Capítulo Cinquenta e Quatro
Victor Jones:
Senti uma força misteriosa me puxando de volta à consciência, enquanto minha pele ardia intensamente e minha garganta queimava de sede, como se estivesse deserto sob o sol escaldante.
À medida que emergia da escuridão, o cenário ao meu redor era deslumbrante. Um céu azul se estendia acima de mim, pintado com a precisão de um artista mestre, enquanto as árvores dançavam suavemente como figuras em uma obra de arte, capturando toda a beleza serena da natureza.
O som de uma fonte borbulhante preenchia o ambiente com sua melodia suave, e um perfume doce de junípero e cedro se misturava com uma rica tapeçaria de aromas florais que pairavam no ar. O murmúrio das ondas quebrando contra uma costa rochosa adicionava uma camada de tranquilidade à sinfonia natural ao meu redor.
Tentei mover meu corpo, mas a sensação de queimação persistia, e meus músculos pareciam quase líquidos, incapazes de responder.
— Fique quieto — disse uma voz suave e reconfortante. — Você está muito fraco para se levantar.
Uma mão delicada aplicou um pano úmido em minha testa, e então um glifo dourado apareceu acima de mim, irradiando uma energia curativa que aliviava minhas dores musculares e mentais.
À minha frente, o rosto da pessoa começou a mudar, revelando os traços de uma mulher. Seus olhos, brilhando como jóias laranja, e seu cabelo ruivo, que caía em duas tranças graciosas sobre seu ombro, tinham uma beleza encantadora. Novos glifos surgiram no ar enquanto ela desenhava com movimentos elegantes. Aos poucos, comecei a sentir uma melhora.
— Quem é você? — consegui sussurrar, minha voz rouca e tremendo.
— Shhh, guardião — ela murmurou com uma voz suave e tranquilizadora. — Descanse e recupere suas forças. Nada de mal vai lhe acontecer aqui. Eu sou Calia.
Quando voltei completamente à consciência, me vi em uma gruta de beleza estonteante. O teto brilhava com cristais em tons de branco, púrpura e verde, assemelhando-se a uma imensa geode que refletia a luz de maneira mágica. Minha cama era um verdadeiro oásis de conforto, com travesseiros de plumas e lençóis de algodão branco imaculados. Cortinas de seda branca dividiam a gruta em diferentes áreas, proporcionando uma sensação de privacidade e serenidade.
Naquela atmosfera encantadora, meus olhos foram atraídos para um grande tear e uma harpa encostados em uma parede de pedra. Prateleiras exibiam jarros de frutas em conserva, e ervas secas pendiam do teto, liberando um aroma delicioso de alecrim, tomilho e outras plantas que minha mãe identificaria com facilidade.
Uma lareira embutida na parede aquecia o ambiente, enquanto uma panela borbulhante na lareira exalava um aroma tentador de ensopado de carne.
Com esforço, sentei-me, sentindo uma dor latejante na cabeça. Minhas roupas estavam cuidadosamente costuradas novamente no lugar certo.
A entrada da gruta ficava à minha esquerda, e eu me dirigi em direção à luz do dia. À medida que avançava, a gruta se revelava em toda a sua majestade. À esquerda, um pequeno bosque de cedros se erguia com uma presença serena, e à direita, um vasto jardim se estendia, coberto por flores em cores vibrantes. Quatro fontes esculpidas em forma de sátiros com flautas de pedra jorravam água cristalina na campina. Mais adiante, o gramado descia suavemente até uma praia rochosa, onde as ondas do lago quebravam graciosamente, o sol brilhando nas águas e o céu exibindo um azul profundo.
Calia estava de pé à beira da praia, conversando com alguém. A luz solar refletida na água dificultava a visão clara da figura com quem ela estava falando.
Caminhei na direção deles, mas, ao sentir o cascalho substituir a grama sob meus pés, olhei para baixo para manter meu equilíbrio. Quando levantei os olhos novamente, percebi que Calia estava sozinha na praia. Seu vestido grego, sem mangas, com um decote redondo adornado com detalhes dourados, parecia flutuar suavemente ao vento. Ela esfregava os olhos, como se tivesse chorado.
— Bem-vindo de volta — disse ela, tentando sorrir através da expressão cansada. — Finalmente, o dorminhoco despertou.
— Com quem você estava falando? — minha voz ainda estava áspera e fraca.
— Oh, era apenas um mensageiro — respondeu ela, a voz tingida de um leve tom de tristeza. — Como está se sentindo?
— Na medida do possível — respondi, tentando analisar a situação. — Quem é você? E onde estamos?
— Este é um mundo prisão especialmente criado para mim — explicou Calia, e eu notei que suas orelhas eram pontudas, uma característica inesperada.
— Você não parece uma criminosa — comentei, meu tom carregado de desconfiança.
— Eu não sou uma criminosa — Calia riu suavemente, um riso que não chegava a tocar os olhos. — Este mundo foi criado por meu pai há séculos para me proteger de uma doença e também para servir como um ponto de acesso ao mundo espiritual, permitindo-me comunicar com o exterior.
— Seu pai? — perguntei, meu coração apertando com a ideia e uma faísca de compreensão atravessando minha mente. — Ele era um guardião.
