PARTE 1: Prólogo
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Abril de 1803
Melanie Watson praguejou pela centésima vez naquele dia, assim que o mordomo da residência Wright a recebeu, abrindo a porta de sua carruagem e oferecendo-lhe o braço para ajudá-la a descer.
- Merda!- esbravejou ela, recolhendo sua saia e revirando a maleta que trouxera em seu colo, fazendo o pobre mordomo corar com o seu palavreado nada comum para uma dama- Acho que esqueci o meu violino.
Só então, ao escutar uma tosse forçada, a moça percebeu que a carruagem tinha parado, e seu coração começou a bater mais rápido. Havia chegado ao inferno.
Levou um susto enorme ao se virar e ver o tal mordomo que agora tinha uma ar de divertimento em seus olhos azuis e gentis.
- Bem vinda a residência de Amelia Wright, srta Watson.
- Muito, muito obrigada senhor. Agora, lamento informar, mas acho que houve um terrível engano- ela diz, com os olhos piscando repetidamente e usando uma voz excessivamente suave- Acabei por esquecer meu violino em minha casa, na Inglaterra, e não sei se minha avó sabe, mas eu simplesmente não vivo sem ele. Então acho que infelizmente terei de retornar hoje mesmo para casa.
O mordomo novamente sorri.
- A sua avó me informou que a senhorita iria tentar me convencer a mandá-la de volta. Sinto muito, mas não serei enganado.
- Tem certeza?- ela pergunta, com claro desespero na voz- Posso pagar-lhe uma quantia generosa. Trouxe uma bolsa de moedas.
- O salário que recebo já é generoso o bastante, obrigado- Ele solta uma risadinha simpática, e então volta a lhe oferecer o braço- Agora, me permita levá-la até a sala, sim? A Sra Wright está bastante empolgada para vê-la.
- Eu até poderia dizer o mesmo, se a situação fosse diferente- Resmunga Melanie, recusando o braço do mordomo com uma sacudida e pisando agressivamente no piso de terra em frente a mansão.
Droga, ela pensou. O lugar era simplesmente enorme, sem falar no terreno que se estendia atrás da casa e também pertencia a sua avó. Um paraíso para aqueles que apreciavam uma vida tranquila e absurdamente monótona no campo.
O que com certeza não era seu caso, pois Melanie era tudo, menos monótona. Iria morrer de tédio, sabia disso, e odiaria cada um dos meses que seria obrigada a passar ali.
E de pensar que tudo aquilo acontecera por causa de um mero "acidente"...
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Dois meses atrás. Londres.
- Droga, Melanie, vou matá-la!
Mel ri ao ver o rosto completamente vermelho da amiga, Marianne, assim que pula em seus ombros e a assusta, fazendo-a gritar de susto e chamar a atenção indesejada de grande parte do salão.
- Não fique irritada, Mary, já devia ter se acostumado com as minhas entradas surpresas.
- Mas é claro que eu fico irritada! Olhe só, agora estão todos olhando- retruca Mary com os olhos castanhos arregalados, e então olha para a própria barriga, a acariciando- E você por acaso quer que eu perca meu bebê? Freddie me disse que com um susto grande o suficiente a bolsa pode estourar!
- Não se preocupe, querida amiga, se isso acontecer pode deixar que eu realizo o parto- Melanie diz, com um sorrisinho despreocupado.
- Por acaso ficou louca?- Mary joga a cabeça para trás, seus cachos castanhos balançando enquanto ria alto da ideia absurda dela a ajudando.
- Está subestimando minhas habilidades, é isso mesmo?- Pergunta Mel, fingindo indignação, e então repousa a mão na barriga da amiga, falando com uma voz fina- Você não vai ser tão má quanto sua mãe, não é querida? A tia Mel irá ensiná-la como ser uma verdadeira dama.
- Verdadeira dama? Ha!- disse uma voz atrás delas- Se um dia Melanie Watson for considerada uma dama, não sei do que será a sociedade.
As duas se viram para uma Felicty sorridente, com o seu filho de 5 anos agarrado à saia de seu vestido, envergonhado. Era impressionante como o garoto parecia com a mãe, dando a sorte de herdar seus cabelos loiros e olhos azuis porém levemente esverdeados.
Melanie solta uma gargalhada, cruzando os braços.
- Ora essa, por que estou sendo atacada tão de repente? E não vá se achando um exemplo só porque já é mãe, Felicity. Não tenho vontade alguma de passar noites em claro cuidando de uma criança.
- Ser mãe não é só sofrimento, Mel- repreende Felicty, acariciando a cabeça do filho, que sorri e acena para as duas tias- É muito mais sobre amar e aprender.
- Bem, ainda assim não acho que fui feita para isso- murmura Melanie, contrariada.
Enquanto isso, Mary sorri para o garotinho, agachando-se a sua altura e começando a conversar com ele.
- E então, Markus, está gostando de seu primeiro baile?- Pergunta, com uma voz amorosa.
O garoto assentiu vagamente, e então escondeu o rosto na mão da mãe.
- Além disso- continua Melanie, também sorrindo para a criança- não acho que o meu possível filho seria tão tranquilo quanto o seu, Felicity.
- E o que você pretende fazer, então? Irá contar ao seu futuro esposo que não deseja ter filhos nem passar adiante o nome de sua família?- Perguntou Felicty, chocada.
