8. Onde Melanie tem um plano
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A estação de Chicago ficava -obviamente- atrelada a pequena e recentemente construída cidade Chicago, que como esperado estava cheia de pessoas. Melanie notou com animação que todos os homens vagueavam pela cidade com um chapéu e um revólver preso em seus cintos, alguns em cima de cavalos ou carroças, dando um ar ainsa mais exótico ao local.
A cidade podia ser resumida em apenas uma avenida principal onde se destacavam as casas, a igreja, o saloon (local que ela sabia servir de jogatina, álcool e muito provavelmente prostituição), e a cadeia, onde Eleanor explicou que residia o xerife.
- É verdade que todos aqui possuem armas?- pergunta Melanie, com uma clara admiração enquanto observava e fazia questão de absorver tudo a sua volta.
Eleanor sorri, contagiado com sua empolgação.
- Sim. Mas não se engane, pequena, pode até parecer emocionante de início, até você se deparar com um duelo ocorrendo entre duas pessoas de gangues diferentes bem a sua frente.
- Você já viu um duelo?
- Infelizmente, e acredite, foi adrenalina o suficiente para uma vida inteira.
- Mesmo assim, aqui está você, procurando por mais aventuras.
Eleanor solta uma gargalhada alegre.
- Da maneira como fala, eu pareço alguma heroína de um romance.
- Não é muito diferente disso- murmura.
Só então, a medida em que caminhavam, Mel notou a presença de mais um prédio enorme, que ficava bem ao lado da prisão. Tinha uma pequena bilheteria a frente, insinuando que o local servia como uma atração. Bem acima da entrada, havia uma placa de madeira pintada em letras azuis desgastadas: O Maior Museu Do Mundo.
- O maior do mundo?- Mel repetiu em tom de deboche- Pelo que vejo os moradores adoram usar hipérboles.
- Coloque hipérbole nisso- concorda Eleanor, mas com um olhar sério e, Mel percebeu, levemente melancólico.
- O que houve?- perguntou preocupada.
- Eu... não é nada. É só que a minha história com esse lugar é meio complicada.
- Com o museu?
- Foram os meus pais que o fundaram. É onde estão sendo exibidas as maiores descobertas dos dois.
- Espera, é sério?- Melanie a olha, surpresa, e então um esboça um sorriso enorme de empolgação- Então devemos ir ver! Não acredito que não me disse antes que o nome de sua família é famoso por aqui, Ellie.
- Eu não sou famosa, pequena. Acho que a única pessoa que me conhece aqui é o imprestável do Coronel Marshal- resmungou ela.
- Coronel quem...? E como assim você não é famosa? Você é filha das pessoas que fundaram esse museu, não é? E pela quantidade de pessoas que estão entrando e saindo do lugar... parece ser uma atração e tanto.
Eleanor negou com a cabeça, e então solta um longo suspiro.
- É complicado, pequena.
Melanie a olhou, sentindo uma pontada de irritação por ser tratada como uma criança, como se não tivesse a capacidade de entender nada.
Mas então desistiu de insistir. Se Ellie não queria lhe contar, então que assim fosse. Ela iria entrar naquele bendito museu, sua prima querendo ou não.
Então, sem falar mais nada, seguiu em frente em direção ao edifício.
- Mel, espera! Eu não posso entrar...
- Por que não?- pergunta irritada- Ah, espera, eu me esqueci que é complicado demais para que possa me explicar.
Eleanor a olha, e cruza os braços de maneira impaciente.
- Agora você está agindo como uma criança.
- Talvez seja isso que você sempre tenha me considerado, não? Para você, Eleanor, eu não passo de uma garotinha mimada que veio da Inglaterra e vivo em uma bolha, sem conhecer nada sobre mundo exterior.
- Se quer saber a verdade, eu achava exatamente isso até um tempo atrás, antes de você me fazer mudar de ideia- falou estressada, e entao passou a mão pelos cabelos, soltando um suspiro- Inferno! Por qual motivo nós começamos a discutir desse jeito?
Melanie cede, e logo abandona a sua postura defensiva.
- Eu... Confesso que fiquei irritada por você não querer me explicar porque não pode ser reconhecida no Museu.
- Bem, se quer mesmo saber...- ela suspira melancolicamente, colocando as mãos nos bolsos da calça- O coronel e governador dessa cidade roubou meus pais, disse que o museu era um patrimônio da cidade e não deles, o que indiretamente dizia que ele poderia alterar o que quisesse do lugar. Desde então, é o coronel Marshal que vem recebendo todo o crédito pelas descobertas deles, cobrando dinheiro pela entrada, quando os meus pais queriam que o acesso fosse permitido a todos da cidade- Ela diz apressadamente e com a voz baixa, olhando em volta a todo momento para verificar que ninguém a ouvia- Meus pais defendiam a ideia de que todos tinham o direito ao conhecimento, Melanie, mas o imprestável do Marshal... Destruiu o sonho deles.
