Capítulo IX
O céu começava a escurecer e algumas estrelas despontavam aqui e ali.
As empregadas preparavam-se para dormir e planejavam o dia de amanhã. Vagavam pelos corredores apressadas, com toalhas, escovas, travesseiros, pijamas, sabonetes, uniformes, cobertores, lençóis e pentes, e lutavam pelo direito de conseguir um espaço nos banheiros.
Isabella dividia a pia com uma empregada de quase 1,90 de altura. Escovar os dentes com uma pessoa que ela mal conhecia não era seu momento preferido do dia, mas era impossível negar que não havia muito o que pudesse ser feito. Claro que a jovem de olhos azuis ainda podia esperar até as coisas se acalmarem, contudo se o fizesse poderia acabar indo dormir muito tarde. E para alguém que acordava tão cedo, tal situação não era das mais adequadas.
A jovem terminou sua escovação rapidamente e foi para seu quarto. Não demorou muito para as luzes do aposento estarem bem apagadas e os olhos de Isabella estarem bem cerrados.
Naquela noite, a jovem de olhos azuis teve um sonho anômalo, para dizer o mínimo, ela estava novamente sob a árvore frondosa com Sua Majestade, aproveitando a sombra com seu vestido azul e suas botas gastas. Era a mesma cena daquela tarde. Querido voava no céu exibindo suas manobras. O Imperador tinha sua expressão, ou falta dela, habitual. E Isabella fingia se concentrar no voo do pássaro quando na verdade estava extremamente consciente do homem ao seu lado. As engrenagens começavam a girar. Sua Majestade tocou os cabelos da garota que virou-se balbuciando "O que você está fazendo?". Tudo se repetia, exceto que Isabella não gaguejou, nem esqueceu as palavras no meio do caminho.
O Imperador também não recuou, ao invés disso inclinou-se para frente e segurou Isabella pelos ombros, os olhos de ambos se encontraram produzindo faíscas. Alexandre vergou-se ainda mais, seus narizes quase se tocavam e a jovem já começava a fazer um muxoxo. Em um ímpeto, a expressão de Sua Majestade tornou-se dura e ele sacudiu a jovem empregada pelos ombros enquanto dizia autoritário 'acorde Isabella, acorde!".
Isabella respirou profundamente e abriu os olhos chorando por dentro. Sua visão estava meio embaçada e ela estava meio grogue, então não deu atenção a Madame Luza prostrada ao pé de sua cama parecendo a um passo de um colapso.
- Isabella, vamos, levante-se!
- Não... – resmungou sonolenta, girando nos lençóis e tentando esconder-se no canto mais extremo do colchão. – Eu estava na melhor parte.
- ISABELLA! – berrou fazendo-a despertar aturdida.
A garota de olhos azuis fitou Madame, a senhora tinha marcas vermelhas abaixo dos cílios como se estivesse próxima a cair em prantos. Ainda vestia sua camisola amarelada pelo tempo e os cabelos cinzentos pulavam em todas as direções devido a uma presumível arrumação às pressas.
O céu ainda estava escuro, tão escuro quanto era possível. O ponteiro menor do relógio na parede apontava para as doze horas da noite.
- Menina, o que você fez? – Inquiriu Luza agarrando Isabella pelos braços finos.
"O que eu fiz?" perguntou para si mesma, então um medo súbito subiu por sua espinha "Será que finalmente descobriram que eu tomei o emprego de uma outra pessoa para estar aqui?".
Aquele pensamento atormentou sua mente por longos minutos. Ela começou a suar frio e seu estomago pareceu afundar. O dia de pagar por seus atos irresponsáveis finalmente havia chegado.
As meninas no quarto começaram a acordar uma a uma devido ao barulho intenso ao ínterim que Isabella tinha um ataque cardíaco. Parecia que ela não só ia ser expulsa das acomodações no meio da noite como também teria direito a plateia. A garota começou a fazer cálculos em sua cabeça para saber quanto dinheiro tinha, e por quanto tempo poderia pagar para ficar em uma pensão na capital, tentando lembrar de todos os lugares que ofereciam vagas de empregos com salários minimamente dignos ante o seu torpor.
- Eu devia saber que essa sua impertinência e abelhudice acabariam lhe trazendo problemas – continuou a articular Madame andando de um lado para o outro.
- Se acalme e me explique o que está acontecendo. – Isabella conseguiu ligeiramente tomar controle de suas emoções atribuladas.
