15. Onde elas escavam

No dia seguinte, os três embarcam na estação.

E Melanie, por mais que se esforçasse muito, não conseguiu evitar olhar para Eleanor durante a viagem.

Ela estava radiante, e olhava para a janela com o olhar encantando de uma criança, além de um sorriso simplesmente lindo.

Também estava terrivelmente sexy, vestindo uma calça justa e marrom que subia até sua cintura e era sustentada por um par de suspensórios. A sua camisa era branca, de mangas longas mas que ela decidira puxar até o cotovelo e com uma gola V que proporcionava uma visão torturante de seu busto.

Melanie cruzou as pernas, desviando rapidamente o olhar de suas coxas e coçando a garganta.

Aquela viagem estava durando mais do que esperava.

. . .

Assim que chegaram ao evento, Melanie arquejou, ficando simplesmente encantada.

Esperava que fossem encontrar simplesmente um grupo de estudiosos famosos e então seriam levados a área da escavação, mas havia muito mais. Era praticamente um festival.

Haviam várias barracas dispostas nas ruas, cada uma vendendo algon diferente. Uma vendia especificamente mapas e instrumentos próprios para navegação. Outra, vendia relíquias históricas e, pelo que o vendedor anunciava, partes de antigos fosseis com mais de um milhão de anos. Outro, vendia livros de história e outras ciências.

Mas ela ficou particularmente interessada em uma pequena barraca com um palco, onde ocorria um peça de teatro. A maioria do público era infantil, mas também haviam uma generosa quantidade de adultos. Pelas armaduras que os atores usavam, pareciam estar interpretando as antigas civilizações da Grécia.

Por um momento ela quase foi até Ellie para indicar a peça, sabendo que ela também admirava história grega. Mas então recolheu o braço, temerosa.

- Incrível, não é?- perguntou um Thomas sorridente, também admirando tudo a sua volta- Isso, minha cara, é o um dos eventos mais famosos e antigos, criados desde o início do Iluminismo, voltado exclusivamente para passar conhecimento as pessoas, e quem sabe fazê -las amar história tanto quanto nós amamos. Infelizmente, mesmo depois de tantos anos a esmagadora parte da população sequer liga para o seu passado... Foi exatamente por isso que escolhi ser arqueólogo. Para tentar fazer com que o máximo de pessoas possíveis também se apaixona pela ciência maravilhosa que é a história.

Melanie sorri.

- Eu tenho certeza que ainda irá realizar grandes descobertas, Thomas.

- Obrigado, minha querida. Não tem ideia do quanto fico grato em receber seu apoio...

- Será que os dois aí podem conversar menos e andar mais?- pergunta uma Eleanor irritada andando na frente deles.

Thomas solta um assobio.

- Parece que alguém aqui está com ciúmes?

- Ciúmes?- Mel sente as bochechas corarem.

Mas antes que ela pudesse perguntar mais, um homem careca e alto com uma bengala nas mãos se aproxima deles, com um sorriso carismático.

- Ora ora, você deve ser á famosa Eleanor Moore. Ouvi muitas coisas a seu respeito.

- Só coisas boas eu espero- Ellie diz nervosamente, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Ele troca a bengala para outra mão e corresponde ao cumprimento.

- Sim, garanto que só boas. E desculpe-me a indelicadeza: Sou Patrick Finnigan. Apesar da senhorita provavelmente já saber disso.

- Seria impossível não reconhecê-lo, senhor. Li todos os seus livros e teorias, sou uma grande admiradora do seu trabalho!- Eleanor fala, com as bochechas coradas e os olhos brilhando de admiração.

- Pois eu digo o mesmo sobre a senhorita: o Senhor Lennet me contou que já encontrou mais tesouros do que praticamente todos os escavadores de Ohio juntos. É praticamente uma pirata!

Ellie sorri, e por um segundo Melanie pensa que ela poderia acabar desmaiando de emoção.

Então o senhor Finnigan a cumprimenta, dizendo que se já não fosse uma fã de arqueologia, com certeza passaria a ser.

Tempo depois ele os guiou até a área de escavação, que se resumia em um grande buraco de terra cavado de maneira cubica e onde estavam vários pesquisadores, alguns passando um pincel sobre o solo, outros limpando os objetos que acabaram de encontrar.

- Na maioria dos casos, o que achamos é simplesmente considerado lixo pelo Centro de Pesquisa, como alguns fósseis de insetos ou pequenos pedaços de antigos edifícios. Então, muitos decidem vender esse "lixo"- explica Tom, oferecendo o braço para Melanie e a guiando até o local, enquanto Ellie e o senhor Finnigan andavam mais a frente- Não é o meu caso: prefiro guardá-los. Acho que o Centro de Pesquisa subestima demais esses objetos. E como a própria Ellie sempre diz: As vezes as maiores descobertas podem estar contidas no mais subestimado dos tesouros.

