Capítulo Cinquenta e Dois
Victor Jones:
O leão continuava a lamber meu rosto, e, enquanto minhas mãos deslizavam por sua majestosa crina, uma profunda sensação de calma envolvia meus pensamentos.
Com esforço, levantei-me e encarei as duas guardiãs à minha frente. Tainan estava recostada contra uma árvore, seu vestido adornado com padrões de torvelinhos de plantas, emanando uma aura de serenidade. Camilla, ao contrário, usava roupas simples e práticas, com uma adaga à vista, pronta para agir a qualquer momento.
— Você parece terrível — Camilla disse, com franqueza. — Esta missão está prestes a te destruir.
— Camilla, um pouco de delicadeza, por favor — interveio Tainan, aproximando-se com um sorriso afetuoso. — Estou aliviada de te ver um pouco melhor, querido. Os da espécie de Mike têm uma energia espiritual de cura notável.
Enquanto acariciava o leão, minha admiração por ele só crescia. Sua crina imponente e sua presença majestosa me faziam sentir que estava diante de algo verdadeiramente extraordinário. O momento ficou gravado em minha memória como algo inigualável.
Camilla, visivelmente contrariada, bateu os pés, fazendo com que o leão se afastasse e desaparecesse diante dos meus olhos.
— Você o magoou — Tainan repreendeu Camilla com severidade. — Sabe que ele é um animal sensível. Sempre guia os de sua espécie após a morte.
— Por que vocês estão aqui? — perguntei.
— Falando novamente sobre a sua missão, à medida que você se aproxima da prisão do rei das sombras, o perigo aumenta. Ele é uma entidade caótica e, quanto mais perto você estiver, mais enfraquecido se sentirá — alertou Camilla. — Eles tentarão usar isso para libertá-lo, e você terá apenas alguns segundos para matá-lo antes que ele se liberte completamente e se una.
— Para lutar da melhor forma, você precisará encontrar a solução certa — completou Tainan, piscando um olho. — Deixe que meu filho seja seu guia e peça ajuda ao seu amigo Urlac.
Notei que os olhos de Camilla faiscavam com raiva, mas ignorei o impulso de discutir com ela, reprimindo essa emoção. Era hora de focar além das diferenças e críticas.
— Tenho algo a te dar — disse Tainan, aproximando-se e tocando suavemente minha testa.
Uma onda de energia percorreu meu corpo, e, em seguida, ouvi um rugido quando Mike retornou, cutucando-me gentilmente. Apoiei-me em seu pescoço e deixei que ele me erguesse. Permaneci de pé, embora minhas pernas ainda estivessem se recuperando da tontura causada pela intensa onda de energia. Pela primeira vez, senti todos os meus poderes de cura fluindo através de mim. Eu conhecia agora os desafios que enfrentaria e estava determinado a tomar as decisões certas para salvar minha família e o mundo.
— Boa sorte, Victor — desejou Tainan com um sorriso encorajador. — Continue em frente, e você salvará sua família e o mundo mágico.
— Acho que você vai fracassar na primeira tentativa — provocou Camilla.
Antes que eu pudesse responder, a floresta começou a desvanecer-se, e mergulhei na escuridão.
— Acho que ele vai conseguir — Tainan disse antes de ambas desaparecerem.
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Encontrei-me de pé no centro da caverna, cara a cara com Merlin, e dei um salto para trás, surpreso e assustado. Ele prontamente me segurou pela cintura, impedindo minha queda.
— Precisamos continuar — disse ele, tentando manter a calma.
— Bem, temos um probleminha — Merlin comentou, apontando para algo atrás de mim.
Girei rapidamente e vi os outros lutando contra um exército de formigas gigantes que cuspiam ácido.
— Myrmekos — sussurrei.
— Poucos minutos após você adormecer, essas criaturas surgiram e começaram a atacar — explicou Merlin.
As formigas atacavam em grupos, cuspindo ácido corrosivo e com presas capazes de perfurar o bronze celestial. As formigas-soldados avançavam, suas antenas balançando em um movimento hipnotizante, tentando nos distrair das verdadeiras ameaças que eram suas presas. Suas cabeças finas lembravam galinhas, com olhos escuros e impassíveis, e suas patas faziam um som semelhante ao de uma serra elétrica. Os abdômens enormes pulsavam como narizes farejando comida.
Anna lutava com suas adagas, suas lâminas cortando o ácido e as formigas com precisão. Duncan conjurava glifos que se transformavam em esquilos ou cobras venenosas, lançando-os contra os inimigos com uma rapidez impressionante. O cavaleiro alternava entre um arco e flecha e uma espada, suas habilidades marcando a diferença. Matt atirava pedras com força, segurando Wililas com as patas para evitar que se machucasse. Marko cuspia chamas nas formigas, transformando o campo de batalha em um inferno em miniatura.
Cada um estava dando o melhor de si, mas a batalha era feroz, e as formigas não mostravam sinais de recuo.
— Tenho algo em mente — falei. — Tampem seus ouvidos!