- É terrível, querida. O Imperador quer te ver.
Durante algum tempo, Jamie e Clementina, que já estavam bem acordadas, paralisaram e prenderam a respiração, repentinamente suas bocas começaram a mover-se em protestos embaralhados e pouco coerentes, pulando de suas camas e se aproximando da governanta.
- Deve haver algum engano...
- Isabella é uma pessoa doce....
- Um anjo, isso é impossível...
- Tem certeza de que ele não está procurando Clementina?
- Cala boca, Jamie!
Embora a conjuntura parecesse hedionda, a garota se sentia abrandecida. Provavelmente não haviam descoberto sua fraude ainda.
- Isabella, por favor levante-se, mestre Caim está esperando lá fora – disse Luza ignorando completamente as meninas. – Não devemos deixar Sua Majestade esperando.
- Deixe-me trocar de roupas primeiro...
- Mestre Caim disse que não será necessário, enrole um xale nos ombros, coloque os sapatos e me siga.
Jamie e Clementina começaram a acordar Dutcha inteiramente desesperadas ao mesmo tempo que Isabella colocava um pedaço de pano rosa por cima de si, botas desgastadas, e corria atrás da chefe das empregadas.
Nos corredores encontravam-se algumas pessoas que acordaram devido a algazarra apoiando-se nos umbrais, espiando pelas frestas e fissuras das portas e perguntando sem qualquer tipo de embaraço o que se passava. Isabella continuou atrás da Madame sem olhar para ninguém, sentindo suas colegas de quarto coladas em seus calcanhares. Logo, ela já se encontrava no fim do corredor, dando de cara com um dos guardas pessoais de Sua Majestade, dessa vez ele estava sem seu irmão gêmeo.
- Por favor, me siga, senhorita – pediu dando as costas para a jovem e andando vagarosamente pela trilha iluminada por pedras roxas, sequer esperou uma resposta.
Isabella estava prestes a andar na direção de Caim, conquanto uma mão puxou-a para trás fincando suas unhas em sua pele nua.
- Que os deuses te acompanhem. – O hálito quente e áspero da governanta atingiu os ouvidos da garota de olhos azuis.
Ela assentiu e se apressou para alcançar o guardo real.
Ambos eram vultos errantes em meio a uma fraca luz lilás. O vento lhes açoitava a face, deixando seus dedos e lábios azulados.
Isabella perguntou-se o que o Imperador poderia desejar dela, chegando à conclusão de que o assunto deveria ser conspícuo se ele quis vê-la, uma mera servente, no meio da noite sem sequer dar-lhe a oportunidade de trocar sua camisola. Assim, começou a tentar lembrar-se do mal que poderia ter infligido a Sua Majestade para ter chegado a tal situação. Isabella teve de admitir, não foi uma tarefa de todo difícil, diversas cenas que poderiam ser consideradas "más atitudes" saltaram em sua cabeça como pipocas na panela. Em suma, a garota de olhos azuis poderia não estar viva para ver o dia de amanhã, ou então veria o sol nascer quadrado por um longo tempo.
"Eu pensei que estávamos nos dando bem" lamuriou-se em seu interior.
Não demorou muito para que Caim e Isabella se encontrassem dentro do castelo.
O palácio estava quase que em completa caligem, apenas as luzes dos aposentos onde as pessoas ficaram para trabalhar até mais tarde remanesceram ligados.
A jovem de olhos azuis se sentia temerosa com as paredes a sua volta. Durante o dia, quando as luzes opulentas adentravam pelas vidraças e iluminavam os aposentos, tudo se tornava mágico no palácio, mas tinha o efeito inverso quando as coisas se mostravam envoltas em escuridão. As pinturas nas paredes tornavam-se macabras e os nobres desenhados nos quadros figuravam-se a mover seus globos de tinta para acompanhar o caminhar de Isabella.
Com seus pés de aparência esbranquiçada, ela apertou o passo, almejando posicionar-se o mais próximo de Caim possível.
"Talvez eu esteja marchando para minha morte. Se for o caso, eu gostaria de ter visto meus pais pela última vez, mas acho que não é possível" refletiu.
Prontamente, o guarda e a garota se viram de frente a porta do escritório de Sua Majestade. Ele bateu na entrada três vezes e uma voz o mandou entrar. Caim abriu o caminho para Isabella que adentrou o aposento como uma sombra miúda e pálida.
