Capítulo Cinquenta e Três

Victor Jones:

— Olá — murmurei, meus lábios quase não se mexendo e minha voz quase inaudível, como se fosse um sussurro perdido nas profundezas da caverna. — Você é realmente o Rei das Sombras?

Ele sorriu com um desdém frio, um sorriso que parecia ecoar nas paredes da caverna e fazer o ar vibrar ao seu redor.

— Sim, o que esperava? Um mero mortal? — Ele respondeu, sua voz baixa e carregada de um tom zombeteiro, fazendo a caverna estremecer. — O que temos aqui? Um Guardião tão audacioso a ponto de se apresentar diante de mim com a aparência de seus inimigos? Posso assumir muitas formas, mas esta é a minha verdadeira. Não sou um covarde como aquele famoso espírito da luz que se oculta atrás de uma casca mortal, tentando se fazer passar por salvador da dimensão mágica.

A cada palavra, o som da sua voz parecia se infiltrar nas sombras ao redor, aumentando o peso da atmosfera tensa. A presença do Rei das Sombras se fazia sentir não apenas em sua forma imponente, mas em cada centelha de sua voz sombria, que carregava uma ameaça velada e um poder que fazia o coração de qualquer um bater mais rápido.

Repensando a impressão que eu tinha, percebi que talvez tivesse subestimado a verdadeira natureza do Rei das Sombras ao imaginá-lo apenas como um ser gigantesco. Talvez essa tenha sido uma forma inconsciente de me acalmar durante toda a jornada. No entanto, não conseguia afastar a sensação de terror que ele instigava em minha espinha. Seus olhos eram mais frios e mais penetrantes do que os de qualquer predador que eu já havia encontrado, sejam eles animais ou humanos. O olhar dele carregava uma inteligência cruel e um distanciamento impiedoso, como se visse através de cada camada de minha alma. Seu focinho se movia levemente, como se ele pudesse sentir o medo que eu lutava desesperadamente para esconder.

E sua voz... sua voz era como um melado, perigosa na sua suavidade e doçura ameaçadora. Cada palavra parecia escorregar pela minha mente com uma ternura sinistra, enredando-me em um caos sedutor e irresistível. Eu entendia agora por que o chamavam de Rei das Sombras; seu poder era uma combinação perigosa de ilusão e caos, projetada para enganar e manipular qualquer um que cruzasse seu caminho.

Fazer um acordo com ele ou com seus seguidores era uma sentença de destruição. Compreendia agora a verdadeira dificuldade que envolvia a criação dessa prisão e a ilusão de uma dimensão que ele não podia controlar completamente. Sua presença era uma manifestação de desespero e engano, e eu estava cada vez mais ciente da fragilidade do meu próprio destino diante de seu poder sombrio.

— Victor, saia daqui, é muito perigoso — minha mãe implorou, sua voz carregada de desespero.

— Mãe, este é o meu lugar — respondi, deixando a energia mágica fluir através das minhas mãos, e a expressão dela se transformou em uma mistura de horror e medo. Respirei fundo, sentindo o peso do momento, e fixei meu olhar nos olhos brilhantes e cruéis da monstruosidade à minha frente. — Estou aqui para salvar minha família e minha amiga. Encontrei um caminho até aqui sem encontrar seus servos, apesar da melodia sinistra que eles criaram para guiar meus passos e me mostrar como libertá-lo deste lugar. Eu poderia simplesmente partir daqui com os outros, sem fazer nada.

O monstro revelou seus dentes afiados em um sorriso sinistro, que parecia se espalhar pela própria escuridão ao nosso redor.

— Temos uma discordância, Guardião — disse ele, sua voz carregada de um tom meloso e ameaçador. — Sempre me intrigou, enquanto vagava por este mundo, o fascinante aroma que os Guardiões possuem. Pergunto-me como deve ser viver e morrer incessantemente, com um novo rosto e a mesma missão de salvar a todos. — O Rei das Sombras continuou, sua voz reverberando com uma ameaça quase palpável. — Somos quase iguais, você e eu, ambos representando o bem e o mal deste mundo.

— Lamento desapontá-lo, mas nunca seremos iguais — declarei com firmeza, mantendo o olhar fixo no monstro enquanto os outros lutavam para libertar Max, Aurora, minha mãe e Charles das garras da prisão sombria.

— Ah, você não me desaponta — o monstro colossal respondeu, e seu corpo começou a se expandir grotescamente de dentro para fora, como se estivesse se preparando para algo terrível. — Estou satisfeito. Esperei muito tempo por este momento, o momento em que o oráculo que previu nosso confronto final finalmente se realizaria.

— Oráculo? — perguntei, perplexo, minha mente tentando processar a revelação.

— Vejo que nem isso lhe foi revelado — ele disse, com um sorriso cruel. — Lembro-me de quando um de meus servos entrou neste lugar e me contou sobre isso. Sua rebeldia trará glória e prosperidade sem fim aos mundos, mas também trará a escuridão que eventualmente levará à ruína. Os esquecidos pelas linhagens da dimensão serão os aliados mais leais do novo Guardião. — Ele soltou uma risada profunda e sinistra. — Lamento dizer que você me libertará à força.

A atmosfera ao nosso redor parecia se espessar com a presença crescente do Rei das Sombras, e a sensação de iminente destruição pairava no ar. A verdade por trás de suas palavras começou a se desenrolar, e eu percebia a magnitude do que estava em jogo, sabendo que a batalha estava apenas começando.

