Capítulo Cinquenta e Seis
Victor Jones:
O mundo real que se desenrolava diante de mim não estava muito distante da cena majestosa que eu havia testemunhado no mundo espiritual. Quando o portal me deixou diante do imponente Castelo de Meteora, o cenário era vazio e grandioso, envolto pelo silêncio profundo da noite. Esse silêncio, no entanto, foi quebrado quando ergui os olhos e avistei dois cavaleiros se aproximando, irradiando uma luz etérea que parecia desafiar a escuridão ao redor. Seus cavalos, de um tom cinza prateado cintilante, deslaziam suavemente sobre o solo, seus cascos quase não tocando a terra, em um passo que era mais uma dança do que um galope.
Permanecei imóvel, observando-os com cautela, sem fazer qualquer movimento precipitado até que eu entendesse suas intenções. À medida que se aproximavam, suas feições tornaram-se mais claras. Eram altos e elegantes, com traços finos e cabelos ruivos que caíam em elegantes rabos de cavalo. Vestiam casacos de malha prateada que brilhavam sob a luz da lua, cada um com uma espada afiada pendurada na cintura.
Os cavalos circundaram-me, exalando vapor que pairava no ar gélido como nuvens efêmeras. Com um gesto suave, estendi a mão e acariciei as cabeças dos animais, que pareciam reconhecer meu toque com um suspiro de satisfação.
Montados em seus cavalos, os cavaleiros elfos me observavam com uma beleza quase sobrenatural. Seus rostos eram tão delicados e etéreos que pareciam pertencer a um mundo distinto.
— Você é o Guardião? — perguntou um deles, sua voz clara e melodiosa como o som de uma flauta. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que evocava o céu em um dia de verão.
Reconheci o emblema em suas vestes e assenti.
— Sim — respondi, mantendo a calma apesar da tensão crescente.
— Precisamos que você nos acompanhe. Sua Majestade, o Rei Orwen, enviou-nos para encontrá-lo, pois você estava desaparecido há algum tempo — explicou um dos cavaleiros, sua voz carregada de urgência.
Segui o cavaleiro elfo à frente, com um de seus braços firmemente envolvido em torno da minha cintura enquanto o outro segurava as rédeas de seu cavalo. Não obtive respostas para as minhas perguntas — para onde estávamos indo, se eles tinham notícias sobre minha família, se os outros aprendizes do Castelo de Meteora estavam a salvo, ou o estado das outras nações e reinos. Naquele momento, eu não sabia se estava sendo conduzido como prisioneiro ou aliado, mas pressenti que logo descobriria. Os cavalos deslizaram pelo terreno montanhoso e pela cidade, e, à medida que nos aproximávamos, notei que os edifícios começavam a se afilar, como se estivessem se preparando para algo grandioso.
Rompendo através da densa floresta de árvores, encontramos uma colina colossal que se erguia diante de nós, coberta por gramíneas e carregando uma aura de antiguidade e majestade. O topo da colina parecia quase tocar o céu, adornado com árvores espinhosas e arbustos que se espalhavam como uma exuberante barba de um gigante. Uma densa barreira de espinhos, alguns mais largos do que meu braço, circundava a colina. Os cavaleiros incitaram seus cavalos em direção à parte mais espessa da barreira. Não me surpreendi quando as plantas se abriram diante deles, formando um arco que atravessamos antes de se fecharem novamente com um rangido agudo.
Os cavalos continuaram seu caminho pela lateral da colina, sem perder velocidade. No entanto, em vez de a colina se abrir ou se afastar, avançamos diretamente em direção a ela e através dela, o que provocou um arrepio ao longo da minha espinha.
Num piscar de olhos, emergimos em um cenário completamente diferente.
