Capítulo Quarenta e Nove

Victor Jones:

Abraçando um ramo, varri o ambiente com meus poderes preparados, os olhos escaneando cada sombra e movimento. Anna mantinha suas adagas prontas, enquanto Matt voava sobre nós antes de pousar na árvore ao meu lado. Estávamos em alerta, tentando determinar a origem da voz misteriosa que nos interrompera. Entre as folhas e a fraca luz cinzenta filtrada pelos ramos, não víamos nada.

— Onde você está? — perguntei, minha voz firme e desafiadora. — Mostre-se.

A voz respondeu com um tom divertido: — Não estou me escondendo, criança. Talvez... se você abrir um pouco mais seus olhos. Como estes.

De repente, a apenas cinco metros de nós, um par de olhos tão grandes quanto pires se materializou, e eu me deparei com o rosto de um enorme gato cinzento. Seus olhos azuis brilhavam com um brilho preguiçoso, e seu pelo longo e esguio estava perfeitamente camuflado nas sombras da floresta.

— Veja! — o gato sussurrou, sua voz vibrando suavemente. — Me vê agora? Sou um simples metamorfo, apenas descansando.

— Um metamorfo — Duncan murmurou, um tom de reconhecimento em sua voz.

O gato arqueou suas costas e se sentou, enrolando sua cauda peluda ao redor das pernas. — Escolhi essa forma porque adorava gatos antes de ser injustamente aprisionado por magos neste lugar — disse o felino. — Meu nome é Wililas Sith, e faz muito tempo desde que esta dimensão prisão recebeu novos prisioneiros da pior das prisões.

Anna franziu a testa, desconfiada, e perguntou sobre o cavaleiro misterioso, seus olhos examinando o gato com cautela.

Wililas Sith olhou para ela com um brilho calculado. — O cavaleiro que você encontrou é apenas um dos muitos que vagam por esta dimensão. Não se preocupe com ele por agora. O que importa é que vocês chegaram até aqui. Muitos antes de vocês falharam em encontrar o caminho através deste labirinto de sombras e ilusões.

Ele estendeu uma pata para nós, seus olhos brilhando com uma curiosidade amável. — Se desejam continuar, devem estar preparados para o que está por vir. Este lugar não é tão simples quanto parece. Às vezes, a ajuda vem de onde menos se espera.

Eu senti um misto de alívio e tensão ao ouvir suas palavras, ainda tentando absorver a presença enigmática do gato metamorfo.

— E como podemos confiar em você? — perguntei, a desconfiança ainda presente em minha voz.

Wililas Sith piscou lentamente, seu olhar penetrante fixo em mim. — A confiança é algo difícil de se encontrar aqui, mas por agora, pensem em mim como um guia. Se quiserem alcançar seu destino, devem estar dispostos a ouvir e aprender. A jornada através desta dimensão é cheia de perigos e armadilhas. Eu posso ajudar a evitá-los, se me permitirem.

Anna e eu trocamos um olhar. Com o peso da situação e o desejo de avançar, aceitamos a oferta do metamorfo, embora com uma cautela renovada. Wililas, com um movimento elegante, se levantou e começou a caminhar pela floresta, sinalizando para que o seguíssemos.

Enquanto eu me concentrava em curar minha dor nas costelas, Anna me entregou o braço dela para que eu pudesse tratar a contusão. Os meninos observavam com atenção enquanto descíamos das árvores, e Wililas continuava a nos observar com um olhar de desdém, como se fôssemos meros objetos de sua curiosidade.

— Ele é o filho de uma guardiã, incumbido de controlar todos os inimigos que chegam a este lugar e mantê-los em ordem, para evitar que encontrem uma maneira de escapar. Ele escolheu sair em uma missão para ser o guardião deste mundo, tornando-se imortal para fazê-lo — explicou Wililas casualmente. — No entanto, ele está perdendo o controle aos poucos.

— Quantos anos ele tem? — Merlin perguntou, curioso.

— Bem, com seiscentos anos neste lugar, sua aparência seria a de um garoto de dezesseis anos — respondeu Wililas. — Mas com o Rei das Sombras ganhando aliados entre os prisioneiros, torna-se difícil para ele controlar tudo sozinho.

Enquanto eu me concentrava em curar minha própria dor, Anna me entregou seu braço, que estava dolorido. Os meninos observavam em silêncio, e começamos a descer das árvores.

Wililas continuava a nos observar com um olhar de desdém, como se fôssemos simples objetos de sua curiosidade. Eu o encarei com crescente desconfiança enquanto ele pulava para o chão ao meu lado.

— Você poderia parar de nos encarar? — Merlin perguntou, um tom de frustração na voz. — Temos assuntos importantes a tratar. O que você quer?

— Humanos... — Wililas disse calmamente. — Pense no absurdo dessa pergunta. Estou aqui, descansando na minha árvore, cuidando dos meus próprios assuntos, e vocês aparecem como um grupo de grãos de sidhe, assustando todas as aves num raio de quilômetros. Então, têm a audácia de me perguntar o que eu quero. — Ele cheirou o ar e me lançou um olhar típico de desprezo felino. — Eu sei que os mortais são rudes e bárbaros, mas até agora...

— Peço desculpas em nome do meu irmão — Anna interveio, cutucando Merlin para que ele ficasse quieto.

— Sentimos muito. — Murmurei automaticamente. — Não tínhamos a intenção de ofendê-lo.

Wililas ergueu sua cauda e então virou-se de costas para nós. Enquanto eu me perguntava o que ele estava prestes a fazer, ele finalmente olhou para mim com um olhar penetrante.

