Capitulo Quarenta e Quatro

Victor Jones:

Continuamos a dançar, e Merlin me conduzia pela pista com uma graça e habilidade impressionantes. À medida que nossos corpos se moviam no ritmo da música, uma sensação de tensão começou a permeiar a festa. Conversas sussurradas, olhares furtivos e gestos discretos sugeriam que algo estava se desenrolando nos bastidores.

A música preenchia o ambiente, enquanto mais pessoas se agrupavam, formando pequenos círculos de conversa. Os vampiros, em particular, pareciam absorvidos em conversas com outras criaturas mágicas, criando uma aura de mistério e intriga ao nosso redor. As fadas se moviam entre os grupos, como se fossem as mensageiras de segredos não revelados.

Merlin mantinha um olhar atento, seus olhos escaneando a multidão em busca de qualquer sinal de comportamento suspeito. Eu também estava alerta, tentando absorver cada detalhe daquele cenário enigmático.

Depois de algumas músicas, paramos para recuperar o fôlego. Merlin me olhou com uma seriedade inquietante.

— Victor, algo não está certo aqui. Olha como todos parecem estar em um estado quase de transe — ele murmurou, girando-me com uma firmeza que combinava com sua expressão preocupada.

Assenti, compartilhando da mesma sensação. Era evidente que algo estava acontecendo, e não era apenas uma reunião social comum. Olhei novamente na direção de Seniana e da feérica das rosas, mas elas pareciam ter se afastado para conversar com outros convidados.

— Vamos nos misturar, interagir com os convidados e tentar obter informações discretamente. Talvez possamos encontrar alguém disposto a compartilhar o que sabe — sugeriu Merlin, enquanto voltávamos a nos mover pela multidão.

Concordei com a ideia, e mergulhamos na dança e nas conversas, tentando obter pistas sobre o que estava acontecendo naquela festa. Mantive meus sentidos alertas, preparado para qualquer revelação que pudesse surgir a qualquer momento.

À medida que nos misturávamos com os convidados, ficou claro que a tensão no ar não era fruto da nossa imaginação. As conversas eram murmuradas em tons baixos e preocupados, como se todos estivessem compartilhando um segredo sombrio.

Merlin e eu conseguimos captar algumas informações dispersas. Muitos convidados mencionavam rumores sobre incidentes misteriosos ocorridos nas últimas semanas — corpos desfigurados e queimados encontrados na floresta. O medo era palpável, mas ninguém parecia ter detalhes precisos sobre esses eventos.

Enquanto continuávamos nossa busca, notamos um grupo de criaturas reunidas em um canto afastado. Entre elas estavam Seniana, a dama de companhia da rainha, e a feérica das rosas. Eles conversavam com intensidade, como se estivessem discutindo algo de extrema importância.

Merlin olhou para mim com uma expressão determinada. Era hora de nos aproximarmos e tentar descobrir o que estava sendo discutido. Começamos a nos dirigir naquela direção, tentando agir naturalmente.

À medida que nos aproximávamos, uma sensação de inquietude cresceu em mim. Estávamos prestes a descobrir algo significativo, mas também estávamos entrando em território desconhecido. Nosso disfarce de máscaras mágicas nos protegia da detecção visual, mas não podíamos ignorar os riscos envolvidos.

Merlin pegou minha mão novamente, sua expressão séria, e sussurrou:

— Esteja pronto para agir, Victor. Vamos descobrir o que está acontecendo aqui, custe o que custar.

Concordei com determinação enquanto continuávamos nossa aproximação do grupo. Estávamos prestes a mergulhar ainda mais fundo nos mistérios desta festa intrigante, prontos para enfrentar qualquer desafio.

Então, um rapaz se aproximou de Seniana. Senti uma sensação de alerta e me afastei instintivamente. Tudo parecia ainda mais estranho conforme me aproximava. A feérica riu de algo e se afastou, e imediatamente senti que todos a cercavam, tentando protegê-la.

Merlin me pegou pela cintura, surpreendendo-me com sua determinação, e me guiou até estarmos próximos ao grupo. Ele me girou com destreza, e notei que Seniana e o rapaz estavam se afastando em direção a uma porta.

Sem hesitar, me afastei e saí correndo pelo meio da multidão. Merlin estava prestes a me seguir, mas foi cercado por um grupo de pessoas. Ouvi um grito abafado vindo de algum lugar, mas continuei a correr atrás dos dois.

A pressão estava aumentando. A festa havia se tornado um labirinto de incertezas e perigos, e eu estava prestes a descobrir o que estava escondido nas sombras.

**********************

Perdi-os por alguns segundos, até que avistei, a quinze metros, um sapato de Seniana caído do lado de fora do salão. Passei por uma porta que levava a um corredor escuro, onde sons de luta e um grunhido de dor ecoavam à frente. Meu arco estava em mãos e continuei pelo corredor, mas, ao chegar à outra extremidade, não encontrei ninguém.