Diante de mim estendia-se um vasto pátio, uma plataforma circular adornada com pilares de marfim, estátuas de mármore e árvores em flor. Fontes jorravam água para o ar, capturando as cores das luzes multicoloridas que dançavam sobre as piscinas. Flores de todas as cores do arco-íris desabrochavam em todos os cantos. No centro do pátio, um grupo de pessoas, incluindo os aprendizes do Castelo de Meteora, estava reunido. Entre eles, vi vários cidadãos feridos recebendo cuidados de magos e curandeiros, enquanto outros observavam com preocupação.
A minha chegada foi notada instantaneamente, e todos os olhares convergiram em minha direção, uma mistura de alívio e curiosidade estampada em seus rostos.
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Quando as pessoas me avistaram a algumas centenas de metros de distância, começaram a se aproximar rapidamente, um mar de rostos aliviados e sorrisos esperançosos. Suas palavras de saudação se misturavam em um murmúrio crescente, e a expectativa no ar era palpável. Parecia que todos estavam ansiosos para a chegada do Guardião, acreditando que eu fosse o salvador que poderia liderar a luta contra o inimigo. No entanto, eu mesmo estava imerso em incertezas, sem saber exatamente o que esperar.
Cruzei o pátio com determinação, dirigindo-me para o local onde presumi que encontraria o Rei Orwen e seus conselheiros. Eu não estava preparado para oferecer palavras de conforto ou orientação, e não queria alimentar falsas esperanças em um momento tão crítico.
Ao entrar no salão, uma reunião estava em andamento, mas parou abruptamente com a minha súbita aparição. Os mestres do Castelo de Meteora estavam presentes, incluindo Meteora e Horeom, acompanhados por líderes de outras nações. Eles tinham uma aparência fantasmagórica, como se o peso da situação houvesse deixado marcas profundas em suas almas.
— Victor! — minha mãe exclamou ao me ver, apressando-se para o centro do salão. — Graças a Deus, você está aqui. Mas onde...
Antes que ela pudesse terminar, Merlin rompeu o círculo e me puxou para um abraço caloroso. Meu coração acelerou ao sentir a familiaridade e o conforto de seus braços ao meu redor.
— O que aconteceu? — ele perguntou, sua voz carregada de preocupação. — Quando vimos você cair naquela abertura, um brilho surgiu e ativou o modo Guardião Espiritual, abrindo um portal que nos arremessou para dentro antes de desaparecer.
Minhas suspeitas se confirmaram. Lembrei-me da energia dos Guardiões Antigos fluindo através de mim em um instante, ajudando a extrair os outros daquela situação perigosa.
— Eu estava no mundo espiritual, que está em completo caos no momento — expliquei, afastando-me quando minha mãe tossiu para recuperar a compostura. — Quero dizer, está um pouco pior do que aqui.
Horeom interveio com uma expressão grave.
— Sabíamos que isso ia acontecer. O Rei das Sombras está determinado a destruir os espíritos para recuperar sua plena força — disse ele. — Já estava atacando as nações em partes, presumindo que Victor não estivesse por perto.
O Rei Orwen tomou a palavra, sua voz carregada de urgência.
— Não podemos mais hesitar. Cada segundo que perdemos pode ser fatal.
Uma mulher de cabelos ruivos e enfeites azuis, que parecia uma figura importante, levantou sua voz.
— Precisamos lembrar que estamos escondidos, e nossas ações podem ter consequências graves — alertou ela. — A dama de companhia de minha esposa, Seniana, tem mostrado lealdade ao nosso lado durante todo esse tempo de luta.
O representante dos dragões, na forma de um humano imponente, também se manifestou.
— O Guardião é a nossa peça chave. Ele pode nos guiar — afirmou ele.
No entanto, o Rei Orwen parecia cético.
— Você acha que ele tem um plano? — ele questionou.
Para surpresa de todos, revelei minha estratégia.
— Na verdade, tenho um plano — declarei com firmeza. — Mas vocês terão que confiar em mim. Sei para onde o Rei das Sombras está indo.
Meteora imediatamente questionou sobre o destino do inimigo.