A sala estava vagamente iluminada com tonalidades de verde, o responsável era uma bolinha brilhante em cima de uma das muitas estantes do escritório. Era fulgor suficiente para que as feições, formas e cores pudessem ser discernidos, nada mais que isso.
O Imperador estava atrás de sua mesa imponente, não havia nada de muito diferente em sua expressão, exceto suas sobrancelhas que se encontravam um bocado mais franzidas, entretanto nada que indicasse uma possível pena de morte ou prisão perpétua. O primeiro-ministro também se encontrava no quarto, porém, sua figura magrela se mostrava excessivamente apagada em contraste com Sua Majestade, tanto que a empregada mal conseguiu notá-lo quando chegou – para sermos justos, a profunda admiração e a crível atração de Isabella pelo homem de olhos cor de sangue pode ter corroborado para sua falta de concentração em outras coisas.
Embora o contexto não se prefigurasse positivamente, a jovem ainda era incapaz de manifestar medo perante a figura de Sua Majestade. Aquilo lhe gerou uma dúvida severa se seu radar de perigo estava em mal estado.
- Sente-se – pediu depois que a jovem o saudou e curvou-se.
E assim ela o fez, esperando seu veredito.
- Eu a quero propor algo – disse desviando seu olhar.
"Então acho que não era uma punição no fim das contas" ruminou com alívio.
O silêncio se espalhou no escritório, o que quer que o Imperador Vermelho tivesse para pedir devia ser delicado pois ficou uns bons cinco minutos sem falar absolutamente nada. Isabella passou esse tempo segurando veementemente a risada já que, de tempos em tempos, Hector olhava para o homem de olhos carmim com agonia violenta devido a esse silêncio infindável.
- Sim, Vossa Majestade? – inquiriu a jovem quando sentiu que não seria mais capaz de segurar o riso.
Então o Imperador suspirou e propôs um grande absurdo, talvez grande não pudesse descrever a magnanimidade do que vibrou no ar: - Isabella, eu gostaria de lhe propor um acordo de matrimônio.
- Pois não? – questionou em estado de choque.
- Aquilo que você ouviu.
- Mas talvez eu tenha ouvida errado, Vossa Majestade.
- Então repetirei. Isabella, quer se casar comigo?
A jovem de olhos azuis engoliu em seco.
Bem, Isabella já havia imaginado que um dia lhe pediriam em casamento, ou então que ela proporia a alguém, mas nunca imaginou que um dia as coisas poderiam ser assim. A jovem não estava preparada, nem infimamente, para confrontar tal situação, talvez por isso sua resposta não foi uma das mais adequadas:
- Por... quê?
- Não sei se você está ciente disso ou não, mas alguns nobres – e quando disse nobres olhou especificamente para Hector - e o Conselho vem me pressionando para o casamento.
- Sim, isso eu sei. Todo mundo fala disso. O que eu quis dizer é: por que eu? Tenho certeza de que existem pessoas muito mais adequadas do que eu para esse papel.
- Foi por uma série de fatores que tomei minha decisão, mas em geral é porque você não parece se sentir desconfortável quando está ao meu redor, como a maioria das pessoas, e isso pode ser um facilitador para nosso trabalho e.... convivência.
Isabella arregalou os olhos em estupor, aquele era um dos maiores absurdos que jovem ouvira na vida.
- Só por isso? – inquiriu indignada.
- Esse é um pré-requisito que ninguém conseguiu alcançar, então não é só isso – Isabella continuou encarando-o como se dissesse sério mesmo? - é importante – acrescentou.
- Mas Vossa Majestade, a pessoa que se casar com você será a Imperatriz e eu não sei nada sobre isso.
- Você aprenderá.
- Existem pessoas que certamente já sabem o que fazer. Tenho certeza de que alguém que já vem pronta é mais adequada do que alguém como eu que vem em partes – argumentou, lembrando-se da princesa Margaret e da princesa Valéria.
- Não posso discordar disso, mas uma pessoa que me teme é ainda pior do que uma pessoa inapta.
- Mas eu sou uma plebeia e ainda por cima uma estrangeira...
- Irrelevante. – Alexandra vislumbrou Isabella se afogando em confusão, e deu um suspiro fenecido. – Eu compreendo que a situação pode não ser muito apropriada. Não é muito apropriada. Eu também não aprecio a maneira como isto foi orquestrado, contudo eu espero que você possa ao menos tentar pensar em uma resposta.
- ...Eu pensarei...
