12. Onde elas vão ao rio

   Graças a brilhante ideia de Ellie para que dormissem abraçadas, Melanie não conseguiu dormir sequer por 4 horas. E então, na última vez em que acordou, percebeu que não conseguiria voltar a fechar os olhos, e com muita gentileza retirou as mãos de Ellie da sua cintura.
   
    Decidiu que merecia um banho, depois de tantos dias sem lavar o cabelo.
   
    Foi com muito alívio que, depois de perguntar a Dakota onde era o rio, ele apontou para um ponto azul no horizonte, distante o suficiente para que ninguém dali conseguisse enxergá-la.
   
    Então ela andou até o rio, com suas calças e a nova roupa que ganhara.
   
    Assim que chega na margem, retira as roupas, sem antes olhar em volta uma última para ter certeza de que ninguém estava ali.
   
    E então, ela entra, suspirando ao sentir a água morna envolvendo o seu corpo. Fecha os olhos com deleite, e mergulha. Fica imersa na água por vários segundos, envolta pelo silêncio.
   
    Até que, quando volta a superfície, ela leva um susto, antes de sequer processar o que se encontrava a sua frente.
   
    Era ninguém menos que Eleanor Moore. Tirando a roupa.
   
    Melanie prendeu o fôlego, perguntando-se como era possível que não houvesse ainda notado sua presença. E Mel, sem saber porque, não falou absolutamente nada. Apenas apreciou a visão dela retirando lentamente cada peça de sua roupa, em movimentos sutis e, céus, absurdamente sedutores.
   
    Talvez tenha sido naquele momento que ela percebeu, oficialmente, que se sentia atraída por Ellie. Na verdade, "atraída" era pouco para descrever o que sentia naquele momento.
   
    Melanie queria possui-la ali mesmo, na margem do rio. Queria tocar e beijar cada parte perfeita do seu corpo. Queria senti-la por inteiro...
   
    Foi naquele momento, enquanto Melanie era tomada por fantasias, que Ellie a notou.
   
    Os olhos da ruiva se arregalam de surpresa, e então ela gaguejou nervosamente:
   
    - B-belo dia para um banho, não é?
   
    Melanie, sem saber bem o que responder, apenas assente.
   
    - Ham... desculpe, e-eu não vi que você já estava aqui. Se quiser, eu posso sair...
   
    - Ah, n-não, não é necessário! Quer dizer, não é como se- Ela pigarreia, nervosa- Não é como se...
   
    Eleanor sorri, compreensiva.
   
    - Tem razão.
   
    E foi assim que elas acabaram tomando banho juntas. Melanie tentou fingir que estava inteiramente focada na higienização do seu corpo, quando na verdade tudo o que queria era se aproximar se Ellie e quem sabe se oferecer para ensaboá-la, mesmo que não tivesse nenhum sabão a vista.
   
    - Você não conseguiu dormir?- perguntou Ellie de repente, puxando assunto.
   
    - Não... eu estava muito desperta acho- Por sua causa, era o que queria acrescentar, mas obviamente não o fez.
   
    Ellie sorri.
   
    - Foi uma boa festa, não foi?
   
    - Sim. E me desculpe, Ellie, por todas as bobagens que eu falei, sobre eles nos devorarem... Fui uma completa estúpida. E eu também quero agradecer, por ter me mostrado o quão errada eu estava.
   
    - EU quem devo agradecer, pequena- protesta ela, que para o pânico de Mel, começava a se aproximar- Se não fosse por você... Eu não teria coragem de fazer sequer metade das coisas que eu fiz ontem. Então obrigada.
   
    Melanie a olha, emocionada. E então esse sentimento inocente e alegre é substituído novamente pela noção do quão os seus corpos nus estavam próximos.
   
    Ela engoliu em seco e, quando voltou a olhar para Ellie, viu que ela a encarava de maneira desconcertnte e intensa, fazendo com que uma onda intensa de desejo percorresse o seu corpo, e ela tivesse que cruzar as pernas para se controlar.
   
    De maneira involuntária, olhou para os seus seios, que mesmo a região rosada submersa, ela ainda podia ver um grande porção de sua pele.
   
    Então pensou sem querer em Katerine. Será que Ellie, mesmo tendo dormido com mulheres tão atraentes, já pensara alguma fez em dormir com ela?
   
    Qual seria a reação da ruiva, se Melanie estendesse um pouco a mão para tocá-la?
   
