6. Onde Melanie recebe uma carta

Eleanor sentiu o coração disparar.

Aquela cena era estranhamente familiar. Fora assim quando ela viu Katerine pela primeira vez. Ela sorriu em sua direção, e Ellie sentiu como se o coração fosse pular para fora. Um formigamento delicioso percorreu todo o seu corpo.

Naquela mesma noite, Katerine a levou para o seu camarim, e elas dormiram juntas. Várias e várias vezes.

- Olá, Eleanor. Há quanto tempo.

Ellie desperta de suas lembranças ao ouvir Kate, agora em frente a sua mesa e a olhando de maneira maliciosa.

Eleanor cerra os punhos e engole em seco. "Não se deixe levar, Ellie. A história de vocês duas já acabou há muito tempo".

- Sim, há quanto tempo...

- Você está ainda mais bonita do que antes, se é que é possível- diz de maneira galante.

Eleanor hesita. Se a sua versão de um ano atrás fosse cantada dessa maneira, ela com certeza iria agir feito uma jovem tola e apaixonada.

Mas não era mais assim. Desde que concluiu que havia sofrido demais por amor, e nunca mais se deixaria levar novamente. Mesmo que precisasse resistir a alguém atraente como Katerine.

- Obrigada, Kate, e você continua bela como sempre- diz, mas com uma voz fria.

É então que ela olha para frente, e percebe que Melanie já a olhava fixamente.

Parecia perturbada. Triste.

E a visão fez o coração de Ellie doer.

Queria perguntar o que havia feito com que ela ficasse tão triste. Queria afastar tudo o que estivesse a atormentando.

Foi então que Kate percebeu a presença dela.

- E quem é a garota?- pergunta de maneira esnobe.

- Melanie Watson, minha prima- Ellie se apressa em dizer, sentindo necessidade de proteger Melanie do olhar gélido que Kate lhe lançava.

- Hum- Kate olha Mel por uns instantes, e então volta a olhá-la com um sorrisinho malicioso- Sabe, Eleanor, fico feliz que tenha vindo. Assim posso finalmente devolver as suas luvas. Você sempre as esquecia em meu camarim para ter uma desculpa para voltar, mas acho que não há mais necessidade, não é?

Ela olha para Thomas e Melanie, nervosa. Sua prima tinha uma expressão impassível, enquanto Thomas assobiava surpreso.

- Uau, que direta- ele diz, de maneira irritante.

Eleanor pigarreia, e então olha para Katerine de maneira decidida.

- Pode ficar com elas, se quiser.

- Tem certeza?- a mulher arqueia as sobrancelhas.

- Sim.

- ...Tudo bem então- ela levanta, parecendo irritada, e então se retira em falar mais nada.

Assim que ela passa pelas cortinas, Ellie solta o ar que só então percebeu que prendia durante todo aquele tempo.

- Caramba, eu não entendi muito bem, mas tenho quase certeza de que ela estava convidando você para dormir com ela...

- Jura, Thomas? Você é um gênio- Diz de maneira irônica e revira os olhos.

- Por que você não aceitou?- perguntou Mel, com indiferença.

- Como eu disse, não estamos mais juntas. Se é que já estivemos alguma vez...

- Céus, Eleanor, você tem noção de que praticamente metade dos colonos morreriam para estar no seu lugar?!- Thomas pergunta chocado- Ela é Katerine Velmont, pelo amor de deus!

- De fato, não sei porque a recusou. Ela é bem bonita- concorda Melanie, sem conseguir encarar Ellie nos olhos.

Eleanor sente as bochechas esquentarem. Queria dizer que, apesar de Katerine ser bela, Mel tinha uma beleza que era ainda mais única. Uma beleza natural, percebida pelo seu sorriso, seus olhos verdes e sardas no formato de galáxias.

Mas então se sentiu estúpida, pois não era como se ela estivesse com ciúmes.

Apesar de que Eleanor quisesse muito que fosse o caso.

Foi então que percebeu: QUERIA que Mel estivesse com ciúmes. QUERIA que Mel a desejasse.

Droga, se fosse a sua maldita prima a convidando para o camarim, ela iria sem pensar duas vezes.

. . .

Depois da apresentação, Melanie evitou olhar Ellie no rosto pelo resto da noite, pois sempre que o fazia sentia novamente o aperto incomodo no peito. Por isso conversou com Thomas como se nada tivesse acontecido, respondendo a todas as suas cantadas.