— Você está sugerindo que eu lhes faça um favor? — Wililas perguntou.

— Sim! Por favor, preciso encontrar uma maneira de chegar até a prisão sem ser detectado — eu implorei.

— Então temos um acordo. — Wililas afirmou.

— Ótimo. — Eu disse, embora notasse que o grupo parecia desconfortável com a situação.

Wililas me olhou com um olhar penetrante e, depois, mexeu sua cauda uma vez.

— Garoto, este é o nosso acordo. Eu vou guiá-los até a prisão, e você me deve um pequeno favor para me tirar deste lugar, certo? — Ele disse, olhando para Merlin. — Isso só se aplica a você, humano de óculos.

Algo na forma como ele falou "acordo" e "garoto de óculos" me deu arrepios, mas assenti com a cabeça.

— Muito bem, então. Sigam-me e tentem me acompanhar. — Wililas disse.

— Acho que essa não foi uma boa decisão — Duncan resmungou, seu tom de voz carregado de desconfiança.

— Você tinha uma ideia melhor? — perguntei. — Estamos desesperados, e tive que tomar uma decisão rápida.

— Não estou dizendo que foi uma má decisão — Duncan esclareceu. — Só acho arriscado confiar em um prisioneiro desta dimensão prisão tão rapidamente depois de conhecê-lo.

— Então, está dizendo que foi errado confiar em um metamorfo? — perguntei.

— Só estou dizendo que foi uma decisão precipitada — Duncan respondeu, mas eu ignorei e fui atrás de Wililas.

— Duncan, não podemos perder mais tempo, então sigamos logo este gato — Merlin falou.

Wililas se virou e começou a andar pela floresta, sua figura esguia movendo-se com uma graça felina. As árvores ao nosso redor pareciam se fechar mais, e a vegetação se deformava em padrões estranhos e inquietantes. Continuamos a seguir o metamorfo, meus pensamentos ainda girando em torno das palavras dele e dos desafios que enfrentávamos. A jornada através da dimensão prisão estava longe de ser fácil, e cada passo nos aproximava do destino incerto que nos aguardava.

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Seguir um gato através de uma floresta densa e traiçoeira era desafiador. Wililas parecia desaparecer com frequência, e eu me via perdido repetidamente, tentando recuperar o fôlego e adivinhar o caminho correto. A vegetação espessa e o escuro que envolvia a floresta faziam parecer que estávamos em uma armadilha interminável.

Minha mente estava repleta de dúvidas e preocupações. A presença de uma vampira meio bruxa no grupo misturava-se com o medo de não conseguirmos salvar nossos entes queridos a tempo. A raiva e a frustração aumentavam a cada passo que dávamos, especialmente considerando a confiança que precisávamos depositar em Wililas, um metamorfo que parecia saber o caminho, mas cuja lealdade era questionável.

A floresta parecia um labirinto implacável. Quando Wililas desapareceu novamente, minha frustração atingiu seu auge.

— Maldição, eu deveria colocar uma coleira nele se isso continuar — resmunguei, o tom carregado de desespero. A luz estava desaparecendo rapidamente, tornando o ambiente ainda mais sombrio. Olhei ao redor, tentando encontrar o felino esquivo enquanto os outros preparavam-se para uma possível batalha.

— Humanos! — A voz de Wililas sussurrou de algum lugar acima. — Escondam-se!

— O que está vindo? — Perguntei, mas já era tarde demais. Galhos quebraram-se e arbustos se separaram, revelando uma série de criaturas pequenas e grotescas à nossa frente.

Eram criaturas de cerca de três pés de altura, com pele verde-amarelada e protuberâncias em seus corpos. Seus rostos eram malévolos, com olhos redondos e bocas cheias de dentes quebrados. Vestiam roupas rasgadas e seguravam lanças de ossos.

Por um momento, as criaturas pareceram surpresas, mas logo emitiram guinchos e avançaram em nossa direção, brandindo suas lanças. O bando inteiro caiu sobre nós.

— Inimigos! — Anna exclamou, preparando suas adagas para o combate. Duncan convocou animais divinos para ajudar e se lançou à luta.

Merlin ficou ao meu lado, usando seu chicote de água para atacar. Eu invoquei o fogo para nos defender. A batalha foi intensa. Meus poderes se expandiram e uma espada materializou-se em minha mão, ajudando a cortar os inimigos grotescos.

— O que são essas coisas? — Uma das criaturas gritou, segurando o braço ensanguentado e se afastando dos ataques.

— Apenas viajantes de passagem — Anna respondeu firmemente antes de avançar para cortar mais um dos inimigos. Eu lancei uma flecha em outro, que se desfez em cinzas.

Depois da batalha, a floresta caiu em silêncio. Estávamos exaustos e ofegantes. Wililas reapareceu em cima de uma pedra, seu comportamento indiferente ainda irritante.

— Estou exausto — Merlin disse, claramente cansado. — Como você tem tanta certeza do caminho certo com goblins por aqui?

— Como você poderia saber onde os inimigos surgiriam? — Wililas respondeu. — Eu conheço o caminho, mas não sou vidente. É por isso que fui preso neste lugar.

A desconfiança em relação a Wililas aumentava, mas ele parecia agir com indiferença, suas orelhas se movendo de um lado para o outro.

— Devemos continuar — Wililas assobiou, movendo sua cauda. — Vocês podem descansar depois. Eles estão se aproximando.

Não precisávamos de mais encorajamento. Apressados e exaustos, continuamos a avançar na floresta, os gritos enfurecidos dos goblins ecoando em nossos ouvidos enquanto nos aventurávamos ainda mais na escuridão.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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