No lado oposto do jardim, avistei Seniana. Ela estava segurando o braço, com uma expressão de dor, e me observava com um olhar intenso.

— Saia daqui — rosnou ela.

Do corte no seu braço, em vez de sangue, saía uma substância negra que se misturava com as sombras ao redor.

— Está tudo bem. Eu não vou machucar você — tentei tranquilizá-la, mas ela não respondeu. Seus olhos estavam cheios de raiva.

Sem mais hesitações, atirei a primeira flecha. Ela acertou algo que gritou, e o brilho da magia elemental fez a criatura voar para trás, com o ombro chamuscado. Permaneci atento ao redor, esperando o próximo ataque. Uma risada sinistra ecoou.

— Seniana, vejo que encontrou ajuda — uma voz rouca falou, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem. — Sabe muito bem que é hora de pagar pelo que fez. Tenho certeza de que nosso pai nunca vai aceitá-la de volta. Se me ajudar a capturar o guardião, posso fazer com que ele te perdoe.

Uma flecha voou em minha direção e um grito ecoou, amaldiçoando o inimigo.

Espinhos surgiram do chão, quase me atingindo. Desviei e atirei outra flecha. Seniana levantou-se do chão, seus punhos controlando uma esfera negra para curar seu braço.

— Nunca vou voltar para ele — Seniana rosnou. — Você é quem estava conseguindo informações sobre o reino e os cavaleiros.

— Só precisei dar o que eles queriam para que traíssem seu próprio povo e nação! Está entendendo? Afinal, você fez o mesmo para ser aceita como dama de companhia da rainha, usando o poder de nosso pai — retrucou o rapaz, enquanto Seniana avançava furiosa em direção à voz.

Outra risada sombria ressoou. Os espinhos negros se agitavam como serpentes, e a esfera negra de Seniana parecia se esgotar rapidamente. Ela estava claramente ferida, mas a provocação a mantinha em movimento.

Enquanto Seniana avançava com fúria, eu tentava manter a mira, a cena no jardim tornava-se cada vez mais caótica. O rapaz maligno continuava a provocar Seniana com palavras afiadas, enquanto eu me esforçava para proteger Seniana e evitar que ele completasse qualquer plano sinistro.

A tensão era palpável e eu sabia que o confronto estava prestes a atingir seu ápice. Minhas mãos tremiam ligeiramente, mas eu mantinha a flecha no arco, esperando o momento certo para atacar.

Finalmente, o rapaz cometeu um erro. Enquanto se esquivava dos ataques de Seniana, ele deixou uma brecha em sua defesa. Foi o suficiente para minha flecha acertar seu alvo, atingindo-o com precisão mortal.

Uma explosão de luz intensa irrompeu quando a flecha o atingiu, e o corpo do rapaz começou a se desfazer em uma poça viscosa e suja. A ameaça estava neutralizada, pelo menos por enquanto.

— Você acha que vai proteger aquelas crianças, minha querida irmã? — o rapaz disse, enquanto sumia. — Está completamente errada.

Seniana se virou em direção ao jardim, seus olhos encontraram os meus, e ela pareceu entender que eu estava ali para ajudar. Ela assentiu em agradecimento, apesar da situação ainda estar longe de ser resolvida.

Eu mantive a flecha pronta, sem baixar a guarda. Sabia que, apesar da aparente calma momentânea, ainda havia mistérios não resolvidos e perigos ocultos naquela festa.

O silêncio do jardim foi quebrado apenas pelo murmúrio do vento e pelos suspiros exaustos de Seniana. Ambos estávamos feridos e cansados, mas precisávamos continuar nossa busca por respostas.

Com a flecha pronta para qualquer eventualidade, me aproximei de Seniana, preparado para enfrentar o que quer que estivesse à nossa frente. Ela estava próxima à fonte do jardim, e eu mantinha a flecha apontada para ela, atento a qualquer movimento.

— Me diga quem era o rapaz. Pelo que ouvi, a dama da rainha não tem nenhum familiar vivo — falei, enquanto esperava que Merlin se juntasse a nós. Ele surgiu, observando a cena com atenção.

— Ela estava lutando com o rapaz que a puxou para o jardim. O irmão dela, que posso dizer, estava colaborando com Maya e Ravan — Merlin explicou.

— Então, devo supor que ela é nossa informante — continuou Merlin, soltando uma risada.

— Merlin, não é hora para isso — retruquei. — Seniana, você não é a informante, mas descobriu o que estava acontecendo. Por favor, conte-nos tudo o que sabe.

Retirei minha máscara e Merlin fez o mesmo. Seniana me olhou surpresa e deu um passo para trás.

— Quem diria que vocês descobririam minha identidade? Guardião, pode abaixar sua arma, sou uma pessoa completamente desarmada — disse ela, ainda mantendo a calma.

