Capítulo Quarenta e Oito

Victor Jones:

Nós batemos com força em um gramado espesso, e Anna soltou minha mão, exausta, antes de desabar de volta no banco do carro.

— Acho que nunca usei tanta magia de uma vez em um carro — comentou Anna, sua voz cansada, antes de sair do veículo com pressa.

Eu também saí do carro, ainda cambaleando um pouco. Girei para avaliar o ambiente ao nosso redor. Estávamos em uma clareira rodeada por árvores. A luz da lua era intensa o suficiente para iluminar o cenário: uma grama verde vibrante e árvores carregadas de frutas em cores exuberantes—ameixas roxas, maçãs vermelhas, frutas em forma de estrela e rosas. Elas pareciam mudar de cor sob a luz da lua, criando um espetáculo hipnotizante.

Duncan, com as mangas da camisa arregaçadas, examinava o carro e soltava um palavrão de frustração. Observando-o de longe, eu sentia que ele estava em meio a um luto silencioso pela perda de seu veículo, seu rosto refletindo a frustração e a impotência.

— Pessoal, olhem para o céu — chamou Anna, tirando-nos da atmosfera tensa.

O céu estava diferente. As estrelas formavam padrões únicos, curvando-se e girando, cada uma com uma cor distinta: azul gelo, verde frio, ouro cintilante, prata brilhante. Elas piscavam e mudavam de padrão constantemente, criando um espetáculo surreal.

Algo semelhante estava acontecendo com a vegetação ao nosso redor. As plantas secavam e morriam, apenas para renascer em segundos. Espíritos de luz inquietos tremiam em meus ombros. Este lugar estava saturado com magia da morte, como se uma parte da essência do Rei das Sombras estivesse infiltrada na própria terra, sussurrando e influenciando o ambiente.

— Deveríamos descansar? — sugeriu Merlin, enquanto observava a clareira e espiava entre as árvores. — Precisamos recuperar nossas energias para a jornada de amanhã.

Balancei a cabeça, decidido.

— Não podemos. Precisamos continuar viajando durante a noite. Mesmo com feitiços de proteção, este lugar ainda é perigoso — respondi.

— Então, que tal comermos o que trouxemos do refeitório? A jornada será longa — Anna propôs, pegando as mochilas do carro. — Duncan, em vez de ficar lamentando, ajude um pouco.

Duncan estava visivelmente irritado, murmurando sobre o custo e o esforço para reconstruir seu carro.

Apontei para o anel em meu dedo, que brilhou e fez o carro desaparecer.

— Quando sairmos daqui, lidaremos com o carro. Agora não adianta discutir — comentei.

— Mas eu tenho o direito de ficar chateado! — Duncan retrucou, sua voz carregada de mágoa. — Ninguém sabe o quanto eu trabalhei naquele carro, os acordos que tive que fazer...

— Não importa agora — falei, a urgência na minha voz. — Não estamos aqui para lamentar. Muitas vidas estão em risco.

Duncan estava prestes a responder, mas Merlin o interrompeu com um olhar severo. Anna me entregou uma barra de granola coberta de caramelo, e Matt pulou para o meu ombro, pegando um pedaço e mastigando com entusiasmo.

— Duncan, vamos encontrar uma solução para o carro — disse Merlin, sua voz calmante.

Anna se aproximou de mim, um sorriso tenso no rosto, tentando manter a calma em meio ao caos. Sua presença era um pequeno alívio, uma lembrança de que, apesar de tudo, ainda éramos um time, unidos na adversidade.

**********************************

À medida que as horas se arrastavam, minha mente mergulhava cada vez mais fundo nas histórias que Urlac e os pequenos espíritos me haviam contado. Pensava no momento em que o Rei das Sombras foi capturado e aprisionado, e na dolorosa realidade de minha própria família. O esforço constante para manter meus poderes sob controle me consumia; a ansiedade ameaçava fazer com que se descontrolassem.

O silêncio tomou conta do grupo, uma pausa carregada de exaustão que parecia engolir nossos pensamentos. Anna caminhava ao meu lado, sua adaga brilhando sob a luz peculiar deste lugar. Ela ia à frente, verificando o caminho através das estrelas. À distância, as Montanhas da Prisão se erguiam imponentes contra o céu escurecido, uma visão impressionante e inesquecível.

No entanto, as montanhas não estavam sempre visíveis. A trilha que seguíamos serpenteava por entre árvores baixas e galhos entrelaçados. Mais de uma vez, percebi olhos brilhantes piscando entre as sombras. Quando os galhos se moviam, olhava para o alto e via sombras se movendo rapidamente, risadas etéreas flutuando no ar como névoa.

— O que são essas criaturas? — perguntou Duncan, observando as sombras que se moviam.

