11. Onde Melanie dança
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Mais tarde, Eleanor e Melanie estavam dentro de uma barraca, e a morena ainda não conseguia acreditar que elas haviam conseguido. Não só isso, como Nuvem Vermelha havia lhe oferecido para tomar um líquido estranho alegando que iria curar sua perna, e para sua surpresa estava de fato funcionando: ela sentia a dor diminuindo aos poucos.
A única coisa ruim disso tudo é que Ellie ainda parecia furiosa com ela.
- Ellie, por favor...- tentou dizer, pela terceira vez.
- Não precisa se desculpar, Mel- disse, mas em um tom dolorosamente frio- É compreensível. Você vem de um lugar onde as pessoas julgam mais do que tudo. Mas para a sua informação, eu cresci com essas pessoas. E eu posso garantir que, por mais que você não se agrade muito com o que eles comam, vistam, ou seja lá o que for... Eles são minha família.
Essa última frase perfurou o coração dela como uma flecha, e fez com que lágrimas ameaçassem cair de seus olhos.
Sem pensar, segurou a mão dela.
- Desculpe, Ellie, eu fui estúpida, de verdade. Não queria julgar a sua família. Eu só... fiquei com medo. Mas eu tenho certeza que não é possível que eles sejam pessoas más, afinal eles criaram você, que é uma das melhores pessoas que conheço.
Eleanor a encara, como se ainda não quisesse ceder.
- Eu nem imagino o quanto deve ter se sentido feliz em revê-los- continuou- Deve ter sido horrível ficar tantos anos sem poder ver as pessoas com quem cresceu. Quer dizer, eu estou a menos de 2 meses aqui, e já estou morta de saudades de casa.
Para seu alívio, Eleanor suspira, e segura a sua mão de volta. Fica as encarando por um tempo, com um sorriso fraco nos lábios.
- Foi por isso que eu te trouxe para cá. Amélia me contou que havia ficado devastada depois que recebeu uma carta das suas amigas. Queria distrai-la, fazer com que se sentisse melhor.
- E você conseguiu- solta uma risadinha- Com certeza irei me lembrar desse dia para sempre.
Ellie ri também, e então uma sensação gostosa invade o peito de Mel. Tudo havia voltado ao normal. Estavam bem de novo.
Ficaram um momento em silêncio, até ouvirem um movimento fora da barraca, e então uma cabeça surge.
Era Takoda, com um sorriso animado no rosto, contrastando completamente com o homem de cara fechada que a carregara uma hora atrás.
Ele falou algo no idioma dele com Ellie, que sorriu em resposta e assentiu.
Quando ele foi embora, a ruiva a encarou animada.
- O que acha de participar do seu primeiro ritual indígena?
Melanie a olha, temerosa.
- Tem certeza...? Eu não sei se vou me encaixar, digamos assim.
- Não seja boba, eles vão adorá-la. Principalmente quando eu contar que você foi responsável por cegar um dos maiores assassinos de índigenas da região.
Ela sorri ao se lembrar, mais uma vez estufando o peito de maneira orgulhosa.
E então, as duas saíram.
Mel prendeu o fôlego com a visão de todas aquelas pessoas em volta da fogueira, cantando e fazendo barulhos altos, dançando e batendo os pés.
Involuntariamente ela se encolheu, mas então Ellie apoiou a mão em seu ombro, o que a fez relaxar um pouco.
Quando se aproximaram, vários olhares se voltaram em sua direção, principalmente das índias, que sorriam empolgadas. Melanie se sentiu corar e foi praticamente empurrada por Ellie até elas.
Quando se sentou em um tronco, próximo as mulheres, uma delas tenta falar alguma coisa com ela.
Instintivamente Mel olha para Ellie, confusa, e a mesma sorri.
- Ela disse que os seus olhos são bonitos.
Melanie sente o rosto corar, e mostra um sorriso contrangido para a mulher.
- Ah, você acha? Obrigada.
Outra mulher, mais velha, diz algo que Ellie novamente traduz, dessa vez segurando o riso.
- Ela perguntou se você não se sente desconfortável usando esse vestido sujo e cheio de camadas.
Melanie olha para a roupa que usava, constrangida. De fato, o vestido roxo estava com um aspecto bem sujo depois que pulou do trem, para não se dizer imundo.
A mulher mais velha falou novamente.
- Ela disse que, se quiser, vocês podem trocar as roupas- Fala Ellie- Ela pode te dar uma roupa dela e você da o vestido.
- Ela quer esse trapo?