    E ela percebeu que estava prestes a fazer isso. Prestes a encostar em sua pele macia, quando vozes a assustaram e a impediram.
   
    Quando as duas levantaram o olhar, arregalam os olhos de surpresa.Um grupo enorme de pessoas agora estava correndo na direção delas, prestes a pular no rio.
   
    Homens e mulheres, de todas as idades.

    Todos completamente nus.
   
    . . .
   
    Eleanor devia admitir que tomar banho na frente de toda a tribo era BEM menos constrangedor quando tinha apenas 8 anos.
   
    E não foi só o fato de ver coisas chocantes e que a perseguiriam em seus pesadelos, mas também porque ela tinha quase 100% de certeza que, se todos não tivessem aparecido, algo iria acontecer entre ela e Mel.
   
    Ellie percebeu a maneira que ela a olhava, encoberta por desejo. E seria mentira dizer que ela não sentia o mesmo. Esperou que ela desse o primeiro passo, para então tomá-la nos seus braços e colar suas bocas.
   
    Talvez por isso tenha ficado de mau humor pelo resto do banho, mesmo que a expressão de Melanie embasbacada fosse hilária.
   
    Deveria ser bastante chocante mesmo, para uma garota que foi criada a sua vida inteira para ser uma dama e ver somente o seu marido pelado, ver tantos corpos despidos.
   
    E por mais que Eleanor odiasse admitir, ficou ainda mais excitada ao ver o seu choque. Se perguntou o que mais a deixaria tão impactada. Em específico, o que mais que ela fosse capaz de fazer em uma cama para deixá-la assim.
   
    Mais tarde, quando as duas já estavam banhadas e vestidas, Eleanor se preparou emocionalmente para se separar mais uma vez da tribo.
   
    Fez questão de visitar pessoalmente Nuvem Vermelha em sua barraca, e os dois se abraçaram por longos segundos. Quando se separaram, ele fez um gesto de benção em sua testa, sussurrando uma prece aos espíritos.
   
    - Obrigada por tudo- Ela disse por fim, controlando as lágrimas.
   
    - Não precisa agradecer, Tohopka. Nós somos uma família. É por isso também que eu faço questão de emprestar montaria para você e sua amiga.
   
    - O que? Não, Nuvem Vermelha, não posso aceitar...
   
    - Não é uma oferta, é uma ordem- ele diz em um tom afetuoso.
   
    Eleanor concorda com a cabeça, desistindo de se conter e deixando as lágrimas descerem.
   
    - Sentirei saudades.
   
    Ele sorriu, beijando sua testa.
   
    - Que o Grande Espírito esteja com você- Diz ele.
   
    Ela assente, sorrindo de volta.
   
    - Que o Grande Espírito esteja com você- repete, com a voz trêmula.
   
    . . .
   
    Melanie não sabia que sentia tanta falta de cavalgar até montar novamente. Nuvem Vermelha havia dito, de acordo com Eleanor, que assim que elas chegassem a estação poderiam soltar os animais pois eles saberiam exatamente o caminho de volta para casa.
   
    As duas galoparam pela paisagem desértica do Oeste, com os cabelos ao vento e uma sensação maravilhosa e libertadora.
   
    Elas riam, gritavam e corriam, despreocupadas com tudo a sua volta, a não ser aquele momento. Melanie se sentiu como uma verdadeira heroína de uma Odisseia, voltando de uma épica jornada com a sua maior companheira.
   
    Talvez por isso que, quando elas chegaram a estação, sentiu uma pontada de tristeza, percebendo que a jornada havia chegado ao fim.
   
    Desceram dos cavalos e foram em direção ao vendedor de passagens. O homem olhou para as duas com o cenho franzido, talvez pelas suas roupas claramente indígenas, mas então deu de ombros, concluindo que elas tinham comprado de alguma loja.
   
    - Cada passagem custa 4 dólares- disse com uma voz excessivamente entediada.
   
    Eleanor colocou a mão dentro do bolso de sua calça, procurando o dinheiro, até que seu rosto ficou pálido.
   
    Mel a encarou preocupada.
   
    - O que houve?
   
    - E-eu... não estou achando o dinheiro.
   
    - Droga! Tem certeza?- perguntou, ignorando o olhar chocado do vendedor com seu palavreado.
   
    - Sim! Ele estava bem aqui. Eu lembro que eu conferi antes de...- Ela engole em seco- antes de pular do trem.
   