— Espíritos capturados e enviados para este lugar — expliquei. — O tempo aqui é distorcido, conforme me contaram.

— E quem te contou isso? — Merlin indagou, com um tom de dúvida.

— Os espíritos ao meu redor e Urlac, que me falou sobre as dimensões prisões no universo mágico — respondi, ponderando se nosso acordo com Urlac ainda poderia ser invocado se precisássemos dele aqui.

A vegetação ao nosso redor continuava a se desfazer e se renovar. De repente, uma criatura gigantesca emergiu dos arbustos à direita, avançando em direção a Merlin com mandíbulas rangendo. Era um cão de caça enorme, maior que qualquer móvel, com olhos azuis que brilhavam como brasas incandescentes.

Merlin conseguiu saltar a tempo para evitar o ataque, mas acabou caindo sobre mim, quase nos derrubando na floresta.

— Merlin! — gritei, tentando me recompor.

— Desculpe! — ele respondeu rapidamente.

Com um grito determinado, Anna lançou sua adaga com precisão, atingindo o cão no peito. O monstro uivou de dor e caiu no chão.

No entanto, os arbustos se abriram em uma explosão de folhas e galhos, revelando mais cinco cães monstruosos que emergiram do mato. Eles nos cercaram, rosnando e uivando, mordendo suas próprias patas e saltando para trás quando tentávamos nos defender. Cada um desses cães tinha mandíbulas enormes que se aproximavam perigosamente dos nossos pés, preparando-nos para o pior.

— Claro que encontraríamos esse tipo de problema aqui — resmungou Duncan, pegando os papéis com os glifos. — Vamos acabar logo com isso.

O brilho dos glifos iluminou a clareira, e uma aura mágica começou a envolver os cães. A tensão no ar era palpável, a luta pela sobrevivência estava apenas começando.

Entre as árvores, uma figura esguia montava um cavalo negro. O garoto tinha um rosto ao mesmo tempo cruel e angelical, um sorriso malicioso nos lábios enquanto empunhava um arco. Uma flecha brilhava na ponta, pronta para ser lançada.

Avancei, girando minhas mãos com determinação. O ambiente respondeu ao meu comando: as folhas sussurraram e, de repente, um galho grosso caiu, atingindo o braço do garoto no momento em que ele soltava a corda do arco. O zumbido da flecha passou rente à minha cabeça e atingiu um pinheiro, uma explosão de gelo se espalhando onde a flecha se alojou. Imediatamente invoquei magia para afastar o caçador.

O garoto não perdeu tempo. Ele rapidamente carregou outra flecha e, com um gesto poderoso, lançou um feitiço sobre os cães, arremessando-os para longe. Aproveitando a distração, corremos enquanto os cães eram lançados para trás, tentando escapar da ameaça iminente.

Uma flecha passou zunindo ao nosso lado. Olhei para trás e vi o cavaleiro continuando a nos perseguir pelas árvores, preparando-se para atirar novamente. Os cães enfurecidos estavam logo atrás, não dando trégua.

À medida que mergulhávamos mais profundamente na floresta, as árvores se transformavam em monstros. Seus troncos se juntavam e se entrelaçavam, forçando-nos a zig-zaguear para evitar colisões. Os cães continuavam a nos seguir, embora agora à distância. O cavaleiro havia desaparecido, mas sabia que ele ainda nos rastreava, suas flechas mortais prontas para nos encontrar.

Quando passamos sob os galhos de um carvalho gigante, reuni os três mais perto de mim e manipulei a terra sob nossos pés. Com um impulso mágico, subimos rapidamente, como se estivéssemos sendo lançados por um foguete, e caímos com um impacto brutal em um feixe de galhos entrelaçados. A respiração foi arrancada de mim e uma dor aguda se espalhou pelas minhas costelas, trazendo lágrimas aos meus olhos. Usando minha magia, criei uma ilusão convincente, fazendo cópias nossas continuarem correndo, com os cães seguindo-as nas sombras.

Pouco depois, o cavaleiro e seu cavalo passaram sob a árvore. Ele diminuiu a velocidade, um momento aterrorizante que me fez prender a respiração, temendo que ele nos tivesse detectado.

Então, um uivo excitado de um dos cães encheu o ar. O cavaleiro esporeou seu cavalo, retomando a perseguição entre as árvores. Em um piscar de olhos, o som se dissipou, e o silêncio caiu sobre nós.

— Bem — alguém disse, sua voz cortando o silêncio com uma entonação curiosa. — Isso foi interessante.

A sensação de estar sendo observado me envolveu, e olhei ao redor, tentando identificar a fonte da voz. O cansaço e a tensão eram palpáveis enquanto nos preparávamos para o que poderia vir a seguir.

________________________________________________________________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top