De repente, um trovão retumbante rasgou o silêncio, e eu me joguei para o lado instintivamente. Ravan apareceu, controlando seus furacões tempestuosos com uma habilidade aterradora, mantendo os outros em uma prisão de vento. Maya estava ao lado de Max, pronta para atacar com uma frieza calculista.

Anna lutava para se libertar das amarras invisíveis, assim como Merlin e Duncan se esforçavam para se desvencilhar. A boa notícia, se é que se podia chamar assim, era que o cavaleiro, Rafael, Driyas e Wililas não estavam presentes.

— Acho que você estava enganado ao pensar que poderia me enganar — o Rei das Sombras declarou, sua voz ressoando com uma ameaça gelada. Algo se moveu rapidamente na minha direção.

O irmão de Seniana estava por perto, tentando desviar os ataques e impedir que uma gota do meu sangue caísse, algo crucial para abrir a jaula.

Movi-me com agilidade, quase como em uma dança macabra, tentando escapar do perigo iminente.

— Desista, ou mataremos sua família — Maya ameaçou, sua voz carregada de malícia enquanto eu a encarava com determinação.

Um espinho surgiu do nada. Antes que eu pudesse reagir, ele me atingiu, e o sangue começou a escorrer, manchando o chão da caverna.

A enorme serpente riu, e o som reverberou por toda a caverna enquanto as gotas de sangue caíam pesadamente no chão. O Rei das Sombras usou o sangue para tocar a jaula, e um brilho intenso começou a emanar do local. Em seguida, uma explosão ensurdecedora ocorreu, e as grades da jaula se abriram com um estrondo.

As risadas malignas ecoaram de todas as direções, e eu me agarrei ao que podia, enquanto Ravan se estabilizava, permitindo que os outros caíssem. Anna enfrentava Maya com fervor, liberando Max e Aurora, enquanto o caos se espalhava ao redor.

— Você sabe o que nos torna diferentes? — o Rei das Sombras declarou, seu corpo se expandindo grotescamente, e a caverna tremia com sua presença crescente. — Você deseja salvar a todos como se eles merecessem viver, enquanto eu quero ver todos desaparecerem. Agora, o fim da dimensão mágica está próximo!

Merlin me puxou para fora do centro da batalha, e juntos começamos a atacar os inimigos com magia, enquanto eu agarrava minha mãe e Charlie, puxando-os na direção oposta.

Um estrondo ensurdecedor preencheu o espaço, vindo de todas as direções. Gritos de monstros ecoaram do alto, e a jaula finalmente se quebrou. Uma lança feita de pedras negras passou raspando ao meu ouvido, e uma flecha perfurou minha coxa, mas a dor era quase insignificante comparada ao terror que sentia.

Descer na escuridão para a caverna oposta, eu ordenei à magia do vento que nos carregasse para longe — cem metros, duzentos metros.

— O que está acontecendo? — minha mãe perguntou, sua voz carregada de preocupação e medo.

— O Rei das Sombras está sendo libertado — respondi, meu coração pesado com o peso do desespero.

— Wililas, sei que você está por perto, seu maldito gato! — Merlin gritou, procurando pelo gato invisível com frustração crescente.

— Continuem seguindo em frente — Duncan ordenou, apoiando Max e Charlie, que estavam mancando e exaustos.

— Meus irmãos? — Aurora perguntou, com um olhar de pânico.

— Eles estão seguros — Anna respondeu, ajudando Aurora a se desviar das pedras que começavam a cair ao nosso redor.

— Estamos em apuros — Max murmurou, a voz carregada de resignação. — Vamos morrer.

— Olhe o lado bom, Max — Charlie disse com sarcasmo, tentando aliviar a tensão. — Pelo menos você não está sendo atacado por formigas gigantes agora.

— Calem a boca, os dois — minha mãe repreendeu, sua voz tensa e cheia de nervosismo. — Victor, por que não nos contou o que estava acontecendo com você?

— Mãe, este não é o momento para discutir meus poderes mágicos ou o que deixei de lhes contar — respondi, com urgência e desespero na voz, enquanto o mundo ao nosso redor desmoronava em caos e trevas.

A caverna parecia tremer e gemer sob a violência das explosões que devastavam o ambiente ao nosso redor. Nossos passos ressoavam em meio ao caos, e eu me esforçava para canalizar toda a magia disponível para nos tirar daquele lugar sombrio e destrutivo.

De repente, mesmo a uma certa distância, o estrondo da explosão sacudiu o mundo ao nosso redor. O calor intenso queimava minha nuca, e eu me virei rapidamente, apenas para ver a caverna desmoronando, explodindo de ambos os lados. O chão sob nossos pés se abriu em fendas profundas, e, em um impulso desesperado, empurrei minha mãe para o lado. Caímos na escuridão impenetrável do desconhecido, enquanto o mundo ao nosso redor se desintegrava.

A última coisa que consegui distinguir foi um brilho intenso e deslumbrante que surgiu ao nosso redor. Era como se uma barreira de luz se formasse, envolvendo-nos em um escudo protetor contra as forças que ameaçavam nos devorar. O brilho era quase opressivo, mas sua intensidade nos envolvia como uma promessa de segurança, mesmo em meio ao caos total.

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Até a próxima 😘

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