Então, quando já eram quase 2 da manhã, Melanie se sentia embriagada o suficiente para gargalhar alto, sem se importar com os olhares que os outros homens lhe lançavam.

Se divertia como nunca. Pela primeira vez, ela se deixou levar, sem se preocupar em passar a imagem de dama recatada que devia fazer em sua casa.

Ela tirou sua máscara.

Mas antes que pudesse se dar conta, os três já estavam na carruagem, voltando para casa. E Melanie sentia uma onda de emoções tão intensas, que se deixou levar pelo sono, com um sorriso no rosto.

. . .

Eleanor observa a sua prima dormir, apoiada no ombro de Thomas.

Eles até que não formavam um casal ruim, por mais que ela odiasse admitir. E Tom parecia estar gostando de verdade dela.

Como se lesse seus pensamentos, foi o que ele disse no meio do caminho.

- Acho que estou gostando dela.

- Por deus, Tom, você acabou de conhece-la!

- Eu sei! Mas Ela é tão encantadora, e engraçada... Eu meio que senti uma conexão entre nós, sabe?

- Uma conexão. Sei.

- Pare com isso.

- O que eu fiz?

- Você fez aquela cara de deboche. E falou de maneira irônica. Odeio quando fala assim. Me faz sentir estúpido.

- Tom, não seja dramático, eu só...

Mas antes que ela pudesse terminar de falar, eles já haviam chegado, e Mel abre lentamente os olhos.

- Já chegamos?- pergunta sonolenta e surpresa, e Ellie resiste contra a vontade de agarra-la.

. . .

Os dias seguintes foram resumidos basicamente com os três passando suas tardes na biblioteca, jogando conversa fora e falando de assuntos banais. Thomas e Melanie conversavam quase o tempo inteiro, e Ellie não parava de pensar no que o amigo dissera sobre sentir uma "conexão".

De fato, o amigo parecia encantado com sua prima.

Exatamente uma semana depois, Thomas contou do evento de arqueologia que ocorreria próximo ao Brooklyn.

- Todos os nossos companheiros de escavação estarão lá- comentou animado com ela- E o senhor Finnigan me convidou para fazer uma palestra a respeito do nosso trabalho.

- Isso é incrível, Tom! Mas porque diabos não me disse isso antes?!

- Eu só fui descobrir ontem a noite, ao receber a carta dele. E devo me preparar o mais cedo possível. Talvez deva pegar um trem hoje mesmo.

- Hoje?- Melanie pergunta, parecendo decepcionada, o que faz Thomas sorrir feito um bobo.

- Não se preocupem, voltarei em três dias. Talvez menos. Desculpe avisar tão repentinamente, sei que ir ao sentir muita falta de mim...

- Vai sonhando, Lenned- Ellie revira os olhos, de maneira brincalhona.

E então, as exatas cinco horas da tarde, todos se despedem de Thomas em frente a casa.

Até mesmo Amélia.

- Não acredito que ela realmente saiu do quarto para se despedir- sussurra Melanie para Ellie, que sorri.

- Ela gosta do Tom. Ele a ajudou uma vez quando havia torcido o joelho, e então nunca mais lhe lançou alguma careta ou insulto.

- Bem, vindo da minha avó, realmemte deve ser bastante coisa...- ela pondera, enquanto assiste Thomas entrar na carruagem, que então começa a andar e se distancia aos poucos. Solta um suspiro- Sentirei falta dele. Thomas realmente sabe como animar as coisas.

- Ora, eu também sou bastante animada- retruca Eleanor, fingindo estar magoada.

Melanie ri, e é um som tão doce que ela sente como se seu coração derretesse.

. . .

Mais tarde, Leonard aparece na sala de estar e entrega uma carta para Melanie.

- Está endereçada para a senhorita- diz.

- Obrigada, Leonard- ele se inclina em um cumprimento e se retira.

Mel respira fundo, olhando o envelope. "Devon, Inglaterra". Fica surpresa ao ver que a carta não vinha de seus pais, mas de Mary, já que agora morava em Devon com o marido.

Então rasgou o envelope e começou a ler.

"Querida Melanie,

Como está aí? É realmente tão ruim quanto parece?

Bem, caso ainda não tenho deduzido o óbvio, estou morta de saudades. Eu e as meninas estamos todas reunidas em minha casa para escrevermos para você, e todas combinamos de que *eu* iria escrever, mas desconfio que elas acabem decidindo invadir a carta de qualquer jeito.

