovem estivesse falando, entretanto não era uma situação desconfortável. Antes que ambos pudessem perceber havia um laço sendo formado ao redor deles, uma relação criada a partir de algo intangível e desconhecido.

Ao final da refeição, Isabella escorou-se no encosto da cadeira com as mãos na barriga, sem poder sequer aguentar mais uma azeitona:

- Eu comi por um dia inteiro, se eu continuar comendo desse jeito eu definitivamente vou engordar.

- É melhor assim, eu só preciso olhar para você uma vez para saber que você está desnutrida – replicou o Imperador.

A jovem de olhos azuis fechou as pálpebras por alguns segundos, então a voz de Sua Majestade voltou a soar em seus ouvidos.

- Aliás, tudo correu bem hoje de manhã?

"Hoje de manhã?" perguntou a si mesma.

Naquela manhã, algumas coisas inusuais aconteceram, mas isso já era esperado; assim que o sol começara a despontar no limiar que dividia o firmamento e a terra, Madame Luza acordou Isabella e a ajudou a se preparar para o café da manhã com Alexandre, como se esta fosse uma criança aprontando-se para escola. Apesar disso, o que mais surpreendeu a garota de olhos azuis foi o fato de que a governanta mostrou extremo alívio por Sua Alteza estar bem apesar da ádvena conjectura, todavia não mostrou quaisquer sinais de curiosidade ou questionamento pela história por trás de como ela havia acabado naquele tipo de situação, o que Isabella acreditava que seria a reação natural da senhora.

- Acho que foi tudo bem – respondeu Isabella pensativa, então encarou o Imperador e acrescentou. – Eu vou me acostumar a isso.

Repentinamente, Alexandre fez aparecer em sua mão, como em um passe de mágica, alguns papéis em uma pasta e os entregou para a garota de olhos azuis.

- O que é isso? – indagou folheando o maço com rapidez.

- Daqui a três dias, você vai iniciar suas lições. Nestes papéis estão escritos seus horários, suas aulas e as informações a respeito de seus professores.

- Sei..., mas o que eu irei fazer durante esses três dias que me faltam?

- Hoje de manhã você terá a visita de alguns costureiros, eles já devem estar te aguardando no seus aposentos. Colocando isso a parte, você pode fazer o que quiser desde que não saia da ala sul.

- Por que costureiros? E por que eu não posso sair da ala sul? – inquiriu com as palavras escorregando como uma cachoeira de sua língua.

Alexandre franziu ainda mais seus sobrolhos e fixou seus olhos rubros em Isabella: - Não é minha intenção te ofender, mas suas roupas não são exatamente adequadas para uma alteza. E ainda é muito cedo para você lidar com os nobres do palácio, então é preferível que você permaneça aqui até que seus estudos possam ser concluídos.

- E em quanto tempo eu terminarei meus estudos?

- Vai depender de você. Podem ser semanas, meses ou anos. Eu também não faço ideia.

Anos, constatou em sua mente franzindo os sobrolhos e cerrando os punhos. Então os olhos de Isabella se encontraram com os de Alexandre. Ele parecia preocupado.

A jovem dos olhos índigos sorriu, dando a seus dentes perfeitamente alvos o ar da graça: - eu entendo.

O Imperador suspirou e levantou-se de seu assento. Isabella o acompanhou, erguendo a cabeça para encará-lo. Algo triste tilintava em sua íris, mas ela não deixaria demonstrar.

- Cuide-se, nós nos veremos de novo amanhã. – Sua Alteza concordou languidamente, acompanhando com olhos melancólicos Alexandre se retirar elegantemente do aposento.

Caim, que esteve parado perto da parede junto com as empregadas durante todo o café posicionou a mão esquerda sobre o peito e disse com voz solicita:

- Siga-me, Vossa Alteza, eu irei escoltá-la de volta ao seu quarto. As costureiras já estão esperando.

- Certo – assentiu Isabella, caminhando em direção ao guarda.

Quando a jovem de olhos anil retornou ao seu quarto, uma senhorita de cabelos azulados, uma outra de rosto gordinho em formato de coração e uma senhora curvada, com óculos de meia lua, aguardavam o retorno de Sua Alteza com malas enormes em suas mãos.

