14. Onde Melanie tem medo

    Assim que as duas finalmente chegam a residência Wright, Melanie solta um suspiro de alívio.

    O caminho de carruagem que fizeram da estação até a casa fora simplesmente torturante. Foi dominada por um pânico absurdo de que tudo o que acontecera ontem pudesse se repetir.

    Quer dizer, ela sequer entendia COMO tudo tinha acontecido.

    Ela e Ellie. Uma MULHER. Que apesar de ser a pessoa mais incrível que ela conhecia, ainda assim, era uma mulher. Não era certo, mas não é como se ela houvesse tido muito controle sobre a situação.

    Em uma hora, estava desabafando e contando a história de sua vida para ela. Na outra, estavam se beijando como se nada mais no mundo importasse.

    E inferno, foi maravilhoso. Melanie se sentiu no céu, ao mesmo tempo em que seu coração batia tão rápido que por um segundo achou que iria ter um infarto...

    Seria mentira dizer que ainda não se lembrava nitidamente da sensação dos lábios de Ellie nos seus. Ou dos lábios dela em seu pescoço, ou em sua orelha...

    Melanie estremeceu, voltando a realidade.

    Aquilo NUNCA mais poderia se repetir. Fora perfeito? Claro. Se dependesse dela, ela a beijaria de novo? Óbvio.

    Mas ela desde sempre foi considerada por suas amigas como uma garota realista, e era verdade. Se realmente tentassem fazer aquilo novamente e acabassem pegas, a sociedade não seria tão bondosa com as duas. Com Melanie principalmente.

    Ela sentia um pânico absurdo só em imaginar se o seu pai descobrisse. Provavelmente a expulsaria para sempre de casa ou mandasse se tornar uma freira para purificar a sua "corrompida" alma.

    Mel foi despertada de seus devaneios assim que a porta foi aberta por ninguém menos que Thomas.

    - Finalmente!- gritou, indo até elas com o seu tipico sorriso sedutor- Pensei que nunca voltariam! O que andaram aprontando?

    Ao ouvir a pergunta, Mel praticamente engasga com a própria saliva. Olha para Eleanor, e percebe que a mesma já a olhava hesitante.

    As duas desviam o olhar ao mesmo tempo, com os rostos corados. Eleanor pigarreia.

    - O nosso trem deu um pequeno atraso. Sinto muito querido, sentiu tanta falta assim de mim?

    - Com você sendo convencida desse jeito tenho vontade de dizer que senti falta apenas da linda senhorita Watson, mas nós dois sabemos que isso seria uma mentira.

    - Ah, que encantador!- Ellie diz irônica.

    - Também sentimos sua falta, Thomas- Diz Melanie com um sorrisinho envergonhado.

    - Fingirei que acredito nas senhoritas- ele diz brincalhão, beijando de maneira cavalheiresca a mão de cada uma. Quando se levanta, solta um choramingo- Agora, por Deus, entrem logo. A Hariet teimou que só iria servir a comida quando vocês chegassem e eu estou tremendo de fome.

    Enquanto comiam, Thomas pediu para que contassem TUDO sobre a viagem. Na mesma hora em que fez essa pergunta, Mel sentiu o rosto esquentar de novo, e fingiu que estava distraída comendo enquanto Eleanor contava.

    Ele praticamente não acreditou em metade da história, mesmo que Ellie tenha insistido várias vezes que sim, elas REALMENTE pularam de um trem e REALMENTE foram acolhidas por uma tribo. Isso sem falar na volta, que entraram ilegalmente no trem.

    Ellie é claro não falou nada sobre o beijo.

    No fim, Tom caiu na gargalhada, finalmente acreditando (afinal as roupas de Melanie eram a maior prova de tudo). E ele riu tanto que teve que colocar a mão na barriga e parar de comer.

    - Céus! Eu não acredito que você realmente convenceu a pobre Melanie a fazer tudo isso, e olhe que você nem estava bêbada!

    - Não precisei de muito para convencê-la. Por mais que ela negue, é uma mulher muito mais corajosa do que eu...