— Ele está se movendo em direção à floresta que existe entre as dimensões — revelei. — Vim aqui para pedir ajuda e reunir algumas pessoas para me acompanhar.
Horeom quis saber quem faria parte do grupo.
— Merlin, Duncan e Anna serão os principais a me ajudar. Não precisamos de muitas pessoas — afirmei, provocando olhares surpresos de alguns presentes.
— Quanto menos pessoas, melhor — expliquei.
Todos concordaram com minha decisão, embora o Rei Orwen parecesse insatisfeito.
— Você tem certeza de que isso é o suficiente? — ele perguntou, a dúvida ainda visível em seu rosto.
— Sim, é tudo o que preciso no momento — assegurei, com uma confiança que tentava transmitir apesar da pressão.
O Rei estalou os dedos, encerrando a reunião com uma determinação renovada.
— Muito bem, vamos nos preparar. A luta se aproxima — declarou, levantando-se da mesa. — Esta reunião está encerrada.
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Saí da sala acompanhado por Merlin, Meteora, Horeom e minha mãe. Os outros três deixaram o recinto para que minha mãe e eu pudéssemos ter uma conversa mais privada. O silêncio que se seguiu foi um alívio bem-vindo após a tensão da reunião.
Meteora colocou a mão em meu ombro, um gesto de apoio que também revelou que as correntes que a prendiam haviam diminuído um pouco, embora ainda estivessem presentes. A visão dessas correntes me deixou curioso, mas decidi guardar minhas perguntas para um momento mais apropriado.
Horeom pegou a mão de minha mãe e os dois se afastaram pelo corredor. A cena me surpreendeu, mas também me deixou um pouco mais calmo. O fato de minha mãe estar com alguém em quem eu confiava era reconfortante.
— Vejo que está se adaptando muito bem a tudo isso — minha mãe comentou quando finalmente ficamos sozinhos. Sua voz estava carregada de preocupação, mas também de um orgulho silencioso. — Eu ainda estou tentando compreender completamente essa dimensão mágica.
— Bem, passei um bom tempo aqui — respondi, tentando forçar um sorriso. A tensão nos meus ombros parecia aliviar um pouco com a presença dela. — Mãe, sinto muito por não ter contado a vocês sobre tudo isso. Achei que era o melhor, mas agora vejo que vocês também correram perigo.
Ela me olhou com um carinho que fez meu coração se aquecer.
— Imagino como deve ter sido difícil para você, se encontrar em um lugar tão diferente e ver seu mundo sendo virado de cabeça para baixo — ela disse, sua voz tremendo levemente. — Mas devo dizer que você se saiu incrivelmente bem, pelo que ouvi de Merlin e dos outros enquanto estava desaparecido. — Um sorriso brilhou em seu rosto quando ela me abraçou. — Sempre soube que você tinha o potencial para mudar o mundo.
Ela beijou minha testa, e a sensação de seu apoio foi um bálsamo para minha alma cansada.
— Você também é incrível, mãe — falei, sentindo a emoção entoar minha voz. — Onde estão Max e Charlie?
— Estão ajudando na enfermaria, como estavam fazendo até souberem do seu retorno. Estavam ocupados, mas disseram que virão vê-lo assim que puderem, embora eu imagine que você já esteja de saída — ela respondeu, seu olhar penetrante me fazendo sentir sua preocupação e amor. — Volte com segurança. Ainda tenho muito a descobrir sobre esse novo você, e também preciso preparar um jantar para meu genro.
— Você ficou sabendo da Carla e do Brian? — perguntei, a inquietação tornando-se evidente em minha voz.
Ela assentiu com um olhar grave.
— Sim, fiquei sabendo. Isso me deixou surpresa e preocupada — disse, a tristeza em seus olhos visível. — Mas prometa-me que vai lidar com a vampira que fez isso com eles.
Um sorriso determinado se formou em meus lábios, impulsionado pela certeza do que precisava ser feito.
— Pode contar com isso, mãe — afirmei com convicção. — Eu vou resolver isso.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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