As três curvaram-se em uníssimo e pediram para que Isabella ficasse apenas em suas roupas de baixo. Esta as obedeceu com constrangimento, segurando a riso toda vez que elas passavam a fita métrica pela sua cintura, braços e coxas.

Em determinado momento a senhora de idade sentou-se em uma cadeira bege com um caderninho puído na mão e uma caneta tinteiro ao ínterim que as duas jovens tiravam tecidos esmeros das maletas e se revezavam para enrolá-los ao redor de Sua Alteza.

- Nada de laranja – murmurou a ancião para si mesma em dado instante.

As costureiras apenas encerraram seus serviços no horário do almoço de Isabella, deixando-a a sós com seus pratos pouco convencionais

***

O tempo que se seguiu foi surpreendentemente tranquilo. A garota de cabelos dourados foi lentamente se acostumando com sua nova realidade.

Os dias eram plácidos, derramavam-se com delicadeza sobre o castelo e seus habitantes. Apesar disso, Isabella entendia que tal situação apenas abrangia a ala sul. Tanto o resto do palácio quanto todo o Império de Licrya encontravam-se em um verdadeiro caos devido ao anúncio repentino de seu engajamento com o Imperador. Infelizmente, não havia nada que ela pudesse fazer para mudar a situação atual, deixando-a para os dedos rijos do destino.

Infelizmente, por algum motivo, querido não vinha mais aparecendo no palácio. Isabella não mais avistava um pássaro elegante de penugem negra empoleirar-se eu sua janela ou manobrar pelo céu azul. Isso a entristeceu, ainda mais com fato dela não poder sair da ala sul.

Geralmente, a garota e olhos índigo passaria um bocado de seu tempo em seu quarto, ou caminhando ociosamente pelos jardim ou até mesmo explorando a ala sul. Claro que, ainda havia parte de seu tempo que era reservado apenas para Sua Majestade.

O segundo café da manhã com Alexandre ocorreu de maneira mais suave que seu antecessor, mesmo que Sua Alteza se pronunciasse de forma desajeitada. No final das contas, ela não conseguia se manter indiferente na presença do homem de olhos rubros, ainda que se esforçasse para tal.

Foi apenas na tarde do seu terceiro dia no castelo que Isabella não suportou o infindável tédio que a assolava e esgueirou sua cabeleira loira para fora de seus aposentos no intento de conversar com Abel.

- Diga-me, Alexandre está em seu escritório? – inquiriu com olhos de turmalina.

- Neste horário, é suposto que sim – respondeu ao ínterim que erguia a cabeça pensativo.

- Imagino se você poderia me levar até lá? – solicitou em júbilo.

O guarda deu um passo para trás, encarando Isabella com um semblante desconfortável.

- Vossa Alteza, se me permite aconselhar-lhe, eu não acho que isso seja uma boa decisão... – ruminou Abel colocando a mão esquerda sobre o peito.

- Por que não?

- Bem, Sua Majestade não gosta quando vão ao seu escritório para falar de assuntos que não estejam relacionados ao trabalho.

A garota de íris anil piscou com suas pálpebras róseas e encarou o gêmeo pensativa sob suas pestanas douradas pulquérrimas. – Acho que vou arriscar – declarou por fim.

Isabella pôs seus pés para fora do quarto, caminhando pelos corredores com um vestido azul pastel que caía como uma cachoeira efêmera até seus joelhos corados, brilhando cegamente a todos os contempladores e sendo seguida pelo guarda que ainda tentava dissuadi-la de seus planos.

O firmamento parecia pesado, mal podendo se segurar enquanto descia infinitamente sem nunca chegar ao seu destino. O jardim emitia um balsamo sedutor, tingindo o ar de amarelo e rosa e ascendendo para o limiar longínquo. Sim, o mundo parecia tremer e abrir-se enquanto Sua Alteza passava produzindo um tinido oco.

- Vossa Alteza, por favor reconsidere – pediu Abel assim que a jovem de olhos índigo aproximou-se da porta. – Você não entende o quão terrível o Imperador Vermelho pode ser quando está irritado.

- É você que não entende o quão terrível meu tédio pode ser – replicou pausado o passo e dando um sorriso. – Além do mais, eu acho que você está exagerando um pouco. Eu só quero pedir algo a ele, não vai demorar nem cinco minutos.