    Melanie se levanta subitamente, com a garganta seca.

    - Com licença- Diz rapidamente, saindo da mesa- Eu... preciso ir ao meu quarto.

    Thomas a olha, confuso, enquanto Ellie sequer levanta o olhar, parecendo focada demais em seu prato, com uma expressão infeliz e distante.

    . . .

    Descontrolada, Melanie retirou da gaveta do seu quarto uma folha em branco e começou a escrever para o seu pai.

    Implorou na carta para que ele a mandasse de volta, pois já havia aprendido a lição e não suportava mais aquele lugar. Disse que estava desesperada para voltar para casa.

    Apenas não contou a razão para isso.

    Não contou que não ia suportar ficar naquele lugar um dia sequer sem esbarrar com Ellie, o que significava ter que falar com ela, ouvir sua voz, sentir seu cheiro e não conseguir parar de pensar no quão desejava que ela a beijasse de novo.

    Não podia deixar que isso acontecesse novamente, e a única maneira de garantir isso é fugir. Voltar para a Inglaterra e nunca mais voltar a vê-la.

    "Querido papai,

    Eu não suporto mais ficar neste lugar. Estou terrivelmente infeliz aqui. Por favor, me deixe voltar para casa.

    Prometo que serei a dama que o senhor quer que eu seja de agora em diante. Já aprendi minha lição.

    Da filha que o ama,

    Melanie."

    Então ela colocou a carta dentro de um envelope e a selou. Mais tarde, foi até Leonard e entregou a carta.

    - Leonard, poderia por favor mandar essa carta? É para o meu pai.

    O mordomo assente e pega a carta, sem sequer desconfiar do conteúdo.

    - Com prazer, senhorita.

    - Obrigada- disse, e enquanto o via sair, se perguntou se havia feito a escolha certa.

    O que iria acontecer, se o seu pai lesse a carta e realmente considerasse o seu pedido?

    . . .

    Não demorou para Eleanor perceber que Melanie tentava ignorá-la a todo custo.

    E seria uma grande mentira se ela dissesse que não estava magoada com isso, ou que o seu coração não se partia toda vez que tentava puxar conversa e a morena só lhe oferecia respostas curtas, para então se afastar dela o mais rápido possível.

    Normalmente, Ellie devia estar acostumada com esse comportamento. A vida inteira fora ignorada pelas suas amantes no dia seguinte ao que ficavam juntas, em bailes onde se encontravam, provavelmente para não levantar suspeitas da sociedade.

    Mas por alguma razão, quando era Melanie quem a ignorava... A dor era insuportável.

    Suspirou consigo mesma enquanto seguia em direção a biblioteca. Se a paixão era tão complicada assim, ela com certeza iria evitar se apaixonar novamente no futuro.

    - Olá, cabelo de tomate.

    Ela revira os olhos com o apelido, pronunciado por ninguém menos que Thomas, que já estava no meio da biblioteca sentado e com um livro no colo.

    - Olá, magricela.

    - Dormiu bem?

    - Como um anjo.

    - Ah, então provavelmente deve ter sonhado comigo.

    Eleanor se aproximou para dar um tapa em sua nuca, o fazendo rir.

    - Eca, Deus me livre sonhar com você.

    - Ah é? E com quem você gostaria de sonhar, sua prima?

    Eleanor engasga, surpresa, para então fingir indiferença e soltar uma risada forçada.

    - Nao fale coisas estúpidas. Irá acabar atrofiando ainda mais o seu minúsculo cérebro.

    - Bem, não é como se eu estivesse errado. E o meu cérebro tem o tamanho ideal, para sua informação. Sou além de esmagadoramente belo um homem muito culto.

    - Sei- Ellie revira os olhos e então vai até as estantes. Pega um romance qualquer e vai até a poltrona a frente da dele- E sim, você está errado sobre eu querer sonhar com ela.

    Dessa vez é Thomas quem revira os olhos.

