Capítulo Vinte e Cinco

Victor Jones:

A rotina persistiu implacável por mais uma semana e meia, acompanhada dos meus constantes pesadelos que se enraizavam mais profundamente a cada noite. No entanto, mesmo com a sombra do medo que me assombrava, comecei a notar melhorias nas minhas habilidades mágicas. Eu me tornava mais preciso, mais capaz de concentrar-me em todas as disciplinas mágicas que estava estudando.

Então, como um sinal da mudança de estação, o verão cedeu espaço ao outono. As folhas mortas dançavam ao sabor do vento antes de finalmente repousarem no terreno da escola.

Ao lado do terreno da escola, uma densa floresta lançava uma sombra profunda. A luz do sol da tarde se filtrava através das folhas, criando fios de luz dourada que pintavam um retrato efêmero do outono.

O tempo passou rápido para mim, surpreendendo-me com o fato de que já se haviam passado dois meses desde o meu despertar como Guardião. Durante esses meses, parecia que havia dedicado todo o meu tempo a uma única atividade: sentar sob uma árvore específica e meditar.

Na primeira aula do primeiro dia com Horeom, todos os alunos de magia receberam uma lição crucial: a ativação da Magia de Defesa. Essa habilidade consistia em três etapas aparentemente simples: meditação, controle e ativação.

A meditação, como o próprio nome sugeria, requeria foco absoluto e concentração. Fechando os olhos, era necessário esvaziar completamente a mente, alcançando um estado de tranquilidade profunda. Nesse estado, a mente se tornava um portal para o mundo espiritual, onde um aglomerado estelar relacionado ao elemento do Guardião emergiria.

A primeira etapa parecia surpreendentemente simples, uma vez que os alunos conseguiam visualizar o aglomerado de estrelas no espaço vazio e perceber as estrelas brilhantes que o compunham.

Meditar tornou-se minha ocupação diária, uma rotina ininterrupta de fechar os olhos e concentrar-me até a exaustão, indo dormir depois de cada sessão de meditação.

No segundo dia, repeti o mesmo ritual exaustivo após o término das aulas. Fui implacável, continuando esse ciclo exaustivo por dois meses inteiros. Fiquei me perguntando várias vezes por que uma tarefa tão simples ocupava tanto tempo na nossa formação.

E então, em um instante, a estação mudou novamente. O ar estava carregado de um frio que se infiltrava pelos ossos, seguido por uma sensação de calor opressivo que me envolveu. Ocasionalmente, eu podia sentir uma presença mágica poderosa pairando no ar, como se algo de magnitude imensurável estivesse se aproximando.

Certa vez, enquanto meditava, me vi transportado para uma floresta que já conhecia. Caminhava por entre as árvores quando notei uma figura familiar.

— Quanto tempo passou desde então? — Urlac resmungou, parecendo aborrecido.

Tentei me aproximar dele, mas, estranhamente, quando mergulhei profundamente em pensamentos para me aproximar, minha mente ficou turva, como se minha capacidade de raciocinar estivesse comprometida. Parecia que nem precisava levantar a mão para me aproximar dele.

Então, uma sensação estranha me envolveu. O ambiente que costumava me receber com calor se transformou em algo opressivamente quente. Uma pressão desconhecida me forçou a me ajoelhar em sua direção.

— Ela achou que iria me ferir — Urlac murmurou, uma aura poderosa e opressiva emanando dele.

Lutei com todas as minhas forças contra a pressão que me empurrava para baixo, pois não queria ceder à sua vontade e ao poder que estava me obrigando a sentir pena dele.

— Por que está fazendo isso comigo? — gritei, tentando resistir, mas a força que me atormentava persistia implacável.

— Urlac! — exclamei, mas ele olhou para mim com lágrimas nos olhos.

— Me deixe em paz! — gritou, e finalmente, as forças me expulsaram. Enquanto estava submerso na magia, senti um frio intenso quando ela tocou minha essência. Mas, no fim, percebi um traço de tristeza e a sensação de alguém que precisava de um ombro amigo para derramar suas lágrimas.

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Engasguei, tossindo violentamente enquanto lutava para recuperar a respiração. Foram momentos agonizantes até que finalmente consegui inspirar e expirar, meus pulmões queimando de esforço. Minha mente emergia lentamente da névoa do pesadelo, e quando abri os olhos, minha visão estava turva, como se algo estranho estivesse atrapalhando. Meu corpo estava encharcado de suor e coberto por uma série de objetos desconhecidos.

Por um breve momento, fiquei completamente desorientado, tentando entender o que estava acontecendo.

— Ele não te deixou se aproximar — Horeom disse, recuperando meus óculos do chão e entregando-os a mim. — Precisamos interromper por agora, antes que algo terrível aconteça e sua alma seja fragmentada em várias dimensões.

— Eu não vou desistir! — declarei com firmeza, preparando-me para mais uma tentativa.

A segunda etapa da magia espiritual parecia simples. Após entrar em meditação e visualizar o aglomerado de poder, a tarefa era controlá-lo. Eu precisava direcionar meus próprios pensamentos para domar essas energias, fazendo-as parar e colocando-as em um local específico, formando um caminho pelo qual o poder mágico poderia fluir através de mim.

Urlac estava presente, desafiando-me com seu poder. Ambos usávamos nossos pensamentos para controlar a magia, ele tentando afastá-la de mim enquanto eu buscava conectá-la à minha vontade. Em um momento, uma grande quantidade de energia mágica pulsou ao meu redor. Lutei para controlá-la, enquanto Urlac me empurrava com sua própria força, uma batalha mental intensa que exigia toda a minha concentração.