A jovem retomou sua caminhada, logo achegando-se a porta e batendo nela delicadamente.

- Entre. – Uma voz gélida soou de dentro da sala.

O guarda tremeu atrás da garota, sentindo os pelos de sua nuca se arrepiarem.

Isabella abriu a entrada com seus nós esbranquiçados, empurrando a porta e enfiando parte de seu corpo pela fissura formada. Seus olhos logo encontraram a figura de Alexandre atrás de uma pilha de papéis, sentado em sua mesa como a figura de um de anjo caído. Os olhos encarnados de Sua Majestade pareciam um pouco duros e frios, contudo no instante em que avistaram a imagem da garota loira amoleceram como duas poças de sangue fresco.

- Então é você, entre logo – disse erguendo-se de seu assento. – Eu vou pedir para que alguém traga um chá.

- Não há necessidade – retorquiu erguendo as mãos. – Eu só vim lhe pedir algo. Ah, e não nada demais então não se preocupe.

Internamente, Isabella suspirou de alívio, mesmo que pudesse parecer despreocupada por fora, por dentro a jovem sentia-se apreensiva em relação a reação de Alexandre à invasão ao seu escritório.

"Parece que Abel estava exagerando afinal" pensou consigo mesma.

Era a segunda vez que Sua Alteza adentrava a sala do Imperador. Da primeira vez era de noite, estava escuro como breu do lado de fora, e a garota de olhos azuis quase não pode ver nada permeio a um mar de inseguranças. Agora, tudo parecia claro, pálido e polido, com uma fina membrana de luz esgueirando-se por uma cortina vermelha e brunindo o aposento.

- O que veio pedir? – questionou Alexandre.

- Eu queria saber se poderia pegar alguns livros emprestados da biblioteca.

O homem de olhos Carmim a encarou de modo singular, nenhuma palavra foi proferida de seus lábios.

- Não posso? – perguntou quando a resposta não veio.

- Você pode – replicou de imediato. – É só que você não precisa pedir permissão.

O rosto de Isabella se iluminou com um sorriso alvo ao ínterim que se aproximava de Alexandre. – Sério mesmo? - Ele assentiu. - Muito obrigado.

- Era só isso?

- Sim! – Então um pensamento surgiu em sua cabeça enquanto se distanciava lentamente de Sua Majestade. – Sinto muito por interromper seu trabalho, você deve estar muito ocupado, não é?

- Está tudo bem.

- Bem, de qualquer forma obrigado. Agora, eu não vou mais te atrapalhar – foi dizendo enquanto se aproximava lentamente da porta.

- Certo...

O Imperador Vermelho permaneceu em silêncio enquanto observava a jovem se retirar de seu escritório com os ânimos a flor da pele, dizendo constantemente desculpa e obrigado, alternando entre um rosto consternado e sorridente, até desaparecer porta a fora como se nunca tivesse estado ali para começar.

Do lado de fora do aposento, Isabella encostou-se na entrada e soltou um suspiro profundo. Ela mal podia controlar seus dedos famintos por páginas enquanto lembrava-se da biblioteca da ala sul com paixão desvairada. Seus lábios abriram e fecharam-se lentamente, e seu rosto enrubesceu com prontidão. Ela encarou Abel dando um sorriso deslumbrante e disse com uma alegria tangível:

- Vamos lá.

O jovem guarda piscou algumas vezes, mas logo concordou. E os dois seguiram pelos largos corredores. Em dado momento, Isabella virou-se para o gêmeo e disse:

- Sabe Abel, você disse que Alexandre ficaria irritado caso eu fosse ao seu escritório sem permissão, mas ele tinha o mesmo semblante de sempre e foi até mesmo agradável.

- Sério? Bem, talvez Sua Majestade esteja de bom humor hoje, isso é bom... calma, pensando melhor, isso é muito assustador. Que tipo de coisa precisa acontecer para aquela cara ficar de bom humor? Não quero nem pensar nisso.

A jovem de olhos azuis riu sem se conter.