- Bem... Sim- Melanie deu de ombros, constrangida- Por que não?
- Porque, Melanie, apesar de um casamento com amor ser importante, também é essencial que ambos tenham a intenção de ter filhos.
Melanie suspira, se sentindo exausta de repente. Já havia ouvido esse mesmo discurso tantas vezes que sua mente bloqueava as palavras sempre que as ouvia de novo. Então virou a cabeça, ignorando Felicty, e saiu dali.
Houve uma época na qual elas - Mary, Felicty, Lorianne e a própria Melanie- eram garotas aventureiras e que não se importavam com os olhares opressores da sociedade para que se comportassem como devidas damas. E agora que literalmente todas as suas amigas estavam casadas e dispostas a ter uma família, Melanie se sentia deslocada, sem entender como tudo mudara tão rapidamente.
E assim que as duas amigas foram deixadas, Felicty virou para Mary, indignada.
- Por que ela saiu de repente? Por acaso eu disse algo de errado?
Mary da de ombros, e então suspira.
- Sinceramente? Eu não tenho ideia. As vezes Melanie é uma incógnita para mim, mesmo que nós sejamos amigas por tanto tempo... Só queria que ela soubesse que, independente do que aconteça, nós estaremos aqui para apoia-la.
Felicty fez uma expressão de pura tristeza, e então praguejou.
- Diabos! Por que ela simplesmente não nos diz o que está acontecendo?
Minutos depois, Melanie passeava pelos corredores, com uma ansiedade crescente em seu peito. Sempre amara bailes, festas e ficar com suas amigas, mas pela primeira vez estava simplesmente cansada. Se sentia estranhamente vazia, e essa sensação estava ficando cada vez mais forte nos últimos dias.
Foi então que ela esbarrou em alguém, duro como uma parede por sinal.
Assim que levanta a cabeça para pedir desculpas, sente um bolo na garganta.
- Olá, Louis.
O rapaz sorri para ela. Era considerado um dos cavalheiros mais atraentes e cobiçados de Londres, e lá estava ele NOVAMENTE tentando cortejá-la.
- Srta Watson, senti sua falta na valsa. Está se sentindo bem?
- Estou, obrigada por se preocupar- ela sorri forçadamente- E sobre o último baile... Me perdoe por ter saído tão de repente.
- Ah, não há problema algum- Louis sorri também, mas ao contrário do dela era honesto. E então fala, com uma voz sedutora- A senhorita pode me recompensar esta noite.
Melanie solta uma risadinha, e então vê com surpresa que ele tinha uma expressão séria no rosto.
- Espere... Está falando sério?
- Mas é claro que estou!- ele argumenta, parecendo ofendido.
E então, de repente, ele a prende na parede. Mas Louis não era um libertino, todos sabiam disso. O pobre rapaz não passava de um garotinho medroso na pele de um homem atraente. Talvez por isso Melanie não tenha sentido absolutamente nada. Seu coração sequer bateu mais rápido, quando ele aproximou seu rosto a centímetros do dela, fazendo-a sentir seu hálito quente.
- Eu a desejo, senhorita Watson. A desejo desde que a vi pela primeira vez naquele baile, dançando como uma verdadeira fada.
E então, subitamente, Melanie soltou uma fungada.
- Merda- praguejou ela, e então pressionou com força a mão na boca para não rir novamente. Deveria pelo menos respeitar o esforço que o pobre rapaz fazia para seduzi-la.
- O-o que houve? E-eu disse algo de errado?- Perguntou ele nervoso, com as bochechas rosadas.
- Não! Você não fez nada de errado, querido, eu só...- respirou fundo- Eu infelizmente não sinto o mesmo. Me desculpe.
- M-mas...- ele a olhou desesperado, sem conseguir acreditar- A senhorita não me acha atraente?
- É claro que eu acho!- Afirmou em um tom consolador- Eu só... não sinto nada quando estou perto de você, entende? Pelo menos nada além de um afeto que se tem por um amigo...
Louis a encarou intensamente nos olhos por longos segundos, parecendo contrariado. Melanie esperou que ele fosse retirar o braço, mas então, subitamente, sentiu os lábios dele se chocando contra os seus.
Surpreendentemente, Louis não era tão ruim. Seus lábios macios também ajudavam, e Melanie então pensou "dane-se", jogando-se aos braços dele e o puxando mais para perto.
Mas então algo a despertou. Uma voz em sua cabeça, dizendo algo tão repentino e certo que a tirou o fôlego:
Ela não queria aquilo.
Melanie tentou empurrá-lo, mas seu corpo era infelizmente muito menor que o dele. Então tentou falar algo, mas ele simplesmente não desgrudava os lábios dos dela, a deixando sem fôlego.
Foi então que ela decidiu tomar a decisão mais lógica, a mesma decisão que a levaria a sua ruína:
Ela levantou uma de suas pernas, dando uma forte joelhada nas partes íntimas de Louis Thompsom, um dos rapazes mais influentes de Londres.
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Queridxs, esse foi o primeiro cap, espero que tenham gostado, e caso sim não esqueçam dos votos ou comentários, que me motivam sempre a continuar ^^
Vejo vocês na próxima ♥️
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