Minha mente brilhou com uma epifania, e o feitiço se manifestou em questão de segundos. No entanto, a terceira etapa ainda precisava ser dominada para que eu pudesse ativar completamente a magia de acordo com minha vontade.

— Luz difusa. — Murmurei, minhas mãos irradiando um brilho suave que envolveu Urlac, deixando-o momentaneamente atordoado. Sentei-me ao seu lado enquanto ele voltava ao normal.

— Já fazia muito tempo desde que senti o poder do sol que a magia de um Guardião é capaz de criar — Urlac murmurou, com um misto de surpresa e nostalgia em sua voz.

Apesar de sua resistência anterior, ele parecia mais receptivo à minha presença agora.

— Posso me juntar a você? — perguntei, começando a concentrar a magia ao meu redor, tentando conectá-la com a dele.

Ele usava seus pensamentos para manipular a magia e afastar a minha influência. No entanto, desta vez, parecia mais disposto a cooperar. Juntos, tentamos controlar a magia que nos cercava, e, por um momento, parecia que estávamos em sintonia.

Cada fio de energia mágica que controlávamos se entrelaçava, criando uma rede luminosa ao nosso redor. Eu podia sentir a resistência de Urlac diminuindo, sua postura rígida relaxando aos poucos. O ambiente ao nosso redor se transformava, o calor opressivo sendo substituído por uma brisa fresca e revigorante.

— É assim que deve ser — sussurrei, sentindo uma conexão profunda entre nossas energias. Urlac assentiu levemente, seus olhos refletindo uma nova compreensão.

Naquele momento, percebi que a magia não era apenas sobre poder, mas sobre harmonia e entendimento mútuo. Urlac e eu estávamos ligados por um propósito maior, e juntos, éramos capazes de moldar a magia de maneira que nenhum de nós poderia fazer sozinho.

O brilho ao nosso redor aumentou, e eu senti uma onda de força e determinação renovada. Estávamos prontos para enfrentar o que viesse a seguir, não como adversários, mas como aliados unidos por um destino compartilhado.

— Eles provavelmente estão rindo de mim agora — murmurou Urlac enquanto eu me sentava ao seu lado.

— Não sei o que você está passando, mas se ficar remoendo tudo sozinho, só vai machucar a si mesmo — comentei, oferecendo um sorriso compassivo. — Quando meu pai morreu, eu me afastei de todos que se importavam comigo. Perder alguém que você ama e respeita é uma dor avassaladora.

— Você, um humano, nunca entenderá o que um Príncipe do Mundo dos Espíritos pode sentir — Urlac rosnou, sua voz carregada de amargura. — Eu amaldiçoei todos. Não consigo confiar em ninguém e amar alguém se tornou uma tarefa árdua. Tudo parece monótono agora. Por quê? Por que dói tanto? Ela era minha amiga e simplesmente partiu. — Ele abraçou a própria cabeça. — Estou sozinho.

Coloquei uma mão em seu ombro, surpreso ao sentir a solidez de sua forma espiritual.

— Se quiser, posso ficar aqui para ouvir o que você tem a dizer a cada momento — ofereci. — Não posso pedir perdão pelo que minha antecessora fez ao simplesmente morrer, mas posso estar aqui para ouvir suas queixas.

— Maldição! — Urlac gritou, seu poder tentando me afastar mais uma vez, embora agora de forma mais branda. — Não consigo nem controlar uma única magia para te afastar no momento.

Urlac continuava a lutar com suas próprias emoções e seus poderes tumultuados. Eu podia sentir o peso de sua dor e solidão enquanto tentava, em vão, controlar as energias que o atormentavam. A magia que fluía entre nós era complexa e intrincada, e era evidente que dominá-la totalmente seria uma jornada longa e desafiadora.

A névoa espiritual nos envolveu enquanto permanecíamos sentados ali, imersos em pensamentos e sentimentos profundos. Era como se estivéssemos unidos por um laço invisível, compartilhando nossas esperanças, medos e angústias.

— A partir deste momento, seremos apenas nós dois — declarei com um sorriso, determinado a estar ao lado de Urlac, não importasse o quão difícil fosse.

Ele tentou afastar-me novamente, mas dessa vez nada aconteceu. Parecia que o mundo espiritual me queria ali ao invés de me mandar embora.

— Por que você se importa tanto? — Urlac perguntou, a raiva em sua voz dando lugar a uma curiosidade cansada.

— Porque vejo em você alguém que precisa de ajuda, alguém que está sofrendo — respondi suavemente. — E porque sei como é se sentir perdido e sozinho. Não quero que você enfrente isso sozinho.

Urlac me olhou por um longo momento, sua expressão suavizando gradualmente. A mágica ao nosso redor parecia responder à mudança em nossos corações, brilhando com uma luz mais quente e acolhedora.

— Talvez... talvez eu realmente precise de alguém — ele admitiu, quase inaudível. — Talvez você possa ser essa pessoa.

Senti uma onda de esperança e determinação. Sabia que não seria fácil, mas estava disposto a enfrentar qualquer desafio ao lado de Urlac. O mundo espiritual havia nos unido por uma razão, e eu estava decidido a descobrir o propósito desse vínculo.

— Então vamos enfrentar isso juntos — prometi, apertando levemente seu ombro. — Um passo de cada vez.

Urlac assentiu, e pela primeira vez, vi um brilho de aceitação em seus olhos. Estávamos apenas começando nossa jornada, mas naquele momento, senti que já havíamos conquistado algo importante: a confiança mútua.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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