Melanie sorri sem querer, olhando a ruiva conversar de maneira empolgada com o historiador.

- Ela diz isso?

- Sim. Apesar de negar sempre que possível... Eleanor é uma dos seres humanos mais inteligentes e brilhantes que já tive o prazer de conhecer.

Mel suspira, dessa vez vendo Ellie rir de algo que o senhor Finnigan diz.

- Sim, ela é mesmo- murmura.

É então que, para sua surpresa, Eleanor a olha por cima do ombro e sorri empolgada. Melanie prende o fôlego, sentindo as pernas ficarem bambas, e então o seu rosto corou ao perceber que a prima vinha em sua direção, parecendo hesitante.

- Vem- Ela pede, estendendo a mão- Quero te mostrar a minha equipe.

Olha para a mão estendida, hesitante.

E então suspira e aceita sua mão. Não é como se fosse conseguir ignorá-la para sempre.

Eleanor a apresenta primeiro para um homem que estava pincelando de maneira cautelosa o que parecia ser um pedaço de porcelana.

- Melanie, esse é o nosso querido e neurótico Vincent. Ele nasceu na Ásia, mas depois se mudou para a Europa para dedicar sua vida a arqueologia. E então, veio para cá porque foram estúpidos de não o aceitarem em Oxford e passou a se especializar em idiomas antigos.

O tal de Vincent se virou e assentiu, se inclinando para Mel de maneira cavalheiresca e beijando sua mão.

- Você sabe línguas antigas?- pergunta ela admirada.

Vincent lhe lançou algo que parecia quase um sorriso e assentiu.

- Exatamente, minha querida. Sou um mestre, principalmente quando se trata do alfabeto fenício.

- É uma pena para ele que até agora não tenhamos encontrado escrituras antigas- comenta Ellie, com uma voz provocante.

Vincent arqueia as sobrancelhas, em uma expressão irritada e quase cômica, e então ajeita os seus óculos.

- Para sua informação, Moore, esses anos têm sido bastante produtivos. Estou aprendendo cada vez mais sobre a comunicação dos nativos.

Eleanor revira os olhos e sussurra para Mel:

- Ele é orgulhoso demais para admitir que está odiando aqui.

- Eu ainda posso ouvi-la, senhorita Moore- ele a olha irritado- Recomendo que comece a trabalhar, em vez de fofocar por aí.

Ellie da de ombros, com um sorriso forçado.

- Como quiser, patrão- E então, enquanto elas saiam dali, sussurrou- Ele pode parecer meio duro, mas é só porque leva o trabalho a sério. É um homem esforçado e com o tempo você deixa de odiá-lo para comprar a admirá-lo. E também não é como se tivéssemos outra escolha a não ser aprender a suportar essas pessoas, para vivermos em harmonia.

- Quanto tempo vocês ficam fora durante uma escavação?

- Normalmente duas ou três semanas ao mês. Não me preocupo com isso porque na minha escavação anterior consegui dinheiro o suficiente para ficar uns bons 4 meses de folga. Mesmo assim sinto que tenho que voltar logo a trabalhar. Não sou o tipo de pessoa que consegue ficar parada por muito tempo.

- Eu bem sei disso- Melanie diz, com um sorriso torto.

Ellie ri também, e pela primeira vez em semanas, as duas se olham.

Mel é a primeira a desviar o olhar, constrangida. E assustada por ter sido atingida novamemte com uma onda de sensações, todas atreladas ao desejo absurdo que sentia por aquela mulher.

Então engoliu em seco e foi em direção ao edifício que ficava ao lado da área de escavação.

- É aqui onde vocês dormem?

- Sim- assente Ellie, evitando ao máximo encará-la nos olhos- Possui uns três quartos, e em cada um deles dormem duas pessoas.

- Com quem você dorme?

- Thomas- Ela ri- Eu ainda me lembro de quando nós conhecemos e dormimos no mesmo cômodo. Ele ficava dando em cima de mim sempre que tinha a oportunidade.

- Mal sabia ele que não tinha a menor chance- Diz sorrindo, para então ficar sem graça de novo- Enfim... é confortável?

- O quarto? Não muito, mas em compensação a comida é deliciosa, e em vez de comermos dentro da casa, comemos no Jardim, que é um lugar simplesmente deslumbrante. Se quiser, posso lhe mostrar.

Melanie olha por cima do ombro, e vê que Thomas e o senhor Robinson deixaram de acompanhá-las. Então se virou novamente para Ellie.

- Está bem- respondeu, quando no fundo rezava para que não se deixasse ser levada pelos seus malditos sentimentos e desejos enquanto estivessem a sós.