Melanie olhou para Eleanor, chocada. Foi invadida por um sentimento de pena e solidariedade. Viu sua expressão triste e desolada, e percebeu que Ellie estava a beira das lágrimas.
Sem pensar duas vezes, a abraçou com força, e ficou nas pontas dos pés para beijar sua testa com carinho.
- Sinto muito, Ellie. Nem seus pais, nem você, mereciam isso.
- Eu... Eu sei que não faz muito sentido sentir raiva, até porque por eles já morreram e não faria muita diferença, mas eu queria ao menos que recebessem o crédito, entende? Por tudo o que conquistaram, por tantos anos trabalhando naquilo que eles amavam e que dariam suas vidas.
- Faz todo o sentido, Ellie. Você tem todo o direito de sentir raiva.
- Ah, pequena, você é boa demais para esse mundo...- ela diz, e Mel ri amargamente.
- Acredite, as coisas nas quais estou pensando em fazer com esse tal de Marshal agora não são nada boas.
- ...Acho que tenho medo de saber os detalhes.
Ela ri novamente, e Mel a acompanha.
Quando voltam a se encarar, a morena sente novamente toda aquela eletricidade percorrer o seu corpo, dos seus fios de cabelo até as pontas dos pés. É quase como se uma força externa, algum tipo de ímã a atraisse para Ellie. Queria tocá-la, puxar para mais perto de si, e então...
Mel percebeu sem fôlego que os seus rostos estavam mais próximos que o normal. De maneira quase involuntario, umedeceu os lábios, e então seu olhar se voltou de maneira inevitável para a boca dela.
Estavam tão perto... Se ela ficasse nas pontas dos pés, ou se Eleanor inclinasse só mais um pouco a cabeça...
Mas logo o momento é interrompido, quando um senhor esbarra em Ellie sem pedir desculpas.
- Ei, olha por onde anda!- exclama de maneira um tanto agressiva. Só então ela percebe o quanto foi indelicada, e suas bochechas ficam vermelhas. Então se vira para Mel novamente, mas sem parecer conseguir olhar em seus olhos pela vergonha- Ham... eu sei que parece um absurdo depois de tudo o que eu contei, mas o que acha de entrarmos no Museu?
Melanie ficou surpresa, sem falar que seu coração ainda estava enlouquecido com o momento de segundos atrás.
- Você tem certeza? Não vai se sentir desconfortável?
- Bem talvez eu fique meio furiosa, com vontade de esganar o coronel, mas isso já é normal. E sei que está com vontade de entrar, então farei um esforço.
Mel ri, e então assente.
- Tudo bem, então vamos. Sendo reconhecido por todos ou não, quero ver o trabalho dos seus pais.
. . .
- Regarde, Maurice! Quantas coisas exóticas!
Eleanor cerra os punhos ao ouvir a senhora francesa falar, ou melhor gritar, com o marido, apontando para a exibição de uma estátua indígena como se fosse a coisa mais ridicula e bizarra que já viu na vida.
Os seus pais foram as únicas pessoas que se preocuparam em conhecer as culturas indígenas, e talvez por isso tenham tido tanto sucesso na carreira de pesquisadores. Os índios lhe apresentaram a todo tipo de ervas (que trouxeram grandes avanços na medicina), rituais e seu modo de vida no geral. Ensinaram a Ellie, desde pequena, que os nativos sofriam nas mãos de tantos povos somente pelo fato de ninguém tentar compreende-los.
E se havia uma coisa que Ellie entendia, era o fato de sofrer preconceito devido a simples falta de compreensão das outras pessoas.
O primeiro contato que seus pais tiveram com a tribo não foi tão pacífico, até que começaram uma troca amistosa de escambo, e os dois juntaram os objetos doados pelos índios para fazerem o Museu. O objetivo principal de sua construção era apresentar aos americanos uma cultura que não era bizarra ou errada, mas sim diferente.
Até o coronel estragar tudo.
E Eleanor se sentia cara vez mais angustiada a medida que ela e Melanie exploravam o lugar, e ela via a maneira como Marshal havia capitalizado tudo, cobrando dinheiro até para uma foto estúpida com um rocaque na cabeça.
O museu, antes com o objetivo de passar conhecimento, parecia mais uma atração de circo.
Melanie não parecia notar o seu aborrecimento. Na verdade estava absolutamente encantada com a exposição, e Ellie sabia que ela não tinha culpa. Era uma cultura diferente querendo ou não, e sempre causaria espanto para os outros.
- Olha só isso!- Mel exclama, apontando para a figura de uma índia com penas na cabeça e segurando um arco- Acha que eu seria uma boa índia?- pergunta, imitando a pose da mulher da imagem.
Eleanor ri, apesar de tudo.