— Sim, ele foi um guardião — confirmou Calia, seus olhos se voltando para a pequena cicatriz em seu pulso, como se procurasse conforto na lembrança. — Ele criou este lugar para me proteger da maldição que foi lançada sobre mim, uma doença que me consumiria se eu deixasse este refúgio. Você apareceu aqui, abriu um portal e mencionou que o rei das sombras escapou da prisão — disse, sua voz carregada de preocupação. — Eles vão nos encontrar aqui. Você precisa sair antes que venham e te capturem.
— E você? E sua segurança? — perguntei, sentindo uma crescente ansiedade por sua situação.
Ela riu, um som que parecia misturar resignação e tristeza.
— Você é diferente do meu pai, sempre preocupado com os outros. Essa preocupação pode ser uma maldição para você — soltou um suspiro profundo. — Se eu sair daqui, minha doença retornará e eu morrerei. Este é o único lugar seguro para mim — explicou ela, seus olhos revelando uma dor silenciosa. — Você deve salvar os outros. Eu vou ficar bem enquanto as sombras não encontrarem este lugar.
Sua determinação e sacrifício eram evidentes, e eu sentia a gravidade da situação pesando sobre mim. Enquanto a necessidade de resgatar aqueles que estavam em perigo se intensificava, uma parte de mim queria ficar e garantir que Calia estivesse segura. Mas o destino dela estava intrinsecamente ligado ao meu sucesso em lidar com a ameaça iminente.
Um trovão rugiu no horizonte, e a tempestade se aproximava, suas nuvens escuras se avolumando no céu.
— Eles estão se aproximando. Você precisa partir — insisti, a urgência na minha voz refletindo a iminente ameaça.
— Ficarei bem. Posso me defender em segundos enquanto estou neste lugar — respondeu Calia com uma serenidade impressionante. — Quando você emergir do outro lado, encontrará seu apoio.
— Mas... — comecei a protestar, mas ela me interrompeu.
— Pare de ser teimoso, garoto — disse ela com um sorriso largo, sua expressão misturando determinação e uma leve tristeza. Seus olhos se fixaram na água cristalina por um momento. Então, uma força invisível me envolveu, empurrando-me suavemente em direção às águas. A sensação de ser guiado foi acompanhada por um frio profundo que me envolveu.
Gradualmente, comecei a afundar nas profundezas das águas límpidas, a visão da praia e de Calia se tornando cada vez mais distantes. A tempestade rugia mais forte à medida que me afastava, a sensação de estar sendo puxado para o desconhecido tornando-se mais intensa. Enquanto me afundava, minha mente estava repleta de pensamentos sobre a missão à frente e a promessa de resgatar os outros, a imagem de Calia desaparecendo na distância, mas sua confiança e sacrifício permanecendo como um farol de motivação.
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— Acorde — disse uma voz suave e reconfortante que ecoou em meus ouvidos.
Com esforço, abri os olhos e me deparei com uma figura familiar. Era o rosto sereno e amistoso de Urlac, e ver sua presença trouxe um alívio imediato em meio ao turbilhão de confusão.
— Urlac... — sussurrei, minha voz ainda fraca e arrastada. — O que aconteceu?
Os raios do sol filtravam-se suavemente através das janelas, iluminando o rosto de Urlac com um brilho cálido e acolhedor.
— Estou aliviado por ver que você está bem — respondeu Urlac com um sorriso caloroso e genuíno.
Senti como se minha cabeça tivesse sido submetida a uma tempestade de sensações, um tipo de ressaca mágica difícil de descrever.
À medida que minha visão se ajustava, percebi que estava deitado em uma cama que parecia ser feita de seda entrelaçada, em um quarto cujas paredes reluziam com o brilho do ouro. Pérolas cintilantes, do tamanho de bolas de basquete, pendiam do teto, iluminando o ambiente com uma luz majestosa que refletia uma aura de opulência.
Apesar de já ter visto muitos lugares fantásticos no mundo mágico, a beleza e a delicadeza deste local me deixaram verdadeiramente boquiaberto. Meu espanto aumentou quando pequenos espíritos, brilhando como fagulhas etéreas, entraram pela janela, me observaram com curiosidade e, após um breve momento, saíram pela janela oposta.
— Você está no palácio do meu pai — explicou Urlac, com um tom de preocupação misturado com alívio. — Você surgiu magicamente desacordado no jardim do palácio.
Concordei com um aceno de cabeça, lutando para dissipar a névoa que envolvia minha mente. A dor pulsava em minha cabeça, e as marcas de poeira da caverna ainda salpicavam minha camisa.
— Fui o único que apareceu aqui? — perguntei, tentando entender a gravidade da situação.
Urlac assentiu, seu olhar carregado de preocupação.
— Sim, você foi o único. Algo muito sério deve ter acontecido para que você abrisse um portal por conta própria e aparecesse aqui, no palácio dos espíritos.
De repente, uma explosão ecoou ao longe, sacudindo o quarto e preenchendo o ambiente com uma luz verde intensa que quase cegou meus olhos.
— O que foi isso? — perguntei, o medo e a inquietação começando a se infiltrar.
Urlac parecia igualmente alarmado.
— Meu pai vai explicar. Venha, ele está lidando com alguns invasores — anunciou Urlac, com um olhar resoluto e urgente, indicando que devíamos seguir juntos.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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