Assim que chegaram no Jardim, Melanie arquejou. Era um espaço circular que ficava bem no meio da casa, e estava cheio de flores coloridas e cheirosas. Disposta na grama, estava um conjunto de mesas e cadeiras feitos de madeira.

- Ah, Ellie... é adorável.

- Não falei?

Quando as duas se aproximaram, viram que havia uma rapaz sentado em uma das cadeiras, tomando um café e lendo um livro em seu colo.

- Ah merda- Ela ouviu Eleanor praguejar, antes do homem perceber a presença delas.

. . .

Eleanor admitia que era uma pessoa bastante sensível, e guardava rancor das pessoas com bastante facilidade. Quer dizer, ela acreditava que as pessoas poderiam mudar, mas dificilmente era convencida disso quando se tratava de alguém que ela não gostava e que já havia sido um grande tormento para sua vida.

Um dessas pessoas era Jeremy Smith, também conhecido por ela e Thomas como Paspalho Smith.

Mas ele não era somente um completo idiota insignificante, como sempre fazia besteiras e conseguia se safar das consequências. Além disso, sempre fez questão de demonstrar que desaprovava a presença de Ellie nas escavações, porque de acordo com ele, "ela deveria ter se casado há muito tempo e seria mais útil criando filhos do que trabalhando".

O odiava. Odiava odiava odiava.

Odiava tanto que teve vontade de esmurrá-lo assim que o cretino sorriu na direção delas assim que entraram no Jardim.

- Ah, se não é a senhorita Moore? Por um segundo pensei que havia finalmente desistido da escavação.

Eleanor cerrou os punhos.

"Ele não vale o seu tempo. Na verdade não vale o tempo de nenhum pessoa decente na Terra" pensou.

- Pelo contrário: decidi voltar com tudo. Começarei mês que vem a trabalhar em tempo integral.

Na verdade ela ainda não havia decidido nada, falou aquilo simplesmente para ver a cara de insatisfação no seu rosto gordo e suado.

- Que bom para você, eu acho- murmurou, e então, quando finalmente percebeu a presença de Melanie, seus olhos se arregalraam se surpresa e ele ficou boquiaberto- E quem seria essa sua belíssima amiga?

- Eu me chamo Melanie Watson, é um prazer...

- Ora, mas que sotaque encantador! Então é inglesa? E pelas roupas... estaria errado em deduzir que é filha ou esposa de um aristocrata?

Ellie viu Mel sorrir de maneira desconfortável.

- Sou filha de Michael Watson, Visconde de Willburgh.

- Oh!- O homem arquejou com os olhos brilhando de interesse, e então pegou ambas as mãos dela, dando um beijo demorada em cada uma- Então está solteira?

- Foi ótimo revê-lo, senhor Smith- interrompe Ellie, com a voz controlada- Agora se nos der licença vamos voltar...

- Ora, esperem, me deixem acompanhá-las. Não é seguro para uma dama como a senhorita Watson andar sozinha por aí.

- Ela está comigo, senhor- fala entredentes.

- Me perdoe, senhorita Moore, mas a sua presença não ajuda em muito coisa caso um homem apareça com más intenções...

- Pois fique sabendo que eu tenho força o suficiente para desacordar um homem que a olha de maneira inapropriada e com interesse- fala, o olhando com fúria, pronta para atacá-lo.

Melanie, assistindo a tudo assustada, pigarreia e se coloca na frente de Ellie.

- Seria uma honra poder ser acompanhada pelo senhor...

- Eu me chamo Jeremy. Jeremy Smith. É um prazer, minha cara...

Ellie revirou os olhos, e então, segurando um xingamento, foi obrigada a suportar a presença daquele homem pelo resto do dia.

E não deixou de reparar, enquanto voltavam para a área de escavação, que Jeremy não parava de olhar para as mãos de Melanie, em específico para as joias que cobriam seu pulso e alguns de seus dedos.

Cerrou os dentes e prometeu para si mesma que se aquele cretino ousasse encostar sequer um dedo em sua prima, iria matá-lo.

. . .

O dia, apesar da presença de Jeremy, foi bastante agradável. Ela mostrou a Melanie algumas técnicas de escavação, e a deixou usar o seu pincel.

Ao ver que ela não fazia os movimentos de maneira correta, envolveu a mão na dela, para mostrá-la como fazer. Só então, ao sentir o calor da pele dela na sua, se deu conta da intimidade do gesto e se afastou constrangida. Pigarreou e tentou falar de maneira descontraída.

- Sei que não é o tipo de pincel com o qual está acostumada- disse, com um sorriso- Mas tenho certeza que pegará o jeito.

