Capítulo Cinquenta e Um

Victor Jones:

Atrás de mim, os gritos desesperados dos meus companheiros ecoavam, enquanto eles lutavam para atingir o pássaro que me arrastava pelos céus. Galhos de árvores batiam em meus ombros e pernas, sacudindo-me com a violência do vento.

— Me solte! — gritei, convocando meus poderes com uma intensidade feroz. O pássaro, como se sentisse minha energia, fez um mergulho brusco em direção ao solo, lançando-me com força contra a entrada de uma caverna. Minha face encontrou o chão frio e úmido, e soltei um xingamento involuntário.

Com um movimento rápido, levantei-me, esfregando o rosto dolorido. O pássaro pousou a poucos metros de mim, empoleirado sobre uma pedra. Então, um som de cascos ressoou à minha frente, e um cavaleiro emergiu, montado em seu majestoso corcel. Ele arremessou um amuleto em minha direção, que cintilava em um verde misterioso. O cavaleiro apontou para o colar com delicadeza, seu gesto mudo mas carregado de significado.

— O que isso significa? — perguntei, encarando o amuleto enquanto ele continuava a apontar. Notei que o colar trazia uma imagem de um casal abraçado. Meu olhar se fixou na mulher de cabelos ruivos, reconhecendo-a como uma guardiã. Uma sensação estranha me envolveu ao observar a imagem dela.

Ela usava óculos escuros e ostentava uma tiara prateada e dourada em seu cabelo ruivo trançado.

— Esta foi sua mãe, e este colar está imbuído com a magia dela — declarei, sentindo a poderosa aura mágica que emanava do amuleto.

O cavaleiro assentiu, e o pássaro, como se compreendesse o sinal, voou até ele e se transformou em um pedaço de papel com um glifo. O cavaleiro pegou-o habilmente no ar.

— O que você deseja de mim? — perguntei, olhando nos olhos do cavaleiro com curiosidade e cautela.

Ouvi um som distante e, em instantes, Matt apareceu voando pela entrada da caverna, pousando suavemente em meu ombro. Marko surgiu magicamente ao meu lado, e eu sabia que o grupo devia ter percebido que havíamos fugido do castelo. Mas não havia tempo para explicações; ambos estavam com os olhos fixos no cavaleiro, e em questão de segundos, os outros se juntaram a nós, seus rostos tensos e expressões determinadas.

— Mantenha-se afastado dele — alertou Merlin, posicionando-se à minha frente como um escudo protetor.

— Se está procurando por problemas, encontrou-os — disse Anna, suas adagas reluzindo nas mãos, prontas para o combate.

— Ele só quer conversar — intervim, passando por Merlin e ficando diante do cavaleiro. — O que deseja de mim?

O cavaleiro desmontou de seu majestoso corcel, que em um lampejo de luz se transformou em um glifo que ele colocou cuidadosamente ao lado de sua bolsa.

— Preciso de um momento a sós com o novo guardião — declarou ele, sua voz calma e resoluta. — Se estou aqui, é porque algo terrivelmente errado aconteceu no mundo mágico, e eu falhei em minha missão. Tentei atacá-lo assim que o avistei, sem sequer perceber sua identidade. Agora, ajoelho-me diante de você e ofereço minha espada como penitência.

O cavaleiro estendeu as mãos, e uma espada materializou-se em suas palmas. Em um gesto de humildade, ele abaixou a cabeça, revelando o conflito que pesava em seu coração.

— Não vou tirar sua vida — repliquei com firmeza. — O que está passando por sua mente para acreditar que devo matá-lo? Você ainda não falhou em nada.

— Se vocês não vieram para resolver o que aconteceu no mundo mágico, então por que estão aqui? — questionou o cavaleiro.

— Minha família e amigos foram sequestrados e trazidos para a prisão do rei das sombras — expliquei, e sua expressão mudou drasticamente, revelando choque e compaixão.

— Como eles conseguiram trazer estranhos para estas terras sem que eu soubesse? — murmurou ele, enquanto sua mão começava a brilhar, uma fina camada de gelo se espalhando do punho até o antebraço.

— Você deve lembrar que está perdendo território gradualmente — interveio Wililas, observando o cavaleiro com um olhar desdenhoso.

— Você? O que está fazendo ao lado de um prisioneiro? — o cavaleiro dirigiu-se a mim enquanto se levantava.

— Ele é nosso guia para um caminho mais seguro até a prisão. Precisamos confiar nele — respondi, ouvindo um resmungo de desaprovação de Duncan. Dei-lhe um chute na canela para silenciá-lo. — Você pode nos ajudar a alcançar a prisão. Por favor, nos ajude.

O cavaleiro me olhou com atenção por um momento e, finalmente, soltou um resmungo relutante de concordância.

— Vou me unir à sua busca, mas não precisa pedir nada a mim — declarou ele. — Farei isso em nome da minha honra como cavaleiro.

Ele lançou um olhar para Wililas, e percebi que havia entre eles uma história não resolvida, mas isso era algo que teria que esperar.

— Podemos seguir por esta caverna — sugeriu Wililas, avançando em direção à escuridão. Segui-o de perto, com os outros logo atrás, prontos para enfrentar o desconhecido.

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A paisagem ao redor da entrada da caverna parecia distorcer-se em visões aterradoras, como se as próprias rochas tentassem me atacar com suas pontas afiadas. Figuras distantes moviam-se nas sombras, sussurrando meu nome e chamando-me. O terreno se transformou em um pesadelo grotesco, com aranhas e centopeias subindo pelas minhas pernas. Um veado deformado surgiu no caminho, erguendo a cabeça e me perguntando a hora, uma pergunta absurda em um mundo tão distorcido.