    Mel suspira, pressionando os dedos na testa de maneira impaciente.
   
    - Perdão, senhoritas, mas eu acabei de ouvir que vocês pularam de um trem?- pergunto o vendedor.
   
    Eleanor força um sorriso para ele, nervosa.
   
    - N-não, meu senhor! Eu disse que conferi antes de DESEMBARCAR do trem.
   
    E então, sem esperar para ver se ele iria acreditar ou não, ela puxa Mel pelo braço, levando-a para um canto mais isolado de estação.
   
    - Temos que arrumar um jeito de entrar nesse trem-sussurrou ela.
   
    - E o que pretende? Subir nele e torcer para que não sejamos pegas por ninguém?- Pergunta Melanie com deboche. Até olhar para Ellie e ver seus olhos brilhando- Não, Eleanor, eu conheço muito bem esse olhar. Não ouse sequer PENSAR em fazer isso.
   
    - Eu não vou pensar, e sim VOU fazer. E você vai comigo- completou com um sorriso malicioso.
   
    - Eleanor Moore, não sei se já percebeu, mas eu não estou com vontade de ser perseguida novamente pelas autoridades.
   
    - Você não vai ser perseguida, eu prometo. Não vou deixar que nos vejam.
   
    - Eu NÃO irei subir nesse trem sem uma passagem, entendeu? Nem mesmo se o mundo estiver prestes a acabar e...
   
    Mas antes que ela terminasse de falar, o maquinário anunciou que eles estavam prestes a partir.
   
    Melanie olhou para o trem, hesitante.
   
    - Se quiser ficar, tudo bem. Mas não poderemos fazer muita coisa em Chicago, estando de bolsos vazios. A não ser que abra mão de toda a sua honra e considere a prostituição...
   
    - Ellie!- repreende ela.
   
    - É a verdade- Fala, com um sorriso travesso e dando de ombros. Então ela oferece sua mão- E então, o que me diz? Liberdade ou prostituição?
   
    Melanie suspira irritada, aceitando sua mão.
   
    - Você quer mesmo que eu responda?
   
    . . .
   
    Eleanor só entrara clandestinamente em um trem uma vez na vida, em uma viagem com Thomas para o exterior. E isso só aconteceu porque os dois estavam completamente bêbados. A sorte foi que estava escuro o bastante para que conseguissem despistar os guardas.
   
    Naquela vez, porém, ela se encontrava completamente sóbria, e o Sol brilhava no céu, fazendo com que qualquer erro que ela ou Mel cometesse pudesse ser facilmente notado.
   
    Por segurança, segurou a mão dela, a guiando entre as pessoas e se escondendo do guarda, que olhava em volta de maneira profissional em busca de alguém suspeito.
   
    Ela suspirou, com a respiração trêmula, e se escondeu atrás do último vagão do trem. Sabia que o guarda só iria interromper sua vigília quando o trem começasse a se mover, e Ellie pretendia aproveitar justamente esse momento para que elas pudessem pular no vagão.
   
    Para a sua sorte, agora o trem estava com um vagão de carga, e que continha espaço o suficiente para que elas passassem a noite ali.
   
    Então esperaram e, assim que o trem começou a se mover, começaram a correr.
   
    - Ellie!- exclamou Mel preocupada- Nós não VAMOS alcançar!
   
    - Vamos sim!
   
    E dizendo isso, Eleanor alcança o vagão, juntando todas as suas forças para pular dentro dele. Quando finalmente consegue, estende sua mão para ela.
   
    Melanie continua a correr, desesperada, e por um terrível segundo teme que ela não vá conseguir.
   
    Até que suas mãos se encontram, e Ellie a puxa com força, trazendo-a consigo para dentro do vagão.
   
    Assim que finalmente se encontram dentro do trem, começam a rir.
   
    - Eu REALMENTE não acredito que você me convenceu a fazer isso.
   
    - Ora vamos, até que foi divertido.
   
    - Talvez, se você esquecer o risco de morte iminente...
   
    Elas voltam a rir.
   
    Até que Eleanor escuta algo. E então sente uma presença atrás de si.

. . .

ESSE FOI CAPITLO BELDADESSS espero que tenham gostado ^^

E se sim, não esqueçam do clássico votinho :)

Enfim, nos vemos no capítulo anterior, que promete ser ainda mais emocionante (juro kkkkk) <3

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