- Bem, é o que parece- Diz dando de ombros.
Melanie olha para a roupa da mulher. De fato, parecia bem mais confortável, e seria bom poder levar uma lembrança consigo para casa.
. . .
Assim que Melanie saiu da barraca, todos uivaram e comemoraram em aprovação, enquanto ela sorria envergonhada.
Eleanor teve que soltar um longo suspiro, processando o quanto ela era linda. As mulheres haviam insistido em dividir o seu cabelo em duas tranças, e colocaram uma tiara com três penas em sua cabeça. Também pintaram três traços de vermelho em cada bochecha.
Melanie havia insistido porém em usar calças em vez de um vestido, e pediu somente um manto indigena para cobrir o busto, além de um par de sapatos.
Assim que viu Ellie, ela sorriu, e se aproximou com o olhar cheio de expectativa.
- E então, estou muito ruim?
- Nem um pouco. Como eu disse no Museu, você seria a mais perfeita das índias.
Melanie solta uma risada encantadora, com a mão na boca.
- Você é adorável, Ellie.
E então, um dos índios a puxa para dançar, e ela aceita encabulada deixando Eleanor sozinha, a admirando de longe.
Enquanto a observava dançar e se divertir com todos, sentiu um aperto estranho no peito. Queria ser inteiramente responsável por aquele sorriso em seu rosto, queria ser a única com quem ela quisesse dançar.
Queria tê-la só para si.
O que era estúpido, claro. Não havia motivo para se sentir assim.
E aquelas malditas palavras não saiam de sua cabeça. "Você é adorável" ninguém nunca em toda a sua vida havia a chamado desse jeito. De bonita? Sim. De sexy? Claro.
Mas nunca de adorável.
- Mas que inferno, Melanie- praguejou para si mesma- O que você está fazendo comigo?
- Tudo bem, Tohopka?
Eleanor sorri para Nuvem Vermelha, que agora sentava ao seu lado. Adorava o fato de que ele insistia em chamá-la pelo seu nome indígena, em vez do católico.
- Estou sim, obrigada.
O homem a olhou, desconfiado, e então negou veemente com a cabeça.
- Você parece dispersa, e a Tohopka que eu conheço nunca é assim. Ela sempre teve um espírito centrado, com os pés no chão e sem espaço para fantasias e divagações.
- De fato... talvez seja apenas o cansaço. Foi um longo caminho até aqui.
- Não, não é isso- diz com certeza, e então estende a mão- Me deixe ler sua palma.
- Eu não tenho certeza se é uma boa ideia, Nuvem Vermelha...
- Vamos, me dê- manda, com o seu tom inquisitor de líder.
Eleanor obedece sem pestanejar, e logo ele está lendo a sua palma, percorrendo os olhos de maneira concentrada por cada listra e elevação. Nuvem Vermelha era conhecido na tribo por manipular com destreza a arte da quiromancia, além claro de ser um grande líder e portador espiritual.
Assim que terminou a leitura, fechou os olhos e ficou assim por uns segundos, com o cenho franzido, e Ellie deduziu que estivesse se comunicando ou pedindo ajuda aos espíritos.
"O meu caso está tão difícil assim?" se perguntou preocupada.
Então, quando Nuvem abriu os olhos, um sorriso de pura alegria invadiu seus lábios.
- Ah, que maravilha!- exclamou, segurando suas duas mãos animado- Você está apaixonada, minha pequena Tohopka.
- A-apaixonada?
Eleanor sente as bochechas esquentarem, enquanto tenta retirar as mãos das dele. Talvez as suas leituras não fossem tão exatas assim. Provavelmente por causa de sua idade avançada.
- Sim, com certeza está sentindo uma intensa paixão, apesar de negar para si mesma. E pelo que o Grande Espírito me disse, é por aquela jovem ali- falou, apontando para Melanie, ainda alegre dançando em volta da fogueira.
- Acho que se enganou, Nuvem Vermelha, eu nunca...
- Não se pode negar o que os espíritos dizem, Tohopka. Mas não serei eu que a convencerei a aceitar os seus sentimentos. Apenas queria esclarecer que eles irão, você querendo ou não.
E então, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele se levantou e se juntou aos outros.
Eleanor continuou sentada. Olhou para Melanie mais uma vez.
"Apaixonada, é?" E involuntariamente, sorriu.
Se fosse verdade... Isso significa que ela estava completamente enrascada.
. . .
Quando a festa acabou, o Sol já estava dando indícios de que iria nascer. O céu começou a clarear aos poucos, e Melanie sentiu uma alegria imensa. Nunca tinha se divertido tanto em toda a sua vida.
