1. Onde tudo começa

Não demorou para que o boato de que a filha de Michael Watson havia dado uma joelhada nas joias nobres do filho de um dos aristocratas mais influentes de Londres se espalhasse.

E não demorou para esse mesmo boato chegar aos ouvidos do pai dela, que sendo o dono de uma larga propriedade de Devon, não podia simplesmente deixar que esse ato de rebeldia passasse em branco. Michael deveria, claro, mostrar a sociedade o quanto desaprovara a atitude desonrosa de sua filha.

E nada mais apropriado do que fazer com que Melanie Watson, que amava ir a bailes e acumular pretendentes, perdesse toda a temporada em Londres, passando em vez disso o ano inteiro na casa de sua avó Amélia Wright, na América.

E foi assim, leitor, que essa história começou.

. . .

Assim que Melanie viu sua avó pela primeira vez, pensou no que diabos aquela senhora viúva ocupava o seu tempo.

Amélia estava sentada em uma poltrona, apenas olhando para a janela como se ela fosse a coisa mais interessante do mundo. E continuou assim, mesmo depois de sua neta ter entrado no cômodo e tê-la encarado por longos segundos esperando ao menos uma recepção calorosa da sua própria avó.

A senhora só tirou os olhos distantes da janela quando o mordomo entrou com o restante das malas de Melanie, chamando-a.

- Senhora Wright, sua neta acabou de chegar.

- Eleanor?- A senhora então tirou os olhos da janela, despertando-se e olhando para ele.

- Não- o mordomo sorriu sem graça- Melanie Watson, filha do seu filho Michael.

- Ah. Obrigada, Leonard- E então, dizendo isso, ela se levantou da poltrona e se dirigiu a Melanie, encarando-a. Ambas tinham os olhos profundamente verdes- Então, você é a famosa neta que golpeou o rapaz e acabou tendo de ficar aos meus cuidados?

- S-sim vo... digo, senhora. Sim, senhora- Apressou-se em se corrigir.

- Hum... já cuido de uma criança, não vejo porque não ter mais uma- ela diz, de maneira despreocupado e balançando as mãos, como se expulsando a garota- Agora ande, escolha um quarto vazio e arrume suas malas. Assim que terminar, vá até a cozinha e encontre Hariet. Ela lhe dará algo para comer.

Um sentimento de magoa invadiu Melanie. Por um segundo, achara que Amélia a receberia de braços abertos, quem sabe dizendo que havia lhe segurado no colo ou que era parecida com o pai. Qualquer coisa que demonstrava pelo menos que a senhora estava feliz em ver sua própria neta.

Havia sido estúpida, é claro.

- Sim, senhora- repetiu automaticamente, até que se lembrou de mais uma detalhe que ela dissera, e questionou- Perdão, mas... a senhora vive com mais alguém?

Pelo que ela se lembrava, seu avô, marido de Amelia, tinha morrido quando o pai dela havia completado 12 anos.

A senhora a olhou com certa impaciência.

- Seus pais não disseram? Bem, não importa. Você irá vê-la amanhã de manhã. Eleanor está no meio de uma escavação no oeste.

Melanie não havia entendido absolutamente nada, mas devido a frieza de sua avó e o simples desinteresse (afinal estava decidida a passar o resto de seus meses isolada no quarto, dormindo o dia inteiro), ela assentiu e com a ajuda de Leonard subiu com as malas.

. . .

Hariet era uma mulher baixinha, ainda mais baixa que a própria Melanie, e tinha um simpático sorriso no rosto.

Assim que a garota entrou na cozinha, foi recebida com uma cesta de biscoitos com um cheiro bastante agradável.

- Oh, meu Deus, olá senhorita!- exclama a governanta, indo até Melanie com um sorriso empolgado- Pode me chamar Hariet. Sempre que precisar matar a fome, estarei a sua disposição.

Melanie sorri de volta ao receber pela primeira vez uma recepção calorosa naquele dia.

- Obrigada, Hariet, eu tenho certeza que sua comida deve ser divina! Apenas ao sentir o cheiro dos biscoitos minha barriga começou a roncar- ela diz, fazendo a governanta rir.

- Isso é ótimo, querida, porque eu os fiz justamente para a senhorita.

- Jura?- Perguntou Mel, subitamente emocionada.

- Mas é claro- ela disse como se a pergunta tivesse sido absurda- E por acaso eu deixaria uma pobrezinha passando fome depois de uma viagem tão longa? Não é todo dia que atravessamos um continente, não é?

Mel ri, lembrado-se da dolorosa viagem e de todos os enjoos que tivera durante a navegação.

. . .

Depois que Melanie acaba devorando todos os biscoitos, que por sinal eram divinos, a bondosa Hariet a ajudou a organizar suas roupas em seu quarto.

O cômodo era bastante espaçoso e vazio, fazendo com que Melanie se sentisse ainda mais solitária ao pensar nos dias entediantes que passaria ali, enclausurada.

Mas pela primeira vez, tentou pensar positivamente. "Talvez não seja assim tão ruim".

Enquanto elas organizam as roupas, Hariet não deixa de elogiar seus vestidos e chapéus, e Mel sempre agradece, envergonhada.

Então, em um momento de silêncio, decide perguntar.

