Capítulo 3 - Ela se apaixonará por Ele (part. 6)
A mensagem, ou bomba, tinha chegado há uma hora, ou seja, como tenho o sono leve e não ouvi o telefone de casa (minha avó só liga para o residencial) tocar, a previsão do Marcelo do futuro é falsa. Uma tentativa desesperada de usufruir de uma coincidência que seria minha avó adiar o aniversário. Levanto, vou ao banheiro, jogo uma água no rosto e, na sala, encontro minha mãe assistindo televisão com os pés pra cima, descansados no puff.
- Que horas vamos para a vovó? – pergunto para assegurar que estava tudo normal.
- Ela marcou às nove. Vamos sair umas nove e quinze? – Não houve adiamento, Marcelo errou.
- Tudo bem, daqui a pouco vou me arrumar então.
- Melhor ir você na frente mesmo... Como demora pra se arrumar...
Ela está assistindo novela, como sempre. Sento por dois minutos no sofá e me deparo com mais uma trama em que o mocinho e vilão são caricatos. Perfeitos ou podres. Ninguém é assim. Enfim, dois minutos são suficientes para acabar com minha paciência, vou me aprontar. Conecto meu celular no bluetooth do som e começo a tomar meu banho. É sábado, e mesmo não tendo uma programação agitada, estou com a alma animada, feliz, coloco a minha lista "Noite" no Spotify. As músicas mais estouradas tocam e, ensaboada, canto alegremente em voz alta. Até que, de repente, escuto um barulho: é minha mãe batendo na porta trancada. Ela fala alguma coisa, mas eu não consigo escutar em razão do som alto da música.
- O quê?
Ela repete, mas eu não consigo entender. Pego a toalha, enxugo a mão e alcanço o som para abaixá-lo.
- Diga, mãe.
- Sua avó acabou de ligar. Disse que está com uma indisposição hoje, perguntou se não podemos ir amanhã. Eu disse que tudo bem. Você pode?
Não acredito! Não é possível! Aconteceu novamente! Ele acertou exatamente o que ia acontecer. Como?
- Filha? – minha mãe me chama para confirmar se eu tinha escutado, já que eu, chocada, não respondo.
- Sim, mãe, acho que posso ir amanhã sim.
- Então tudo bem, vou avisar à sua vó aqui.
- Mas está tudo bem com ela?
- Ela disse que não é nada demais. Só uma indisposição, uma dor de barriga. Nada demais.
- Tudo bem então.
Volto a aumentar o som, mas independentemente da agitação da música, não consigo mais acompanhá-la. A água cai pelo meu corpo, enquanto tento assimilar o golpe. Está aí uma coisa que Marcelo não poderia ter absolutamente nenhuma ingerência: a caganeira da minha avó! Ele nunca poderia prever isso! Não é possível! Mas ele falava com tanta certeza sobre a noite de hoje... Enfim, agora posso ir à festa com ele. Se a previsão do meu vidente continuar certa, hoje será nossa primeira noite juntos... Olho para baixo e confiro a depilação, bom, tudo certinho. Não, Amanda! Hoje não há hipótese de rolar nada! Na verdade, é melhor nem ir à festa. Posso ficar em casa, dormir e pronto, essa história de Marcelo do futuro estará encerrada para sempre e não mais cogitarei a hipótese de viagens do tempo ou de estar enlouquecendo. Seria o fim dos meus problemas. Mas... Estou tão animada, a festa vai ser tão legal, ainda mais passando do lado dele o tempo todo... Não, eu não vou conseguir ficar em casa, definitivamente não. Eu vou! Vencida a surpresa da notícia da minha avó e tomada a decisão que iria à festa, esqueço todo o contexto bizarro da situação, começo a pensar na roupa que vestirei e volto a cantar o house, saudoso Avicci, que explodia no som:
"They tell me I'm too young to understand. They say I'm caught up in a dream. Well life will pass me by if I don't open up my eyes. Well, that's fine by me. So wake me up when it's all over, when I'm wiser and I'm older. All this time I was finding myself, and I didn't know I was lost." – canto no chuveiro.
Assim que a música termina, desligo o chuveiro, me enxáguo por completo e, enrolada, vou até meu quarto, tiro o celular do carregador, jogo a toalha no chão e nua disco para o Marcelo. No terceiro toque ele atende:
- Olá, Amanda!
- Você não vai acreditar! Minha avó adiou o aniversário para amanhã. Estou livre para ir à festa – super empolgada, já jogando a notícia direto – Você ainda consegue aquele ingresso pra mim?
No entanto, para minha surpresa, o outro lado da linha fica mudo. Completamente mudo.
- Marcelo? – chamo-o. Será que ele não gostou da notícia? O que aconteceu?
- Sabe o que é... Não sei qual a melhor forma de te dizer isso, me pegou de surpresa. Enfim, você disse que não poderia, acabei chamando outra menina pra ir comigo...
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