À medida que avançávamos, o caminho sombrio começou a se desfazer e a luz cresceu, quase me fazendo tropeçar devido ao súbito contraste. Encontramo-nos em uma terra espectral de campos mortos, dividida por muros baixos de pedra. O ambiente parecia congelado, e a magia mortal que pairava no ar fazia meu corpo tremer de frio a cada passo.

À distância, corpos monstruosos se moviam, e mantivemo-nos em silêncio, evitando chamar a atenção. Após consumir o que restava da nossa comida — embora eu não sentisse fome —, Anna pôs a mão em meu ombro e sugeriu:

— Talvez seja melhor descansar um pouco.

Ninguém discordou dessa ideia. Fechei os olhos e caí no sono imediatamente, exausto além das palavras.

Minha mente vagou para longe, sentindo-me como se tivesse caminhado sem parar por três dias. Aproximando-nos da prisão, a sensação de peso era quase insuportável, como se estivesse à beira de explodir de dentro para fora.

Precisava recuperar minha força rapidamente, sabendo que teria que agir com agilidade para salvar os outros. Concentrei-me em tudo ao meu redor, sentindo a dimensão espiritual responder à minha vontade. Afundei nas profundezas dela e, de repente, encontrei-me em um escritório, com Meteora à minha frente e o rei Orwen ao lado dela.

— Me diga novamente, como o guardião e aquelas crianças Shinewood — disse o rei, batendo as mãos na mesa. Meteora, apesar de manter uma expressão calma, estava claramente sofrendo com as marcas das correntes de punição que brilhavam sobre sua pele. — O que me intriga é o fato de terem fugido exatamente quando os cavaleiros reais estavam sendo interceptados pelos vampiros aliados do guardião, pela namorada de Duncan Shinewood e ainda com alguns glifos que você protegia em seu escritório.

Manoel e Erick estavam no canto da sala, em silêncio. O primeiro ostentava hematomas no rosto, provavelmente resultado de uma tentativa de defesa.

— Rei Orwen, como mencionei antes de sua chegada, Victor é o guardião, um herói para a dimensão mágica e todas as raças deste mundo. Manter o guardião sob prisão e vigilância constante apenas impedirá que ele cumpra seu destino de salvador — afirmou Meteora. Uma aura fria começou a cercar o rei, congelando tudo ao redor, mas Meteora não se deixou intimidar e encarou o monarca com firmeza. — Isso é o destino se desdobrando. Eles estão destinados a salvar o mundo e suas famílias. Escolhi confiar nessas crianças.

O rei riu, um som cortante e gelado.

— Suas palavras não têm significado para mim quando se trata dessas crianças — respondeu o rei com olhos de gelo, enviando um arrepio pela minha espinha.

Embora estivesse em uma parte do mundo espiritual, eu era apenas um espectador dessa reunião.

— Já lhe disse que confiar nos outros será sua ruína. Lembre-se do que disse sobre a mente de Borges causar confusão; veja o que ele causou. No passado, confiou nas habilidades de Maryse e Demétrio Shinewood, e veja o que isso trouxe — o rei continuou. — Agora, está arriscando tudo por essas crianças.

Meteora não se deixou abalar pelas palavras do rei.

— Pode me chamar de tola, mas acredito no que eles são capazes de fazer — afirmou Meteora, dirigindo-me um sorriso encorajador. Em seguida, comecei a afundar novamente na dimensão espiritual, e a cena desapareceu como pó ao vento.

Senti-me flutuando, a mente relaxando, até que um focinho quente se aproximou do meu ouvido, seguido por uma língua áspera que lambeu meu rosto. De repente, fui empurrado e caí de costas. Galhos escuros se destacavam contra o céu, e percebi que ainda estava na floresta. Acima de mim, o rosto dourado de um leão apareceu, seus belos olhos azuis transmitindo uma sensação de mortalidade. Ele lambeu meu rosto com animação, e eu acariciei sua cabeça, um gesto de gratidão e alívio.

— Parece que você está se sentindo um pouco melhor — uma voz feminina disse, vaga e familiar, vinda de algum lugar acima de mim.

— Você poderia ter resolvido tudo sozinha — ouvi a voz de Camilla dizer com um tom desafiador. — Tainan está subestimando minhas habilidades.

— Mas sou um curandeiro superior, e ele precisaria de ambos para sobreviver — Tainan respondeu, com uma calma tranquila.

Com esforço, ergui a cabeça e vi Camilla, ao lado de uma mulher com óculos escuros e uma tiara prateada e dourada em seu cabelo ruivo trançado. Tainan sorriu gentilmente para mim.

— O que vocês estão fazendo aqui? — consegui gemer a pergunta, minha voz rouca e fraca.

— Precisamos falar sobre essa missão — disse Camilla, a seriedade em seu tom refletindo a gravidade da situação.

— Camilla, não seja rude — Tainan repreendeu-a suavemente, antes de se inclinar na minha direção com um olhar de sincera preocupação. — É um prazer conhecê-lo, Victor. Não queremos incomodá-lo, mas precisamos conversar.

Eu me forcei a me sentar, tentando recuperar um pouco da minha energia enquanto observava a trio à minha frente. A floresta ao redor parecia aguardar, silenciosa e expectante.

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Até a próxima 😘

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