Isabella vislumbrou os próprios pés tentando evitar contemplar Sua Majestade, não desejava que sua decisão fosse influenciada pela luxuria que aquele homem exercia nela. A jovem meditou brevemente. Em parte, sua sentença já estava tomada, todavia ela precisava saber no que estava se metendo, então seus lábios moveram-se por si mesmos:
- Se eu disser 'não', eu serei presa?
- Não – respondeu Alexandre.
- Perderei meu emprego?
- Não.
- Serei torturada, morta ou coisa assim?
- Não.
- Eu serei privada de algum privilégio?
- ... Não.
- Eu serei manda...
- Já chega! – exclamou o primeiro-ministro com uma expressão enraivecida. – Nada de ruim vai acontecer com você. Será como se essa noite jamais tivesse acontecido, se vai recusar o pedido só recuse logo.
- Mas eu vou aceitar o pedido – replicou cruzando os braços magrelos.
Ambos, o Imperador e Hector, pareceram surpresos com a resposta de Isabella. Hector mais abertamente que o Imperador.
- Para ser sincera, eu não tenho família, nem casa e nem um futuro. Eu venho estado desesperada e solitária a meses. Vossa Majestade, sua proposta não é de todo ruim para mim que não tem nada. Somente o fato de vosmecê ter me dado uma opção, coisa que eu não venho tendo, já me faz extremamente feliz. – Não era mentira, para ela que foi condenada a passar o resto de seus dias como empregada e órfã, aquela proposta parecia ser sua chance de almejar algo que fizesse a diferença, mesmo que precisasse fazer o papel de uma pessoa gananciosa, interesseira e sem orgulho.
- Compreendo. Só peço que não se esqueça que ao aceitar esse pedido você aceitará ser uma Imperatriz, e como uma Imperatriz o seu dever é zelar e dar a vida por seu povo. Não pense que a coroa a ser posta em sua cabeça não tem peso. Governar este Império talvez seja a coisa mais difícil que você virá a fazer em toda a sua vida.
É evidente que esta foi uma das primeiras considerações de Isabella. Governar um império não era para novatos, talvez nem mesmo para experts, entretanto as pessoas sempre diziam para si quando ela ainda vivia em seu universo natal – não tentar é o primeiro fracasso.
"Se eu não tentar, como vou saber que sou incapaz?"
Além do mais, a jovem desejava dar um sentido à sua existência, algo que não tivesse a ver com sobreviver. Isabella queria lutar por algo, queria conquistar e queria se reerguer das cinzas.
- Como eu disse anteriormente, eu não sei nada sobre como ser uma Imperatriz, mas se Vossa Majestade diz que eu aprenderei então eu darei um voto de confiança e farei o que for necessário para cumprir meus deveres com maestria!
Com isso, o Imperador assentiu em aprovação e sinalizou para Hector.
O primeiro-ministro saiu do escritório por uma porta lateral, onde Isabella imaginava ser o lugar onde Sua Majestade guardava documentos importantes devido ao forte cheiro de papel envelhecido que emanou de lá.
- Eu apenas tenho um pedido, se não for exigir demais – disse Isabella antes que pudesse perder a oportunidade.
- Se não for nada impossível... – retrucou.
A garota de olhos azuis corou, então rogou-lhe levemente embaraçada – eu entendo que esse relacionamento é puramente uma negociação, entretanto imagino que nada nos impede de ao menos tentar nos entendermos. Eu não digo nada no sentido romântico, mas eu realmente gostaria se pudéssemos ser amigos, afinal, seremos uma família, mesmo que só no papel.
O Imperador vermelho inclinou a cabeça e a apoiou em sua mão com certo interesse. – Você estabeleceu o objetivo, agora estabeleça o meio.
- Hum? – questionou sem realmente entender o que ele quis dizer.
- Você disse o seu desejo, agora diga-me o que deveria ser feito para alcançá-lo. Veja, eu não tenho experiência alguma em relacionamentos familiares, então não sei o que fazer para tornar seu pedido realidade.
- Que tal começarmos tendo todas as refeições juntos? – sugeriu Isabella em um impulso.
- Impossível, tanto eu quanto você estaremos tão ocupados que mal teremos tempo de comer, ainda mais em um horário pré-definido – respondeu de imediato. – Mas podemos ter a primeira refeição do dia juntos, isso se não tivermos outros afazeres.
- Trato feito – concordou.