Oi Mel! Como você está? Aqui é a Felicty, e por mais que Mary não tenha esclarecido isso, nós TODAS estamos mortas de saudades.

Eu não disse? Agora a Felicty não para de me tomar a caneta, e eu estou aqui pensando se isso realmente vai dar certo...

Melanie Watson, como OUSA não nos escrever?! Mas eu a perdoo, já que afinal estamos há um oceano de distância. Mas ao menos envie uma carta ao mês, contando as novidades!

Esse parágrafo acima, caso nao tenha percebido, vem de Lory. Ela está praticamente chorando em cima do papel, não sei se pelo estresse que foi a viagem de Oxford para cá ou se por saudade mesmo...

MEL POR FAVOR NÃO SE CASE AÍ, VOCÊ PROMETEU QUE EU SERIA A MADRINHA DO SEU CASAMENTO E

Anna acabou de me tomar o papel, mas consegui recuperar. Aliás, é verdade que ela será madrinha do seu casamento? Estou ultrajada! Espero que eu pelo menos seja a madrinha do seu primeiro filho, então.

Enfim, como pode ver, tudo aqui continua o mesmo, mas tenho certeza que com você tudo deve estar diferente. Quer dizer, você está literalmente em um país com quem acabamos de ter uma guerra... Ainda acho surpreendente que o seu pai tenha lhe mandado logo para as colônias... digo, ANTIGAS colônias.

Estou falando demais? Acho que acabei me empolgando um pouco... Vou terminar por aqui.

Ps: Quase me esqueci! O meu bebê está para nascer no mês que vem, Mel, não é maravilhoso? Ainda não consigo acreditar que serei mãe. Claro que estou morrendo de medo, mas então eu lembro de você, que sempre foi uma pessoa tão corajosa e me serviu de inspiração. É por sua causa que eu decidi ter esse filho, sabia? Porque foi você quem me fez acreditar em mim mesma, Mel. E espero que você faça o mesmo: acredite em si mesma, não importa o que aconteça. Você é a pessoa mais brilhante que eu conheço e deve reconhecer isso.

Da sua querida amiga,

Mary.

Correção: Das queridas AMIGAS,

Felicty, Lorianne, Annabel E Mary."

. . .

- Por que está chorando?

Melanie se vira, e fica surpresa ao ver sua avó a observando.

- Ah, não foi nada- ela diz sem graça, enxugando as lágrimas- Eu só... estou com saudades de casa.

Amélia descia o olhar, de maneira impassível, e Mel de sente constrangida por ter sido pega em um momento tão vulnerável. Então sua avó vai até o centro da sala e se aproxima do quadro que ela fizera, quando ela e Ellie andaram a cavalo pela primeira vez.

- É um belo quadro- comenta a senhora, mas com sua voz fria de sempre.

- Obrigada- ela agradece surpresa, e se aproxima hesitante, sorrindo para sua pintura.

Havia terminado o quadro a pouco tempo, e modéstia à parte, ela tinha ficado bastante satisfeita com o resultado. Os traços eram meios abstratos, mas a combinação das cores retratou perfeitamente todos os sentimentos de paz e alegria que ela teve enquanto andava com Snow e apreciava a natureza.

Como se lesse sua mente, Amélia diz:

- Me faz lembrar o motivo de eu ter ficado, em vez de voltar para Inglaterra. Este lugar é diferente de qualquer outro que eu já vi. Aqui, eu me sinto... em casa.

Melanie olha surpresa para a avó, porque apesar de sentir tanta falta da sua casa em Londres, aquela residência também era bastante acolhedora, e a fazia sentir que estava em casa de certa forma.

A fazia sentir que, se tivesse escolha, também permaneceria ali para sempre.

Mas Mel logo dispensou esses pensamentos, afinal era estupidez. Nunca poderia abrir mão da sua vida na Inglaterra, das suas amigas, familia e de tudo o que conhecia.

Pensar em seu lar só fez com que seus olhos ficassem úmidos novamente.

Olhou para a sua avó, que agora a encarava fixamente, e por um milésimo de segundo sentiu que elas poderiam se dar bem. Que poderiam se amar.

Mas esse momento logo sumiu assim que Amélia Wright desviou o olhar de seu e encarou a lareira, perdida em seus próprios pensamentos.

A jovem suspirou, desolada, e foi até o quarto, procurar novamente os seus pincéis.

. . .

(Não revisei, Sorry por qualquer erro kskssk)

Espero que tenham gostadooo <333

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