— Sinto muito, mas não confio em você depois do que vi há poucos segundos — falei, mantendo o arco apontado.

Merlin se aproximou e colocou a mão em meu ombro.

— Ela é uma pessoa querida para Aurora e Rafael. Pelo menos merece um pouco de confiança da nossa parte — Merlin disse, e eu desfiz o arco com relutância.

— Justo você dizer isso é algo estranho de se ouvir — respondeu Seniana com um sorriso. — Sei que detesta a família real, mas não vou mentir, tem seus motivos para se sentir assim.

— Então conte tudo. Quem é o seu irmão e por que está trabalhando como dama de companhia da rainha? — perguntei, observando-a atentamente.

Seniana olhou para os céus fechando com um trovão distante.

— Devemos sair daqui. Eles estão se aproximando e há muitos inocentes na mansão. Conseguimos acabar com o encanto sem vítimas, mas a situação está se agravando — disse Merlin, puxando Seniana pelo braço. — Vamos voltar para o castelo da Meteora e conversaremos lá com os outros. Preciso pegar o carro; vá com ela, e te encontro lá.

Peguei o pingente, segui o braço de Seniana, e, em um instante, desaparecemos da visão de Merlin, reaparecendo em minha suíte, onde todos já estavam reunidos.

— Já voltou — disse Anna, olhando para Seniana com uma expressão de surpresa. — O que a dama da rainha está fazendo aqui?

— É uma longa história — respondi.

— E o Merlin? — perguntou Rebecca, ansiosa.

— Ele está voltando com o carro do Duncan. Logo estará aqui — expliquei antes de relatar o que aconteceu no jardim da mansão. — Provavelmente causamos um pouco de destruição, nem percebi direito.

— Aquela família é incrivelmente rica; pode reconstruir — comentou Anna, olhando desconfiada para Seniana, que se acomodou no sofá. — Conte-nos o que aconteceu.

Seniana começou a falar, sua voz carregada de emoções:

— Eu sou filha de Kalis, o homem que vocês conhecem como o rei das sombras, que despreza toda a bondade e a vida. Há muito tempo, eu fugi dos seus domínios. Eu era a filha mais velha que não correspondeu às expectativas do meu pai para herdar seus poderes. Ele e seus empregados me batiam, dizendo: "Para que você seja forte e mostre o poder da família real." Quando fui abandonada na prisão, fiquei aliviada e aproveitei a oportunidade para fugir. Quando cheguei a este reino, não era um lugar acolhedor para alguém feito de sombras. Eu não sabia escrever, minha linguagem era confusa, e eu levantava muros por medo de ser morta, mesmo quando as pessoas se aproximavam. Fui intimidada em algum momento, mas então conheci um senhor que se tornou meu pai. Ele era meu professor, sempre se aproximando de mim, mesmo quando eu estava em alerta. Mesmo uma parede de ferro não era obstáculo para ele. Ele foi meu único amigo e pai ao mesmo tempo. Aprendi tudo com ele, inclusive sobre amor. Depois que me tornei adulta, ele adoeceu com câncer de pâncreas. Quando descobri sua doença, não pude mais usar minhas mãos; minha professora morreu em menos de um ano, e eu já estava trabalhando como dama de companhia da rainha, me tornando amiga dela e escondendo meu passado como Seniana Brooklis.

— E seu corpo? Ele parece tão resistente — Carla comentou, tocando o braço de Seniana.

— Quando atravessei um portal para este mundo, ganhei uma forma física realista, como se tivesse nascido aqui — explicou Seniana.

— Por que seu irmão estava atrás de você? — perguntou Duncan.

— Isso é comum entre nós. Ele está lutando para libertar nosso pai fisicamente e dar-lhe força — respondeu Seniana. — Meu pai foi preso por um mago e um invocador, mas conseguiu escapar com parte de sua essência e conceder dons a quem permanecesse ao seu lado.

— Seu irmão tem o mesmo poder? — indaguei.

— Claro que não. Ele consegue enganar os outros com palavras que desejam ouvir — Seniana disse. — Assim, conseguiu fazer alguns aliados da coroa entregarem seus segredos ao inimigo. Quando soube que ele estaria por perto, fui à festa para tentar impedi-lo, mas o guardião interferiu.

— Eu ajudei, mas seu irmão ainda está livre e fará o possível para atacar os outros — observei. — Ele ainda tem Maya e Ravan ao seu lado, e deve estar buscando mais aliados.

— Peço que não revelem a identidade da família real por enquanto, até que o risco seja diminuído — Seniana pediu. — Com o que consegui arrancar dele, eles irão atacar muito em breve, mas não sei onde.

Nesse momento, bateram na porta e Meteora entrou com um semblante severo.

— Antes de mais nada, senhorita Brooklis, vocês devem me explicar o que estavam planejando com essa pequena investigação — Meteora falou, e eu engoli em seco.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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