Mel assentiu, também parecendo constrangida com o simples contato de suas mãos.

Empolgada, Ellie observou ela escavando e limpando com delicadeza os objetos que achava. Elas estavam ao lado da atea de trabalho de Vincent e de Jeremy, enquanto Thomas não parava de tagarelar, fazendo com que Vincent, depois de lhe dar um sermão a cada minuto, surtasse de uma vez.

- Por deus, senhor Lennet, volte agora ao trabalho!

- Uau, está bem, não precisa usar o nome do nosso Senhor em vão para isso...

- Acho que nesse caso eu preciso, sim- fala Vincent, arrumando os óculos e voltando a sua expressão séria e profissional- Agora por favor, se não quer trabalhar pelo menos não nos atrapalhe.

- Por que não vai conversar com o senhor Robinson?- sugere Ellie- Tenho certeza que ele irá adorar saber a sua teoria sobre os répteis gigantes.

- Répteis gigantes?- repetiu Mel curiosa, parando de escavar- Como assim?

- Ah, ele tem uma teoria maluca de que antes de nós existirmos, um grupo enorme de repteis dominavam o planeta...- Ellie começou a explicar, mas Thomas a interrompeu.

- Não é maluca!- disse de maneira orgulhosa- Até porque eu já encontrei vários vestígios de sua existência!

- Pois eu acho uma teoria muito interessante- comenta Melanie, realmente entretida.

Thomas sorri, estufando o peito.

- De acordo com minha teoria, eles existiram há mais de 100 milhões de anos. Tinham o tamanho de um edifício de 6 andares e...

- 6 andares? Parece impressionante- comenta Jeremy, também ficando interessado, o que só faz Ellie ficar ainsa mais arrependida por ter puxado o assunto sobre aquela teoria.

- E por que eles não estariam mais entre nós?

- Não sei bem- admite Thomas- Talvez por alguma catástrofe natural, semelhante ao dilúvio...

- Assustador- comenta Jeremy estupidamente, e Eleanor sente o impulso de socá-lo.

É então que escutam a voz de Vincent, e sua cabeça aparece entre as paredes de terra.

- Será que vocês podem POR FAVOR falar mais baixo?

Todos ficam em silêncio. Vincent arregala os olhos, surpreso por realmente ter sido obedecido, e então volta a trabalhar.

Até que Thomas volta a falar.

- Talvez por alguma erupção vulcânica.

- ARGH! EU MEREÇO!- Exclama Vincent, jogando o seu pincel no chão e prestes a se retirar furioso.

- Ora vamos Vinnie, não vá- implora Thomas, o puxando pelo ombro.

Vincent o olha sério.

- Não me chame assim.

Thomas sorri maliciosamente.

- Não seja tão cabeça dura- e então, quando Vincent estava prestes a ceder e voltar a trabalhar, ele acrescenta- Vinnie.

- Tudo bem, para mim já chega- E então ele sobe a escada até a superfície- Eu preciso de um café para relaxar.

- Pode trazer uma xícara para mim?- Pergunta Thom, com uma voz excessivamente fina e irritante.

- Senhor Lennet, eu poderia responder o senhor agora de mil maneira ofensivas, mas como fui criado para ser um cavalheiro, irei apenas me retirar- Diz, e é exatamente isso o que faz.

Quando ele realmente sai, Jeremy olha para Thomas confuso.

- Acho que isso quiz dizer um não.

. . .

Eles terminaram ao por do sol, quando o senhor Finnigan apareceu e convidou todos para jantarem.

- Ah, eu tenho um lugar ótimo onde podemos comer!- Diz Thomas animado- A comida é divina...

Eleanor faz questão de beliscar seu ombro com força e sussurrar no seu ouvido de maneira ameaçadora:

- Thomas Wallace Lennet, por favor não faça o que eu acho que está prestes a fazer.

Ele a olha, levemente indignado.

- E como tem tanta certeza do que vou falar?

- Pois eu sei muito bem que você durante toda a sua vida só frequentou um tipo de restaurante, e esse lugar não é nem um pouco apropriado para pessoas respeitosas como o senhor Finnigan.

- Está insinuando que a Taverna do Urso é um lugar inapropriado, Eleanor?- ele arqueia as sobrancelhas- O Gus ficará tão triste quando eu o contar...

- Não ouse contar isso!

- Contanto que me deixe convidá-los...

Ela bufa, irritada.

- Tanto faz, faça o que quiser.

E então, ele disse o lugar, e para a surpresa dela, todos concordaram em ir.

. . .

Esse foi o capítulo, minhas beldades ❤️

Não esqueçam do voto caso tenham gostado, e me perdoem por qualquer errinho besta, eu ainda não revisei rsrs

Até a próxima~

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