Então o silenciou se instaurou no aposento mais uma vez enquanto ambos esperavam pelo retorno de Hector. O clima tornou-se distinto. Isabella tentou não contemplar em demasia o agora seu noivo, se ela o fizesse enrubesceria com toda a certeza, principalmente naquele momento em que tinha tempo e clareza o suficiente para refletir sobre seu sonho. As palavras que disse a Madame Luza em seu momento grogue giravam e preenchiam o ambiente "eu estava chegando na melhor parte".
Como ela quis desaparecer.
O primeiro-ministro voltou rapidamente com documentos amarelos na mão e os entregou para a jovem de olhos azuis. Ela não pôde evitar notar que ele parecia um tanto quanto emocionado como se seu próprio filho estivesse para se casar.
- Vossa Alteza, amanhã, o mais cedo possível, leia os papéis com atenção e os devolva assinados. Se existir algo que você não concorde ou que não entenda traga-os de volta e discutiremos a respeito disso – disse Hector respeitosamente.
- Você me chamou de vossa alteza? – indagou praticamente ignorando todo o resto do que ele havia pronunciado.
- Oh, isso? Agora que está noiva de Sua Majestade, seu posto não é muito diferente do de uma princesa herdeira, isso significa que depois do Imperador vosmecê é a pessoa mais influ...
- Isso não é importante agora – cortou o homem de olhos rubros – você entendeu o que o primeiro-ministro disse, Isabella?
Ela piscou algumas vezes e repetiu o que Hector acabara de declarar como um disco quebrado.
- Ótimo, já está tarde, então você deveria descansar um pouco.
"Me pergunto quem será que me acordou no meio da noite pra vir aqui?" pensou ao mesmo tempo que era acompanhada pelo Primeiro Ministro até a saída.
Caim velava na porta, seu gêmeo ainda não estava consigo, provavelmente vinha tendo uma boa noite de sono enquanto seu irmão trabalhava até a madrugada. Isabela imaginava se Caim o amaldiçoava por isso. Ela amaldiçoaria.
O homem de cabelos castanho avermelhados sussurrou algo no ouvido do cavalheiro, que a jovem de olhos azuis não deu muita importância e que fez o guarda assentir em entendimento. Por fim, Hector curvou-se para Isabella (algo que ela achou bizarro) e voltou a adentrar o escritório.
Era apenas natural que a garota de olhos índigo se visse girando seu dorso em direção as acomodações das empregadas dado ao hábito, entretanto Caim parou-a, postando-se a sua frente com suas pernadas silenciosas.
- Vossa Alteza, não é mais nessa direção que você deveria ir, por favor me siga.
Claro que não houve um pingo de confusão nas pontuações taciturnas de Isabella. Agora ela era a futura Imperatriz, era improvável que continuasse a viver com uma empregada.
- E as minhas coisas? – inquiriu lembrando-se de suas roupas, livros e objetos engraçadinhos que comprou na capital.
- Vossa Alteza não precisa se preocupar com isso, suas coisas estarão aqui amanhã de amanhã.
- Entendo. Obrigada.
Assim, Caim guiou-a por corredores que se tornaram não familiares a luz do luar, até uma porta grandiosa em tons de vinho e marrom e adentrou o aposento com uma explicação pálida proveniente do guarda. Aparentemente, a partir de agora aquele era seu quarto. Como o esperado, a alcova era suntuosa em todos os sentidos da palavra, todavia Isabella não deu muita atenção, colocou seus papéis em cima de uma mesa e jogou-se em uma cama enorme e macia. A jovem de olhos anil afundou, sentindo um abraço cálido e etéreo. Era quase impossível resistir a suas pálpebras tornarem-se pesadas.
Aquilo que a manteve acordada foi a dúvida, que lhe questionava repetidamente se aquela realmente foi a melhor decisão a ser tomada.
No instante em que a dúvida começou a transformar-se em arrependimento, Isabella recordou-se de um dos motivos para ter chegado a essa resolução, um dos que ela não contara a Sua Majestade.
Neste mundo o Imperador era uma pessoa solitária, tão solitária quanto ela própria. Talvez os dois pudessem ser solitários juntos. Era bobo, mas ela sentia que se existiam duas pessoas que pudessem se dar realmente bem naquele mundo, ou em qualquer outro mundo, eram ela e o homem de olhos Carmim.
"Nunca pensei que tomaria uma decisão dessas baseada em carência" refletiu antes de apagar completamente no seu colchão de marshmallow.
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