- Hariet, quem mais mora nesta casa?

A governanta a olhou, surpresa.

- Oh, pensei que saberia, senhorita. A sua avó, pouco depois que perdeu o marido, descobriu que a neta de um irmão seu havia ficado órfã, então, como possuía uma espaçosa casa e não desejava ficar sozinha, decidiu adotar a pobre menina.

Melanie assentiu, sentindo uma súbita pena de sua distante prima.

- E... como ela é?

Não deixou de reparar no sorriso afetuoso estampado nos lábios de Hariet.

- Ah, a senhorita Moore é simplesmente adorável. Acho que tem mais ou menos sua idade, cerca de 25 anos, e é aventureira e corajosa como ninguém. Nós americanos temos uma crença de que pessoas ruivas costumam ser as mais ousadas, e Eleanor Moore é a prova viva disso. Em menos de 7 anos de estudo ela conseguiu um trabalho estável e já viajou por praticamente todo o continente.

- Espere... ela trabalha?- Melanie pergunta, admirada.

- Sim, a Srta Moore é uma grande escavadora- Hariet sorri orgulhosa, de maneira quase materna.

De fato, ela deve ser impressionante, pensou Melanie.

E não demorou para perceber: estava morrendo de vontade de conhece-la.

. . .

Eleanor soltou um gritinho vitorioso, e então, ofegante, coletou o pedaço de porcelana. O limpou superficialmente de terra e sorriu para Thomas ao lado dela na área de escavação, que fez uma careta de desgosto.

- Ganhei de novo- comemora Eleanor, empolgada, e então colocou seu prêmio em sua bolsa desgastada.

- Droga! Como você consegue ser tão rápida? Por acaso há algum detector tecnológico nos seus óculos?- Perguntou Thomas, seu colega de trabalho- Sinceramente, El, se continuar a escavar assim, não irá me restar nada!

- Sinto muito, Tom, mas apesar de valorizar muito nossa amizade, não posso deixar a oportunidade passar. Sabe o quanto é difícil ser promovida em nossa área, ainda mais quando se é uma mulher.

- Isso é covardia! Está usando seu gênero como desculpa novamente.

- Não estou usando como desculpa. Ser mulher não me favoreceu em nenhum dos meus trabalhos anteriores- ela ri amargamente, lembrando-se com desgosto de quando havia participado de peças de teatro, e de quando tentara caçar junto aos outros homens nativos das tribos- Se você fosse uma pessoa melhor, eu iria passar horas aqui lhe entupindo de discursos inteligentes e feministas. Mas infelizmente sei que é ignorante demais para isso.

Ela termina de dizer isso cutucando o nariz dele, que faz uma expressão magoada.

- Céus, tudo bem, não precisava me agredir verbalmente- murmura rabugento- Nunca mais a pedirei para deixar algo para mim nas escavações.

- Não precisa ficar magoado, querido, eu só estava brincando!- ela diz, e então ri- Por que você sempre tem que ser tão sensível?

- E por que você tem que ser tão irritante?

- É parte de quem sou- Eleanor da de ombros, com um sorriso atrevido, e então suspira antes de se levantar- Aliás, já está escurecendo. Acho melhor ir logo se eu não quiser perder o próximo trem.

- Você tem mesmo que ir? A sua avó não vai morrer de solidão se ficar mais dois ou três dias sozinha.

- A sua carência me emociona, Thomas, mas infelizmente tenho mesmo que ir. Parece-me que uma prima inglesa virá nos visitar, e eu mal posso esperar para conhecê-la.

Thomas a olha de maneira desaprovadora, e Eleanor fica confusa.

- O que foi?

- Você não me engana, srta Moore. Quando diz que está "ansiosa para conhece-la"... Sei muito bem quais são suas intenções- ele explica de maneira maliciosa.

Eleanor sente as bochechas queimarem, e da um soco em seu ombro, indignada.

- Por Deus, Thomas! Mas é claro que eu não falei dessa maneira. Só porque eu não gosto de homens, não significa que eu irei me atrair por toda mulher que vir pela frente.

- Mas ainda existe a possibilidade de que ela seja bastante bonita. Um amigo meu me disse uma vez que ao ir para Inglaterra simplesmente não tivera vontade de voltar, pois nunca vira tantas damas bonitas em um único lugar.

- Bem, não será o meu caso- Conclui Eleanor, irritada e então colocando a mochila em suas costas- Ela é minha PRIMA, e muito provavelmente não é atraída por mulheres, muito menos mulheres como eu.

Thomas ri.

- Não sei se já se olhou no espelho, Eleanor, mas você consegue fazer até mesmo um macaco se apaixonar por você se desejar. E a garota não é sua prima de fato, então...

- Ora, cale-se!- ela exclama, o empurrando com o pé, sentindo as bochechas quentes- Sendo minha prima ou não, eu nunca iria me relacionar com a neta de Amélia. Ainda tenho um pouco de decência, quer você acredite ou não.

Thomas sorri maliciosamente e da de ombros.

- É o que veremos.

. . .

Sim, postei porque não consegui conter a ansiedade rsrs me perdoem.
Espero que tenham enjoyado, e se sim, não esqueçam da starzitaaa 🌟

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