    - Francamente, Eleanor, você é uma péssima mentirosa. E eu sei que sou meio desatento, mas também não sou estúpido.

    - O que quer dizer?

    Ele suspirou, e então pegou uma caixa de charutos que ficava em uma mesa ao lado de sua poltrona. Pegou um e tirou um isqueiro do bolso, o acendendo.

    - Quero dizer que está óbvio que você ama ela Percebi isso desde o primeiro dia em que estive aqui- disse, e então começou a fumar.

    Eleanor o olha, embasbacada e com os olhos arregalados.

    - Thomas Lenned, por acaso você andou usando drogas?- perguntou ela, nervosa- Aliás, por que está falando isso quando me disse que estava gostando dela?

    Thomas sorri de canto, com um brilho triste no olhar.

    - Não é mentira dizer que me encantei com ela. Mas eu já tinha notado a maneira que você a olhava, El, e assim que falei sobre os sentimentos que estavam brotando em mim me arrependi instantaneamente, porque sabia que ao saber disso você faria o possível para negar os seus próprios.

    Eleanor sente o estômago revirar de culpa, ao ver que Thomas a considerava uma amiga tão leal. Era verdade que no início evitou Melanie por causa dele, mas com o tempo isso se tornou quase impossível.

    Foi atingida por uma onda de carinho pelo seu melhor amigo. Mesmo que Thomas fosse o tipo de pessoa que se jogaria na frente de um trem por ela, Ellie se esquecia disso as vezes.

    Mesmo assim, isso não significava que iria admitir tudo. Principalmente agora que Melanie parecia odiá-la.

    - Não diga bobagens, Thomas.

    - Não se faça de sonsa! Vamos, desenbuche: aconteceu mais alguma coisa durante a viagem, não foi? Algo que você não quis me contar.

    - E-eu não sei do que está falando...

    - Eleanor.

    Ela o olha, vendo que ele estava sério, o que a assustou um pouco já que Thomas NUNCA ficava tão sério assim.

    Cobriu o rosto com as mãos e soltou um choramingo.

    - Tudo bem, se quer tanto saber, eu a beijei.

    Thomas arregalou os olhos, e ficou tão chocado que o charuto em suas mãos caiu na sua calça:

    - Você o que?!- E então, ao sentir o charuto queimar sua calça, solta um palavrão e se levanta rapidamente, passando a mão pela região agora queimada do tecido - Cacete! Essa era a minha calça preferida!

    Eleanor contém uma risada, e estica a mão.

    - Pode me passar um?

    - Ellie, acredite em mim, não é bom para saúde. Eu só não paro porque o vício me aprisiona...

    - Só me dê logo a droga de um charuto.

    Ele da de ombros, e então a entrega um, também oferecendo o seu isqueiro. Quando dá sua primeira tragada, como uma verdadeira profissional, Thomas suspira e volta a se sentar.

    - Mas voltando ao assunto: como diabos isso aconteceu?

    - O beijo?

    Ele arqueou as sobrancelhas, em uma expressão irritada que perguntava "Está brincando comigo?".

    Eleanor tragou mais uma vez o charuto, antes de começar a falar:

    - Estávamos no trem de volta, sozinhas no vagão. Quer dizer, praticamente sozinhas, já que estávamos na companhia daquela família do Texas, mas estavam todos dormindo então... Éramos só nós duas. E começamos a conversar, ela me contou sobre a sua vida na Inglaterra e eu... bem, não consegui me controlar- disse, encolhendo os ombros sem graça.

    Thomas balançou a cabeça de maneira desaprovadora.

    - Eleanor... eu bem que a avisei.

    - EU SEI! O que quer que eu faça? Lhe ofereça um troféu? Você estava certo quando disse que eu iria acabar atraída por ela... Mas foi inevitável, Tom. Ela estava ali, a minha frente, iluminada pela luz da lua e e então... eu me vi completamente...- Ela suspira, sem conseguir terminar a frase.

    - Ah, meu Deus- Thomas a olha embasbacado, e então sussura com um sorrisinho empolgado- Você a AMA.