Quer dizer, tirando a vez talvez em que tivesse pulado de um trem... Por mais que tenha sido uma experiência bem dolorosa também.
Ela se despediu de todos, e então se dirigiu até a sua barraca.
Quando levantou levemente o pano, viu Eleanor, dormindo. Entrou cuidadosamente, evitando ao máximo acordá-la, e então se deitou ao lado dela.
Seu coração disparou, e ela percebeu que simplesmente não conseguia dormir, então não tinha outra opção a não ser ficar olhando para a ruiva.
Quer dizer, ela poderia ficar encarando o teto também, mas isso não era nada interessante.
Encarar Eleanor, por outro lado...
Olhou para seu rosto, tão sereno. Admirou a maneira que os seus longos cílios faziam sombras delicadas em suas bochechas. A maneira que seus lábios ficavam semiabertos, com sua cor rosada. As sobrancelhas, relaxadas, e o cabelo ruivo, da cor do por do sol, caindo em ondas por seus ombros nus.
Queria poder esticar a mão. Queria tocá-la, sentir sua pele, seu cheiro.
Foi exatamente neste momento em que ela abriu os olhos, e Mel arregalou os olhos assustada.
- O-oi- gaguejou.
Ellie mostrou um sorriso, e por Deus, Melanie jurava que aquele era simplesmente o sorriso mais lindo de todo o mundo.
- Olá, pequena. Aproveitou a festa?
- Sim... só queria que você tivesse ficado até o final.
Ela solta uma risadinha.
- Você sequer iria perceber a diferença. Era o centro das atenções.
- Não diga bobagens. Teria sido muito melhor com você.
Escuta ela soltar um bufo irritado.
- Se você continuar a falar essas coisas, eu não vou ter outra escolha a não ser puxá-la para um abraço.
Melanie a encara, e então, sem saber bem o porque, sussurra:
- Não vejo nada lhe impedindo de fazer isso.
Um sorriso de puro deleite aparece nos lábios de Ellie, antes dela esticar o braço e envolver a cintura dela, puxando-a mais para perto.
- Você poderia se virar?- pergunta, com a voz sonolenta.
Melanie, sentindo que havia perdido a capacidade da fala, apenas obedece, ficando de costas para ela e sentindo a respiração dela em sua nuca. Então, sente Ellie pressionar o corpo contra a seu, a abraçando por trás.
"Ah, meu Deus. AH MEU DEUS"
Ela não se lembrava, em toda a sua vida, de ter se sentido daquela maneira. De ter sentido o seu corpo tão quente e pesado, e não se lembrava de ter tanta dificuldade para se lembrar de como respirar novamemte.
Estremeceu ao sentir os seios dela pressionados contra suas costas e, contra sua vontade, soltou um gemido.
No instante em que solta o som, fecha os olhos encoberta por vergonha.
"É SÓ UM ABRAÇO, PELO AMOR DE DEUS" Mas mesmo assim, parecia muito mais do que isso.
Então olhou por cima do ombro, esperando que Ellie fosse rir da sua reação, até que percebeu que ela estava dormindo novamente.
Suspirou, tentando relaxar. Não que a sensação de ter o corpo dela tão próximo ao seu não fosse boa. Na verdade era boa até demais.
PERIGOSAMENTE boa.
Do tipo que fazia com que um formigamento delicioso percorresse o seu corpo e permanecesse na região entre suas pernas.
. . .
Assim que acordou, horas mais tarde, Eleanor percebeu que estava sozinha.
Se perguntou se Melanie sequer havia conseguido dormir, afinal havia deitado muito mais tarde que ela.
Ela se espreguiçou de maneira dramática e demorada, e então pegou a gola de sua camisa, a cheirando e fazendo careta.
Estava cheirando a esgoto.
Ao sair da tenda, viu o cenário surpreendentemente familiar da rotina da tribo. As mães estavam vestindo e dando comida aos seus filhos, enquanto os maridos dissecacavam os animais que caçaram. Os mais jovens cavalgavam mais a distância, rindo e apostando corrida.
Suspirou, genuinamente feliz, e então foi até o rio para expulsar aquela podridão do corpo.
. . .
Esse foi o capítulo, meus cupcakes rosas 🧁
O que acharam? Rsrs (não esqueçam do votinho caso tenham gostado yay)
Eeee vejo vocês na próxima ♥️
(Já adianto que o próximo vai ser emocionante, ui kkkk)
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