- Seria a mais perfeita das índias.
- Por que você sempre diz coisas tão embaraçosas?- Pergunta ela, tentando esconder o rubor das bochechas
Eleanor riu novamente, agora com vontade de abraça-la ali mesmo, na frente de todos.
E para a surpresa tanto dela quanto de Melanie, foi exatamente o que fez.
Logo sentiu o delicioso cheiro do seu cabelo, os fios acariciando suas bochechas, e soltou um suspiro involuntário.
- E-ellie! O que está fazendo?
- Estou te abraçando, ué.
- Bem, isso eu estou vendo. M-mas por que?
- Por que eu tive vontade, eu acho- disse, a abraçando com mais força.
Não seria surpresa dizer o quanto Eleanor estava nervosa, percebendo só depois a estranheza do seu gesto. Mas já era tarde demais pata voltar atrás, e ter Mel sem seus braços a fazia se sentir tão bem...
Até que, ainda enquanto a abraçava, o viu.
Se afastou dela no mesmo segundo, com a visão embaçada, os punhos cerrados, e uma raiva absurda a dominando.
Há poucos metros dali, estava o coronel Marshal, fazendo uma apresentação de um monumento indígena. O monumento que os SEUS PAIS haviam conseguido, em uma troca pacífica completamente diferente do extermínio que ele e os outros soldados praticavam com qualquer tribo que ficasse em seu caminho.
- Aquele maldito- murmurou, fervendo de raiva ao ver o sorriso orgulhoso que ele esboçava nos lábios, como se fosse o homem mais incrível da América.
Melanie automaticamente se virou, seguindo o seu olhar.
- É ele?- sussurrou.
- Sim.
- Posso matá-lo, se quiser.
- Apesar de ser um oferta tentadora, terei que recusar- respondeu com um sorriso maldoso.
- Tem certeza? Sou bastante agressiva quando quero.
- Não duvido disso, pequena. Mas é melhor deixarmos para lá e ir embora. Se ele acabar me reconhecendo... Podemos ficar bastante encrencadas.
E dizendo isso, ela enlaça sua mão na dela e a leva até o lado de fora.
- Ellie, espera...
- Podemos explorar outro lugar, o nosso trem só parte daqui a 2 horas...
- Ellie...
- Podemos ir visitar o saloon, se quiser, apesar de que as pessoas que frequentam o lugar não são exatamente agradáveis, mas...
- Ellie!- grita Mel de uma vez, fazendo com que a olhasse surpresa.
- O-o que foi?
Melanie cruzou os braços, e a encarou com as sobrancelhas arqueadas.
- Você realmente vai deixar uma oportunidade dessas passar?
- Oportunidade de que?
- De se vingar, Ellie! Aquele homem destruiu tudo o que seus pais passaram a vida inteira criando!
- E o que você quer que eu faça?- exclama, com mais grosseria do que pretendia- Quer que eu mate ele enquanto estiver dormindo, torcendo para não ser presa, ou que eu queime o maldito museu?!
- Mas é claro que não!- diz Mel, ignorando o seu tom- Eu tenho uma ideia muito melhor.
- Tem?
Melanie sorri de maneira misteriosa, então ergue a maleta em suas mãos.
- Eu sei que você insistiu que eu devia apenas trazer o essencial... Mas eu fui teimosa o bastante para trazer os meus matérias de pintura.
- E como diabos você conseguiu arrumar espaço para...? Não, espera, acho que não quero saber.
Mel solta uma risadinha orgulhosa.
- Tive que me contentar com muito menos roupas antes. Não é como se eu fosse morrer se usasse o mesmo vestido em dois dias. O espaço para os meus pincéis sempre foi uma prioridade.
Eleanor sorri maliciosamente.
- Só irá feder que nem uma porquinha, usando a mesma roupa por dias.
- Mas que cruel!- exclama, a empurrando e fingindo estar irritada, mas sem conseguir esconder um sorriso- Enfim, essa não é a questão. O que eu estou querendo dizer... é que podemos enviar uma mensagem.
- Mensagem?
- Sim, para todos da cidade. Dizer a eles que o coronel não passa de um ladrão, e mesmo que muitos não acreditem... Seria uma boa maneira de irritá-lo.
Eleanor a encara pelo que parecem séculos, hesitante.
- Não sei se é uma boa ideia. Nós podemos acabar terrivelmente enrascadas...
- E iríamos nos vingar.
- Na verdade, é uma péssima ideia. Tem tudo para dar errado.
- Mas...?
- Mas- solta um suspiro, antes de sorrir nervosamente- Eu apoio totalmente.
. . .
Uuuu agora as coisas vão começar a ficar interessantes kkkkk
Espero que tenham gostado capítulo queridxs, não esqueçam do voto caso tenha sido o caso, afinal, me MOTIVA demais a continuar <33
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