    - O que? Não! Quer dizer, posso até gostar dela. BASTANTE na verdade... Mas não amo, de jeito nenhum.

    Thomas arqueia as sobrancelhas de maneira maliciosa, sem acreditar em uma palavra do que dizia.

    - El, durante todos esses anos em que sou seu amigo, eu já a vi se encantando e dormindo com várias mulheres. Mas eu NUNCA a vi desse jeito. Seus olhos praticamente brilham quando você fala sobre ela. Isso sem falar no sorriso idiota e apaixonado que fica estampado nos seus lábios. Para ser mais óbvio só se escresse em sua testa: "Eu amo Melanie Watson".

    - Você é um completo idiota- resmunga ela, morrendo de vergonha e com vontade de cavar um buraco e se esconder- Eu NÃO a amo, Thomas, e pare de falar tantas tolices.

    - Quando mais você nega, mais eu desconfio de que estou certo- Diz com um sorrisinho vitorioso.

    Eleanor se levanta agressivamente, com vontade de esganá-lo.

    - Argh, você é impossível!- exclama, para então sair pisando forte para fora do cômodo, deixando um Thomas sorridente para trás.

    . . .

    No dia seguinte, o café da manhã parece ocorrer da mesma maneira que acontecia nos últimos dias:

    Com Melanie se esforçando ao máximo para não olhar Eleanor e comendo o mais rápido possível para voltar ao seu quarto e ocupar seu tempo pintando ou bordando.

    Mas então, Thomas falou animado:

    - Ah, Ellie, eu quase me esqueci: Lembra-se do evento que eu fui?

    - E como poderia esquecer? Ainda estou indignada por não ter sido convidada.

    - Bem, por isso mesmo: O senhor Finnigan irá organizar esse mesmo evento aqui mesmo em Ohio, e ele a convidou (junto a mim é claro) para ir como convidada de honra, e escavar ao lado dos maiores arqueólogos do mundo.

    Eleanor o olhou por longos segundos, paralisada.

    Então, soltou um grito histérico, fazemos com que Thomas e Melanie pulassem em seus assentos assustados.

    - THOMAS LENNED, ACHO BOM QUE VOCÊ NÃO ESTEJA BRINCANDO COMIGO PORQUE SE ESTIVER, VOCÊ É UM HOMEM MORTO!

    - Eu não estou! O próprio senhor Finnigan me pediu para informá-la a respeito do convite!- disse na defensiva, parecendo realmente assustado com sua ameaça.

    - Eu não acredito!- Ela gritou, tão empolgada que Melanie não ficaria surpresa se começasse a dançar no meio da sala de jantar- O senhor Finnigan em pessoa!

    - Quem é o senhor Finnigan?- pergunta Mel para Thomas, enquanto Ellie tinha seu ataque.

    - Ele é um dos maiores historiadores e arqueólogos da atualidade. Já escreveu diversos artigos que contrariam dogmas e teorias da igreja sobre o passado da humanidade. Eu e Ellie o admiramos absurdamente.

    - Uau, então faz sentido ela ficar tão feliz.

    - Sim- ele sorri- E o que acha, Melanie? Gostaria de nos acompanhar para o evento?

    - E-eu não sei se é uma boa ideia...

    - Ora vamos! Vai ser divertido! Tenho certeza que uma garota culta como a senhorita deve apreciar pelo menos um pouco a ciência da história humana.

    - Confesso que sim, mas mesmo assim não quero me intrometer ou atrapalhar o seu trabalho...

    - Não se preocupe com isso, sua boba, agora é bom já ir se aprontando- diz com um sorriso empolgado- Partiremos amanhã bem cedo.

    . . .

Esse foi o cap, minhas beldades :)

As coisas estão meio tensas agora, mas não se preocupem: logo tudo vai melhorar ksksks e não fiquem com raiva da Mel, a tadinha tem seus motivos...

Enfim, não esqueçam do voto caso tenham gostado eee nos vemos logo logo :)

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