Invoquei meus poderes em um círculo mágico. Uma imensa onda sônica irrompeu, atingindo em cheio as formigas. O som se propagou pelos túneis, causando vibrações intensas que forçaram as formigas a encolherem as pernas e abaixarem a cabeça, com suas antenas tremendo devido à força do som.
Segurei a mão de Merlin e corremos atrás dos outros. À medida que passávamos pelas formigas, elas recuavam, encolhendo-se e desviando do nosso caminho.
Matt voava à frente com Wililas, indicando o caminho, enquanto o restante do grupo impedia que as formigas se aproximassem, criando uma defesa eficaz para que pudéssemos avançar. A batalha estava em frenesi, mas nossa estratégia estava funcionando, abrindo um caminho seguro através do caos.
Finalmente, durante uma breve pausa entre as ondas sônicas e as formigas que corriam para longe do som, ouvi uma voz suave à frente, o som de dois garotos chorando. Reconheci imediatamente suas vozes.
— Rafael! Driyas! — gritei e me apressei na direção do som.
Encontrei-os deitados no chão de uma câmara que parecia uma despensa. Carcaças de animais — vacas, cervos, cavalos, ossos — estavam empilhadas ao redor, todas cobertas por uma gosma endurecida e em decomposição. O cheiro era quase insuportável, atingindo meu nariz com a força de um soco.
Eles estavam imobilizados pela gosma que essas criaturas produziam. Rafael tentava libertá-los com uma pequena faca.
Os olhos de ambos estavam inchados de tanto chorar. Imaginava que estivessem com medo e, talvez, sentindo dor. Quando me ajoelhei ao lado deles e comecei a usar magia para soltá-los, eles finalmente falaram.
— Victor — Driyas disse entre lágrimas.
— Victor — Rafael acrescentou, com a voz embargada. — Desculpe, não consegui proteger sua família ou minha irmã. Fugimos quando aqueles monstros nos distraíram.
Limpei uma lágrima do rosto de Rafael enquanto os libertava com magia.
— Não é culpa de vocês — disse Merlin, ajoelhando-se ao meu lado. — Lembrem-se, Rafael, vocês são apenas crianças e têm suas limitações.
— Fiquem aqui — instrui, apontando para Wililas. — Você e o cavaleiro vão cuidar deles.
— Eu não sou... — o cavaleiro começou, mas se calou com um olhar meu. — Pode deixar a responsabilidade de cuidar das pessoas indefesas comigo.
Merlin e eu ajudamos as crianças a se levantarem, enquanto o cavaleiro gentilmente as colocava em cima de seu cavalo.
— Sigam em frente por alguns metros e encontrarão a entrada da prisão — Rafael disse, com um olhar determinado.
Continuamos seguindo o caminho o mais rápido possível, sabendo que as formigas logo nos alcançariam, já que eu não estava mais usando o som para afastá-las.
À medida que avançávamos, chegamos a uma enorme câmara. À esquerda, percebi uma entrada. Do outro lado, pude ouvir a voz ansiosa de minha mãe conversando com Charlie, tentando acalmá-lo desesperadamente.
Meu coração se apertou ao ouvir a voz angustiada de minha mãe. Subi em uma pedra, tentando olhar através de um pequeno buraco que dava para a caverna adjacente. Lá, todos estavam reunidos: Aurora, Max e meus pais, amarrados a uma certa distância uns dos outros, com os olhares fixos no teto, desesperados. Acima deles, uma enorme jaula pendia no vazio.
Forçando a visão, vi uma gigantesca serpente que começava a abrir seus olhos. O brilho verde intenso que emanava deles quase cegou-me. Sua crista imponente e o focinho pontiagudo faziam-na parecer mais uma enguia colossal do que uma cobra. Sua pele, brilhante e escamosa, exibía uma paleta de verdes, marrons e amarelos, enquanto exalava um cheiro nauseante e putrefato. A boca, de um tom rosado, era ampla o suficiente para engolir um castelo inteiro.
— Fiquem aqui — disse aos outros com firmeza. — Esperem pelo meu sinal para resgatar todos daqui.
Merlin tentou protestar, mas a caverna inteira estremeceu quando a serpente soltou uma risada maligna e seus olhos, brilhando como faróis de um navio, se fixaram na parede onde estávamos. Afastei-me da entrada, movendo-me para o outro lado, mas uma névoa negra surgiu de repente e agarrou meu pé. Cai, mergulhando na escuridão, aterrissando sobre uma cama de pedras, enquanto uma fumaça podre preenchia o ar.
Sentei-me e observei as sombras dançando e rindo ao meu redor. Luzes pequenas piscavam e se moviam rapidamente pelo ar. De repente, percebi que tinha parado de respirar, mas, curiosamente, isso não me incomodava.
Os olhos verdes brilhantes, semelhantes a faróis venenosos, se moveram até pousar sobre mim, cheios de desprezo e um veneno palpável.
No fundo, eu sabia quem era aquele gigantesco monstro.
— Olá, Guardião, ou devo dizer, Victor Jones? — o Rei das Sombras proclamou, sua voz grave e vibrante ecoando pela caverna. Seus lábios negros se curvaram em um sorriso de desprezo, um sorriso que lembrava algo terrivelmente humano. — Meu mais antigo inimigo.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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