Não demorou para que ambos estivessem passando pelo arco da biblioteca imperial. Isabella passou pelos livros com o coração acelerado e pupilas dilatadas, tocando suas capas com a ponta de seus dedos e deixando o calor se espalhar por seu corpo. O cheiro de livros novos e velhos adentravam suas narinas e preenchiam seus pulmões, fazendo-a derreter; desta vez ela não estava ali para fazer a limpeza, ela estava ali para fazer um arrastão naquelas estantes.

Sua Alteza pegou tudo que captasse minimamente seu interesse, sem pensar muito se iria gostar ou não, afinal, não havia pressa. Ao interim que saltitava por entre as estantes, Isabella acabou esbarrando em Sallya, a cuidadora dos exemplares – , elas não poderiam se considerar amigas, no entanto havia uma espécie de companheirismo mútuo entre ambas naquela época.

Sallya curvou-se para a garota de cabelos loiros assim que a avistou, então sorriu fracamente, seguindo em frente. A silhueta da cuidadora desvaneceu na madeira deixando para trás apenas uma sensação estranha no estômago de Isabella.

Com um suspiro profundo, Sua Alteza colocou todas as suas dúvidas de lado e voltou a procurar algo que lhe agradasse. Escrutinando cada pedacinho das prateleiras. Após alguns minutos ela encontrou um livro de capa enegrecidas com o título escrito em letras cândidas. O livro se chamava Obscuro.

A jovem de olhos anil virou a capa e leu a sinopse cuidadosamente:

"Meus pensamentos mais sombrios, macabros e sorumbáticos".

Entre todos os exemplares que Isabella havia pegado, aquele era de fato o mais promissor. Ela o colocou junto a sua pilha de livros, esquadrinhando os armários com diligência.

Embora as estantes estivessem preenchidas com todos os tipos de obras, havia algo que emergiu o interesse da jovem de íris índigo – não existia sequer uma única história de romance permeio aqueles exemplares, independente do quanto se aventurasse, não havia sequer um sinal de seus adorados clichés.

Por fim, após refletir intimamente o porquê daquilo sem sequer aproximar-se de uma resposta satisfatória, Sua Alteza, com sua irrefreável abelhudice, decidiu pedir informações a Sallya:

- Eu não tenho certeza, Vossa Alteza – respondeu levando o indicador aos lábios ressecados assim que tal questão chegou a seus ouvidos -, mas essa é a biblioteca pessoal do Imperador, então eu acho que nada que não seja de seu agrado pode entrar aqui. Talvez ele só não goste de romance.

- Então é assim... – resmungou cruzando os braços. – Que preconceito.

A cuidadora riu ao observar a expressão encabulada de Isabella. - Se Vossa Alteza desejar, eu posso te emprestar alguns dos meus livros pessoais.

- Se você estiver disposta, eu aceitarei – replicou de imediato com seus olhos cintilando de expectativa.

- É claro que estou disposta. Amanhã eu trarei alguns que talvez lhe agradem para você escolher.

- Então está combinado. Muito obrigado pela gentileza, Sallya.

- Não há de que, Vossa Alteza – respondeu. – No entanto, se você pedisse a Sua Majestade que comprasse alguns livros para vosmecê não seria bem mais fácil do que ter de recorrer a mim?

Um sorriso seco formou-se na face de Isabella: - Pode parecer besteira, mas eu não me sinto confortável pedindo para outras pessoas comprarem coisas para mim.

Sallya riu, seu riso soou como seu um pato estivesse engasgando-se. – Você não deveria se sentir mal, afinal, o Imperador é podre de rico.

- Mesmo assim isso é um pouco... – Sallya gargalhou ainda mais, deixando seu riso frouxo passear pela biblioteca.

As duas continuaram a conversar por um tempo, elas se entendiam melhor do que poderiam ter imaginado em seu primeiro encontro. E apesar de gostos assombrosamente semelhantes ainda existia uma barreira intransponível entre ambas, no fim das contas, a diferença hierárquica era muito excessiva, e mesmo que Isabella almejasse a amizade da cuidadora, enquanto Sallya tivesse que abaixar a cabeça ao avistar a jovem de cabelos de ouro, as duas jamais poderiam ser amigas verdadeiras.

No fim do dia, Isabella e Abel possuíam pilhas de livros em seus braços enquanto retornavam aos aposentos reais. O arrebol queimava violentamente e as sombras das noites empoleiravam-se por entre os orifícios e fissuras, anunciando o início do breu.



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